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Anarquia ou Barbarie

~ A anarquia é a percepção ecológica da sociedade, é o entender a participação livre de cada membro da coletividade como fundamental para a existência, para o exercício da verdadeira cidadania que é viver na coletividade respeitando a diversidade. Anarquia é coletivamente sermos o poder, é todos nós decidirmos em conjunto, de forma horizontal o que fazermos em nossas vidas e em nossos bairros, cidades….

Anarquia ou Barbarie

Arquivos Mensais: janeiro 2016

Correndo no vazio. O fracasso do pensamento simbólico

29 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarco Primitivismo, Anarquia, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, John Zerzan, Teoria

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anarco primitivismo, anarcoprimitivismo, John Zerzan, Zerzan

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Fonte: AnarcoPrimitivismo

Por John Zerzan
Se não ‘retornarmos aos nossos sentidos’, teremos perdido permanentemente a oportunidade de construir alguma alternativa significante à pseudo-existência que tomamos por “vida” em nossa atual ‘Civilização da Imagem’ – David Howes

Até que ponto podemos dizer que estamos realmente vivendo? À medida que a substancia da cultura parece murchar-se e seu bálsamo resulta cada vez menor, incapaz de ajudar a nossas vidas cheias de preocupações, nos leva a analisar com mais profundidade estes tempos estéreis e a função da própria cultura nisso tudo.

Um angustiado Ted Sloan pergunta (1996), “Qual é o problema com a modernidade? Por que a sociedade moderna tem tantas dificuldades para produzir adultos capazes de intimidade, trabalho, prazer, vida ética…? Por que os signos de uma vida danificada prevalecem tanto?”. Segundo David Morris (1994), “A dor crônica e a depressão, com freqüência relacionados e inclusive ocasionalmente considerados como um só problema, constituem uma crise imensa no centro da vida pos-moderna.” Temos o ciberespaço e a realidade virtual, comunicação computadorizada instantânea na aldeia global: mas ainda assim, nos sentimos as vezes tão isolados e empobrecidos?

Assim e como Freud prognosticou que a plenitude da civilização implicaria uma infelicidade neurótica universal, as correntes anti-civilização estão crescendo em resposta à miséria psíquica que nos envolve. Assim, a vida simbólica, essência da civilização, começa a pôr-se no ponto de mira.

Poderia se dizer que este elemento tão familiar – e artificial – é o menos entendido; mas a necessidade sentida dirige para além a crítica, e muitos de nós nos sentimos direcionados ao fundo de uma forma de existência que piora constantemente. Da sensação de sermos capturados e limitados pelos símbolos surge a tese de que a medida em que o pensamento e a emoção estão atados ao simbolismo é a medida pela qual a ausência ocupa nosso mundo interno e destrói o externo.

Parece que temos experimentado uma queda na representação, e só agora estamos sondando completamente suas conseqüências e suas profundidades. Como uma forma fundamental de falsificação, os símbolos primeiramente mediaram a realidade e depois a substituíram. No presente, vivemos com os símbolos num grau maior do que vivemos com nossos corpos ou diretamente uns com os outros.

Quanto mais absorvido este sistema de representação interna, maior é a distância que nos separa da realidade ao nosso redor. Outras conexões, outras perspectivas cognitivas são inibidas – para dizer o mínimo – a medida em que a comunicação simbólica e seu enorme leque de instrumentos dedicados a levar a cabo esta representação foram cumprindo um papel de alienação da realidade e a traição contra esta.

Esta distorção concomitante e intermediária e este distanciamento são ideológicos num sentido primário e original; cada ideologia posterior é um eco desta primeira. Debord descrevia a sociedade contemporânea como a aplicação da proibição da vida em favor de sua representação: imagens agora no comando, conduzem nossas vidas. Mas este não é um problema novo. Existe um imperialismo, um expansionismo da cultura desde o princípio. E quanto já se conquistou? A filosofia hoje em dia diz que é a linguagem o que pensa e fala. Mas durante quanto tempo tem sido assim? A simbolização é linear, sucessiva, substitutiva; não pode se abrir o seu objeto por completo simultaneamente. Sua razão instrumental é tão somente esta: manipular e procura dominar. Sua forma de atuar é “que a represente a b”, em lugar de que “a seja b”. A linguagem se baseia no esforço por conceitualizar e regular o que é irregular, por tanto ignorando a essência e a diversidade, de uma riqueza variada e  variável.

O simbolismo é um império extenso e profundo, que reflete e faz coerente um ponto de vista do mundo, e que é em si um ponto de vista do mundo baseado na retirada de qualquer sentido humano imediato e inteligível.

James Shreeve, ao final de seu “Enigma de Neanderthal” (1995), nos proporciona uma bela ilustração de uma alternativa ao ser simbólico. Meditando a respeito de como poderia ter sido uma consciência não-simbólica anterior, concebe importantes distinções e possibilidades:

“… enquanto os deuses modernos podiam habitar a terra, o búfalo, ou a erva, o espírito do Neanderthal era o animal ou a erva, o ser e sua alma percebidos como uma única força vital, sem necessidade de distinguí-los com nomes separados. De forma similar, a ausência de uma expressão artística não evita a percepção do que é artístico no mundo. Os neanderthais não pintaram suas grutas com imagens de animais. Mas talvez não precisavam destilar a vida em representações, porque suas essências já foram prontamente reveladas a seus sentidos. A visão de um rebanho correndo era suficiente para inspirar uma ardente emoção de beleza. Não tinham percussão nem flautas de osso, mas através dos ritmos do vento, da terra, e do bater do coração dos outros eram transportados.”

Em lugar de celebrar a comunhão cognitiva com o mundo que Shreeve sugere que desfrutamos alguma vez, e muito menos embarcarmos num projeto para recuperá-la, o uso de símbolos é obviamente amplamente considerado como a grande cume da cognição humana. Goethe disse, “tudo é um símbolo”, assim como o capitalismo industrial, pedra de toque da mediação e da alienação, bem sucedida. Mais ou menos ao mesmo tempo, Kant decidiu que a chave da filosofia repousava na resposta para a pergunta, “qual é a base da relação do que em nós chamamos ‘representação’ em relação com o objeto?”. desastrosamente, legou para o pensamento moderno uma resposta atemporal e inadequada, de que simplesmente não estamos constituídos para sermos capazes de entender a realidade diretamente. Dois séculos depois (1982), Emmanuel Levinas ficou bastante perto ao dizer que “a filosofia, é a consciência da ruptura da consciência”.

Eli Sagan (1985)  falou por muitos outros ao declarar que a necessidade de simbolizar e viver num mundo simbólico é, como a agressão, uma necessidade humana tão básica que “só pode negar-se com o custo de uma séria desordem psíquica”. No entanto, a necessidade de símbolos – e de violência – nem sempre existiram. Mas antes, têm suas origens na frustração e fragmentação de uma plenitude anterior, no processo de domesticação de que surgiu a civilização. Aparentemente acelerado por um gradual crescimento acelerado da divisão de trabalho que começou a surgir no Paleolítico Superior, a cultura emergiu como tempo, linguagem, arte, número, e então agricultura.

A palavra “cultura” deriva do latim “cultura”, que se refere ao cultivo da terra; isto é, a domesticação das plantas e os animais – e de passagem, de nós mesmos. Um incansável espírito de inovação e ansiedade tem estado conosco desde então, como formas simbólicas em constante mudança que tentam arrumar o que não pode ser revestido sem a rejeição do simbólico e seu mundo alienado.

Seguindo Durkheim, Leslie White (1949) escreveu : “O comportamento humana é um comportamento simbólico. O símbolo é o universo da humanidade”. Já é hora de começar a ver tais pronunciamentos como ideologia, ao serviço da falsificação elementar que assegura essa falsa consciência que pretende abarcar tudo. Mas se não há um mundo simbólico completamente desenvolvido, segundo reclama Northrop Frye (1981), a “cartografia de nossa liberdade” do antropólogo Clifford Geertz (1965) fica mais próximo da verdade ao dizer do que somos habitualmente dependentes do “guia proporcionado pelos sistemas de símbolos significativos”. Ainda mais perto está Cohen (1974), que observou que “os símbolos são essenciais para o desenvolvimento e manutenção do ordem social”. O conjunto de símbolos representa o ordem social e o lugar do indivíduo nele, uma fórmula que sempre deixa sem questionar a gênese deste acordo inquestionado. Como nosso comportamento foi ordenada através da simbolização?

A cultura surgiu e floresceu através da dominação da natureza, seu crescimento uma medida dessa maestria progressiva que se desdobrou com a divisão ainda maior do trabalho. Malinowski (1962) entendeu o simbolismo como alma da civilização, principalmente na forma da linguagem como uma forma de coordenar a ação ou como técnica de padronização, e para dar regras para a conduta social, ritual, e industrial.

É a nossa queda de uma simplicidade e plenitude da vida experimentada diretamente, de um momento de sabedoria sensual, que deixa um vácuo que o simbólico nunca pode preencher. Isto é o que sempre está sendo encoberto por camadas de consolos culturais, caminhos civilizados que nunca recuperam a totalidade perdida. Num sentido profundo, só o que se reprime se simboliza, já que só o reprimido precisa sê-lo: a magnitude da simbolização testemunha o quanto foi reprimido, enterrado, mas possivelmente ainda recuperável.

Durante muito tempo, de forma imperceptível, a divisão do trabalho lentamente avançou e eventualmente começou a corroer a autonomia do indivíduo e um modo de relação social cara-a-cara. O vírus destinado a alcançar seu auge assim que a civilização começasse: uma tese tentativa apoiada por todos que agora nos faz suas vítimas. Da alienação inicial à civilização avançada, o percurso está marcado pelo aumento constante da dependência, da reificação, da burocratização, da desolação espiritual, e da tecnificação estéril.

Não é de estranhar que a questão da origem do pensamento simbólico, o exato mesmo ar que respira a civilização, surja com certa força. Perguntar o por que a cultura deveria existir parece, cada vez mais, uma boa forma de propô-la. Especialmente, dada a enorme antigüidade da inteligência humana agora cujo sentido está estabelecido principalmente pela persuasiva demonstração de Thomas Wynn (1989), considerando como esta inteligência  fez com que fabricássemos ferramentas de pedra a cerca de um milhão de anos. Há um abismo temporário um tanto evidente entre esta capacidade humana estabelecida e o princípio da cultura simbólica, com muitos milhares de gerações entre as duas.

A cultura é um assunto bastante recente. A arte rupestre mais antiga, por exemplo, é de aproximadamente 30.000 anos atrás, e a agricultura só começou a se sistematizar a cerca de 10.000 anos atrás. O elemento que faltava durante o enorme intervalo em que nossa capacidade intelectual era suficiente para possibilitar a simbolização mas não a produzia, foi uma mudança em nossa relação com a natureza. Parece plausível ver neste intervalo, de alguma modo que, talvez, nunca sejamos capazes de entender, uma recusa em tentar controlar a natureza. Pode ser que esta tendência se fez presente apenas quando se introduziu esta luta pelo domínio, provavelmente de forma inconsciente e mediante uma divisão gradual do trabalho, quando a simbolização das experiências começaram a se firmar.

Mas, se argumenta com freqüência que a violência dos primitivos -sacrifícios humanos, canibalismo, caça-de-cabeças, escravismo, etcétera – só pode ser domesticada pela civilização/cultura simbólica. A resposta simples a este estereótipo do primitivo é que a violência organizada não foi eliminada pela cultura, senão , de fato começou com ela. William J.Perry estudou (1927) vários povos do Novo Mundo e notou um forte contraste entre os povos agricultores e os não domesticados. Viu que estes últimos “eram imensamente inferiores em cultura, mas careciam dos horríveis costumes [dos outros]”. Enquanto virtualmente toda sociedade que adotou uma relação de domesticação com a natureza ao redor do globo foi objeto de práticas violentas, os não agricultores não conheceram a violência organizada. Os antropólogos se centraram bastante sobre os índios da costa noroeste como uma estranha exceção a esta regra: apesar de terem sido essencialmente pescadores, num determinado momento começaram a utilizar escravos e a estabeleceram uma sociedade muito hierárquica. Inclusive aqui, de qualquer forma, estava presente a domesticação: em forma do uso de cachorros e fumo como um cultivo menor.

Sucumbimos à objetificação e deixamos que uma rede de cultura nos controle e nos indique como viver, como se isto fora um desenvolvimento natural. É qualquer coisa menos isso, e deveríamos ter claro o que nos deram de fato a cultura e a civilização, e o que nos foi tirado.

O filósofo Richard Rorty (1979) descreveu a cultura como um conglomerado de pretensões de conhecimento. No reino do ser simbólico se desprezam os sentidos, devido a sua separação e atrofia sistemáticos sob a civilização. O sensual não se considera uma fonte legítima de busca da verdade.

Nós humanos já permitimos uma recepção completa e apreciativa pelos sentidos, o que em alemão se chama ‘umwelt’, ou o mundo que nos rodeia. Heinz Werner (1940, 1963) argumentou que originalmente a percepção se reunia em torno de um único sentido, antes que as divisões em sociedade rompessem a unidade sensorial. As pessoas que sobrevivem sem agricultura com freqüência exibem no uso dos sentidos, uma consciência sensorial e um envolvimento muito maior do que os dos indivíduos domesticados. (E.Carpenter 1980).  Impressionantes exemplos são abundantes: como os bosquímanos, que podem ver as quatro luas de Júpiter sem ajuda tecnológica e podem ouvir um avião de um só motor a setenta milhas de distância (Farb, 1978).

A cultura simbólica inibe a comunicação humana bloqueando ou suprimindo os canais de consciência sensorial. Uma existência cada vez mais tecnológica, empurra-nos a desdenhar a maior parte do que poderíamos experimentar. Vão a mente as palavras de William Blake:

“Se as portas da percepção fossem purificadas, tudo apareceria ao homem como é, infinito. Já que o homem se fechou, até ver as coisas através das estreitas gretas de sua caverna.”

Laurens Van Der Post (1958) descreveu comunicação telepática entre os Kung na África, inspirando Richard Coan (1987) a caracterizar tais modalidades como “representes de uma alternativa, no lugar de um prelúdio ao tipo de civilização na qual vivemos”.

Em 1623 William Drummond escreveu; “Que doces conteúdos goza o alma através dos sentidos. São as portas e janelas de seu conhecimento, os órgãos de seu deleite”. De fato, o “Eu”, se não a “alma”, não existe na ausência das sensações corporais; não há estados conscientes não sensoriais. Mas é evidente como foram domesticados nossos sentidos numa atmosfera cultural simbólica: submetidos, separados, dispostos numa reveladora hierarquia. A visão, sob o jugo da perspectiva linear moderna, reina devido ser o menos próximo, o mais distanciador dos sentidos. Foi o meio pelo que o indivíduo foi transformado num espectador, e o mundo num espetáculo; e o corpo um objeto ou modelo. A primazia do visual não é acidental, já que uma indevida elevação da importância deste sentido não só situa ao observador fora do que vê, senão que permite construir a base do princípio de controle ou dominação. O som ou o ouvir como o centro dos sentidos seria muito menos adequado para a domesticação, já que rodeia e penetra o falante tanto como ao que escuta.

Outras habilidades sensuais são ainda mais desprezadas. O olfato, que só perde sua importância ao ser suprimido pela cultura, foi uma vez um meio vital de conexão com o mundo. A literatura sobre a cognição ignora quase por completo o sentido do olfato, estando seu papel tão reduzido nos humanos. É, depois de tudo, bastante pouco útil para o propósito da dominação; considerando como o olfato pode de forma direta trazer da memória inclusive recordações muito distantes, possivelmente é inclusive uma forma de habilidade anti-dominação. Lewis Thomas (1983) indicou que “o ato de cheirar algo, qualquer coisa, assemelha-se muito ao fato de pensar em si mesmo”. Se não o é, muito possivelmente o foi, e deveria sê-lo de novo.

As experiências ou práticas táteis são outro área sensorial onde retrocedemos a favor de substitutos simbólicos compensatórios. O sentido do tato de fato diminuiu numa existência sintética, a longa distância, ocupada pelo trabalho. Há pouco tempo para ou ênfase escassa  na estimulação ou comunicação táteis, inclusive se tal coisa leva a conseqüências claramente negativas. Nuance de sensibilidade e delicadeza se perdem, e é bem conhecido que aquelas crianças que experimentam pouco contato físico e carícias, desenvolvem-se mais lentamente e sofrem uma atrofia em suas expressões emocionais.

Tocar por definição implica sentir, ser “tocado” é sentir-se afetado emocionalmente, uma lembrança da antiga potência do sentido do tato, como na expressão “mantenha o contato”. A diminuição desta categoria de sensibilidade, entre as outras, tem tido suas conseqüências. A renovação desta categoria de sensibilidade num mundo re-sensibilizado traria uma direção de melhora na vida, em direção oposta à tendência atual: como Tommy gritava na ópera de The Who do mesmo nome, “olha-me, sente-me, toca-me, sana-me…”

Como com os animais e as plantas, a terra, os rios, e as emoções humanas, os sentidos ficam isolados e submetidos. A noção de Aristóteles de um plano “adequado” do universo ditava que “cada sentido tenha sua esfera própria”.

Freud, Marcuse e outros viram que a civilização demanda a sublimação ou repressão dos prazeres dos sentidos que causam proximidade, de maneira que o indivíduo possa ser assim convertido num instrumento do trabalho. O controle social, através da rede simbólica, arranca deliberadamente a importância do corpo. Um contra-mundo alienado, direcionado para uma ainda maior alienação por uma cada vez maior divisão do trabalho, humilha as sensações somáticas próprias e distrai de forma fundamental com respeito aos ritmos básicos da vida própria.

A divisão definitiva entre corpo e mente, atribuída a Descartes em suas formulações no século XVII, é o epicentro da sociedade moderna. Aquilo ao que se considerou a grande “ansiedade cartesiana” sobre o espectro do caos moral e intelectual, foi resolvido em favor da supressão da dimensão sensual e passional da existência humana. De novo, vemos a urgência domesticadora que fundamenta à cultura, o medo de não estar sob controle, agora atacando aos sentidos como uma vingança. Enquanto a ciência e a tecnologia têm uma licença teórica para proceder sem limites, o conhecimento sensual tem sido efetivamente erradicado em termos de pretender a verdade ou o entendimento.

Vendo o que este pacto tem forjado, uma profunda reação está amanhecendo contra a vasta empresa do simbólico que nos aflige e invade cada parte de nós. “Se não ‘retornarmos aos nossos sentidos'”, como julgou David Howes (1991), “teremos perdido para sempre a oportunidade de construir alguma alternativa com significado à pseudo-existência que tomamos como “vida” em nossa atual ‘Civilização da Imagem’ “. A tarefa da crítica deveria ser, principalmente, nos ajudar a ver que se precisará para atingir um lugar onde estejamos realmente presentes para os outros e para o mundo.

A primeira separação parece ter sido o sentido do tempo, que nos traz a perda da sensação de estarmos presentes para nós mesmos. O crescimento desta sensação é indistinguível da alienação em si mesma. Se, como indicou Levi-Strauss, “a característica principal da mente selvagem é a inexistência do tempo”, viver no aqui e agora é algo que perdemos através da mediação das intervenções culturais. O tempo presente é diferido pelo simbólico, e esta rejeição do instante contingente marca o nascimento do tempo. Caímos sob o feitiço do que Eliade chamou o “terror da história” à medida que as representações se opõem com efetividade ao puxão da experiência perceptual imediata.

O Mito do Eterno Retorno de Mircea Eliade (1954) destaca o medo que todas as sociedades primitivas tiveram da história, do passo do tempo. Por outro lado, as vozes da civilização tentaram celebrar nossa imersão nesta construção cultural tão básica. Leroi-Gourhan (1964), por exemplo, viu na orientação ao tempo “talvez o ato humano por excelência”. Nossas percepções acabaram tão governadas e saturadas pelo tempo que é difícil imaginar sua ausência geral: pelos mesmos motivos é tão difícil ver, neste ponto, uma existência social não dividida, não alienada, não simbólica.

A história, segundo Peterson e Goodall (1993), está marcada por uma amnésia sobre nossas origens. Suas estimulantes Visões de Caliban também apontavam que nosso grande esquecimento bem poderia ter começado com a linguagem, o mecanismo criador do mundo simbólico. A lingüista comparativa Mary LeCron Foster (1978, 1980) crê que a linguagem tem possivelmente menos de 50.000 anos de antigüidade, e surgiu com os primeiros impulsos para a arte, o ritual, e a diferenciação social. A simbolização verbal é o principal método para estabelecer, definir e manter, o mundo cultural e a estrutura de nossos pensamentos.

Como disse Hegel alguma vez, questionar a linguagem é questionar a existência. É muito importante, ainda assim, resistir tais excessos e ver a distinção entre a importância cultural da linguagem e suas inerentes limitações. Sustentar que nós e o mundo somos criações lingüísticas é tão somente outra forma de dizer o quão penetrante e controladora é a cultura simbólica. Mas Hegel vai bem mais além, e a afirmação de George Herbert Mead (1934) de que para ter uma mente é necessário ter uma linguagem é similarmente hiperbólica e falsa.

A linguagem transforma o significado, e a comunicação não é seu sinônimo. O pensamento, como entendeu Vendler (1967), é essencialmente independente da linguagem. Estudos sobre pacientes e outros que careciam de todos os aspectos da fala e da linguagem demonstram que o intelecto permanece poderoso inclusive na ausência de tais elementos (Lecours e Joanette 1980; Donald 1991). A afirmação de que a linguagem facilita enormemente o pensamento é também questionável, tal e como não foi demonstrado por experimentos formais com crianças e adultos (G.Cohen, 1977). A linguagem não é uma condição necessária para o pensamento (ver Kersetz 1988, Jansons 1988).

A comunicação verbal é uma parte do movimento que afasta da realidade social face-a-face, fazendo possível a separação física. A palavra sempre se situa entre as pessoas que desejam conectar entre si, facilitando a diminuição do que não se precisa falado para ser dito. Que declinamos de um estado não-lingüístico começa a parecer um ponto de vista são. Esta intuição pode repousar depois do juízo de George W.Morgan em 1968, que “nada, de fato, está mais sujeito a suspeita e depreciação em nosso mundo desencantado do que a palavra”.

Fora da civilização, a comunicação abarcava todos os sentidos, uma condição ligada as características chaves do coletor-caçador de abertura e cooperação. A capacidade de ler e escrever nos introduziu na sociedade dos sentidos divididos e reduzidos, e tomamos como se fosse um estado natural esta depravação sensorial, tal e como tomamos por natural essa capacidade de leitura e escritura.

A cultura e a tecnologia existem devido à linguagem. Muitos viram a fala como um método de coordenação do trabalho, isto é, como uma parte essencial da técnica de produção. A linguagem é crítica para a formação das regras de trabalho e o intercâmbio que acompanha a sua divisão, com as especializações e padronizações da economia nascente como linhas paralelas às da linguagem. Guiados agora pela simbolização, um novo tipo de pensamento toma o controle, que se concebe na cultura e na tecnologia. A interdependência da linguagem e tecnologia é ao menos tão óbvia como a da linguagem e cultura, e resulta num acelerado controle sobre o mundo natural intrinsecamente similar ao controle introduzido sobre o que uma vez foi um indivíduo sensual e autônomo.

Noam Chomsky, líder em teoria da linguagem, comete um grave e reacionário erro retratando a linguagem como um aspecto “natural” da “natureza essencial humana”, inata e independente da cultura (1966b, 1992). Sua perspectiva cartesiana vê a mente como uma máquina abstrata que está destinada a manipular correntes de símbolos. Conceitos como origens ou alienação não têm lugar neste estéril tecno-esquema. Lieberman (1975) proporciona uma correção concisa e fundamental: “A linguagem humana só pode ter evoluído em relação com a totalidade da condição humana.”

O sentido original da palavra ‘definir’ é, do Latin, limitar ou pôr um final. A linguagem parece com freqüência fechar uma experiência, não nos ajudar a estar abertos à experiência. Quando sonhamos, o que sucede não se expressa em palavras, tal e como os apaixonados se comunicam mais profundamente sem simbolização verbal. Que fez a linguagem avançar que tenha feito avançar o espírito humano? Em 1976, von Glasersfeld se perguntava, “se em algum tempo futuro, parecerá ainda tão óbvio que a linguagem melhorou a sobrevivência da vida neste planeta”.

O simbolismo numérico tem também uma importância fundamental no desenvolvimento de um mundo cultural. Em muitas sociedades primitivas era e é considerado como má sorte contar criaturas vivas, atitude próxima da noção primitiva comum de que nomear a outro é obter poder sobre essa pessoa. Contar, como nomear, é parte do processo de domesticação. A divisão do trabalho se presta ao quantificável, oposto ao que é completo em si, único, sem fragmentar. O número é também necessário para a abstração inerente no intercâmbio de bens e é pré-requisito para a decolagem da ciência e tecnologia. A urgência de medir traz um tipo deformado de conhecimento que não procura entender seu objeto, senão que procura seu controle.

O sentimento de que “a única forma em que podemos prender as coisas é através da arte”, é uma opinião comum que sublinha nossa dependência dos símbolos e a representação. “O fato de que originalmente todo arte foi ’sagrada’ ” (Eliade, 1985), isto é, pertencente a uma esfera separada, testemunha a respeito de seu status original ou função.

A Arte é uma das formas mais precoces da expressividade ideológica e ritual, desenvolvida junto com as práticas religiosas desenhadas com o objetivo de unir uma vida comunal que começava a se fragmentar. Era um elemento chave para facilitar a integração social e a diferenciação econômica (Dickson, 1990), provavelmente mediante a codificação de informação para indicar pertence, posição, e status (Lumsden e Wilson, 1983). Antes deste tempo, em algum lugar durante o Paleolítico Superior, os mecanismos para a coesão social eram desnecessários; a divisão do trabalho, papéis distintos, e territorialidade, parecem não ter existido durante muito tempo. À medida que a tensão e a ansiedade emergiram na vida social, a arte e o resto da cultura se alçaram ao mesmo tempo em resposta a sua perturbadora presença.

Como a religião, a arte surgiu deste desassossego, sem dúvida sutil mas poderosamente inquietante em sua novidade e em sua gradual usurpação. Em 1900, Hirn escreveu sobre uma insatisfação inicial que motivou sua busca artística por uma “expressão mais completa e mais cheia” como “compensação pelas novas deficiências da vida”. As soluções culturais, no entanto, não propõem as profundas deslocações das que as próprias “soluções” culturais são uma parte. Ao invés, como personagens tão diversos como Henry Miller e Theodor Adorno concluíram, não teria necessidade de arte num mundo desalienado. O que a arte foi incapaz de capturar e expressar poderia ser mais uma vez essa realidade, o falso antídoto esquecido da cultura.

Arte é linguagem e por tanto é evidentemente ritual, entre as mais antigas instituições simbólicas e culturais. Os comentários de Julia Kristeva (1989) “na próxima relação entre a gramática e o ritual” e os estudos dos rituais védicos de Frits Staal (1982,1986,1988), mostravam que a sintaxe podia explicar por completo a forma e significado do ritual. Como advertiu Christ Knight (1996), o fala e o ritual são “aspectos interdependentes de um único domínio simbólico”.

Essencial para a aparição da cultura nos assuntos humanos, o ritual não é só uma forma de ordenar ou prescrever as emoções; é também uma formalização do que está intimamente relacionado com as hierarquias e o domínio formal sobre os indivíduos. Todas as sociedades tribais e civilizações antigas conhecidas tinham organizações hierárquicas construídas sobre uma estrutura ritual e um sistema conceitual que se encaixasse com esta.

Os exemplos da relação entre ritual e desigualdade, desenvolvidos inclusive antes da agricultura são muitos (Gans 1985, Conkey 1984). Os ritos funcionam como uma válvula de segurança para a descarga de tensões geradas pelas emergentes divisões na sociedade e trabalho, para criar e manter a coesão social. Antes não tinha necessidade de mecanismos para unificar o que, num contexto carente de divisão do trabalho, não se encontrava dividido nem estratificado.

É dito com freqüência que a função do símbolo é a de revelar estruturas do real que são inacessíveis à observação empírica. Mais ao ponto, em termos dos processos da cultura e civilização, encontra-se no entanto o argumento de Abner Cohen (1981, 1993) de que o simbolismo e a simulação ritual, mistificam e santificam tarefas e papéis cansativos e os fazem parecer desejáveis. Ou, como indicou Parkin (1992), a natureza obrigatória do ritual entorpece a autonomia natural dos indivíduos pondo-os ao serviço da autoridade.
Ostensivamente oposto à alienação, o contra-mundo dos rituais públicos se dispõe oposto à direção histórica. Mas de novo isto é um engano, já que o ritual facilita o estabelecimento da ordem cultural, berço da teoria e prática alienadas. As estruturas de autoridade rituais jogam uma parte importante na organização da produção (divisão do trabalho) e promovem ativamente o advento da domesticação. As categorias simbólicas se criam para controlar o selvagem e o estranho; assim, a dominação da mulher surge num desenvolvimento levado a sua realização total com a agricultura, quando as mulheres se convertem principalmente em bestas de cargas e/ou objetos sexuais. Parte destas mudanças fundamentais é um movimento em direção ao territorialismo e a guerra; Johnson e Earle (1987) discutiram a correspondência entre este movimento e a importância crescente do cerimonialismo.

Segundo James Shreeve (1995), “nos registros etnográficos, onde quer que se encontre desigualdade, justifica-se invocando ao sagrado”. De forma parecida, diz Eliade (1985) que todo simbolismo foi originalmente simbolismo religioso. A desigualdade social parece estar acompanhada por um subjugação na esfera não-humana. M.Reinach (citado em Radin, 1927) disse: “graças à magia, o homem faz sua ofensiva contra o mundo objetivo”. Cassirer (1955) expressou desta forma: “A Natureza não produz nada sem cerimônias”.

Da ação ritual surgiu o xamã, que não só foi o primeiro especialista devido a seu papel nesta área, senão o primeiro praticante cultural em geral. A arte mais antiga era levada a cabo pelos xamãs, assumindo a liderança ideológica e desenvolvendo o conteúdo dos rituais.

Este especialista original se converteu no regulador das emoções grupais, e a medida que a potência do xamã aumentava, teve um declínio correspondente na vitalidade psíquica do resto do grupo (Lommel, 1967). A autoridade centralizada, e provavelmente também a religião, surgiram da posição elevada do xamã. O espectro da complexidade social se encarnava neste indivíduo que manejava o poder simbólico. Cada líder e chefe se desenvolveram desde a primazia desta figura nas vidas do resto do grupo.

A religião, como a arte, contribuiu para uma gramática simbólica comum que necessitadas tanto pela nova ordem social, como pelas suas ansiedades e fissuras. A palavra religião se baseia na latina “religare”, atar ou juntar, e um tronco verbal grego que denota atendimento ao ritual, fé nas regras. A integração social, requerida pela primeira vez, é evidente como impulso para a religião.

Trata-se da resposta às inseguranças e as tensões, prometendo uma resolução e transcendência através do simbólico. A religião não encontra base para sua existência antes da mudança equivocada tomado em direção a cultura e ao civilizado (domesticado). O filósofo americano George Santayana resumiu bem com “outro mundo em que viver é o que se quer dizer quando se fala de religião”.

Desde “As origens do Homem” de Darwin (1871), entendemos que a evolução humana se acelerou imensamente em relação a cultura num tempo de mudanças fisiológicas insignificantes. Assim, o ser simbólico não dependeu, não teve que esperar dos dons adequados, para evoluir. Agora podemos ver com Clive Gamble (1994), que o conceito de intenção na ação humana não chegou com a domesticação/agricultura/civilização.

Os habitantes nativos do Deserto do Kalahari na África, tal e como foi estudado por Laurens van der Post (1976), viveram num “estado de absoluta confiança, dependência e interdependência com a natureza”, que era “bastante mais agradável com eles que do que tenha sido com qualquer outra civilização”. O igualitarismo e o compartilhar de bens eram as qualidades principais da vida do caçador-coletor (G.Isaac 1976, Ingold 1987, 1988, Erdal e Whiten 1992, etc), mais adequadamente chamada vida do coletor-caçador, isto é, essencialmente recolhedores. De fato, a maior parte desta dieta consistia em plantas, e não há uma evidência conclusiva da caça anterior ao Paleolítico Superior (Binford 1984, 1985).

Um olhar instrutivo às sociedades primitivas contemporâneas é o trabalho de Colin Turnbull (1961, 1965), sobre os pigmeus do bosque Ituri e seus vizinhos Bantú. Os pigmeus são recolhedores, vivendo sem religião nem cultura. São considerados ignorantes e imorais pelos agricultores Bantú, mas desfrutam de um individualismo e uma liberdade muito maior. Para o incomodo dos Bantú, os pigmeus zombam irreverentemente de seus ritos solenes e sentido do pecado. Recusando o territorialismo, e muito menos os lugares privados, “movem-se livremente num mundo social sem mapas, não sistematizado, sem fronteiras”, segundo Mary Douglas (1973).

A vasta era anterior à chegada do ser simbólico, é uma realidade imensamente proeminente, e uma interrogação para alguns. Comentando sobre este “período que abarca mais de um milhão de anos de duração”, Tim Ingold (1993) chamou-o “um dos enigmas mais profundos conhecidos para a ciência arqueológica”. Mas a longevidade desta época estável, não-cultural, tem uma explicação singela: como conjeturou F.Goodman (1988), “era uma existência tão harmoniosa e uma adaptação tão bem sucedida, que não se alterou materialmente durante milhares de anos”.

A cultura triunfou finalmente com a domesticação. A extensão da vida se estreitou, especializou-se, forçadamente divorciada de seu estado de graça e liberdade espontânea anteriores. O assalto de uma orientação simbólica ante o natural também teve imediatos resultados externos. Pinturas rupestres antigas, encontradas a 125 milhas da fonte de água mais próxima no Saara, mostram pessoas nadando. Os elefantes eram ainda relativamente comuns em algumas zonas costeiras mediterrâneas em 500 A.C. segundo escreveu Herodoto. O historiador Clive Ponting (1992) mostrou que cada civilização diminuiu a saúde de seu meio ambiente.

E o cultivo definidamente não proporcionou uma qualidade superior ou mais confiável de comida (M.N.Cohen 1989, Walker e Shipman 1996), e no entanto introduziu doenças de todo tipo, praticamente desconhecidas fora da civilização (Burkett 1978, Freund 1982), e a desigualdade sexual (M.Ehrenberg 1989b, A.Getty 1996). O livro de Frank Waters sobre os Hopi (1963) mostra-nos um quadro chocante da divisão do trabalho e da pobreza do simbólico: “Mais e mais, comerciaram coisas que não precisavam, e quantos mais bens possuíam, mais desejavam. Isto era muito sério; já que não se deram conta de que estavam afastando-se, passo a passo, da boa vida que se lhes tinha dado”.

Um capítulo pertinente dos Tempos Antes da História (1996) por Colin Tudge  leva um título que fala como se fosse todo um volume: “O fim do Edén: o cultivo”. Grande parte da distinção epistemológica essencial se revela neste contraste por Ingold (1993): “Em poucas palavras, enquanto para os granjeiros e pastores a ferramenta é um instrumento de controle, para os caçadores e recolhedores seria mais adequado considerá-lo um instrumento de revelação”. E sustenta Horkheimer (1972), em termos do custo psíquico da domesticação/dominação da natureza: “a destruição da vida interior é o que o homem tem de pagar como preço por não ter respeito por nenhuma vida além da sua.” A violência dirigida para fora é ao mesmo tempo infligida espiritualmente, e o mundo exterior se transforma, se degrada,assim como, certamente, o campo perceptivo estava sujeito a uma redefinição fundamental. Certamente, a Natureza não ordenou a civilização; exatamente ao contrário.

Hoje está na moda, pata não dizer que é obrigatório, sustentar que a cultura sempre existiu e sempre existirá. Ainda que seja demonstrável que existiu uma extremamente longa era não-simbólica humana, possivelmente cem vezes tão longa a da civilização, e que a cultura só ganhou as custas da natureza, se ouve por todas as partes que o simbólico – como a alienação – é eterno. Assim, as questões sobre a origem e o destino não fazem sentido. Nada pode ser traçado além do semiótico no qual tudo está aprisionado.

Mas os limites da racionalidade dominante e os custos da civilização são demasiado visíveis para nós para aceitar esta espécie de retirada. Desde a ascensão do simbólico, os humanos tentaram através da participação na cultura recuperar uma autenticidade na qual uma vez vivemos. A urgência constante ou busca pelo transcendente testifica que a hegemonia da ausência é uma constante cultural. Como encontrou Thomas McFarland (1987), “a cultura principalmente testemunha a respeito da ausência de significado, não a sua presença”.

O consumo em massa e insatisfatório, inserido entre os ditados da produção e do controle social, reina cada dia como consolo para esta ausência de significado, e a cultura é certamente em si mesma uma escolha de consumo. Em sua base, é a divisão do trabalho o que ordena nossa totalidade simbólica falsa e mutiladora. “O aumento da especialização…” escreveu Peter Lombas (1996), “mina a confiança em nossa capacidade ordinária para viver”.

Estamos capturados na lógica cultural que converte tudo em objeto, já que aqueles que aconselham novos rituais e formas de representação como rota para uma existência re-encantada falham completamente em suas conclusões. Dificilmente, mais do que falhou durante tanto tempo, pode ser a resposta. Levi-Strauss (1978) referiu-se ao “tipo de sabedoria que [os povos primitivos] praticavam espontaneamente e a rejeição do que, no mundo moderno, é a loucura real”.

A saúde não-simbolizante que uma vez existiu em todas suas dimensões, ou a loucura e a morte. A cultura nos levou a trair nosso próprio espírito e plenitude aborígine, num reino cada vez mais degradado de alienação sintética, isoladora e empobrecido. O que não quer dizer que não tenha mais prazeres no dia a dia, sem os quais perderíamos nossa humanidade. Mas à medida que nosso empenho se faz mais profundo, vislumbramos quanto tem de ser apagado para nossa redenção.

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Patriarquismo, Civilização e as Origens do Gênero

28 quinta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarco Primitivismo, Anarquia, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Ecofeminismo, Feminismo e Transfeminismo, John Zerzan, Teoria

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Fonte: AnarcoPrimitivismo

Por John Zerzan

A civilização, fundamentalmente, é a história da dominação da natureza e a da mulher. Patriarquismo significa o domínio sobre a mulher e a natureza. As duas instituições são basicamente sinônimas? A filosofia tem essencialmente ignorado o vasto reino de sofrimento que tem se desdobrado desde seu inicio na divisão de trabalho durante seu curso. Hélène Cixous chama a história da filosofia de uma “uma rede de sacerdotes” A mulher é tão alheia a isso quanto sofre isso.
Camille Paglia, uma escritora teorista antifeminista, meditou então sobre a civilização e a mulher:

Quando eu vejo um guindaste gigante se movendo numa superfície de um caminhão, eu paro em respeito e admiração, como alguém faria a uma procissão religiosa. Que poder de concepção: que grandiosidade: este guindaste nos remete ao Egito antigo, onde a arquitetura monumental foi primeiramente imaginada e executada. Se a civilização tivesse sido deixada em mãos femininas, no estaríamos ainda vivendo em cabanas de palha. (1)

As “glorias” da civilização e o desinteresse da mulher. Para alguns de nós as “cabanas de palha” representa não tomar o caminho errado, o caminho da opressão  e da destrutividade. No ponto de vista da globalmente espalhada marcha de morte da civilização tecnológica, caso ainda estivéssemos vivendo em cabanas de palha.
A mulher e a natureza são universalmente desvalorizadas pelo paradigma dominante e quem não pode ver o que isto tem forjado?  Ursula Le Guin nos fornece um rico corretivo para Paglia:

O homem Civilizado diz: Eu sou auto-suficiente, eu sou o mestre, todo o resto é outro – fora, abaixo, subserviente. Eu possuo, eu uso, eu exploro, eu aproveito, eu controlo. O que eu faço é o que importa. O que eu quero é o que é importante. Eu sou o que eu sou, e o resto é mulher e selvagem, para ser usado como eu acho conveniente.(2)

Certamente existem muitos que acreditam que as primeiras civilizações foram matriarcais. Mas os antropólogos e arqueólogos, e as feministas inclusive, não tem encontrado evidencias de tais sociedades. “A busca por uma cultura, de cunho matriarcal, genuinamente igualitária tem se provado infrutífera.” Conclui Sherry Ortner.(3)
De qualquer forma, existiu um longo período de tempo quando a mulher era geralmente menos sujeita ao homem, antes da cultura masculina-decisiva se tornar fixada ou universal. Desde da década de 1970 antropólogos como Adrienne Zihlman, Nancy Tanner e Frances Dahlberg (4)  têm corrigido o foco ou estereotipo inicial do “Homem Caçador” pré-histórico para o da “Mulher Coletora”.
A chave aqui é a condição como uma quantidade geral, as sociedades pré-agricolas de bando conseguiam cerca de 80 porcento de seu sustento através da coleta e 20 porcento através da caça. É possível exagerar a distinção caçador/coletor e contemplar estes grupos no qual, num significante grau , as mulheres tem caçado e os homens coletado (5). Mas a autonomia da mulher nas sociedades coletoras é enraizada no fato de que os recursos materiais para o sustento são igualmente disponíveis para as mulheres e para os homens em suas respectivas esferas de atividade.

No contexto do ethos geralmente igualitário das sociedades de caçadores-coletores, antropólogos como Eleanor Leacock, Patricia Draper e Mina Caulfield têm descrito uma relação geralmente igualitária entre homens e mulheres (6). Em tal cenário onde a pessoa que procura algo também distribui isto e onde a mulher procura cerca de 80 porcento do sustento, é amplamente a mulher
que determina os movimentos e os locais de acampamento das sociedades de bando. De forma similar evidencias indicam que ambos homem e mulher fizeram ferramentas de pedras usadas por povos pré-agricolas.(7)

Com os matrilocais Pueblo, Iroquis, Crow e outros grupos indígenas americanos, A mulher poderia terminar uma relação conjugal quando quiser. Em toda parte, homens e mulheres na sociedade de bando se mudam livremente e pacificamente de um bando para o outro assim como nos relacionamentos. (8) De acordo com Rosalind Miles, o homem não apenas não comanda ou explora o trabalho da mulher , “eles exercem pouco ou nenhum controle sobre o corpo da mulher ou sobre as crianças, não criando fetiches de virgindade ou castidade, e não exigindo a exclusividade sexual da mulher” (9) Zubeeda Banu Quraishy fornece um exemplo africano: ” Entre os Mbuti as associações de gênero são caracterizados pela harmonia e pela cooperação.”(10)

E mesmo assim, alguém pergunta:  a situação real foi tão rósea assim?  Dado uma aparente universal desvalorização da mulher, em que varia em suas formas mas não em essência, a questão de quando e como isto era basicamente o oposto persiste. Existe uma fundamental divisão da existência social de acordo com o gênero, e uma obvia hierarquia a esta divisão. Para a filósofa Jane Flax, o mais profundo e assentado dualismo, igualmente inclusos aqueles do subjetivo-objetivo e mente-corpo são um reflexo da desunião de gênero. (11)

Gênero não é o mesmo que a distinção natural/fisiológica entre os sexos. Gênero é uma categorização e classificação cultural  baseada numa divisão de trabalho sexual que deve ser a única forma cultural de grande significância.
Se o gênero introduz  e legitima a desigualdade e o domínio, o que seria mais importante do que por isto em questão? Portanto em termos de origens – e em termos de nosso futuro –  a questão da sociedade humana sem gênero se apresenta.

Sabemos que a divisão de trabalho leva a domesticação  e a civilização e conduz ao sistema globalizado de dominação atual. Isto também mostra que a divisão de trabalho sexual artificialmente imposta foi sua primeira forma e foi também, em efeito, a formação do gênero.

Compartilhar a comida tem sido reconhecido como uma característica básica do estilo de vida coletor. Dividindo a responsabilidade pelo cuidado da prole, também,  o que ainda ode ser visto entre os poucos sociedades restantes de caçadores-coletores, em contraste com a vida familiar isolada e privatizada da civilização. O que pensamos como família não é uma instituição eterna, nada mais do que a exclusiva maternidade feminina foi inevitável na evolução humana.(12)

A sociedade é integrada por meio da divisão de trabalho e a família é integrada através da divisão sexual de trabalho. A necessidade de integração  indica uma tensão, uma ruptura que chama por uma base de coesão ou solidariedade. Neste sentido Testart esta certo: Inerente ao parentesco é a hierarquia”.(13) E com suas bases na divisão de trabalho, as relações de parentesco se tornam relações de produção. “Gênero é inerente à natureza da relação familiar”, como Cucchiari colocou, “a qual não pode existir sem isso” (14). Iste esta nesta área que a raiz da dominação da natureza assim como a dominação da mulher deve ser explorada.

Conforme um grupo combinado de coletores em sociedade de bando oferece um modo de papeis específicos, as estruturas das relações de parentesco formaram a infraestrutura das relações que desenvolveram na direção da desigualdade e de poder diferencial.
A mulher tipicamente se tornou imobilizada por um restritivo papel da cuidado da criança; este modelo aprofundado posteriormente, para além das exigências  dos papeis de gênero. Esta separação de básica de gênero e divisão de trabalho começou a ocorrer na transição de médio para o paleolítico superior. (15)

O gênero e as relações de família são construções culturais direcionadas sobre e contra a essência biológica envolvida, “acima de tudo uma organização simbólica do comportamento”, de acordo com Juliet Mitchell.(16) É possível dizer que procurar por uma cultura simbólica é necessário para uma sociedade dividida em gêneros, pela “necessidade de mediar simbolicamente um cosmo severamente dicotomizado.”(17)
A questão do “O que veio primeiro” se introduz e é difícil de resolver. Está claro, de qualquer forma, de que não existe evidências de atividade simbólica (pinturas rupestres por exemplo) até o sistema de gêneros, baseado na divisão sexual de trabalho, estava aparentemente em marcha.(18)

Pelo Paleolítico superior, a época exatamente anterior à revolução neolítica da domesticação e civilização, a relação de gênero ganhou o dia.  Sinais masculinos e femininos estão presentes nas primeiras artes da caverna, a cerca de 35.000 anos atras. A consciência de gênero cresceu como uma totalidade de dualidades toda-abrangente, um espectro de uma sociedade dividida.
Nesta nova polarização de atividade veio a associação de gênero, e a limitação de gênero. O Papel da caça, por exemplo, se desenvolve em associações de machos, isto requer atributos ao gênero macho como desejos peculiares.

Aquilo que tem sido muito mais unitários ou generalizados, tal como os grupos de coleta ou responsabilidades comunais para o cuidado com as crianças, agora se tornou as esferas separadas onde o ciúme e a possessividade sexual aparecem. Ao mesmo tempo, o simbólico emerge como uma esfera separada ou como realidade. Isto é esclarecedor em termos do conteúdo da arte, bem como o ritual  e a sua prática. É arriscado extrapolar  do presente para o remoto passado, ainda que culturas sobreviventes não industriais possam esclarecer alguma coisa. Os Bimin-Kushusmin de Papua Nova Guiné, por exemplo, experimentam a divisão masculino-feminino como fundamental e definitiva. A “essência” masculina , chamada finiik, não apenas significa poder ou qualidades guerreiras mas também significa ritual e controle.  A “essência” feminina, ou khaapkhabuurien, é o selvagem, impulsivo, sensual, e ignorante de ritual.(19) De forma similar, os Mansi da região noroeste da Sibéria coloca severas restrições no envolvimento da mulher em suas práticas rituais. (20) Com as sociedades de bando, não é exagerado dizer que a presença ou ausência de ritual é crucial para a questão da subordinação da mulher (21).
Gayle Rubin conclui que “a derrota mundial e histórica da mulher ocorreu com a origem da cultura e é um pré-requisito da cultura”(22).

O crescimento simultâneo da cultura simbólica e da vida dividida em gênero não é uma coincidência. Cada um envolve uma mudança básica de uma vida não-separada e não hierarquizada. A lógica dos seus desenvolvimentos e extensão é uma resposta à tensão e desigualdade que eles encarnam; ambos são dialeticamente interconectados a inicial e artificial divisão de trabalho.

Na seqüência, relativamente falando, da alteração gênero/simbólico veio outro Grande Salto a Frente, agricultura e civilização. Isto é o definitivo “levante sobre a natureza”, passar por cima dos dois milhões de anos anteriores de não dominação, inteligência e intimidade com a natureza. Esta mudança foi decisiva como uma consolidação  e intensificação da divisão de trabalho. Meillasoux nos lembra das origens:

Nada na natureza explica a divisão sexual de trabalho, ou tal instituição como o casamento, conjugalidade ou filiação paternal. Tudo é imposto sobre a mulher pela coerção, tudo isso são fatos conseqüentes da civilização que deve ser explicada, e não usada como explicação. (23)

Kelkar e Nathan , por exemplo, não encontraram muita especialização de gênero entre os caçadores-coletores na Índia Ocidental, comparado aos agricultores da região. (25) A transição da coleta para a produção de alimento levou a mudanças radicais similares na sociedade em todos os lugares. É instrutivo , citando outro exemplo próximo ao presente, o que o povo Muskogee no Sudeste Americano nos mostra o intrínseco valor da floresta não dominada, não domesticada; os civilizadores coloniais atacaram esta postura pela tentativa de substituir  a tradição matrilinear dos Muskogee  por relações patrilineares. (25)

O local exato da transformação do selvagem para o cultural é o domicílio, de maneira que a mulher se torna progressivamente limitada em seus horizontes.
A domesticação é afiada aqui (etimologicamente , do latin Domus, ou domestico) : trabalho árduo, menos robustidade do que os coletores, muito mais crianças, e uma expectativa de vida menor do que dos homens é encontrado entre os aspectos da existência agricultora da mulher. (26) Aqui outra dicotomia surge, a distinção entre trabalho e não-trabalho, que para muitos, e muitas gerações não existiu. Do campo de produção de gênero e de sua constante extensão vem a favorecer a fundação de nossa cultura e mentalidade.

Confinada, se não totalmente pacificada, a mulher é definida como passiva. Assim como a natureza, algo para ser feito produtivo; esperando a fertilização, estimulação externa a ela.
A mulher sofre o movimento da autonomia e relativa igualdade em pequenos grupos anárquicos dinâmicos para uma posição controlada num largo e complexo povoado governado.

A mitologia e a religião, compensações de uma sociedade dividida, testifica a redução da mulher. Na Grécia de Homero, a terra não cultivada (não domesticada para a cultura de grãos) era considerada feminina, a morada do Calipso, da feiticeira, da sereias que tentaram Odisseus a abandonar o trabalho da civilização.
Ambos, a mulher e a terra são novamente sujeitos à dominação. Mas este imperialismo revela traços de culpa, como na punição para aqueles associados com a domesticação e com a tecnologia, como nas narrativas de Prometheus e Sisyphus. O projeto da agricultura foi sentido, em algumas áreas mais que outras, como uma violação; portanto, a incidência de estupro nas estórias de Demeter.   Expostas como a montanha gasta, as relações mãe-filhas dos mitos gregos – Demeter-Kore, Clytemnestra-Iphigenia, Jocasta-Antigone* por exemplo, desapareceram.

No Gênesis, o primeiro livro da bíblia, a mulher é nascida do corpo do homem. A queda do Éden representa a recusa da vida coletora-caçadora, a expulsão para a agricultura e o trabalho árduo. A culpa cai sobre Eva, obviamente, que carrega o estigma da queda (27). Totalmente uma ironia, que a domesticação seja o medo e a recusa da natureza e da mulher, enquanto o mito do Jardim responsabiliza a vitima chefe desse cenário na realidade

Agricultura é uma vitória que cumpre o que começou com a formação e desenvolvimento do gênero. Apesar da presença de figuras sagradas, dedicadas a fertilidade, geralmente a cultura neolítica é muito preocupada com a virilidade. Da dimensão emocional masculinista, assim como Calvino entende, a domesticação animal deve ser principalmente uma iniciativa masculina (28). A ênfase distanciadora e o poder tem estado conosco (homens) desde então; expansão de fronteiras, por exemplo, a energia masculina subjugando a natureza feminina, fronteira após fronteira.

Esta trajetória tem atingido proporções esmagadoras, e somos avisados por todos os lados que não podemos  evitar o nosso engajamento com esta tecnologia onipresente. Porém, o patriarquismo também está em todo lugar, e mais uma vez a inferioridade da natureza é deduzida. Felizmente “muitas feministas”, Carol Stabile diz, defendem que “uma rejeição da tecnologia é fundamentalmente idêntica a rejeição do patriarquismo.”(29)
Existem outras feministas que reivindicam uma parte do empreendimento tecnológico, colocando uma virtual “fuga do corpo” , e na história gerada pela subjugação. Mas este vôo é ilusório, um esquecimento de toda a lógica e da trilha das instituições opressivas que construíram o patriarcado. Um futuro de alta tecnologia, desincorporado pode apenas ser mais do mesmo trajeto destrutivo.

Freud considerou fundamental tomar lugar numa subjetividade de gênero, culturalmente e psicologicamente. Mas suas teorias assumem prontamente a presente subjetividade dividida em gêneros, e, portanto requer muitos questionamentos. Várias considerações permanecem não colocadas, tal como o gênero como uma expressão de relações de poder, e o fato de que entramos neste mundo como criaturas bissexuais.

Carla Freeman coloca uma questão pertinente com seu ensaio intitulado, ” O masculino é local , assim como o feminino global? Repensando o gênero da Globalização”.(30)

A crise geral da modernidade tem suas raízes na imposição do gênero. Separação e desigualdade como aqui no período onde a cultura simbólica emerge, logo se tornando  definitiva assim como a domesticação e a civilização: patriarquismo. A hierarquia do gênero não pode ser mais reformada do que o sistema de classes ou globalização. Sem uma radical libertação da mulher estamos consignados a um engano mortal e a mutilação agora sendo distribuindo uma badalada assustadora por todos os lugares. A plenitude de uma existência sem gênero original pode ser a prescrição para nossa redenção.

Notas:
* Por falta de tradução para os nomes dos personagens mitológicos foi mantida a versão em inglês (N do T)
1. Camille Paglia, Sexual Personae: Art and Decadence from Nefertiti to Emily Dickinson (Yale University Press: New Haven, 1990), p. 38.
2. Ursula Le Guin, “Women/Wildness,” in Judith Plant, ed., Healing the Wounds (New Society: Philadelphia, 1989), p. 45.
3. Sherry B. Ortner, Making Gender: the Politics and Erotics of Culture (Beacon Press: Boston, 1996), p. 24. See also Cynthia Eller, The Myth of Matriarchal Prehistory: Why an Invented Past Won’t Give Women a Future (Beacon Press: Boston, 2000).
4. Por exemplo, Adrienne L. Zihlman and Nancy Tanner, “Gathering and Hominid Adaptation,” in Lionel Tiger and Heather Fowler, eds., Female Hierarchies (Beresford: Chicago, 1978); Adrienne L. Zihlman, “Women in Evolution,”

Signs 4 (1978); Frances Dahlberg, Woman the Gatherer (Yale University Press: New Haven, 1981); Elizabeth Fisher, Woman’s Creation: Sexual Evolution and the Shaping of Society (Anchor/ Doubleday: Garden City NY, 1979).
5. James Steele and Stephan Shennan, eds., The Archaeology of Human Ancestry (Routledge: New York, 1995), p. 349. Also, M. Kay Martin and Barbara Voorhies, Female of the Species (Columbia University Press: New York, 1975), pp 210-211, Por exemplo.
6. Leacock está entre os mais insistentes, afirmando que onde quer que o domínio masculino exista em sociedades sobreviventes deste tipo é devido aos efeitos da dominação colonial. Ver Eleanor Burke Leacock, “Women’s Status in Egalitarian Society,” Current Anthropology 19 (1978); and her Myths of Male Dominance (Monthly Review Press: New York, 1981). See also S. and G. Cafferty, “Powerful Women and the Myth of Male Dominance in Aztec Society,” Archaeology from Cambridge 7 (1988).
7. Joan Gero and Margaret W. Conkey, eds., Engendering Archaeology (Blackwell: Cambridge MA, 1991); C.F.M. Bird, “Woman the Toolmaker,” in Women in Archaeology (Research School of Pacific and Asian Studies: Canberra, 1993).
8. Claude Meillasoux, Maidens, Meal and Money (Cambridge University Press: Cambridge, 1981), p. 16.
9. Rosalind Miles, The Women’s History of the World (Michael Joseph: London, 1986), p. 16.
10. Zubeeda Banu Quraishy, “Gender Politics in the Socio-Economic Organization of Contemporary Foragers,” in Ian Keen and Takako Yamada, eds., Identity and Gender in Hunting and Gathering Societies (National Museum of Ethnology: Osaka, 2000), p. 196.
11. Jane Flax, “Political Philosophy and the Patriarchal Unconscious,” in Sandra Harding and Merrill B. Hintikka, eds., Discovering Reality (Reidel: Dortrecht, 1983), pp 269-270.
12. Ver Patricia Elliott, From Mastery to Analysis: Theories of Gender in Psychoanalytic Feminism (Cornell University Press: Ithaca, 1991), e.g. p. 105.
13. Alain Testart, “Aboriginal Social Inequality and Reciprocity,” Oceania 60 (1989), p. 5.
14. Salvatore Cucchiari, “The Gender Revolution and the Transition from Bisexual Horde to Patrilocal Band,” in Sherry B. Ortner and Harriet Whitehead, eds., Sexual Meanings: The Cultural Construction of Gender and Sexuality (Cambridge University Press: Cambridge UK, 1984), p. 36. Este ensaio é de grande importância.
15. Olga Soffer, “Social Transformations at the Middle to Upper Paleolithic Transition,” in Günter Brauer and Fred H. Smith, eds., Replacement: Controversies in Homo Sapiens Evolution (A.A. Balkema: Rotterdam 1992), p. 254.
16. Juliet Mitchell, Women: The Longest Revolution (Virago Press: London, 1984), p. 83.
17. Cucchiari, op.cit., p. 62.
18. Robert Briffault, The Mothers: the Matriarchal Theory of Social Origins (Macmillan: New York, 1931), p. 159.
19. Theodore Lidz and Ruth Williams Lidz, Oedipus in the Stone Age (International Universities Press: Madison CT, 1988), p. 123.
20. Elena G. Fedorova, “The Role of Women in Mansi Society,” in Peter P. Schweitzer, Megan Biesele and Robert K. Hitchhock, eds., Hunters and Gatherers in the Modern World (Berghahn Books: New York, 2000), p. 396.
21. Steven Harrall, Human Families (Westview Press: Boulder CO, 1997), p. 89. “Exemplos de ligações entre o ritual e a desigualdade entre as sociedades recolhedoras são comuns”, de acordo com Stephan Shennan, “Social Inequality and the Transmission of Cultural Traditions in Forager Societies,” in Steele and Shennan, op.cit., p. 369.
22. Gayle Rubin, “The Traffic in Women,” Toward an Anthropology of Women (Monthly Review Press: New York, 1979), p. 176.
23. Meillasoux, op.cit., pp 20-21.
24. Citado por Indra Munshi, “Women and Forest: A Study of the Warlis of Western India,” in Govind Kelkar, Dev Nathan and Pierre Walter, eds., Gender Relations in Forest Societies in Asia: Patriarchy at Odds (Sage: New Delhi, 2003), p. 268.
25. Joel W. Martin, Sacred Revolt: The Muskogees’ Struggle for a New World (Beacon Press: Boston, 1991), pp 99, 143.
26. A produção do milho, uma das contribuições norte americanas para a domesticação, “provocou um tremendo efeito no trabalho e na saúde da mulher”. O status da mulher “foi definitivamente subordinado ao dos homens na maioria das sociedades horticultoras ( do que é agora ) o leste dos Estados Unidos , no período do primeiro contato Europeu. A referencia é do trabalho de Karen Olsen Bruhns e Karen E. Stothert, Women in Ancient America (University of Oklahoma Press: Norman, 1999), p. 88. Da mesma forma, por exemplo,  Gilda A. Morelli, “Growing Up Female in a Farmer Community and a Forager Community,” in Mary Ellen Mabeck, Alison Galloway and Adrienne Zihlman, eds., The Evolving Female (Princeton University Press: Princeton, 1997): A jovem criança Efe (Zaire) se desenvolve numa sociedade onde as relações entre homem e mulher são muito mais igualitárias do que as relações entre homem e mulher agricultores”(p. 219).Ver também Catherine Panter- Brick and Tessa M. Pollard, “Work and Hormonal Variation in Subsistence and Industrial Contexts,” in C. Panter-Brick and C.M. Worthman, eds., Hormones, Health, and Behavior (Cambridge University Press: Cambridge, 1999), Em termos de quanto mais trabalho feito, comparado com o homem agricultor, pela mulher agricultora em relação aqueles que caçam e coletam.
27. O povo Etoro da Papua Nova Guiné possuem um mito similar no qual Nowali, conhecida pela suas corajosas caçadas, carrega a responsabilidade pela queda do povo Etoro de um estado de bem estar. Raymond C. Kelly, Constructing Inequality (University of Michigan Press: Ann Arbor, 1993), p. 524.
28. Jacques Cauvin, The Birth of the Gods and the Origins of Nature (Cambridge University Press: Cambridge, 2000), p. 133.
29. Carol A. Stabile, Feminism and the Technological Fix (Manchester University Press: Manchester, 1994), p. 5.
30. Carla Freeman, “Is Local:Global as Feminine:Masculine? Rethinking the Gender of Globalization,” Signs 26 (2001)

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PEDAGOGIA LIBERTÁRIA, EDUCAÇÃO POPULAR E ANARQUISMO*

28 quinta-feira jan 2016

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AIT-SP Núcleo de Lisboa, Educação, educação libertária, pedagogia libertária, Teoria, teoria anarquista, teorias anarquistas

educacion-libertaria-5Fonte: AIT-SP Núcleo de Lisboa

Ao abordar  o tema PEDAGOGIA (ou PEDAGOGIAS) LIBERTÁRIA não podemos  deixar de o ligar à sua génese ANARQUISTA e à figura de Ferrer Guardia e à sua ligação ao movimento anarco-sindicalista do  início do século 20.  Mais do que qualquer outra, a ideia de uma escola moderna, e de  uma educação baseada no racionalismo e na desmontagem de todas as superstições religiosas sociais e políticas, a iniciativa de Ferrer  Guardia ia a par do desenvolvimento de um proletariado combativo e organizado contra a exploração capitalista e a opressão do Estado – e tinha como alvo a educação integral das crianças filhas do proletariado, fora das mordaças das igrejas e dos poderes do Estado e do Capital. E foi por isso, no seguimento dos grandes levantamentos operários e populares, sobretudo na Catalunha, que Ferrer Guardia foi condenado à morte e fuzilado, aliás, no mesmo ano (1906) em que é criada a anarco-sindicalista CNT – Confederación Nacional del  Trabajo. À monarquia  espanhola e aos privilegiados latifundiários e senhores da indústria, não convinha uma escola que ensinasse aos proletários e seus filhos, que não é no “Céu”, depois de mortos, que há que alcançar qualquer “paraíso” mas sim aqui na Terra, onde as desigualdades, as opressões , as injustiças existem…-e que há que lhes pôr fim.

Com efeito, nesse período, não apenas em Espanha mas em muitos outros países –e em Portugal também – o desenvolvimento do movimento anarquista e das organizações operárias, como os sindicatos revolucionários (UON primeiro e CGT mais tarde), associações populares, cooperativas, ia a par da criação de escolas operárias nesses organismos de base, de círculos de estudos sociais, de grupos de alfabetização, dos quais, os principais centros industriais  como o Porto, Lisboa, Setúbal , foram férteis. Nesse mesmo período, em Inglaterra foi criada a “Pleb´s League”, a Liga dos Plebeus, com o objectivo expresso de cultivar e instruir o proletariado inglês daquele tempo, a braços com a exploração infame a que a “democrática” burguesia britânica o submetia, com jornadas de trabalho de sol a sol, com trabalho infantil, com aviltantes e terríveis condições de trabalho…

A par do desenvolvimento das lutas sociais foram-se sempre desenvolvendo entre os meios laborais experiências de (auto-)educação popular, desde as experiências da escola de Goulai-Poulai, na Ucrânia, animada por Tolstoi em meados do século 19, à Alemanha dos anos 20 com as Comunas Infantis em Berlim e Hamburgo, ligadas ao desenvolvimento da FAU-D (Freie Arbeiter  Union – Deutschland , secção alemã da AIT ) como de resto, na mesma época, em Inglaterra, na Suiça, na Itália, na França, na Áustria e na Holanda, e nada disso está separado de movimentos operários – que tentam contrabalançar o crescendo nacionalista, fascista e nazi.

Seguir-se-ão as experiências  de redes de educação popular , durante a ocupação nazi da França, animadas pelo autodidata Freinet, e mais tarde, a alfabetização e educação popular nas favelas brasileiras, impulsionadas através das ideias da Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, às escolas dos “assentos” dos Sem Terra, nas ocupações de terras do Brasil e nas ocupações no México do ZPLN e dos Magonistas.
Algumas destas experiências decerto que escapam por vezes à classificação de LIBERTÁRIAS  no sentido ideológico do termo, mas abrem brechas na chamada “educação institucional”- sempre tendente a formatar crianças e adultos nos “valores” dominantes ( a competição, o afastamento da lutas sociais, o egoísmo social, etc.).

Algo profundamente ligado ao conceito de EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA é o AUTO-DIDATISMO organizado,  e as várias experiências surgidas na Suécia  (O. Olssen) e na Alemanha após a II Guerra Mundial e durante os anos 60 e 80: os Círculos de Estudos, organizados pelas próprias pessoas interessadas num dado tema e que tanto serviriam para apreender  em pequeno grupo uma qualquer técnica como para conhecer uma qualquer obra literária. Um seu desenvolvimento na  Berlim “alternativa” dos anos 80  foram também as “Bolsas de Aprendizagem” (Lernen Boerse),  orientadas segundo uma “velha” máxima  de B.Brecht, que dizia que “se o que não sabe é um ignorante, o que sabe e não passa aos demais aquilo que sabe é um criminoso”…

Muitos outros exemplos se poderão dar ainda de movimentos activos de educação e pedagogia libertária e educação popular no mundo inteiro. Também hoje, aqui e agora , frente à “crise” que banqueiros e governantes impõem que seja a maior parte da população pauperizada a pagar, frente ao aumento do ”intox” oficial (consome, consome, “empreendedorismo”,  lixa-o-parceiro-do-lado-para-

teres suce$$o, etc, etc…) nos tentam a todas e todos fazer aceitar as soluções vindas do alto da burra ou do alto do Estado.  E enquanto nos preocupamos com que nós e os nossos filhos possamos ter o último modelo de “té-lé-lé”, ELE$, os de cima e os de sempre, vão-nos roubando o tempo e a vida! É tempo de os recuperarmos! É tempo de ler mais e ver menos TV!
É tempo de criarmos entre nós CIRCULOS DE ESTUDOS LIBERTÁRIOS, GRUPOS DE AR LIVRE E AVENTURA COM OS MAIS NOVOS – a par de todas as iniciativas populares e laborais com que possamos “meter o pauzinho nas engrenagens que nos apertam”…
Por nós, tentamos dar alguma ajuda nesse sentido.
*Texto de Zé P. (militante anarco-sindicalista)
Dez.2015

Círculo de Estudos Sociais Libertários – c/ Sindicato de Ofícios Vários da A.I.T.-SP, Porto

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(Salvador) Campanha financeira do jornal anarquista Café Preto

27 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarquia, Café Preto, Comunicação, Comunicação Libertária, Democratização da comunicação, Mídia Contra Hegemônica, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A

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Café Preto, comunicação, comunicação libertária, democratização das comunicações, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A

café-preto2Fonte: Rede de Informações Anarquistas – RIA

O Café Preto é um jornal popular sediado na cidade de Salvador-BA que surge da necessidade de noticiar um mundo tornado invisível, um mundo de lutas e resistências. Queremos noticiar os conflitos territoriais, desde as lutas quilombolas até as reivindicações dos trabalhadores nas periferias das cidades. Queremos questionar a história oficial da Bahia, sempre contada a partir de um olhar colonizador, e que insiste em vender a imagem do sempre feliz, satisfeito, e acolhedor povo baiano.

Para mostrar o outro lado da história, repleta de belas lutas e tristes fatos, é que surge o Café Preto, um jornal anarquista, que dialoga e constrói ombro a ombro uma outra perspectiva de comunicação.

Somos um jornal voltado para o público popular, desta forma seria contraditório cobrarmos a sua distribuição.

Até aqui temos colocado em prática a ajuda-mútua e o faça-você-mesmo para tocar nossas atividades, e para mantermos a sustentabilidade financeira do jornal, precisamos de
mais companheiros e companheiras nesta correria.

Diante disto, estamos aqui buscando ampliar nossa rede de cooperação entre aquelas e aqueles que simpatizam com o sabor do Café Preto. Precisamos da sua ajuda para complementar o pagamento dos nossos custos, pois o cobrador já já baterá às nossas portas.

Mas como funciona este jornal?

Como qualquer outro jornal, temos um objetivo maior de existência. Acreditamos que um outro mundo é possível, um mundo diverso e repleto de solidariedade, de apoio-mútuo, autonomia, horizontalidade e liberdade.

Funcionamos de forma autogestionária, sem hierarquias e extremamente organizada, onde todos exercem a democracia de forma direta, livre e solidária, desde a seleção das pautas, passando pela redação das matérias, a elaboração de fotografias e até a confecção de vídeos e a diagramação das versões impressas e online do jornal.

Buscamos utilizcafé pretoar uma linguagem popular e simples, abordando temas de extrema complexidade e do interesse da população baiana, sem perder a profundidade necessária para instigar uma análise crítica dos fatos apresentados. Tentamos dar visibilidade às lutas ocultas que a grande mídia corporativa jamais terá interesse em noticiar. Priorizamos a distribuição nas ruas, nos meios populares, nas periferias urbanas, nas comunidades rurais, mas também não esquecemos o nosso público antenado no meio digital. Dessa forma, além do nosso Jornal impresso, auto-gerimos uma página oficial, uma página de facebook e um canal no youtube.

Quais são os custos de produção?

Muitos! Até agora, alguns dos nossos custos principais são::

Custo por edição

  • Toner (recarga): R$ 250,00
  • Manutenção (Peças, mão-de-obra…): R$ 250,00
  • Papel para impressão: R$ 100,00
  • Operacional (transporte, alimentação…): R$ 150,00

TOTAL: R$ 750,00

Investimentos iniciais

  • Impressora: R$ 3.153,86

Investimentos futuros

  • Toldo (Distribuição do Jornal nas ruas, realização de eventos…): R$ 139,00
  • Câmera Digital: R$900
  • Tripé: R$100
  • Microfone Gravador: R$300
  • Sede?? =D

Como posso ajudar?

Como você viu, nossos custos são bem altos, então você pode nos ajudar fazendo uma doação mensal no valor que couber no seu bolso! Veja abaixo um passo a passo de como fazer isso:

Caso você não tenha um telefone fixo ou celular, pode colocar um número aleatório para completar o cadastro. O mesmo vale para o caso de você ter dificuldade de preencher qualquer um dos demais campos obrigatórios de cadastro.

Se a situação estiver difícil e não puder contribuir, tudo bem, você pode ajudar na divulgação do Jornal, nos ajudando com materiais (textos, imagens, vídeos) e, até mesmo, fazendo parte da construção desse cafezinho. O Café Preto agradece e fortalece!

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(ARTIGO) O grito que vem da favela: Ninguém falará por nós!

26 terça-feira jan 2016

Posted by litatah in Antirracismo, Bandeiras de Luta, Black Block, Comunicação, Comunicação Libertária, direitos, Guerra às Drogas, Mártires da Luta, Mídia Contra Hegemônica, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Mobilização Quilombola, Moradia, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organização de base, Organizações Anarquistas, Periferias e Favelas, Perseguição política, Prática, Presos Políticos, Presos políticos, Questão racial, Quilombolas, Racismo, Racismo ambiental, Rafael Braga, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Repressão, Revolta Popular, Todo Apoio aos 23, Violência

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favela, favelados, guerra aos pobres, movimentos sociais, pobres, pretos, racismo, repressão, UPP, violência

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas – RIA

Há aproximadamente 700 favelas no Rio de Janeiro, são mais de 100 anos de resistência, mais de um século de uma história contada por grandes mudanças, lutas, conquistas e organização. A criminalização da pobreza já existia desde o surgimento da favela, muitas delas passaram pelas remoções, a polícia já perseguia e olhava para as pessoas que habitavam a favela como criminosas, os jornais da época também tratavam o lugar e a população como ‘feio’, ‘invasor’, ‘violento’, ‘sujo’, ‘sem estudos’ etc.

Depoimentos e práticas atuais dos governantes e de toda a sociedade fazem mostrar que tais atitudes e argumentos não mudaram. As favelas continuam sendo criminalizadas, invadidas, alteradas, transformadas por forças vindas de cima para baixo. Atualmente, inúmeras favelas localizadas na cidade do Rio estão há mais de cinco anos sofrendo com grandes transformações em seus espaços, seja com as remoções forçadas, ou com as invasões das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Sendo estas ações comandadas pelos próprios governantes.

Em 2010, 119 favelas foram parar na lista das remoções para dar lugar às vias expressas e a grandes obras. Metade delas já sumiram do mapa. Aproximadamente 50 favelas estão hoje sofrendo com as UPPs. Tudo isto porque o Rio passou a ser palco dos megaeventos, a Copa do Mundo, que ocorreu em 2014, e a Olimpíada, em 2016.

Diante dos fatos que são históricos, como colocar em debate de que a favela é cidade? Quais os desafios de se defender e entender a identidade favelada quando se tem uma sociedade toda que criminaliza, afasta, mata, extermina este espaço que tem historicamente raça, é o povo negro, indígena e oriundos dos estados do nordeste do país, e que pertence a uma determinada classe? Como argumentar dentro do lugar chamado favela que a cultura favelada deve ser valorizada, permanecida, continuada, praticada, passada de geração para geração?

Toda a cultura da vida favelada é criminalizada: os ensinamentos, a religião, as vestes, a forma de falar, de se comportar, a música, a construção das casas, da vida, do dia a dia. Como praticar a defesa deste local sem o discurso de ódio à outras classes e tendo como base de que este é um lugar comum, comunitário, onde tudo se aprende em comunidade e que tais exemplos devem ser passados para toda a sociedade?

Mas como passar para toda a sociedade esta grandeza de vida comunitária? Como argumentar dentro e fora sobre esta tal vida alternativa que se sustenta há mais de um século com muita resistência diante de tantos problemas internos e preconceitos externos e também internos? Como e por que deve-se mostrar a outras favelas que nós somos comuns, independente da favela em que moramos, já que nossas realidades são iguais? Como argumentar o sentindo da vida comunitária para outros movimentos sociais, que durante anos ignorou a vida favelada?

Essas são perguntas que uma pessoa não é capaz de responder, ou uma dita acadêmica/acadêmico estudioso de favelas ou de outras áreas, nem mesmo grupos podem saber as respostas. Nenhum discurso de ódio também é capaz de dar respostas, as únicas pessoas que têm legitimidade e podem responder essas perguntas são aquelas que nasceram nas favelas e vivem cotidianamente a sua realidade e resistência, sendo elas negras, brancas, indígenas, mulheres ou homens, pois todos são atravessados pela pobreza que é fruto da desigualdade do sistema capitalista.

São respostas que não serão dadas do dia para o outro, são respostas que a própria prática diária vai mostrar. Os fatos históricos mostram que durante anos e anos estes lugares foram e são criminalizados. No entanto, é preciso conhecer a história para dar continuidade a esta grande sobrevivência comunitária. Ou seja, só quem pode responder essas perguntas é a favela, pois ela é o todo de um grande mundo de diversidades que ali nasceram e nascem; cresceram e crescem; resistem e existem.

De: Carolina favelada
“Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos”, estes são relatos de Carolina Maria de Jesus, ela nasceu em 1914, Minas Gerais. De família pobre, esta mulher negra e favelada passou a vida resistindo, sobrevivendo, criando sozinha os seus filhos. Eu, moradora de uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, comunicadora favelada, me identifico com cada frase, livro desta grande mulher negra e favelada chamada Carolina, pois seus escritos são nada menos do que a sua própria realidade. Habitar este espaço chamado favela é sinônimo de muita resistência, cultura, alegria, misturados a grandes desafios por causa da falta de direitos, um deles, o direito à vida. No entanto, é preciso que nós, favelados, coloquemos para além dos muros das favelas, a nossa própria história!

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Revelador diálogo a respeito da suposta política repressiva do governo de São Paulo e uma reflexão subsequente

25 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, bruno lima rocha, Esquerda partidária, MST, MTST, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, PODEMOS, Presos Políticos, Presos políticos, Repressão, Teoria

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Análise, Análise de conjuntura, bruno lima rocha, Cooptação, esquerda, esquerda partidária, estado repressor, estratégia e análise, MST, MTST, PM, repressão, violência

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Fonte: Estratégia e Análise

Por Bruno Lima Rocha

Na metade de janeiro de 2016 tive uma conversa através de rede social – no privado – com um amigo de longa data, morador do estado de São Paulo, e profundo conhecedor da política local. Este conhecimento inclui importantes municípios como Santos, Campinas, Guarulhos, a região do ABCD, assim como do poder municipal em São Paulo capital, e óbvio, o Palácio dos Bandeirantes. Além de acadêmico, este militante com muita experiência notou o avanço da repressão policial contra as marchas organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e entidades aliadas. As palavras a seguir são de fonte segura, e podem ser lidas como uma suposição – já que não tenho a prova material – ou como uma hipótese bastante provável, que é como eu as encaro. Eis a fala deste amigo:

“Fala Bruno, sobre a repressão em SP, uma amiga que trampa no governo bem próxima de quadro tucano disse que a tática é apavorar prá esvaziar os atos e deixando só os mais mais aguerridos, aqueles que justamente pela bronca acumulada tenderiam a se tornar mais violentos e “justificar” a posteriori a repressão pelos “vândalos”. Enfim, a ideia central é evitar que massifique.”

“Aliás tem a orientação de bater muito, mas evitar sangue, braço quebrado, coisa que a mídia possa escandalizar. Claro que é duro calibrar isso numa tropa com sangue nos olhos. Também tem a orientação de “respeitar” apenas jornalistas da grande mídia. Blogs, independentes, etc são considerados ativistas e receberão o tratamento de militantes.”

“Novamente é difícil seguir isso à risca, pegaram pesado com jornalistas do UOL e da Gazeta esses dias. Os caras estão tentando ficar num grau de violência suficiente prá dissuadir, mas não tão alto que escandalize a mídia e gere solidariedade massiva como em 2013.”

Queria aportar uma breve reflexão. Infelizmente a maior parte da esquerda restante – nem incluo mais a base do governo e as tradições do lulismo, stalinismo e trabalhismo – conhecem pouco ou nada da interna do aparato repressivo e oscilam entre a denúncia e a fracassada tentativa de arregimentação. As políticas de segurança pública, o funcionamento interno destas corporações militares ou civis, os códigos de lealdade, o emprego da violência oficial e do Terror de Estado (como é o caso do acionar policial nas áreas de favela ou periferia) devem ser um tema da ordem do dia para quem quer analisar e transformar este país. O período do lulismo não fez nada ou quase nada a este respeito, deixando o entulho autoritário praticamente intacto.

Alianças espúrias com oligarquias estaduais e falta de coragem política levam a este abandono de debate. O mesmo se dá na relação com as forças armadas e especificamente com o exército de Caxias. Trago esta reflexão porque o caminho mais fácil seria responsabilizar o governo tucano paulista pelas atrocidades, sem levar em conta, por exemplo, as barbaridades e atrocidades cometidas pela PM baiana já no comando do terceiro governo petista. Não se trata necessariamente de uma relação belicosa e repressiva do governo dos Bandeirantes, haja vista o acionar da Brigada Militar em 2013 sob governo do ex-comunista profundamente arrependido, Tarso Genro. Até presos políticos tivemos na província, sendo que há seis processados e um condenado em primeira instância.

É urgente avaliar a relação permanente entre os governos estaduais e o aparelho repressivo sob seu comando, mas nunca sob sua inteira lealdade. Não é nada difícil a autonomização dos corpos tecnoburocráticos, em particular no caso de forças policiais. Estudar este comportamento e tomar esta medida na promoção de lutas justas e massivas é tarefa urgente para reconstruirmos o pensamento e a ação da radicalidade de esquerda em defesa do interesse das maiorias no Brasil.

 

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Que esquerda é essa? Ou porque a posição da CAB está correta – 2

25 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, bruno lima rocha, Coordenação Anarquista Brasileira, Esquerda partidária, FAG, MST, MTST, Teoria

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Análise, Análise de conjuntura, bruno lima rocha, Cooptação, esquerda, esquerda partidária, estratégia e análise, MST, MTST, PT

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Fonte: Estratégia e análise

Por Bruno Lima Rocha

Como construir um partido político de esquerda sem projeto político? Como falar em socialismo sem uma projeção de sociedade? Como caracterizar uma etapa se não há objetivo finalista, sem uma via estratégica, sem a dimensão tática correspondente? O maximalismo só atende ao nível da filosofia política, mas fazer política de forma séria, consequente e por esquerda prevê um – ou alguns – projetos de acumulação de forças que vão se encontrar ou desencontrar ao longo da via. Desde que o muro caiu a maior parte da esquerda restante, da ex-esquerda, no caso da América Latina do campo classista e nacional-popular, perdera esta dimensão de metas de médio e longo prazo na política e acabam jogando o jogo do liberalismo, mesmo que por tabela.

Até o final da Guerra Fria era mais “fácil”, pois mesmo com críticas ao carcomido e horroroso modelo soviético, ainda havia abundante ilusão e fantasia autoritária (não entre os libertários), como a tese absurda de partido único e formação de vanguardas políticas. Centenas de milhares de militantes sinceros em nosso Continente deram a vida por projetos semelhantes, com especial ênfase nas organizações político-militares, alternativa do nacionalismo de esquerda e do marxismo latino-americano ao modelo de partido comunista, seja este descendente do SPD original – onde Marx militou – ou de sua derivação mais conspiratória, com origem leninista. Em nosso país, o exemplo acabado e reivindicado – pelo exemplo – é o de Carlos Marighella e seus correligionários. Mas, não há  uma linha sequer em algum documento da ALN afirmando como seria o sistema político, o sistema jurídico, a base econômica sob controle coletivo e outros aspectos fundamentais da vida em sociedade. Todo o respeito para quem se jogou por um mundo melhor, mas ajuda saber como pensavam o que seria – será – este mundo. O que não existe em teoria não se realiza na sociedade.

A crise política pós-Guerra Fria vem daí, da ausência de teoria de ruptura. O que temos de viúvas do eurocomunismo reivindica este Marx já criticado do SPD e acabam compondo a social-democracia como ideário máximo dentro do sistema capitalista.  Não adianta tergiversar, buscar debates escapistas ou fugir da polêmica. De forma e séria e contundente há de se perguntar para toda força política no campo da esquerda: “Companheiro, companheira, o quê vocês querem? Onde querem chegar? Qual o caminho para atingir este objetivo? Porque tem ou não adesão às vias eleitorais? Qual o limite do jogo institucional para vocês?” Sem esse debate franco não há caminho a seguir e tudo não passa ou de luta reivindicativa – o que é bom, mas sem projeto não acumula para além dos momentos de ascensão – ou pior, termina esta energia social sendo canalizada para a jogatina eleitoral.

Utopia não é devaneio e nem demência, é o lugar a ser construído, o ideário onde de forma racional e consequente aqueles e aquelas aderentes a um conjunto de ideias (ideologia) se organizam politicamente para tal. Especifismo (o anarquismo politicamente organizado como força classista e popular) é isso, é só isso, é tudo isso. É tudo isso com a democracia direta em todos os níveis, sem aderir à venda casada do liberalismo, aonde a “democracia” vem junto da “liberdade” econômica.

É este o debate que deve ser feito – sim estou defendendo que sejamos francos uns com os outros ao menos uma vez na existência – sem subterfúgios, sem manobras de assembleias com boiada votando conforme o capa preta manda, sem papagaiada de formação hierárquica e jogo de cena para a torcida. E, pasmem, este é o debate que todas as forças evitam, evitam ao máximo, porque esta discussão consequente obriga a um nível de compromisso e autocrítica que não condiz mais com as práticas autoritárias, personalistas, descomprometidas, e não sobrevivem a chavões que são aplicados como panaceia autoexplicativa, como: “os fins justificam os meios”; “política é um  jogo dialético”, “tem de  ver a correlação de forças e fazer as alianças possíveis para o momento”…Sim, e para que? Por quê? Com quem? Com quais ferramentas?

O debate está aberto e este analista não tem delegação para falar em nome do coletivo, mas sim, como todos e todas que aderem ou apoiam, tem o dever de levar adiante as ideias coletivas e torna-las socialmente aplicáveis e compreendidas. A palavra de ordem e ideia guia construir um povo forte é isso. Criar, reforçar, um conjunto de entidades de base ou movimentos massivos que tenham a articulação interna e o poder necessário para tentar vetar o que não é favorável às maiorias e acumular forças para modificar a correlação de forças com independência de classe.  É o mínimo para apontar no rumo de uma política massiva, de base, mesmo dentro desta democracia indireta mas com disposição para transformar as relações sociais a partir das lutas coletivas.

Aonde chegar e qual sociedade se quer organizar é outro debate. Há consensos bastante ampliados a este respeito e pode ser tema de outro texto. Por agora, fica a pergunta: Se não há um projeto concreto de poder do povo, que esquerda é essa?

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Que “esquerda” é esta? Ou porque a posição da FAG está correta. – 1

25 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, bruno lima rocha, Esquerda partidária, MST, MTST, Teoria

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Análise, Análise de conjuntura, bruno lima rocha, burocracia, Cooptação, estratégia e análise, MST, MTST, ordem, partidos, partidos da ordem, PT

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Fonte: Estratégia e análise

Por Bruno Lima Rocha

Existe um mito contemporâneo afirmando que tanto a direção do MST como do MTST estariam mais à esquerda e forçariam o governo a tomar atitudes mais compensatórias, assim como redistribuir o poder interno no pacto de classes do lulismo. Desde 2003, ano após ano este mito foi retomado, com a ajuda da direita midiática.

Para reforçar esta ideia, há uma linha hierárquica de transferência de posição e campo de alianças organizado pelos militantes de confiança de Stédile e se organizam no Levante Popular da Juventude e na Consulta Popular. É uma espécie de modelo híbrido de frente política com esquerda social, com hierarquia pouco visível e um trabalho mais fluido como era o da Ação Popular quando a AP se desvincula da Igreja Católica em 1962. Não tenhamos nenhuma ilusão. A aparente democracia interna é linha baixada do “grupo de estudo” ou outro círculo de confiança. Na medida em que as decepções se acumulam, mais gente não sai de casa e o recrutamento e a mobilização ficam em cima da necessidade material urgente e da inflexível hierarquia interna. Mais combustível para a direita que não é governo e a perseguição midiática anti-povo.

Agora, com o “novo governo” Dilma dando recado para Nelson Barbosa liberar o Banco Central a operar com “autonomia”, na verdade, estamos vendo outro jogo de cena. O PT finge que pressiona o governo, que finge ser pressionado e finge estar fazendo um giro para a confiança dos mercados; enquanto isso a “esquerda social” finge estar propondo uma ou duas articulações de tipo frente popular e as mesmas não têm deliberação alguma e não passa de um acórdão de capa-preta e burocracia sindical.

É por isso que a posição de quem não quer aderir a uma frente em que nada está em jogo e quem banca a infra impõe a pauta está correta. Quem quebra a unidade das forças sociais em defesa da maioria é quem faz composição com a direita. O declínio da hegemonia petista (dos petismos, mas com o controle interno do antigo Campo Majoritário e externo da Via Campesina-MST-Grupo do Stédile) vai demorar a ser consolidado e arrancará em carne viva pedaços ainda maiores de nosso tecido social a cada dia mais fragilizado. Esta ferida estanca é com luta, demora, mas passa.

 

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Por uma geoestratégia dos povos – 1

22 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, bruno lima rocha, Internacional anarquista, Teoria

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anarkismo, Análise, Análise de conjuntura

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Fonte: Anarkismo

 

Por Bruno Lima Rocha

Introdução – Nesta nova série, inicio um conjunto de textos de difusão que visam ganhar a densidade até se tornarem um ensaio posterior. A meta não é necessariamente polemizar de fora para dentro da academia, e sim servir como apoio da frente teórica dentro da corrente para os debates, proposições e perspectivas em termos de política internacional, economia política internacional e relações internacionais. Muitas vezes, diante da impossibilidade teórica, há impossibilidade estratégica, logo, nada se realiza e quase tudo se copia ou mimetiza. A razão desta nova série é aportar uma contribuição para diminuir esta lacuna.

A história dos povos neste contexto fica subordinada ao arranjo temporário entre elites dirigentes e classes dominantes a partir de suas respectivas posições em Estados pivô geopolíticos e Agentes Geoestratégicos.

O cenário internacional é quase sempre marcado através de grandes eventos e situações onde ocorrem tomadas de decisão a influenciar a vida de milhões e até mesmo bilhões. A história dos povos neste contexto fica subordinada ao arranjo temporário entre elites dirigentes e classes dominantes a partir de suas respectivas posições em Estados pivô geopolíticos e Agentes Geoestratégicos. Os primeiros são observados pelas agendas midiáticas como os países regionalmente poderosos e que podem influenciar – a partir de sua condição local-regional e sua relevante posição geográfica – a “estabilidade” de um território ampliado. Os segundos têm seus excedentes de poder ultrapassando a determinação geográfica (em termos espaciais) e incidem para além de suas fronteiras físicas. Esta relação tensa projetada sobre um tabuleiro territorial costuma ser chamado de O Grande Jogo. Ir além desta condicionante é um grande desafio para pensar e analisar o mundo através de um viés libertário (igualitário e democrático).

Os conflitos internacionais e o chamado Grande Jogo costumam abafar ou subordinar os movimentos de libertação dos povos. Uma das maiores dificuldades em realizar uma linha crítica e comprometida nas relações internacionais e estudos de política em escala mundializada e o desenvolvimento de uma teoria que fuja da armadilha derivada do realismo e do pensamento stalinista, de base leninista. A soma do pragmatismo político (real politique), com o realismo ofensivo (a maximização de interesses em todos os níveis sem nenhum escopo ou limite moral para exercer tal vontade), passando pelo jogo de interesses e cinismo em distintas escalas (geopolitik), faz com que o pensamento da esquerda restante termine por se encantar por governos autoritários, embora os mesmos se contraponham ao “ocidente” como tal. É sempre positiva a existência de poderes mundiais para contrabalançar um pouco do excedente de poder da Superpotência. Mas, por outro lado, nenhum jogo entre Estados pode servir ao interesse e aos projetos estratégicos dos movimentos dos povos.

Para contribuir neste esforço, proponho uma análise bastante acessível, ao dividir o Jogo Internacional em três níveis. O primeiro nível é o Grande Jogo, em nível geoestratégico – portanto, ultrapassando o determinismo geográfico e o posicionamento original dos Estados. Este Jogo não atende em hipótese alguma o interesse dos povos, menos ainda das classes subalternas dos países subdesenvolvidos, semi-periféricos e potências eternamente em ascensão, como o Brasil. Não deveríamos em quase hipótese alguma embarcar no engajamento neste Grande Jogo, sendo que no momento a nova Guerra Fria ocorre entre Estados Unidos e União Europeia X China e Rússia; isto sem falar nas rivalidades intra-blocos ou entre aliados.

O segundo nível talvez seja o mais perceptível, onde em regiões bastante conturbadas, as potências de nível médio, operando como pivôs geopolíticos e com aliados dispostos a fazer guerras indiretas se aliam impondo suas pautas também a grandes potências. No caso específico do Oriente Médio, verificamos o jogo de Israel, Turquia, Arábia Saudita e Irã com níveis elevados de autonomia diante da força de proteção de EUA, Otan, EUA e Rússia, respectivamente. Quase sempre os grupos dominantes domésticos costumam ter poderes absolutos de veto dentro do jogo regional quando há um nível elevado de conflito. O jogo de nível dois confunde-se com os aliados domésticos e pode pender de lado segundo a condição de domínio nos Estados e territórios soberanos.

O terceiro nível é, de fato, o único onde os protagonistas são os povos em luta. Estes podem ter dimensão doméstica ou mesmo regional, sempre e quando há o protagonismo dos agentes que atuam a partir de países ou pertencimentos, como através da etnicidade, tal é o caso da esquerda do Curdistão. O desenho destes conflitos de nível três é onde podem se desenvolver formas de vida coletivas com autonomia das novas instituições sociais, onde a democracia direta e a economia autogestionária podem ser exercidas em média e larga escala. A defesa destes territórios ou ao menos a condição de veto dos povos em luta, é a única chance para garantir um agendamento internacional que vá ao encontro dos anseios da maior parte da humanidade, em geral colocada na condição de vítimas ou massas de manobra das decisões tomadas pelas elites dirigentes e frações de classe dominante em escala mundial.

Em termos normativos, as propostas que saem das agências da ONU (FAO, UNESCO, mesmo a OIT, ACNUR, dentre outras), além das redes transnacionais de defesa de causas (advocacy, como a Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras, dentre outros) são bastante aceitáveis, mas não têm a força necessária de serem implantadas. Tal condição de força depende necessariamente do protagonismo dos povos nos conflitos e lutas sociais de nível três. É neste nível que os interesses das maiorias vêm a ser exercidos de forma direta, através da luta coletiva e radicalmente democrática.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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A força de quem não tem nada a perder

21 quinta-feira jan 2016

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As Sufragistas, cinema, cinema é luta, cinema e anarquia, cinema e arte, Filme, filmes, História

suffragette-poster

Fonte: Blog do IMS

POR Carla Rodrigues

Quando As sufragistas começa, há vozes em segundo plano reproduzindo o tipo de discurso que havia no parlamento inglês contra a igualdade de voto para as mulheres. Uma das frases – “As mulheres estão muito bem representadas pelos seus pais, maridos e irmãos” – aponta a atualidade política do filme. A reconstituição da luta feminina por direitos civis e trabalhistas passa pela liderança política da feminista Emmeline Pankhurst, vivida na tela por Meryl Streep, e pela força das ideias anarquistas que embalaram as mulheres na campanha pelo voto, depois da derrota na primeira votação parlamentar.

A história começa em 1912 quando a Câmara dos Comuns – constituída apenas por homens – decide não conceder o voto às mulheres. Esgotadas as possibilidades de vitória pelas vias institucionais, as mulheres buscam outras formas de reivindicar seus direitos, formas que, além de lutar pelo sufrágio universal, também denunciam o fracasso da estrutura de representação parlamentar, resumida de maneira exemplar na frase “Não vamos respeitar uma lei que não é respeitável”. Aqui se pode aproximar as sufragetes de 100 anos atrás das mulheres nas ruas hoje,  reivindicando não apenas a derrubada do PL 5069 proposto pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mas também denunciando sua absoluta falta de legitimidade para representar interesses públicos e coletivos.

Num dos diálogos marcantes, Maud Watts está presa, encara um policial e diz: “Somos metade da humanidade. O senhor não vai poder prender a todas nós”. Estava dado aí um dos argumentos feministas desde a Revolução Francesa, o de que não há regime político digno de ser chamado de democracia sem a participação das mulheres. No rastro da denúncia desta exclusão, vieram outras denúncias de outras exclusões, de tal forma que a luta das mulheres ganhou uma paradoxal marca de luta pelo direito das minorias.

Entre 1912 e 1928, quando enfim o voto feminino foi aprovado na Inglaterra, as sufragistas intensificaram sua luta a partir de estratégias mais radicais. Quanto mais a repressão policial agia, mais um pequeno grupo de mulheres resistia. Nesse cabo de guerra, a opressão do Estado funcionou – lá como no Brasil de 2013, aliás – como combustível para resistência. Nesse processo, vai se tornando explícito que as mulheres submetidas a regimes de trabalho e de vida social de opressão não tinham mais nada a perder, de tal forma que a prisão ou mesmo a morte já não podiam mais significar uma razão para ceder.

Neste ponto, a luta feminista se encontra com o debate – filosófico, psicanalítico – sobre o feminino e sua atualidade na política hoje. A razão feminina (sintagma que pode parecer paradoxal, já que o feminino reivindica outra forma de razão que não seja a masculina e, portanto, talvez não possa ser chamada mais de razão) interroga os pressupostos do poder e do saber (jurídico, científico, médico, só para ficar com exemplos que me interessam). Ao abalar os pressupostos da razão masculina como sinônimo de razão universal, as sufragistas do início do século XX e as feministas do início do século XXI participam de um processo político amplo que vem mudando a cara do mundo ocidental nos últimos 100 anos.

Se esta é uma percepção possível a partir do filme, as mesmas cenas também podem nos fazer pensar em tudo que ainda falta mudar. Na lavanderia, elas trabalham mais horas, ganham menos que os homens, em condições insalubres, e estão sujeitas ao assédio sexual do patrão. Os direitos civis vieram, é verdade, mas o lugar de subalternidade na estrutura capitalista ainda é marca de submissão feminina, aqui entendida como opressão a toda e qualquer voz insurgente contra a hierarquia do poder patriarcal. Qualquer semelhança com os tempos que ainda correm não é mera coincidência.

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Sufragistas: classe, gênero e política

21 quinta-feira jan 2016

Posted by litatah in As Sufragistas, Entretenimento, História

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As Sufragistas, “A Grande Inquietação”., História, Sindicato Nacional de Sociedades de Sufrágio para Mulheres (NUWSS), Sindicato Social e Político de Mulheres (WSPU), Sylvia Pankhurst

sufragettes

Fonte: Blog Junho

Por Sean Purdy

O filme As Sufragistas, que estreou no Brasil no dia 24 de dezembro, tem sido muito elogiado pela crítica e amplamente discutido por militantes dos movimentos sociais. Conta a história inspiradora do movimento pelo direito de voto das mulheres no Reino Unido antes da Primeira Guerra Mundial. Destaca uma luta histórica contra opressão e injustiça que é muito bem-vinda para uma nova audiência de militantes feministas e socialistas. Diferentemente da narrativa convencional na memória coletiva do movimento sufragista que só foca no papel das líderes da classe média e alta, esse filme começa com a declaração que vai contar a história de “algumas trabalhadoras” do movimento.

De fato, o filme foca nas histórias pessoais e políticas de Violet e Maud, duas trabalhadoras numa grande lavandaria que enfrentam diariamente a exploração capitalista e o extremo machismo da sociedade na época. Sofrendo de dias longos de trabalho duro por salários menores de que os dos homens na lavanderia, elas também encaram assédio sexual no lugar do trabalho, além do abuso e do tratamento machista dos seus maridos. Militante experiente do movimento sufragista, Violet recruta Maud para luta e ela começa a ver a centralidade de direitos políticos iguais para mulheres como uma saída da exploração e opressão da vida dela.

O filme mostra cenas inspiradoras da luta do movimento no período: desobediência civil, atos de sabotagem, greves de fome na prisão e grandes passeatas. Atacando o mito do bobby (policial inglês) bonzinho, revela a extrema brutalidade da polícia contra as militantes e a determinação do governo e da polícia para esmagar o movimento. Perdendo a custódia do seu filho por causa da sua militância e sujeita ao tratamento violento da polícia, Maud continua lutando corajosamente no movimento.

Sem ser didático demais e oferecendo uma alternativa política à vasta maioria de filmes de grande porte, a diretora Sarah Gavron merece elogios por seu retrato dessa importante história da luta pelos direitos de mulheres. Todos os militantes dos movimentos feminista e operário deveriam ver esse filme.

Porém, o filme falha em dois aspectos chaves: sua representação das políticas do movimento e seus laços com os movimentos operário e socialista da época. Apesar do foco no enredo em algumas mulheres trabalhadoras, o filme não desafia suficientemente o mito que o movimento era somente de mulheres da classe média e alta

A grande inquietação

O movimento sufragista no Reino Unido nesse período não era um movimento homogêneo, mas consistia de várias correntes com políticas distintas. As duas organizações centrais no movimento eram o Sindicato Nacional de Sociedades de Sufrágio para Mulheres (NUWSS) e o Sindicato Social e Político de Mulheres (WSPU). A última, liderada de cima por Emmeline Pankhurst (retratada no filme por Meryl Streep) e sua filha Christabel, é a única organização retratada no filme. Porém, houve outras influências no movimento de organizações de mulheres sindicalistas, socialistas e do Partido Trabalhista Independente, o predecessor do Partido Trabalhista. A NUWSS preocupava-se mais com o movimento sindical e operário e tentava construir um movimento de toda a classe trabalhadora. Outra filha de Emmeline, Sylvia Pankhurst, era organizadora no movimento sindical e formou a Federação de Mulheres do Leste de Londres que também militava pelo direito de sufrágio para mulheres.[1]

Mulheres da indústria têxtil no norte de Inglaterra formavam o movimento mais radical pelo direito de voto. Para elas, Judith Orr argumenta, “a luta pelo voto era inseparável da luta contra os patrões”.[2] Alice Milne, uma trabalhadora que apoiava o movimento, relatou seu desconforto quando ela visitou o escritório do WPSU em 1906. Para ela, o lugar “estava cheio de mulheres respeitáveis vestidas com cetim e seda”. Selina Cooper, uma trabalhadora na indústria têxtil desde os sete anos de idade, fazia campanhas no noroeste da Inglaterra para convencer os sindicatos a apoiar a luta sufragista. Numa reunião pública em 1906, ela declarou que mulheres trabalhadoras tinham seus próprios objetivos no movimento, combinando a luta pelos direitos políticos e pelos direitos sociais e econômicos.

O WSPU certamente usava táticas radicais como escrachos de reuniões políticas dos partidos do governo, desobediência civil, greves de fome e atos individuais de sabotagem e era a face mais destacada do movimento nos jornais e subsequentemente por historiadores. As táticas eram frequentemente criativas e imaginativas. A intransigência do governo, a brutalidade da polícia, a falta de pleno apoio do movimento operário oficial e o aparente radicalismo da WSPU influenciaram trabalhadoras a aderir tal organização, mesmo que liderada por mulheres ricas. Mulheres da classe trabalhadora, média e alta, como o filme mostra, organizavam juntas nessas organizações, mas a questão de diferenças de classe nunca era ausente.

As táticas mais espetaculares eram atos individuais feitos por poucas mulheres e alienaram muitas militantes da classe trabalhadora que queriam construir uma base das massas de mulheres e homens da classe trabalhadora. Muitas trabalhadoras não podiam arriscar ir à prisão por sabotagem, etc. Mas, Emmeline e Christabel Pankhurst argumentavam que a única luta era “votos para mulheres”. O filme mostra um pouco disso, mas não desenvolve o tema quando, por exemplo, Maud e outras trabalhadoras foram liberados da prisão e não foram recebidas por ninguém. Sabemos, no entanto, que as militantes ricas celebraram sua liberdade da prisão em banquetes em hotéis de luxo. Quem sofria muito mais eram trabalhadoras sem maridos influentes ou dinheiro para pagar fianças. Essa divisão de classe é também mostrada no filme, mas não desenvolvida pela diretora, quando a filha de Violet é resgatada do abuso sexual do seu patrão na lavanderia através de Maud que lhe arruma um novo trabalho como empregada doméstica de uma rica sufragista.

Em 1907, o WPSU cortou todos os laços oficiais com o movimento operário. Segundo Christabel, os governantes “eram mais impressionados com mulheres da burguesia que as do proletariado”.[3] A organização de Sylvia Pankhurst foi expulsa do WSPU por causa do seu foco na luta da classe trabalhadora como um todo. Enquanto o WSPU continuava fazendo atos individuais e, ocasionalmente, grandes manifestações, as outras organizações continuavam organizando trabalhadores homens e mulheres para a conquista de direitos políticos para mulheres.

Não é surpresa que justamente no período de lutas militantes pelo sufrágio retratados no filme, 1912-1923, surgiu uma onda de lutas da classe trabalhadora conhecida como “A Grande Inquietação”. Membros de sindicatos duplicaram no Reino Unido entre 1910-1913 e houve grandes conflitos industriais nas minas, nas ferrovias, no setor de transporte, na construção e até nas lavanderias tais como o lugar de trabalho de Violet e Maud mostrado no filme. A popularidade do movimento pelo sufrágio e sua grande repercussão na imprensa ocorreu no mesmo período do aumento das lutas de classe no país.[4] A brutalidade da polícia e a intransigência dos governantes não foram a toa: o governo temia que o movimento sufragista se ampliasse e se conectasse com as lutas mais amplas do movimento operário.

Resistência dos sindicatos oficiais

No entanto, o fato é que o movimento operário e socialista oficial da época era equivocado na questão do direito do voto para mulheres. Alguns sindicalistas e políticos socialistas expressaram ideias extremamente machistas, argumentando que mulheres eram primariamente mães e donas de casa. Até os mais simpáticos ao movimento temiam que a luta fosse meramente burguesa e que arriscasse desviar a luta pelos direitos de todos os trabalhadores.[5] Afinal, nem todos os homens tinham o voto na época e a principal pauta discutido pelo WSPU era direito de voto somente para mulheres com mais de trinta anos que também possuíam propriedade (justamente o direito limitado cedido pelo governo em 1918). Apesar da importância de enfatizar a questão de classe, era um grande erro dos partidos socialistas e sindicatos não apoiarem plenamente os direitos políticos de todas as mulheres. Aliás, foram os esforços das militantes do NUWSS mais orientadas por ideias e práticas classistas que convenceram muitos sindicatos e o Partido Trabalhista Independente a apoiarem plenamente a demanda pelo sufrágio das mulheres.

Essa questão de classe e política é bem ilustrada pelas trajetórias de algumas das lideranças do movimento sufragista. Quando a Primeira Guerra Mundial estourou, o WPSU de Emmeline e Christabel Pankhurst capitulou ao patriotismo xenófobo da Inglaterra, suspendendo a luta pelo sufrágio e mudando o nome do jornal do movimento para Britannia. Nos anos 1920, Emmeline Pankhurst, preocupada com a influência do bolchevismo, afiliou-se ao Partido Conservador e ela e Christabel uniram-se às organizações reacionárias contra a Greve Geral de 1927 no Reino Unido. Outra filha, Adela Pankhurst, mudou-se para Austrália onde militou em políticas fascistas.

Porém, a Sylvia Pankhurst era uma das militantes do movimento sufragista que também era socialista convicta. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, ela fundou a Federação de Trabalhadores Socialistas cujo escritório sediou a primeira reunião do Partido Comunista Britânico. Ela foi muito inspirada pela Revolução Russa que conquistou não só direitos políticos para mulheres, mas plenos direitos sociais e econômicos.[6] Ela acabou saindo do PC, seguindo o “comunismo da esquerda” de Anton Pannekoek. Sylvia foi afastada da família permanentemente por sua mãe porque se recusou a se casar oficialmente com seu companheiro, um anarquista italiano com quem ela teve um filho. Mais tarde se dedicou à luta antifascista e anticolonial, ficando a última parte da vida dela na Etiópia, lugar onde morreu em 1960.[7] No filme, Sylvia é mencionada somente uma vez e de forma negativa, como oponente das táticas militantes da sua mãe. Ela, tal como os outras milhares de trabalhadoras do movimento pelo sufrágio, é quase completamente ignorada.

Apesar de uma perspectiva simplista de classe e pouco contexto histórico, o filme vale muito a pena ser visto pois destaca uma luta histórica e inspiradora contra opressão. Para militantes hoje em dia, provoca debates sobre como mulheres ganharam direitos políticos e como a luta continua contra todas as formas de opressão de mulheres.

Notas

[1] ELEY, Geoff. Forjando a Democracia: a História da Esquerda na Europa, 1850-2000. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.

[2] ORR Judith. Suffragette: The Revolt that Won the Vote. Socialist Worker, 13 out. 2015. Disponível em: http://bit.ly/1kxx28J

[3] Ibid.

[4] HARMAN, Chris. A People’s History of the World: From the Stone Age to the New Millenium. London: Bookmarks, 2008. Para lutas populares em geral nesse período ver GERMAN, Lindsey; REES, John. A People’s History of London. London: Verso, 2012.

[5] Sobre essa posição da esquerda europeia, ver ELEY, Geoff. Op. cit.

[6] GOLDMAN, Wendy. Mulher, Estado e Revolução: política da família Soviética e da vida social entre 1917 e 1936. São Paulo: Boitempo, 2014.

[7] CONNELLY, Katherine. Sylvia Pankhurst: Suffragette, Socialist and Scourge of Empire. London: Pluto 2013. Também ver ROWBOTHAM, Sheila. Hidden From History: 300 years of Women’s Oppression and the Fight Against It. London: Pluto Press, 1992.

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[Grécia] Coordenação de coletividades contra a barbárie psiquiátrica: “A Psiquiatria dominante assassina”

19 terça-feira jan 2016

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grecia-coordenacao-de-coletividades-contra-a-bar-1

Fonte: A.N.A.

Há poucos dias, a “Coordenação de coletividades contra a barbárie psiquiátrica” realizou uma ação (intervenção) nos dois hospitais psiquiátricos de Atenas, após as mortes-assassinatos de três pacientes nesses hospitais. A seguir, publicamos o texto informativo sobre a ação, e o texto distribuído durante a mesma. Ambos foram elaborados pela Coordenação.

O texto informativo sobre a ação:

Na sexta-feira 18 de dezembro de 2015 vários coletivos lutadores que não querem e não podem esquecer a barbárie que prevalece em hospitais psiquiátricos e que levou à morte de pelo menos três pessoas, realizamos uma intervenção nos dois hospitais psiquiátricos de Atenas, Dafni e Dromokaitio. Visitamos as alas dos hospitais, distribuímos textos e conversamos com os pacientes, funcionários, familiares de pacientes e visitantes, fomos para os escritórios da Associação dos Trabalhadores em Dafni e, claro, os escritórios da Administração, onde em ambos os hospitais não estavam nem os diretores nem os vice-diretores. Também pichamos slogans no exterior do edifício em que haviam sido assassinados três pacientes, bem como o prédio da Administração. Finalmente, do lado de fora dos hospitais abrimos faixas contra a barbárie psiquiátrica.

Nesta nossa intervenção encontramos várias reações que refletem diferentes lógicas. Houve gente que nos ouviu com atenção, gente que queria expressar suas angústias, mas também lógicas em que as contenções dos pacientes são o único caminho, e que não são capazes de imaginar uma lógica terapêutica diferente.

Também, encontramos com lógicas que acreditam que não podemos falar sobre o que acontece em hospitais psiquiátricos, ou pelo menos não podemos falar (não temos o direito de falar) dentro desses hospitais. Havia pessoas em cargos administrativos que consideraram que nosso discurso e nós não “temos espaço” (nos hospitais), trataram de nos limitar a um determinado espaço. Alguns, depois de nos assediar verbal e fisicamente, chamaram a Polícia. Suas provocações foram respondidas por nossa insistência para intervir apenas onde foram geradas as condições que levaram à morte dos pacientes.

O texto distribuído:

Hoje estamos aqui para não nos acostumar com a barbárie. Porque não nos esquecemos das mortes “invisíveis” e ainda das mais “invisíveis” condições que as geraram.

Vemos e notamos ao nosso redor a Soberania política e econômica atacando a todos os setores das classes mais baixas. Tendo como veículo os memorandos, o Capital e o Estado estão desvalorizando e eliminando direta ou indiretamente, tudo que diz respeito sobre o nosso salário social e meios de nossa subsistência. Estamos conscientes de que as consequências para a saúde, especialmente mental, são esmagadoras.

Para o futuro imediato, como parte desta ofensiva, e mais além do uso excessivo da tortura de restrições mecânicas, a comunidade psiquiátrica dominante e o ministério da Saúde promovam planificações como os tribunais psiquiátricos (artigo 69), os “quartos tranquilos”, em que os pacientes estão isolados e monitorados por câmeras, e o tratamento a domicilio obrigatório dos pacientes. O “fechamento de hospitais psiquiátricos” que andam espalhando (dada a falta de financiamento e de serviços comunitários alternativos) segue a lógica da abolição e dos cortes, em prejuízo dos pacientes, que normalmente não gozam de nenhuma atenção e em muitos casos segue a lógica de jogar nas ruas aqueles que não podem pagar. Verificou-se que embora a doença seja interclassista, o tratamento tem uma índole classista inexorável.

Concretamente, no campo da saúde mental, os fatos testemunham o desmantelamento completo de seus serviços. Aqui, a barbárie parece ter se convertido em um sistema. Durante o ano passado houve muitos mortos. Quatro pacientes atados foram queimados em setembro, outro foi fatalmente ferido após ser atacado por outro paciente em maio, no Centro de Atendimento de Crianças de Lejena as crianças são amarradas e mantidas em jaulas, um paciente cometeu suicídio no hospital psiquiátrica de Dafni, Atenas, e há também outras mortes “invisíveis” de que ninguém conhece.

Nesses incidentes, embora a questão da escassez trágica de pessoal possa ser fatal, o culpado é o sistema psiquiátrico de repressão através de restrições e drogas psicotrópicas. Embora as políticas nos últimos anos tenham intensificado a barbárie, esta última está baseada no conceito e na prática psiquiátrica dominante, que tomou uma posição clara ao lado do Poder, para reprimir, controlar e, em última instância, impor a ordem pública.

Aqueles que são avaliados como inadaptados, não normais, não convencionais e “diferentes”, são qualificados cada vez mais como “perigosos” pela Psiquiatria dominante, como os imigrantes, os que questionam o Poder político estabelecido etc. Todos estes são chamados de “grupos sociais perigosos”. E no campo da chamada Saúde Mental são responsáveis o Sistema psiquiátrico, as empresas farmacêuticas, as ONGs, as agências de segurança, e os interesses privados.

Sob esse espectro de disciplina e controle, foi criado (montado) um mecanismo onde o tratamento feito é a vigilância, a repressão e, finalmente, o controle absoluto dos pacientes nas masmorras infernais que são ironicamente chamadas de hospitais psiquiátricos. O paciente perde a sua identidade humana. Por meio de um emaranhado jurídico está praticamente fora da lei. Torna-se presa dos desejos, experiências e interesses. Torna-se refém do sistema psiquiátrico e dos psiquiatras que o servem. É uma situação que continua depois que o paciente recebe alta, estando muitas vezes estigmatizado por toda vida.

Os trabalhadores da saúde e todos os trabalhadores em hospitais psiquiátricos e em todos os serviços de Saúde Mental são muito pressionados e trabalham à beira da exaustão (2-3 pessoas para cada 40-50 pacientes, horários estressantes, etc.), e muitas vezes forçados a trabalhar como engrenagens e órgãos executivos de uma Psiquiatria desumana, e com a imensa responsabilidade de seus sindicatos que não chegam a botar em dúvida, inclusive muitas vezes chegam a adotá-la como a única abordagem adequada e viável. As contenções dos pacientes, assim como a repressão são cotidianas, não só para aqueles que são considerados “perigosos”, mas potencialmente para todos. No relatório, apesar do registro de muitos erros, omissões, deficiências, o óbvio, quer dizer, que a ninguém aconteceria nada se não estivesse atado, nem sequer é examinado.

A indiferença e o individualismo predominante na sociedade reproduzem este mecanismo, sendo o resultado a indiferença hipócrita sobre o que acontece atrás das portas fechadas, que os “perigosos” sejam mantidos à distância.

Para nós, a questão é superar os hospitais psiquiátricos e a desinstitucionalização, levando a sociedade, os profissionais da área de Saúde Mental, e as partes interessadas um papel ativo e protagonista. Para alterar a cultura e o comportamento institucional, para eliminar o uso da violência, a contenção de pacientes, o isolamento e a repressão com medicamentos, como uma forma de imposição institucional da Psiquiatria. Isso significa substituir e superar as instituições por uma rede integrada de serviços comunitários. Significa condições satisfatórias de trabalho e de salários, e a consolidação dos ativos (conquistas) dos trabalhadores. Significa uma resposta personalizada para as necessidades específicas de cada paciente, o respeito total e praticar seus direitos e sua dignidade, e seu reconhecimento como um interlocutor igual em todo o processo terapêutico. Significa a eliminação de qualquer tipo de atividade empresarial privada no setor da Saúde Mental. Exemplos neste sentido da desinstitucionalização existem tanto na Grécia como no estrangeiro.

No entanto, a superação e a mudança da metodologia psiquiátrica dominante não é uma decisão que será tomada por algum centro, mas que serão organizadas por todos os envolvidos no processo de sua transformação, e, em última instância por todos os lutadores contra a barbárie capitalista.

Coordenação de coletividades contra a barbárie psiquiátrica

O texto em grego:

http://kifiliou.blogspot.gr/2015/12/blog-post_21.html

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/coordinacion-de-colectividades-contra-la-barbarie-psiquiatrica-la-psiquiatria-dominane-asesina/

agência de notícias anarquistas-ana

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[CQM] Salários atrasados, universidades fechadas e RU mais caro: 2016 será ano de lutas no Paraná

18 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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Coletivo Anarquista Luta de Classe

Retirado de: https://quebrandomuros.wordpress.com/2016/01/15/salarios-atrasados-universidades-fechadas-e-ru-mais-caro-2016-sera-ano-de-lutas-no-parana/

AUMENTO DO RU PRENUNCIANOVOSATAQUESAOSTRABALHADORES E ESTUDANTES

Desde o dia 12 de janeiro trabalhadores da Universidade Federal do Paraná, técnicos administrativos, professores/as, funcionários/as da funpar, do hc e terceirizados/as passarão a pagar o valor integral de 6 reais nas refeições do RU. Até a data, professores/as pagavam 2,40, terceirizados/as eram isentos/as e demais trabalhadores/as pagavam 1,90. O reitor afirmou que a medida não afetaria os/as estudantes, já que o congelamento do preço do RU foi parte do acordo da greve. O aumento do preço já era algo previsto pelas trabalhadoras do ru, que relatam que há tempos o restaurante não tem recursos para funcionar. De acordo com funcionárias, os fornecedores não são pagos há meses, e por conta disto alguns estão se recusando a entregar os produtos, o que tem limitado bastante o cardápio do ru. A previsão é que isso se agrave…

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[FACA] NOTA CONTRA CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

18 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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Coletivo Anarquista Luta de Classe

Retirado de: https://faca.noblogs.org/post/2016/01/14/nota-contra-criminalizacao-dos-movimentos-sociais/

A Federação Anarquista Cabana [FACA] vem por este publicar nota de repúdio a condenação de militantes dos movimentos sociais no sudeste paraense.download

     É com todas nossas forças que nos solidarizamos com a luta das companheiras e companheirosdo Sudeste paraense que enfrentam mais uma batalha contra os grandes projetos instalados na Amazônia. Euvanice de Jesus Furtado, Roquevam Alves da Silva (Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB) e Roger Balieiro Veiga foram condenados a prisão por acusações arbitrárias exercidas pelas estratégias dos agentes de dominação desse sistema. Clausurar aquelas e aqueles que se erguem contra a estrutura social perversa, só fortalecerá a união dos de baixo.

     Acusa-los e sentencia-los com rotulações do ato de “invasão” e o movimento social de “formação de quadrilha” é no mínimo um contrassenso. Quem na verdade forma quadrilhas e invadem terras de comunidades indígenas e ribeirinhas certamente são…

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Chicho Sanchez Ferlosio – Los solidarios.

15 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in Cultura, Música

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Chicho Sanchez Ferlosio - Los solidarios., Durruti

LOS SOLIDARIOS copia

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Coletivo hip hop anarquista da África do Sul

15 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarquia, Arte e Entretenimento, Internacional anarquista

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anarquista, África do Sul, Coletivo hip hop anarquista da África do Sul, Hip Hop

coletivo-hip-hop-anarquista-da-africa-do-sul-1

Fonte: A.N.A.

Como fazer as pessoas perceberem que estão acorrentadas? Para o Soundz of the South (Sons do Sul, SOS) – coletivo de resistência anticapitalista de Khayelitsha, Cidade do Cabo – você dá hip hop a elas.

Essa conjunção acontece desde as origens do hip hop em Nova Iorque. Em festas de rua no sul do Bronx dos anos 1970, equipamentos de som eram muitas vezes ligados aos postes de iluminação de parque. As origens do hip hop foram estritamente “faça você mesmo” e, o que é mais importante, uma reação direta à marginalização estrutural de comunidades e do racismo da grande mídia. O SOS mantém esse espírito inicial através de seu ativismo hip hop relevante às suas lutas.

Sendo um coletivo tanto de ativistas quanto de artistas, estão comprometidos com a descentralização, a ação direta, a autonomia e a independência. Tal como os pensadores anarquistas Emma Goldman ou Mikhail Bakunin, acreditam que hierarquias corrompem e que somente a organização horizontal pode eliminar a desigualdade. Além de gravar discos, o SOS realiza reuniões regulares e apresentações “críticas” de documentários, seções semanais deSlam e organiza protestos e debates, participam de conferências regulares e iniciaram campanhas como a “Não vote! Organize-se!” ou iniciativas para salvar Philippi High (uma escola na planície da Cidade do Cabo). Também iniciaram a Caravana de Hip Hop Africano, uma série de eventos anuais (esta é a terceira edição) que está acontecendo agora no final de dezembro.

Uma de suas músicas recentes foi diretamente inspirada pelo envolvimento do coletivo com os protestos estudantis #FeesMustFall (Abaixo as mensalidades).

Quando entrevistei os membros Milliha, Anele, Khusta, Sipho e Monde, eles estavam convictos de que a sua música precisa ser política. “O hip hop precisa ser sobre a responsabilização daqueles que estão no poder”, diz Anele. A razão é a de que trata-se de um gênero com o qual os jovens se identificam e têm acesso, pois, ao contrário da música punk, “Você só precisa de papel e caneta, a batida vem por si mesma”.

O sentimento é o de que, quando a principal virtude do presidente do país, Jacob Zuma, é uma dança carismática, e o bling bling, bebidas e mulheres inundam a grande mídia, o hip hop de raiz é a mídia alternativa.

Como também fazem parte de outras organizações ativistas, tais como a Assembleia de Moradia e a ILRIG (International Labour Research and Information Group – Grupo Internacional de Pesquisa e Informação dos Trabalhadores), os membros do SOS compreendem que para a mudança social é necessário mais do que música. Para participar do coletivo, é necessário estar envolvido em discussões, protestos e reuniões regulares, assumir tarefas, organizar, bem como identificar-se com os princípios. Muitas vezes o trabalho de base vem primeiro, e ele inspira as ideias para as músicas. Mas Anele ressalta que o que o hip hop faz é ajudar os ouvintes a despertarem e se mobilizarem para a ação. “Ele desmistifica grandes questões e traz a política de volta para o povo”, diz. Ou, como Monde coloca, “estamos pegando o que está lá e trazendo para perto de quem não podia alcançar.” O objetivo da Caravana de Hip Hop Africano é levar esse tipo de consciência por todo o continente. Ela foi concebida em 2011 pelo SOS, pela Uhuru Network e por diversos ativistas culturais.

Em cada cidade africana que participe, haverá uma Conferência de Hip Hop Africano para encorajar a discussão do papel do hip hop nas lutas das comunidades, e um Concerto de Hip Hop Africano, dando ao hip hop reprimido e underground uma plataforma para se expressar. A edição de 2015 começará em Arusha, Tanzânia, e o foco principal será a migração contra o pano de fundo dos recentes ataques xenofóbicos na África do Sul, a crise de refugiados na Europa e as mortes de adolescentes negros nos Estados Unidos. Inspirados por artistas de hip hop do Dakar, que se reuniram para impedir o presidente Abdoulaye Wade de reeleger-se inconstitucionalmente a um terceiro mandato, a ideia é explorar a origem de certos problemas, relacioná-los a questões atuais e transcender fronteiras.

O envolvimento do SOS na caravana, bem como tudo o que fazem, é autofinanciado. Rejeitando estritamente qualquer financiamento de marcas corporativas (dizendo não ao Red Bull, por exemplo, me diz Khusta) para manter a autonomia, o SOS decide coletivamente o que acontece com qualquer entrada de recursos. Ninguém recebe dinheiro para gastar como quiser. Em vez disso, explica Khusta, ele volta para a comunidade. Como grupo sem número exato de membros, não estão interessados em ter nem registrar uma marca. “Não fazemos músicas para rádio”, diz Anele.

Na África do Sul, a música tem tido um papel importante na luta dos povos oprimidos. O presidente Jacob Zuma deve saber bem o poder de convencimento de um ritmo – em época de eleições, ele leva DJs famosos aos povoados. É por isso que o SOS não quer que os ouvintes desliguem seus ritmos. Seguindo Bakunin, acreditam que uma democracia “doce”, que exige gratidão por pseudo-liberdades, acaba distraindo das realidades importantes. “E é isso que temos, e é por isso que estamos fazendo o que fazemos, para fazer as pessoas perceberem que estão acorrentadas. Elas trabalham e criam riqueza para outros usufruírem, explica Anele. Infelizmente, ele continua, muitos camaradas anarquistas não entendem o hip hop – “eles vêem muito poder negro e acham se tratar de nacionalismo” – mas ele está convencido de que não há linha divisora entre o anarquismo e o hip hop. O hip hop é a voz da classe trabalhadora.

Fonte, vídeos e músicas aqui: http://africasacountry.com/2015/12/south-africas-anarchist-hip-hop-collective/

Tradução > G Montenegro

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(CATALUNHA) CNT DE BARCELONA INTENSIFICA CAMPANHA CONTRA ‘CORTE INGLÊS’

15 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarquia, Coletivo Libertário Évora, Espanha, Internacional anarquista, Manifestos, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos

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anarquismo, anarquista, Barcelona, boicote, corte inglês, Ex Colectivo Libertário de Évora, militantes, Portal Anarquista, presos políticos

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Postado em Portal Anarquista, Ex Colectivo Libertário de Évora, em 28/12/15

(Comunicado) Detidos dois militantes da CNT de Barcelona em resultado de uma campanha de boicote ao Corte Inglês

Esta manhã foram detidos dois companheiros da CNT de Barcelona, os quais são também militantes de Acção Libertária de Sants, pela sua participação na campanha de boicote ao Corte Inglês, que ambas as organizações promoveram. Estas detenções fazem parte de um processo mais amplo, dado que se produziram exactamente quando os companheiros se preparavam para dar apoio a um grupo de pessoas acusadas ao longo do fim-de-semana pelos mesmos motivos.

Estes factos confirmam o que já sabemos: o Corte Inglês não é uma empresa qualquer. É pro todos conhecida a sua boa relação com altos cargos policiais e institucionais, a sua política de empresa anti-sindicatos, a sua participação em processos repressivos relativamente a manifestantes e a grevistas. Dirigido por um falangista, Dimas Gimeno, o Corte Inglês converteu-se num ícone do machismo empresarial, acumulando denúncias por discriminação de género e escândalos como a venda de t-shirts infantis com frases em que se lia “Inteligente como o papá, bonita como a mamã”. Por tudo isto não é de estranhar que esta empresa desprezível utilize os contactos que tem com as cúpulas policiais e as leve a denunciar mais de 20 pessoas durante o passado fim-de-semana, acusando-as de participar nalgumas acções de protesto levadas a cabo pelo nosso sindicato ou qualquer dos colectivos e assembleias que se solidarizaram com esta luta. Os dois companheiros detidos esta manhã são os últimos incriminados até este momento.

Estes últimos companheiros são acusados de obstrução à justiça, desordens públicas e extorsão. Acusa-os uma empresa que, recordemos, participa no procedimento penal contra os grevistas do 29M exigindo 5 anos de prisão e 8500 euros de responsabilidade civil. Foi, concretamente, este facto que desencadeou a campanha de boicote. Longe de renunciar agora à penalização dos grevistas, O Corte Inglês põe mais lenha na fogueira ao denunciar mais de 20 pessoas neste contexto.

Eles têm claro o seu papel neste conflito. Não é uma questão económica, já que o que está em jogo nesta luta são quatro tostões para uma multinacional como esta. No entanto, sabem que em jogo está algo mais. Não cederam a esta reivindicação porque têm medo de perder o seu estatuto de autoridade inquestionável, de empresa intocável. Sabem o que simbolizam e cumprem o seu papel.

Desde a CNT de Barcelona deixamos claro, a partir de agora mesmo, que não toleraremos a atitude fascista e repressiva do Corte Inglês, de braço dado com os Mossos (polícia catalã). Um acontecimento da mesma natureza do que este desencadeou uma campanha de boicote que se estendeu por todo o Estado. Agora, a campanha de boicote ao Corte Inglês terá mais força e aumentará em contundência e em número de acções. Que se preparem, se quiserem guerra tê-la-ão.

Com este comunicado fazemos um apelo a todas as pessoas, colectivos, sindicatos e organizações solidárias para que incrementem o nível de luta contra o Corte Inglês até que este se veja obrigado a ceder no seu propósito de deter e encarcerar as pessoas que não transigem com as suas políticas miseráveis. Como dissemos nos piquetes, o Corte Inglês é mais do que uma empresa: é um símbolo. É o símbolo da exploração. Do machismo e da repressão. Por isso, a luta contra esta empresa é uma luta de todos.

Pela liberdade dos companheiros detidos, pela liberdade dos grevistas alvo de represálias, pela dignidade de toda a classe trabalhadora, hoje mais do que nunca, boicote ao Corte Inglês.

CNT de Barcelona

aqui: http://cntbarcelona.org/comunicat-detinguts-dos-militants-de-la-cnt-ait-de-barcelona-com-a-consequencia-duna-campanya-de-boicot-a-el-corte-ingles/

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OS ESTADOS EM NOME DA “SEGURANÇA” ESTÃO A VIOLAR AS LIBERDADES INDIVIDUAIS E COLECTIVAS

14 quinta-feira jan 2016

Posted by litatah in Coletivo Libertário Évora, europa, Internacional anarquista, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organizações Anarquistas, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Presos políticos, Presos políticos Espanhóis/Repressão na Espanha, Rafael Braga, Refugiados, Repressão, Revolta Popular, Todo Apoio aos 23

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estado repressor, internacionais, internacional anarquista, perseguição internacional, repressão, repressão internacional, repressão na Europa, repressão política

Three policemen man-handle one political activist during a protest in Baku, Azerbaijan, 12 March 2011.

Fonte: Portal Anarquista

A pretexto do “terrorismo islâmico” os estados europeus estão a reforçar cada vez mais as medidas repressivas e punitivas, impedindo ou impondo severas restrições à liberdade de circulação, de concentração e de manifestação dos cidadãos. Tem sido assim em França com denúncias, cada vez mais alargadas a diversos sectores, de que as liberdades individuais e colectivas estão a ser constantemente postas em causa em nome de uma suposta segurança.

Também em Portugal isso tem acontecido, apesar do papel periférico do país no contexto dos grandes problemas internacionais. Ainda há poucos dias a guilhotina.infodenunciava o reforço policial e a identificação de cidadãos em pleno centro de Lisboa.

Ontem à noite o mesmo aconteceu em Madrid, outros dos países que está a ser transformado num verdadeiro Estado policial. Os madrilenos gostam de comemorar a “noche vieja”, a última noite do ano (de 30 para 31 de Dezembro). juntando-se na Plaza del Sol – onde se têm realizado centenas de manifestações e onde teve lugar a acampada resultante do 15M -, em família ou em grupos de amigos, de copo na mão e muita alegria.

Este ano, ao principio da noite, a Praça foi cercada pela polícia e quem ali estava empurrado para fora, após o que as forças policiais montaram barreiras de acesso, permitindo apenas a entrada nalguns locais, onde todos os que queriam aceder à Praça eram revistados e a quem podiam ser pedidos os documentos de identificação.

Com uma presença policial massiva, a incomodidade foi enorme. Alegadamente em nome da “segurança”. Mas a “segurança” ali montada, do mesmo género daquela que é feita à entrada dos campos de futebol, para além do seu exibicionismo, não conseguiria travar qualquer operação “terrorista” se algum grupo bem preparado a quisesse levar a cabo (aliás, a operação policial, que hoje se vai repetir, tinha sido anunciada na comunicação social).

Do que se trata não é de qualquer “operação de segurança”, mas de, ao arrepio das liberdades individuais e colectivas, os estados estarem-se a reforçar repressivamente, impondo cada vez mais a lei do “quero, posso e mando” em detrimento do respeito pelas conquistas de cidadania que nos devem permitir circular, concentrar e manifestar nas principais ruas das cidade europeias – hoje, “em nosso nome” e por “motivos de segurança” transformadas em verdadeiros baluartes repressivos, policiadas ao milímetro, com uma grande ostentação de viaturas policiais, homens e outros meios de intimidação.

Esta tem sido a grande tónica do ano que agora acaba e será também a do ano que começa. E contra ela teremos que juntar todas as nossas forças, não abdicando em momento nenhum dos nossos direitos de cidadania e de circulação.

 

 

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Em 2016, se a tarifa aumentar o Brasil vai parar e todo apoio às greves dos rodoviários!

13 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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Coletivo Anarquista Luta de Classe

O ano de 2016 já começa anunciando que não será fácil para a maioria dos brasileiros. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Joinville e Florianópolis já tiveram aumento na tarifa de ônibus e o Movimento Passe Livre – MPL, outros movimentos e organizações da esquerda vêm construindo mobilizações de rua para tentar barrar estes aumentos. O aumento na tarifa de transporte é mais um saque ao bolso do trabalhador em plena crise econômica que o país vive. Aqui no Paraná não é diferente…

Cascavel: aumento da tarifa e greve dos trabalhadores e trabalhadoras do transporte

Na região Oeste, em Cascavel houve um aumento da tarifa no dia 7 (quinta-feira), com o valor indo de R$2,90 para R$3,30. No mesmo dia o Sinttracolve – sindicato dos trabalhadores do transporte coletivo de Cascavel – decidiu pela paralisação a partir do dia 11. As reivindicações do movimento são:

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(APOIO MÚTUO) FELIZ ANO NOVO AOS QUE LUTAM

13 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarquia, Coletivo Libertário Évora, Internacional anarquista, Organizações Anarquistas

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Apoyo Mútuo, Coletivo Libertário Évora

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Fonte: Portal Anarquista

Apoyo Mútuo (*)

“Àquelas que, “afortunadas” por terem um emprego, saem de casa quando ainda não nasceu o sol e regressam quando se pôs, para constatarem ao final do mês que o dinheiro mal dá para pagar a casa, transporte, alimentação.

Àqueles que à falta de opções têm que criar a sua própria empresa, na sua maioria assalariados encobertos para os ricos, crivados de impostos destinados a pagar aos bancos, esmagados com dívidas, e que, ainda para mais, têm que ver como os seus inimigos os dão como exemplo de “empreendedores”, “empresários” ou “inovadores”.

Àqueles que nem sequer têm rendimentos e fazem malabarismos com as suas economias enquanto se debatem entre as escassas opções a que já foram condenados pelo “mercado laboral”: conseguir um trabalho miserável, exilar-se, roubar, ganhar a lotaria…

Àquelas que estudam para se poderem manter à tona no futuro, tentando pagar umas taxas cada vez mais altas.

Àqueles que chegam aqui para ficarem e melhorarem um pouco mais o seu nível de vida, não porque lhes atraia o panorama, mas porque na sua terra a espoliação é ainda maior, e são obrigados a atravessarem o mar e os fossos com lâminas e a vigilância de homens armados comandados por assassinos.

Àquelas que prestam cuidados e que são consideradas como “inactivas”, porque não se concebe como trabalho o facto de apoiarem a sociedade, submetidas à angústia, no melhor dos casos, da dupla jornada de trabalho, vendo como o “Estado do bem-estar” que nunca existiu, tampouco as alcançou.

Àqueles e àquelas que já dominaram o seu medo, o seu cepticismo, a sua angústia e a sua solidão e decidiram mudar o seu país e as suas condições de vida em cooperação com outros, como deve ser, no seu sindicato, na sua associação, no seu centro social, conscientes de que não há salvadores nem milagres, e aí se mantêm na primeira linha.

FELIZ ANO.

(*) Texto difundido pela organização anarquista peninsular “Apoyo Mútuo” por ocasião da recente passagem de ano e dedicado aos que sofrem e não desistem de lutar. Traduzido por Portal Anarquista.

aqui: https://www.facebook.com/ComunidadApoyoMutuo/posts/920419668065164

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William Godwin – Sumário de Princípios

12 terça-feira jan 2016

Posted by litatah in William Godwin

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anarco, Teoria, teoria anarquista, teorias anarquistas, William Godwin

William_Godwin_by_Henry_William_Pickersgill

Fonte: Literatura Anarquista

Para formar uma justa estimativa dos argumentos contidos nestes volumes, o leitor talvez não possa proceder mais judiciosamente do que examinando por si mesmo a verdade destes princípios e o apoio que eles fornecem às várias inferências intercaladas nesta obra. 

I.
O verdadeiro objeto da investigação moral e política é o prazer ou felicidade.
O prazer primário, ou classe primária de prazeres humanos são os prazeres dos sentidos externos.
Em acréscimo, o homem ainda é suscetível a certos prazeres secundários, como os prazeres do sentimento intelectual, os prazeres da simpatia, e os prazeres da auto-aprovação.
Os prazeres secundários são provavelmente mais raros que os primários.
Ou, quando mais não seja,
O estado mais desejável ao homem é aquele no qual tem acesso as variadas fontes de prazer e possua uma variada e ininterrupta felicidade.
Este é o estado de alta civilização.

II.
A condição mais desejável à espécie humana é a do estado de sociedade.
A injustiça e a violência entre os homens no estado de sociedade gerou a demanda por governo.
O governo, imposto à humanidade por causa de seus vícios, não raro se torna também criatura de seu erro e ignorância.
O governo foi criado para suprimir a injustiça, mas oferece novas ocasiões e tentações para sua prática.
Concentrando a força da comunidade, oferece ocasião à projetos selvagens de calamidade, opressão, despotismo, guerra e conquista.
Perpetuando e agravando a desigualdade de propriedade, fomenta muitas paixões injuriosas, excitando os homens à prática do roubo e da fraude.
O governo foi criado para suprimir a injustiça, mas seu efeito foi o de encarná-la e perpetuá-la.

III.
O objetivo imediato do governo é a segurança.
Os meios empregados pelo governo são a restrição e a abreviação da independência individual.
Os prazeres de auto-aprovação, ao lado do bom cultivo de todos os nossos prazeres, requerem independência individual.
Sem independência os homens tampouco se tornarão sábios, úteis, ou felizes.
Consequentemente, o estado mais desejável a humanidade é aquele no qual a segurança geral é mantida com o mínimo de usurpação possível sobre a independência individual.

IV.

A verdadeira norma de conduta de um homem em relação ao outro é a justiça.
A justiça é um princípio que se propõe a produzir a maior soma de prazer ou felicidade.
A justiça requer que eu me coloque no lugar de um espectador imparcial dos interesses humanos, e me despoje das próprias predileções em retrospecto.
A justiça é uma regra da mais alta universalidade, e prescreve um modo específico de proceder em todos assuntos que possam afetar a felicidade dos seres humanos.

V.
Dever é o modo de agir que melhor define a capacidade dos indivíduos tenderem à vantagem geral.
Direito é a reivindicação que os indivíduos fazem à partilha dos benefícios que decorrem do fato de seus vizinhos estarem em dia com seus deveres.
A reivindicação do indivíduo é pelo empenho ou tolerância de seus vizinhos.
Deve-se confiar no empenho dos homens em sociedade por sua discrição; sua tolerância, em certos casos, é um ponto de necessidade mais premente, é de competência direta da superintendência política ou governo.

VI.
As ações voluntárias dos homens ocorrem sob a direção dos sentimentos.
A razão não é um principio independente e sua tendência não é excitar-nos à ação; numa visão prática, ela é uma simples comparação e balanço dos diversos sentimentos.
A razão, embora não possa excitar-nos à ação, foi planejada para regular nossa conduta de acordo com os valores comparativos que se atribui aos diferentes sentimentos.
É pelo melhoramento da razão, portanto, que buscamos o melhoramento de nossa condição social.

VII.
Para obter força e clareza, a razão depende do cultivo do conhecimento.
O progresso no cultivo do conhecimento é ilimitado:
Donde se segue,
1. Que invenções humanas e modos de existência sociais são suscetíveis ao melhoramento perpétuo.
2. Que as instituições criadas para perpetuar qualquer modo particular de pensamento ou condição de existência são perniciosas.

VIII.
Os prazeres da auto-aprovação e do sentimento intelectual, ao lado do bom cultivo de todos os nossos prazeres, estão conectados à solidez do entendimento.
A solidez do entendimento é contraditória em relação ao preconceito: consequentemente, ela deve ser fomentada entre à humanidade.com o mínimo de falsidade possível, tanto prática como especulativa.
A solidez do entendimento está conectada à liberdade de investigação, consequentemente, a opinião deve ser, quando mais não seja admissível à segurança pública, eximida de restrição.
A solidez do entendimento está conectada à simplicidade de maneiras e com o lazer necessário ao cultivo intelectual: consequentemente, a distribuição extremamente desigual da propriedade é adversa ao estado mais desejável ao homem.

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Matança de 12 estudantes curdos pelas mãos das forças repressoras turcas em Edremit (Wan)

12 terça-feira jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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Solidariedade à Resistência Popular Curda!

Os jornalistas da cadeia IMC TV Bekir e Mehmet Dursun descobriram o escândalo. Doze corpos estendidos sobre a neve em Edremit, Wan (em turco Van) e a polícia turca, fortemente armada, ao seu redor. O governo turco respondeu a infiltração das imagens que eram resultado do enfrentamento armado do PKK e tropas curdas. Pouco depois sua versão foi se desfazendo. Puxando o fio, não há nenhum detido: não era um enfrentamento, sim uma matança, uma execução a sangue frio.

Algumas das vítimas tinham disparos na cabeça, estavam mortos quase em fileira, vestiam roupa civil e não o uniforme da mílicia do PKK (HPG). Enquanto a polícia turca comete esses crimes coloca armas junto às vítimas; neste caso só o fez com um dos corpos. Inclusive havia menores de idade.

Os 12 jovens foram executados numa incursão no distrito central de Edremit. No momento se identificaram nova das doze vítimas, estudantes…

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Educação: Genealogia da moral laica

11 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Albert Thierry, Anarquia, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Educação Libertária, Jean-Marie Guyau, Kropotkin, Sébastien Faure, Teoria

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Albert Thierry, anarcofemin, anarcofeminismo, anarquia e feminismo, anti-racismo, antirracismo, Ética, ecofeminismo, Educação, educação e feminismo, Educação e moral, emancipação feminina, feminismo, feminismo curdo, feminismo interseccional, gênero, Jean-Marie Guyau, misoginia, Moral, Moral anarquista, Questões de Gênero, racial, racismo, racismo ambiental, Sébastien Faure, Teoria, teoria anarquista, teorias anarquistas, Transfeminismo, transgênero

Zampieri_-_Adam_et_Ève_(détail)

 

Fonte: Alternative Libertaire

O fato moral republicana, desde setembro de 2015, o tema da educação que se estende até o final da CP. O que olhar libertário posso instalá-lo? —- Educação moralidade secular não é novo em si mesmo: introduzido na década de 1880, estes cursos só desaparecem no final de 1960. —- Portanto, é interessante considerar que os ativistas libertários e sindicalistas têm sido capazes de escrever sobre ele. Devemos lembrar que os anarquistas não se opunham à moralidade. Peter Kropotkin dedicou grande parte de seu trabalho para refletir sobre consistente moral com o anarquismo. Ele também é o autor de um panfleto intitulado The Morality anarquista, onde, além de seu trabalho naturalista na ajuda mútua dentro das espécies, ele mobiliza a obra do filósofo Jean-Marie Guyau, Esboço autor uma moralidade sem obrigação ou sanção. Assim Kropotkin escreveu: “Seja forte! Apaixonado e cheio de energia intelectual e você déverseras sobre os outros a sua inteligência, seu amor, sua força de ação! Isto é o que reduz toda a educação moral, despojado da hipocrisia do ascetismo Oriental. O que a humanidade realmente admiro no homem moral é sua força é a exuberância da vida, que o levou a dar a sua inteligência, seus sentimentos, suas ações, pedir nada em troca. ”

Propaganda pela ação

Sébastien Faure

Sébastien Faure, ativista anarquista, fundador, no início do século XX, uma escola alternativa, o Hive, escrito por sua vez: “O poder do exemplo – A maior força moralista é o exemplo. O mal é contagiosa; Bom é muito. O exemplo de uma forma afeta quase todo-poderoso sobre a criança, em razão de sua maleabilidade. “O ato moral pode ser inspirado em outros, especialmente em crianças, por exemplo. Não com as lições que aprendemos moralidade. O comportamento exemplar do professor fez mais para a moralidade do que discursos. Esta posição se juntou anarquistas que têm chamado a “propaganda pelo ato” que não pode ser reduzido a plantar bombas. O “fato” significa qualquer tipo de ação que incentiva os outros a adotar o ideal anarquista.

Albert Thierry

O professor e sindicalista revolucionário libertário, Albert Thierry, em suas reflexões sobre a educação vai apoiar um ensinamento moral: “Eu amo a moral e eu ensinei-o com complacência. […] Embora seja bom que crescem dia, estas crianças perfeita justiça e dever, como eles vão levá-lo, caso não tenham recebido o primeiro conceito? Neutralidade moral: é imoral […] E a moral é o próprio espaço de revolta. “O curso de ética é percebida por Albert Thierry como um tempo de escola dando-lhe a oportunidade de defender os valores que são os das almas rebeldes. Em um artigo intitulado “A ação direta na educação”, ele acrescenta: “Uma vez que eu pensei que você tinha para torná-los homens. Mas essa tarefa é muito além do poder de um mestre. (Todo o melhor, também.) I consolado se eu só fiz críticas internas. Por exemplo (existem outros), representantes sindicais. […] Eu gosto da moral: ele contém toda a vida. E quando eu falo, eu sempre deixe-me interromper. […] Eu não menti. Eu disse simplesmente: isso é o que existe. Mas eu disse, ele pode mudar “. A lição moral não se destina a doutrinar os estudantes. É um tempo usado para fazer os alunos a pensar o mundo em torno deles. Isto é para ajudar a emergência de uma consciência social crítica.

Hoje, porém, podemos considerar o ensino de valores morais e republicanos como uma arregimentação. Mas isso significa que a igualdade defensor entre homens e mulheres ea luta contra a discriminação eo racismo são valores que, como libertários não temos para defender? Seria surpreendente. Porque pode-se supor que uma sociedade comunista libertária pressupõe a luta contra as divisões sociais de raça e gênero.

No entanto, o que parece bem questionável neste defender os valores da República é que em nenhum caso são apenas os valores da República: são valores da humanidade. Com efeito, a República Francesa não tem o exemplar monopole – longe disso – feminismo e anti-racismo. Em todas as sociedades, existiam homens e mulheres que lutaram pela emancipação. Ele provavelmente teria a República Francesa deixa européanocentrisme chauvinismo e sobre os valores de emancipação. Por que sugerem um estudante do que estar do lado da emancipação, deve aculturar e rejeitar as suas raízes geográficas? Deste ponto de vista, é interessante notar que este é quando o véu surgiu assuntos no espaço público que a noção de educação intercultural desapareceu do texto oficial da Educação.

Discurso geral sobre os valores

O ensino da ética foi concebido como uma forma de unir os estudantes em torno de valores comuns, a fim de evitar as divisões sociais. Mas isso é um projeto hipócrita. Na verdade, se as divisões sociais, é ingênuo e ilusório pretender ocultar por valores comuns. É a própria República Francesa a cada dia desrespeita seus próprios valores, praticando segregação espacial em bairros onde as pessoas estão localizados origens de imigrantes concentrados e dificuldades sociais. É também a República Francesa nega que seus próprios valores quando trono em último lugar nos países da OCDE na reprodução acadêmico da desigualdade social. Se queremos realmente lutar contra as divisões sociais, é preciso atacar as suas raízes materiais e não apenas discurso geral sobre valores.

Finalmente, pode-se questionar a profundidade de lições de moral sobre a discriminação racial e de gênero por professores que na sua vida quotidiana não têm nenhum compromisso com o feminismo e anti-racismo. Como ser convincente para os alunos, quando se está fora da sua sala de aula rosto apático das injustiças sociais?

Irène (amigo do AL)

Tradução feita por:

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Aos pintores da União dos Operários em Construcção Civil

11 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarcosindicalismo, Anarquia, História, Marques da Costa, Núcleo de Pesquisa Marques da Costa, syndicalismo revolucionario, União dos Operarios em Construcção Civil

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A BATALHA (anarco-sindicalista, anarco-sindicalismo, “Movimento Operario” de “O Paiz, História, história da anarquia, História do Anarquismo, História Social, jornal A Pátria, Marques da Costa, Núcleo de Pesquisa Marques da Costa, sindicalismo revolucionario, syndicalismo revolucionario, Teoria, teoria anarquista, teorias anarquistas, União dos Operarios em Construcção Civil

03f01

Fonte: Núcleo de Pesquisa Marques da Costa – Memória é Luta!

Néo-Syndicalistas, portadores de formulas velhíssimas, que a pouco e pouco vão sendo universalmente rejeitadas.

Anda mouro na costa!…

Aquelles que se têm esforçado por manter incolumme o syndicalismo revolucionario tantas vezes “aggredido”, quantas tem sido alvo de sordidas mystificações, são concitados pelo presente brado de alerta! , a occupar seu posto de combate e a assestar suas armas contra os que neste momento se preparam para uma nova incursão.

Sim, nova incursão!

Não é a primeira vez que se premedita levar por deante tentativas de deturpação dos principios e finalidades do syndicalismo revolucionario.

A differença só existe nisto: antes essas tentativas de deturpação opportunista provinham do elemento burguez, agora são outros os interessados na “falsificação”,,, do systhema.

Mas vejamos quaes são as poderosas razões do nosso alerta!

No “Movimento Operario” de “O Paiz”, está sendo publicado o seguinte manifesto:

“Organização de syndicatos por officio – Aos Pintores – O estado de estagnação em que se encontram os trabalhadores da Construcção Civil é de tal ordem, no que concerne à organização, que nos obriga a meditar sobre os meios mais practicos a empregar, para obtermos um organismo que corresponda  “in totum” à aspiração dos trabalhadores.

A experiencia nos indica que nesta industria o Syndicato de officios, com a organização da respectiva federação a seguir, dará melhores resultados que até hoje tem dado organizados em União.

Por estarmos convictos de que assim é, e não nos conformando com o estado de desorganização em que nos encntramos nesta industria, é que, nós, antigos militantes nos constituímos em comité para organizarmos o Syndicato dos Pintores e Annexos.

Para organizarmos o syndicato, que está nos moldes syndicalistas-revolucionarios, contamos com a boa vontade dos companheiros e rogamo-lhes para que estejam attentos à convocação que faremos publicar nos jornaes diarios desta cidade, em muito breve tempo e em local que indicaremos.

Assim organizados por officio, crearemos alma nova, seremos o que já fomos!

Sem desfallecimento para a organização do Syndicato dos Pintores e Annexos – O Comité.”

Como se vê, os membros desse comité, que demonstram ser velhos conhecedores dos methodos de organização profissional e industrial, não revelam o seu nome, o que neste caso seria de importancia capital, afim de incutir na classe a que se dirigem a necessaria confiança para o desejado exito da arrojada iniciativa.

Entretanto, está-se a ver donde virão os elementos que pretendem fundar “um organismo que corresponda “in totum” à aspiração dos trabalhadores”.

A União dos Operarios em Construcção Civil, que é, indubitavelmente, uma das poucas associações que têm sabido no Brasil, manter-se fieis interpretes do syndicalismo revolucionario, tem em seu seio a grande maioria dos pintores que já foi possivel organizar no Rio de Janeiro; em embora soffra, como realmente soffre, o effeito da grande crise que neste momento assoberba todas as organizações operarias do paiz, nada provou, até agora, que a organização por industria dê resultados tão insatisfatorios que os pintores sintam necessidade de se organizarem profissionalmente, fora do local da União.

Nós estamos daqui a adivinhar os intuitos dos néo-syndicalistas, que devem ser os mesmos intuitos dos federalistas de Estado…Mas não queremos ir longe, por agora, para que não torçam as nossas previsões.

Desejamos, todavia, prevenir os incautos, e vamos fazel-o de modo que fique patenteado a maneira pela qual os membros desse “comité syncicalista revolucionario” podem dar provas das suas boas intenções, dos seus propositos que nós presumimos serem nada mais nada menos que divisionistas, antilibertarios portanto.

Na U.O.C.C. observa-se a mais rigorosa autonomia de acção. Cada qual pode tomar a iniciativa que lhe aprouver – correndo apenas o risco de ter ou não o apoio dos seus companheiros.

Se o referido comité está sendo composto de syndicalistas revolucionarios, tão estudiosos da questão syndical que até já concluiram haverem de promover a organização por profissões, não é crível que tenham estado até agora alheios ao único organismo que, desde 1917, tem sido o coordenador da acção de todos os “pintores revolucionários”. Se fizerem, em qualquer tempo, parte ativa da União dos O. em Construcção Civil, por força tomaram conhecimento dos reaes principios de liberdade que a orientam e, “ipso facto”, sabem que jamais foi vedado ali o direito de reunião parcial.

Ao contrario. Na U.O.C.C. sempre se admitiu a constituição das secções profissionaes (que a nosso ver estão peremptoriamente constituidas, reunindo-se, ou não, conforme as necessidades circumstanciaes o exijam). Logo, tal comité é suspeito, só pode ser formado por elementos que pretendam fazer da organização operaria o que esta já tem sido nas mãos de certos aventureiros políticos.

E não me dirijo propriamente à classe dos pintores, a quem se pretende ludibriar sob o pretexto de que só por syndicatos profissionaes será possivel conseguir o bem estar almejado por todos os productores da terra. Não. Dirijo-me aos pintores que teem sabido occupar o seu logar na vanguarda dos syndicalistas revolucionarios, certo de que elles saberão impedir a consumação dessa obra de divisionismo que se está tramando nos escuros corredores do politicismo obreiro.

Marques da Costa

Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 13 de julhode 1923.

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[FAG] As frentes, a unidade e os anarquistas

11 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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Coletivo Anarquista Luta de Classe

Retirado de: https://federacaoanarquistagaucha.wordpress.com/2016/01/11/as-frentes-a-unidade-e-os-anarquistas/

Por Neto (militante da Federação Anarquista Gaúcha)
Janeiro de 2016

womenworkersMuito se fala sobre as opções disponíveis para que o conjunto da esquerda de intenção revolucionária, ou mesmo a de intenção reformista, possa contribuir de uma maneira mais efetiva na criação de uma conjuntura mais favorável para o enfrentamento das classes oprimidas à retirada de direitos, intensificação da criminalização ao protesto e a pobreza, aumento do custo de vida e ao sucateamento dos serviços públicos que os de cima vêm colocando sobre nossas costas.

Enquanto anarquistas organizados politicamente e nos reconhecendo como parte de uma esquerda de intenção revolucionária que toma como trincheira de luta o interior dos movimentos sociais, sindicais, estudantis e populares – desde baixo e à esquerda – gostaríamos de compartilhar a nossa opinião sobre algumas dessas opções e o que consideramos como alternativas a esse contexto de ofensiva dos de cima e resistência…

Ver o post original 865 mais palavras

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Aos pintores da União dos Operários em Construcção Civil

11 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarquia, Correntes da Anarquia

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anarquismo, josé marques da costa, Núcleo de Pesquisa Marques da Costa, revolução

marques

Postado em Núcleo de Pesquisa Marques da Costa

Artigo publicado na Secção Trabalhista do jornal A Pátria (Rio de Janeiro), no dia 13 de julhode 1923.

Néo-Syndicalistas, portadores de formulas velhíssimas, que a pouco e pouco vão sendo universalmente rejeitadas.

Anda mouro na costa!…

Aquelles que se têm esforçado por manter incolumme o syndicalismo revolucionario tantas vezes “aggredido”, quantas tem sido alvo de sordidas mystificações, são concitados pelo presente brado de alerta! , a occupar seu posto de combate e a assestar suas armas contra os que neste momento se preparam para uma nova incursão.

Sim, nova incursão!

Não é a primeira vez que se premedita levar por deante tentativas de deturpação dos principios e finalidades do syndicalismo revolucionario.

A differença só existe nisto: antes essas tentativas de deturpação opportunista provinham do elemento burguez, agora são outros os interessados na “falsificação”,,, do systhema.

Mas vejamos quaes são as poderosas razões do nosso alerta!

No “Movimento Operario” de “O Paiz”, está sendo publicado o seguinte manifesto:

“Organização de syndicatos por officio – Aos Pintores – O estado de estagnação em que se encontram os trabalhadores da Construcção Civil é de tal ordem, no que concerne à organização, que nos obriga a meditar sobre os meios mais practicos a empregar, para obtermos um organismo que corresponda  “in totum” à aspiração dos trabalhadores.

A experiencia nos indica que nesta industria o Syndicato de officios, com a organização da respectiva federação a seguir, dará melhores resultados que até hoje tem dado organizados em União.

Por estarmos convictos de que assim é, e não nos conformando com o estado de desorganização em que nos encntramos nesta industria, é que, nós, antigos militantes nos constituímos em comité para organizarmos o Syndicato dos Pintores e Annexos.

Para organizarmos o syndicato, que está nos moldes syndicalistas-revolucionarios, contamos com a boa vontade dos companheiros e rogamo-lhes para que estejam attentos à convocação que faremos publicar nos jornaes diarios desta cidade, em muito breve tempo e em local que indicaremos.

Assim organizados por officio, crearemos alma nova, seremos o que já fomos!

Sem desfallecimento para a organização do Syndicato dos Pintores e Annexos – O Comité.”

Como se vê, os membros desse comité, que demonstram ser velhos conhecedores dos methodos de organização profissional e industrial, não revelam o seu nome, o que neste caso seria de importancia capital, afim de incutir na classe a que se dirigem a necessaria confiança para o desejado exito da arrojada iniciativa.

Entretanto, está-se a ver donde virão os elementos que pretendem fundar “um organismo que corresponda “in totum” à aspiração dos trabalhadores”.

A União dos Operarios em Construcção Civil, que é, indubitavelmente, uma das poucas associações que têm sabido no Brasil, manter-se fieis interpretes do syndicalismo revolucionario, tem em seu seio a grande maioria dos pintores que já foi possivel organizar no Rio de Janeiro; em embora soffra, como realmente soffre, o effeito da grande crise que neste momento assoberba todas as organizações operarias do paiz, nada provou, até agora, que a organização por industria dê resultados tão insatisfatorios que os pintores sintam necessidade de se organizarem profissionalmente, fora do local da União.

Nós estamos daqui a adivinhar os intuitos dos néo-syndicalistas, que devem ser os mesmos intuitos dos federalistas de Estado…Mas não queremos ir longe, por agora, para que não torçam as nossas previsões.

Desejamos, todavia, prevenir os incautos, e vamos fazel-o de modo que fique patenteado a maneira pela qual os membros desse “comité syncicalista revolucionario” podem dar provas das suas boas intenções, dos seus propositos que nós presumimos serem nada mais nada menos que divisionistas, antilibertarios portanto.

Na U.O.C.C. observa-se a mais rigorosa autonomia de acção. Cada qual pode tomar a iniciativa que lhe aprouver – correndo apenas o risco de ter ou não o apoio dos seus companheiros.

Se o referido comité está sendo composto de syndicalistas revolucionarios, tão estudiosos da questão syndical que até já concluiram haverem de promover a organização por profissões, não é crível que tenham estado até agora alheios ao único organismo que, desde 1917, tem sido o coordenador da acção de todos os “pintores revolucionários”. Se fizerem, em qualquer tempo, parte ativa da União dos O. em Construcção Civil, por força tomaram conhecimento dos reaes principios de liberdade que a orientam e, “ipso facto”, sabem que jamais foi vedado ali o direito de reunião parcial.

Ao contrario. Na U.O.C.C. sempre se admitiu a constituição das secções profissionaes (que a nosso ver estão peremptoriamente constituidas, reunindo-se, ou não, conforme as necessidades circumstanciaes o exijam). Logo, tal comité é suspeito, só pode ser formado por elementos que pretendam fazer da organização operaria o que esta já tem sido nas mãos de certos aventureiros políticos.

E não me dirijo propriamente à classe dos pintores, a quem se pretende ludibriar sob o pretexto de que só por syndicatos profissionaes será possivel conseguir o bem estar almejado por todos os productores da terra. Não. Dirijo-me aos pintores que teem sabido occupar o seu logar na vanguarda dos syndicalistas revolucionarios, certo de que elles saberão impedir a consumação dessa obra de divisionismo que se está tramando nos escuros corredores do politicismo obreiro.

Marques da Costa

 

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Identificação dos atores do conflito sírio, os Curdos

09 sábado jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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"Um dos trunfos da esquerda curda é o engajamento das mulheres em todas as frentes de luta, incluindo o braço armado das milícias populares, as Unidades de Autoproteção das Mulheres (YPJ)"

“Um dos trunfos da esquerda curda é o engajamento das mulheres em todas as frentes de luta, incluindo o braço armado das milícias populares, as Unidades de Autoproteção das Mulheres (YPJ)”

Postado em Estratégia e Análise, em 08 de janeiro de 2016, Pedro Guedes

Dentre os atores não estatais envolvidos na guerra civil na Síria, um dos mais interessantes e organizados até o atual momento são os curdos, que se localizam no Nordeste do país, na fronteira tríplice entre Síria, Turquia e Iraque. Cabe destacar que os curdos também habitam as áreas fronteiriças destes países além do Irã, mais a leste.

O poder do Estado sírio em torno dos alauítas:

No contexto social na Síria nas vésperas do início dos protestos, que sob os auspícios da primavera árabe, levaram o país a atual situação de ruína e calamidade; os curdos eram (e ainda são) o grupo étnico/social mais organizado, vivendo de maneira semiautônoma dentro do território sírio; muito em parte pela política exclusiva de Damasco, que proporcionava vantagens a um grupo muito pequeno da população, sendo esse pequeno grupo quase que majoritariamente alauíta. Esta coletividade étnico-religiosa configura um dos sub-ramos do xiismo, que por ter entre os membros a família Assad, possui grande poder político/econômico dentro do mosaico étnico que é a Síria).

Os alauítas são um dos grupos derivados do islamismo xiita, ainda que não possa ser considerado apenas um subgrupo do mesmo, podendo ser denominada uma religião aparte (podemos denominar de xiismo ampliado). Ainda que se utilize dos mesmos textos sagrados comuns as subdivisões do Islã, os alauítas possuem ritos e tradições que em certa medida os aproximam do cristianismo, como a comemoração do Natal e do Dia de Reis. Cabe destacar que os alauítas são mais “liberais” do ponto de vista comportamental que os sunitas e xiitas, o que em parte permitiu que a governança laica da Síria.

A comunidade alauíta – através de seus líderes e chefes tribais – está ligada ao Partido Baath (Partido Nacional-Árabe, defensor do antigo pan-arabismo de base militar e inspiração nasserista) desde sua formação, tendo inclusive um alauíta como membro fundador, Zaki al-Arsuzi. Até a consolidação do Partido Baath no governo da Síria, e com o posterior golpe de Hafez al-Assad (em 1971), boa parte da população alauíta era camponesa (fellah), e viu no partido de ideologia igualitária e arabista a possibilidade de ascensão social. Até hoje os alauítas são membros do Partido Baath em grande quantidade e apoiam o governo quase que incondicionalmente.

 

A autonomia relativa para o Curdistão sírio, a semi-independência conquistada e a rivalidade intra-curda:

Quando o conflito civil se inicia, em meados de 2012, uma das primeiras ações do Governo Assad foi ceder autonomia para as regiões curdas, o que em um primeiro momento pode parecer positivo, afinal, essas regiões poderiam ser gerenciadas de forma independente, mas por outro lado, significou que em caso de ataque dos rebeldes (mais tarde jihadistas), o Estado faria pouco ou nada para ajuda-los. Praticamente podemos afirmar que o governo de Damasco abandona a região à sua própria sorte, facilitando o avanço organizativo através do Partido da União Democrática (PYD, força política do guarda-chuva do PKK na Síria) e deste, constituindo o TEV-Dem, mecanismo de assembleias e autogoverno dos três cantões que formam a região de Rojava.

Para se defender dos ataques dos rebeldes e dos jihadistas do Daesh (ISIS ou Estado Islâmico), os vilarejos e cidades curdas se valem do apoio militar das forças de milícias ligadas ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que também está em confronto com o governo da Turquia desde sua consolidação, em 1978, e com o início da luta armada, em 1984. Os curdos sírios também contam com algum apoio (de ordem tática e em poucas  frentes de combate) dos peshmergas – forças semi-profissionais do Curdistão iraquiano – e sua região autônoma, que se localiza no norte do Iraque e está sob governo da direita curda, com sede em Irbil. Vale lembrar que o governo curdo no Iraque, o oficial (KRG) está sob controle do clã Barzani e é rival político do PKK em quase todas as dimensões.

Dentre estes dois agrupamentos (PKK e peshmergas do KRG/KDP, o “partido-facção” política dos Barzani), os peshmergas são vistos com certa legitimidade pela comunidade internacional. Já o PKK ainda tem sobre si a classificação de terrorista por parte do Pentágono. As forças da direita curda são semi-profissionais com efetivo estimado entre 80.000 a 200.000 homens (sendo que a mídia oficial de Irbil chega a anunciar 300.000 soldados), divididos em 36 brigadas, que variam entre si em treinamento e equipamento. Esse equipamento é oriundo de doações internacionais e equipamento capturado do exército iraquiano nos conflitos de 1991 e 2003.

Um fator interessante é o comando não unificado dos peshmergas, sendo que algumas unidades respondem ao Partido Democrático Curdo (KDP, um partido oligárquico ligado a família Barzani) e outras unidades militares se reportam a União Patriótica do Curdistão (KUP, de outra direita oligárquica, da família Talabani, mas que tem um acordo de paz específico com o PKK).

Esses dois grupos estavam em guerra civil até 1998 (KDP x KUP) – guerra esta que foi estendida até o início dos anos 2000 desta vez confrontando os oligarcas curdos com o PKK. O resultado foi a divisão do território do Curdistão iraquiano, proporcionando zonas controladas e um equilíbrio entre estas três forças. Voltando à direita curda, nota-se que, as forças semi-profissionais combinam uma estrutura militar diluída (muito parecida com a do Império Romano) com uma lealdade política abalada por grave crise institucional. Esta é causada pelo desejo do “presidente” Massoud Barzani do KDP em querer estender seu mandato por mais 2 anos, ainda que de forma ilegítima. A soma destes fatores diminui a efetividade da ajuda ao Curdistão sírio e gera desconfiança dos aliados preferenciais deste governo: Israel, EUA e os capitais transnacionais da indústria do petróleo.

 

O projeto político de Rojava depende de suas operações militares:

Assim, cabe ao governo regional do Curdistão Sírio relegar sua sobrevivência militar (e de facto) às milícias populares, o YPG (Unidades de Proteção Popular) e o YPJ (Unidade de Proteção das Mulheres). Ambas unidades se reportam ao Democratic Union Party (PYD), partido de oposição sírio de esquerda – partido de maioria curda e aliado estratégico do PKK -, autogovernam a região.

Tanto o YPG quanto o YPJ se estruturam em forma de milícia, atuando de maneira pouco regimental (no conceito de organização castrense) e dependem muito de armamentos enviados pelo PKK via contrabando, ou capturando o equipamento abandonado pelos os outros grupos militares (SAA e Daesh). Combinados os seus efetivos, chegam a aproximadamente 60.000 homens e mulheres, o que lhe permite a atuar nas cercanias de seu território. Este, composto pelos três cantões de Rojava (Afrin, e o corredor contíguo de Kobane a Jazira, e agora ampliando a malha territorial para Shinjar) compreende aproximadamente – dentro da Síria – as cercanias da parte norte da província de Aleppo, Racqa e a província de Al Hasakah. Na outra margem do Rio Tigre, o cantão de Shinjar – de maioria yázidi e recém liberto – configura tanto a frente de guerra contra o Daesh como a disputa política entre o PKK e o KRG/KDP. A vitória sobre o ISIS em Shinjar antecipa a rivalidade entre a direita e a esquerda curda e aumenta a base do TEV-Dem (modo de governo de Rojava) projetado sobre o antigo território iraquiano.

 

Sugestão de leituras contínuas:

Para se manter atualizado no conflito ou obter mais informações a respeito do assunto, algumas fontes são de extrema importância, como o site Kurdish Question (http://kurdishquestion.com/), o Syria Live Map.( http://syria.liveuamap.com/), o Archicivilians (http://archicivilians.com/) e com algumas ressalvas, o site de notícias Al Madsar (http://www.almasdarnews.com/)

Pedro Guedes é estudante de relações internacionais da Unisinos (pedro_0141@hotmail.com)

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1914: Primórdios da sangria

08 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in História

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1914, 1918), 2014, anarquismo, capitalismo, corrente comunista internacional, imperialismo, Otto Dix, primeira guerra mundial

George Grosz, Explosion, 1917, oil on panel, 47.8 x 68.2 cm, Museum of Modern Art, New York.

George Grosz, Explosion, 1917, oil on panel, 47.8 x 68.2 cm, Museum of Modern Art, New York.

Fonte: Corrente Comunista Internacional, postado por CCI em 14/02/2015

Há 100 anos, a humanidade estava à beira do abismo, a ponto de afogar-se na sangria mais espantosa que até então a história tinha conhecido. Durante gerações depois da Grande Guerra, os anos 1914-1918 foram sinônimo de matança absurda, de desperdício abominável de vidas no horror das trincheiras. As populações atingidas por tal barbárie responsabilizaram por isso tudo os governos e as classes dirigentes.

Cem anos depois, comemorar a guerra resulta, portanto, bastante incômodo para estas mesmas classes dirigentes. Por isso, preparam-se para nos afogar em um oceano de futilidades e de hinos à unidade nacional diante do sofrimento da guerra. Evitarão a todo custo qualquer menção às verdadeiras causas da guerra: a inexorável extensão imperialista do capitalismo a todo o planeta. Evitarão também qualquer sugestão sobre quem foi realmente responsável pela guerra.

E, sobretudo, evitarão toda menção à ideia de que a única força que poderia impedir a guerra, tanto em 1914 como hoje em dia, é o proletariado.

2014 não será então um ano de comemoração, mas de esquecimento.

2014: ano do esquecimento

Atualmente, ainda continua se chamando de “Grande Guerra” à que começou em agosto de 1914. Isso apesar da Segunda Guerra Mundial ter feito mais do dobro de vítimas, para não mencionar as intermináveis guerras que, desde 1945, semearam ainda mais mortes e provocaram ainda mais destruição.

Para entender por que a guerra de 1914-1918 continua ainda sendo “a Grande Guerra”, basta visitar qualquer povoado da França, inclusive o mais isolado e perdido nos prados alpinos; lá poderão ser encontradas famílias inteiras com seus nomes gravados num marco comemorativo: irmãos, pais, tios, filhos. Estes testemunhos mudos do horror não somente podem ser vistos nas cidades e nos povoados das nações beligerantes europeias, mas também em outro extremo do mundo: na pequena aldeia de Ross, na ilha australiana da Tasmânia, o monumento carrega os nomes de 16 mortos e 44 sobreviventes, resultado, sem dúvida, da batalha de Galípoli (Turquia).

Mesmo para duas gerações após o final da guerra, 1914-1918 continuou sendo sinônimo de matança absurda, impulsionada pela estupidez cega e irrefletida de uma casta aristocrática dominante, pela avidez insaciável dos imperialistas, dos aproveitadores de guerra e dos fabricantes de armas. Apesar de todas as cerimônias oficiais, todas as coroas de flores depositadas nos memoriais aos tombados na guerra e, na Grã-Bretanha, da ostentação simbólica de papoulas na lapela no dia da comemoração anual, aquela visão da Primeira Guerra Mundial se integrou à cultura popular das nações beligerantes. Na França, o romance autobiográfico de Gabriel Chevalier, La peur [O medo], publicado em 1930, conheceu um sucesso tão grande que as autoridades proibiram o livro, taxando-o de antipatriota. Em 1937, o filme de Jean Renoir contra a guerra, A Grande Ilusão, foi projetado ininterruptamente no cine Marivzus das 10 horas até às 2 da manhã e bateu todos os recordes de entradas; em Nova Iorque, permaneceu 36 semanas em cartaz [1].

Na Alemanha dos anos vinte, os desenhos satíricos de George Grosz atacavam generais, políticos e todos aqueles que tinham tirado proveito da guerra. O livro de E. M. Remarque, Nada de novo no front [Im Westen Nichts Neues] foi publicado em 1929. 18 meses depois de sua publicação, 2 milhões e meio de exemplares tinham sido vendidos e o livro tinha sido traduzido para 22 idiomas; a versão cinematográfica da Universal Studios, realizada em 1930, teve um sucesso estrondoso nos Estados Unidos, onde ganhou o Oscar de melhor filme [2].

Após sua derrocada, o Império Austro-húngaro trouxe ao mundo um dos romances antiguerra mais importantes: A aventudas do bom soldado Švejk [Osudy dobrélo vojáka Švejk světové války] de Jaroslav Hašek, publicado em 1923 e desde então traduzido para 58 idiomas – mais que qualquer outra obra em checo.

A aversão causada pela lembrança da Primeira Guerra Mundial sobreviveu à sangria ainda mais terrível da Segunda. Comparada com os horrores de Auschwitz e Hiroshima, a crueldade do militarismo prussiano e com a opressão czarista – para não falar do colonialismo francês ou britânico – os eventos que serviram de justificativa para a guerra em 1914 quase poderiam parecer como insignificantes e, contudo, a matança nas trincheiras pareceria ainda mais absurda e monstruosa: deste modo, a burguesia poderia apresentar a Segunda Guerra Mundial se não como uma “boa” guerra, ao menos como uma “guerra justa” e necessária. Esta contradição em nenhum país é mais evidente que na Grã-Bretanha, onde toda uma série de filmes enaltecedores da “causa justa” no mais puro estilo patrioteiro (Labaredas do Inferno[The Dam Busters] em 1955, Inferno nos céus [633 Squadron], em 1964, etc.) podia ser vista nas telas dos cinemas durante os anos 50 e 60, enquanto os escritos contra a guerra dos “poetas da guerra” Wilfred Owen, Siegfried Sassoon e Robert Graves faziam parte do currículo obrigatório dos colégios [3]. Talvez a maior obra de Benjamin Britten, o compositor britânico mais famoso do século XX, seja seu Réquiem da Guerra (1961), que musicou a poesia de Owen, enquanto em 1969 surgiram dois filmes muito diferentes: de um lado, no registro patriótico, A Batalha Britânica [Battle of Britain], e de outro, a sátira corrosiva Oh! Que Bela Guerra [Oh What a Lovely War!], que faz uma denúncia musical da Primeira Guerra Mundial, servindo-se das canções criadas pelos soldados nas trincheiras.

Duas gerações mais tarde, estamos hoje em plena época do 100º aniversário do estouro da guerra (4 de agosto de 1914). Dada a importância das décadas para os aniversários e, mais ainda dos centenários, foram feitos grandes preparativos para comemorar a guerra (a palavra “comemorar” é usada aqui no sentido de “fazer recordar”. Por isso, nesse caso os sentidos “celebrar” ou “festejar” não é o mais conveniente). Na França e na Grã-Bretanha, foram alocados orçamentos de dezenas de milhares de euros ou libras esterlinas; na Alemanha, por razões óbvias, os preparativos foram mais discretos e não receberam a benção governamental [4].

“Quem paga a banda, escolhe a música”: então o que as classes dominantes vão receber em troca das dezenas de milhares gastos para “comemorar a Guerra”?

Se observarmos as páginas da web dos organismos responsáveis pela comemoração (na França, o governo constituiu um organismo especial, na Grã-Bretanha o Museu Imperial da Guerra foi o encarregado) a resposta parece bastante clara: estão comprando uma das cortinas de fumaça ideológica mais caras da história. Na Grã-Bretanha, o Museu Imperial da Guerra deu-se por tarefa recolher as histórias dos indivíduos que viveram a guerra para transformá-las em podcasts (arquivos de áudio para internet) [5]. A página web do Projeto Centenário (1914.org) nos apresenta acontecimentos de importância tão crucial como a exposição do revólver utilizado durante a guerra por J. R. R. Tolkien (Que piada! Dá para supor que o que pretendem é se aproveitar do sucesso dos filmes O Senhor dos Anéis, inspirados nos livros de Tolkien); a comemoração de um dramaturgo de Surrey, a coleta pelo Museu de Transportes de Londres da história dos ônibus durante a Grande Guerra (sério!); em Nottingham, “um grande programa de acontecimentos e atividades (…) trouxeram à luz como o conflito catalisou imensas mudanças sociais e econômicas nas comunidades de Nottinghamshire”. A BBC produziu um “documentário inovador”: “A Primeira Guerra Mundial vista de cima”, com fotografias e filmes feitos a partir dos balões cativos da artilharia. Serão rendidas homenagens aos pacifistas, com comemorações sobre os objetores de consciência. Em resumo, vão nos afogar num oceano de futilidades. Segundo o Diretor Geral do Museu Imperial da Guerra, “nossa ambição é que muito mais gente compreenda que não se pode entender o mundo de hoje sem entender as causas, o curso e as consequências da Primeira Guerra Mundial” [6] e estamos 100% de acordo com isso. Mas na realidade, tudo está feito, inclusive por parte do respeitável Diretor Geral para nos impedir de entender suas verdadeiras causas e suas verdadeiras consequências.

Na França, o site do centenário anuncia o mui oficial Informe ao Presidente da República para comemorar a Grande Guerra, datado de setembro de 2011 [7], que começa com estas palavras do discurso do general De Gaulle no cinqüentenário da guerra em 1964: “Em 2 de agosto de 1914, dia da mobilização, o conjunto do povo francês se pôs de pé na sua unidade. Isso nunca tinha ocorrido. Todas as regiões, todas as localidades, todas as categorias, todas as famílias, todas as almas, puseram-se repentinamente de acordo. Num momento, apagaram-se as múltiplas disputas, políticas, sociais, religiosas, que mantinham dividido o país. De um extremo ao outro do solo nacional as palavras, as canções, as lágrimas e, sobretudo, os silêncios não expressaram senão uma única resolução”. No próprio informe lemos que “Ainda que suscite o pavor dos contemporâneos diante das mortes massivas e dos imensos sacrifícios feitos, o Centenário também fará que um estremecimento percorra a sociedade francesa, recordando a unidade e a coesão nacional mostrada pelos franceses durante a prova da Primeira Guerra Mundial”. Parece, portanto, pouco provável, que a burguesia francesa tenha a intenção de falar-nos da repressão policial brutal às manifestações de trabalhadores contra a guerra durante o mês de julho de 1914, nem do notório Caderno B (lista do governo com os nomes dos militantes antimilitaristas, socialistas e sindicalistas que deveriam ser presos, internados ou enviados ao fronte a partir do estouro da guerra – os britânicos possuíam algo equivalente) e, menos ainda, das circunstâncias do assassinato do dirigente socialista antiguerra Jean Jaurès nas vésperas do conflito, como tampouco dos motins nas trincheiras [8]…

Como sempre, os propagandistas podem contar com o apoio dos doutos universitários para proporcionar material para seus documentários e entrevistas. Tomaremos aqui um único exemplo que nos parece emblemático: The Sleepwalkers, do historiador Christopher Clark da Universidade de Cambridge, publicado em 2012 e em 2013 em versão de livro de bolso, e já traduzido ao francês (Les Somnambules), alemão (Die Schlafwandler), espanhol (Sonámbulos) e em português (Os Sonâmbulos) [9]. Clark é um empirista sem complexos, sua introdução anuncia muito claramente sua intenção:“Este livro (…) trata menos de por que estourou a guerra do que como ocorreu. As perguntas dos porquês e do como são inseparáveis na lógica, mas nos levam a direções diferentes. A pergunta de como nos convida a observar atentamente as sequências de interações que produziram determinados resultados. A pergunta doporquê, pelo contrário, convida-nos a buscar causas distantes e categóricas: o imperialismo, o nacionalismo, os armamentos, as alianças, as finanças, as ideias de honra nacional, os mecanismos da mobilização” [10]. O que falta na lista de Clark é, obviamente, o capitalismo. É possível que o capitalismo seja gerador de guerras? É possível que a guerra não seja somente “a política por outros meios”, retomando a famosa expressão de Von Clausewitz, mas a última expressão da concorrência inerente ao modo de produção capitalista? Oh, não, por favor, isso nunca! Clark dedica-se, pois, a fornecer-nos “os fatos” que levaram à guerra, o que faz com uma imensa erudição e em detalhes – até da cor das plumas de avestruz sobre o elmo de Francisco Fernando da Áustria no dia de seu assassinato (eram verdes!). Se alguém tivesse se incomodado em anotar a cor da cueca de seu assassino, Gravilo Princip, também esta informação constaria deste livro.

O tamanho do livro e sua preocupação com os detalhes, torna ainda mais notável uma omissão. Apesar de dedicar seções inteiras à questão “da opinião pública”, Clark não tem absolutamente nada a dizer sobre a única parte “da opinião pública” que importava de verdade: a posição adotada pela classe operária organizada. Clark cita amplamente jornais como o Manchester Guardian, o Daily Mail, o Le Matin, e muitos outros desaparecidos há muito tempo e caídos num merecido esquecimento, mas não cita nem sequer uma única vez o Vorwärts, nem l’Humanité (os jornais respectivamente dos partidos socialistas alemão e francês), nem La Vie ouvrière, o órgão semioficial da CGT francesa [11], nem La Bataille syndicaliste. E estas eram publicações importantes! O Vorwärts era um entre os 91 jornais do SPD com uma difusão total de 1 milhão e meio de exemplares (em comparação, o Daily Mailreivindicava uma difusão de 900 mil exemplares) [12], e o próprio SPD era o partido mais importante da Alemanha. Clark menciona o congresso de Iena em 1905, onde o SPD se negou a convocar a greve geral em caso de guerra, mas não disse uma palavra sobre as resoluções contra a guerra adotadas pelos congressos da Internacional Socialista em Stuttgart (1907) e na Basileia (1912). O único dirigente do SPD que merece menção no livro é Albert Südekum, um personagem relativamente menor da direita do SPD, cujo papel de figurante tranqüiliza o chanceler alemão Bethmann-Hollweg em 28 de julho, destacando que o SPD não se oporá a uma guerra “defensiva”.

Sobre a luta entre esquerda e direita no movimento socialista e, mais amplamente, operário: silêncio absoluto. Sobre o combate político de Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Anton Pannekoek, Herman Gorter, Domela Nieuwenhuis, John MacLean, Vladimir Ilyich Lênin, Pierre Monatte, e tantos outros, nada de nada. Sobre o assassinato de Jean Jaurès, mais silêncio, só silêncio…

Fica evidente que os proletários não podem contar com a historiografia burguesa para entender verdadeiramente as causas da Grande Guerra. Melhor olharmos na direção dos destacados militantes da classe operária: Rosa Luxemburgo, sem dúvida alguma a teórica mais importante da socialdemocracia alemã, e Alfred Rosmer, um militante fiel da CGT francesa do período pré-guerra. Vamos nos basear em particular em A Crise da Socialdemocracia, de Rosa Luxemburgo (mais conhecido com o nome deFolheto de Junius [13]) e O movimento operário durante a Primeira Guerra Mundial [14], de Rosmer. Ambas as obras são muito diferentes: o panfleto de Luxemburgo foi escrito no cárcere em 1916 (e por não dispor do qualquer acesso privilegiado a bibliotecas e arquivos governamentais, o vigor e a clareza de sua análise tornam-se ainda mais impressionantes); o primeiro volume [15] da obra de Rosmer, que trata do período que conduziu à guerra, foi publicado em 1936 e é fruto de sua dedicação meticulosa à verdade histórica, assim como de sua defesa apaixonada dos princípios internacionalistas.

A Primeira Guerra Mundial: sua importância e suas causas

Poderiam nos perguntar se tudo isso é realmente importante. Ocorreu há muito tempo, o mundo mudou, o que podemos aprender realmente desses escritos de outros tempos?

Responderemos que é primordial entender a Primeira Guerra Mundial por três razões.

A primeira, porque a Primeira Guerra Mundial abriu uma nova época: continuamos vivendo em um mundo moldado pelas consequências daquela guerra.

A segunda, porque as causas subjacentes da guerra continuam presentes e operacionais: existe uma similaridade claríssima entre a ascensão da nova potência alemã antes de 1914 e a atual ascensão da China.

E a terceira, e talvez mais importante, porque é precisamente isso o que os propagandistas do governo e seus historiadores pagos querem ocultar: somente há uma e única força capaz de pôr fim à guerra imperialista: a classe operária mundial. Como disse Rosmer: “os governos sabem que não podem se lançar na perigosa aventura que é a guerra – e sobretudo esta – a não ser sob a condição de ter atrás deles praticamente a unanimidade da opinião pública e, especialmente, a da classe operária; para isso, é-lhes necessário confundi-la, enganá-la, desorientá-la, animá-la” [16]. Luxemburgo cita a frase de Von Bülow, que dizia que era, sobretudo por temor à Socialdemocracia que, na medida do possível, “se faziam esforços por atrasar qualquer guerra”; cita também o Vom Heutigen Krieg [Uma guerra de hoje] do general Bernhardi: “Quando as grandes massas  estão além do controle de seus dirigentes, quando se difunde o espírito de pânico, quando se pode sentir a falta de víveres, quando o espírito de rebelião toma conta das massas do exército, este se torna não somente ineficaz com relação ao inimigo, mas também uma ameaça para si e para seus dirigentes. Quando o exército rompe os limites da disciplina, quando interrompe voluntariamente o curso da operação militar, cria problemas que seus dirigentes são incapazes de solucionar”. E Luxemburgo continua: “Assim, tanto os políticos capitalistas como as autoridades militares crêem que a guerra, com seus modernos exércitos de massas, é um jogo perigoso. E isto dava à socialdemocracia a melhor oportunidade de terminá-la o quanto antes possível. Mas a posição da socialdemocracia diante desta guerra varreu todas as dúvidas, derrubou diques de contenção da maré militarista (…). E assim, milhares de vítimas que caíram nos últimos meses nos campos de batalha pesam sobre nossa consciência.”  [17].

O estouro de uma guerra imperialista mundial e generalizada (aqui não falamos dos conflitos localizados, inclusive de grandes conflitos como as guerras da Coreia ou do Vietnã) vem determinado por duas forças que se enfrentam: o impulso na direção da guerra, de uma nova divisão do mundo entre as grandes potências imperialistas, e a luta pela defesa de sua própria existência pelas classes trabalhadoras, que devem proporcionar, por sua vez, a carne de canhão e o exército industrial, sem os quais a guerra moderna é impossível. A Crise da Socialdemocracia e, sobretudo em sua fração mais poderosa, a socialdemocracia alemã – crise que os historiadores universitários pagos silenciaram sistematicamente – é, portanto, o fator crítico que tornou possível a guerra em 1914.

Trataremos disso mais detalhadamente em um artigo posterior, mas aqui nos propomos a retomar a análise de Luxemburgo sobre as rivalidades e as alianças movediças que empurraram inexoravelmente as grandes potências em direção à sangria de 1914.

“Há dois processos na história recente que conduzem diretamente à atual guerra. Um se origina no período em que se constituíram pela primeira vez os chamados Estados nacionais, quer dizer, os Estados modernos, a partir da guerra bismarquiana contra a França. A guerra de 1870 que, com a anexação da Alsácia e da Lorena, atirou a República Francesa nos braços da Rússia, dividiu a Europa em dois grupos contrários e iniciou um período armamentista competitivo frenético, acendeu a chama da atual conflagração mundial (…)

Assim, a guerra de 1870 resultou no agrupamento político formal da Europa em torno dos eixos do antagonismo franco-alemão e impôs um reinado de militarismo na vida dos povos da Europa. O processo histórico outorgou a este agrupamento e a este reinado um conteúdo inteiramente novo. O segundo processo que conduz à atual guerra mundial, que confirma novamente e de forma brilhante a profecia de Marx [18], tem origem em acontecimentos internacionais ocorridos logo depois da morte de Marx: o desenvolvimento imperialista dos últimos vinte e cinco anos [19]”.

Os últimos trinta anos do século XIX assistiram, portanto, a uma rápida expansão do capitalismo pelo mundo, e também à aparição de um novo capitalismo, dinâmico, em expansão e cheio de confiança, no interior da própria Europa: o Império alemão reconhecido no palácio de Versalhes em 1871, depois da derrota francesa na guerra franco-prussiana, da qual a Prússia emergiu como território mais poderoso entre uma multidão de principados e pequenos Estados alemães, para surgir como o componente dominante de uma Alemanha nova e unificada. “(…) podia-se, então, prever”, acrescenta Luxemburgo, “que esse jovem imperialismo transbordante de energia e sem obstáculos de qualquer tipo, que debutava no cenário mundial com enormes apetites, quando o mundo se encontrava, por assim dizer, já repartido, devia converter-se rapidamente no fator imprevisível de agitação geral [20].

Por uma dessas peculiaridades da história que nos permitem tomar uma única data como símbolo de uma mudança da dinâmica da história, o ano de 1898 foi testemunha de três acontecimentos que assinalaram tal mudança.

O primeiro foi “o Incidente de Fachoda”, uma tensa confrontação entre tropas francesas e britânicas que disputavam o controle do Sudão. Naquele momento, parecia haver um verdadeiro risco de guerra entre ambos os países pelo controle do Egito e do Canal de Suez e, de forma mais geral, pela supremacia sobre a África. Finalmente, o incidente resultou numa melhoria das relações franco-britânicas, formalizada em 1904 pela “Entente Cordiale”, e numa tendência cada vez mais marcada, por parte da Grã-Bretanha, de apoiar a França contra uma Alemanha que ambos viam como uma ameaça. As duas “Crises marroquinas” de 1905 e 1911 [21]deixaram claro que daí em diante, a Grã-Bretanha se oporia às ambições alemãs no norte da África (estava, contudo, disposta a deixar algumas migalhas para a Alemanha: as possessões coloniais de Portugal).

O segundo acontecimento foi a tomada do porto chinês de Tsingtao (hoje Qingdao) pela Alemanha [22], que anunciava a entrada da Alemanha na arena imperialista como potência com aspirações mundiais e não somente europeias – uma Weltpolitik, como naquele momento se dizia na Alemanha.

Foi, portanto, bastante oportuno que em 1898 tenha ocorrido também a morte de Otto von Bismarck, grande chanceler que havia guiado a Alemanha pela via de sua unificação e rápida industrialização. Bismarck sempre havia se oposto ao colonialismo e à construção naval, por ter como preocupação principal na política externa impedir o surgimento de uma aliança antigermânica entre as demais potências com ciúmes– ou preocupadas – pela ascensão alemã. No início do século, a Alemanha havia se convertido numa potência industrial de primeira ordem, somente ultrapassada pelos Estados Unidos, com as ambições mundiais que isso implicava. Luxemburgo cita o Ministro de Assuntos Exteriores de então, von Bülow, em um discurso de 11 de dezembro de 1899: “quando os ingleses falam de uma ‘Grã-Inglaterra’, quando os franceses falam da ‘Nova França’, quando os russos abrem a Ásia Central para sua penetração, também nós temos direito a aspirar a uma Alemanha maior. Se não criamos uma marinha apta para defender nosso comércio, nossos nativos em terras estrangeiras, nossas missões e a segurança de nossas costas, ameaçamos os interesses vitais da nossa nação. No próximo século, o povo alemão será o martelo ou a bigorna”. E Luxemburgo acrescenta: “Tiremos a pomposidade da frase ornamental sobre a defesa de nossas costas, e fica o programa colossal: a grande Alemanha que cai como um martelo sobre as demais nações” [23].

No começo do século XX, dotar-se de uma Weltpolitik exigia uma marinha de guerra à altura de suas ambições. Luxemburgo demonstra claramente que a Alemanha não necessitava economicamente de forma urgente de uma marinha: ninguém ia arrancá-la de suas possessões na África ou na China. A marinha era, sobretudo, uma questão de “status”: para poder prosseguir em sua expansão, a Alemanha devia aparecer como uma potência séria, uma potência com a qual era necessário contar, e para isso uma “frota ofensiva de primeira qualidade” era uma premissa. Nas palavras inesquecíveis de Luxemburgo, este era “um desafio não somente à classe operária alemã, mas também a outras nações capitalistas, desafio dirigido a ninguém em particular, uma luva que se agitava diante do mundo inteiro”.

O paralelo entre a ascensão da Alemanha no limiar dos séculos XIX e XX, e a da China cem anos mais tarde é evidente. Como a de Bismarck, a política externa de Deng Xiaoping procurou não preocupar os vizinhos da China, como tampouco a potência hegemônica mundial, os Estados Unidos. No entanto, sua ascensão à condição de segunda potência econômica mundial, o “status” da China exige que possa, no mínimo, controlar suas fronteiras e proteger suas vias marítimas: daí seu programa de construção naval, de submarinos e de um porta-aviões, com sua recente declaração de uma zona de defesa de identificação aérea (ADIZ, sigla em inglês), que cobre as ilhas de Senkaku-Diaoyu.

Trata-se, evidentemente, de um paralelo não de uma igualdade, por duas razões em particular: em primeiro lugar, a Alemanha do início do século XX não somente era a segunda potência industrial depois dos Estados Unidos, mas também estava na vanguarda do progresso técnico e da inovação (como se pode verificar, por exemplo, na qualidade de Prêmios Nobel alemães e na inovação alemã nas indústrias siderúrgicas, elétricas e químicas); em segundo lugar, a Alemanha tinha a capacidade de transportar sua força militar pelo mundo inteiro.

Assim como os Estados Unidos hoje em dia há de se opor à ameaça chinesa com relação a seu próprio “status” e à segurança de seus aliados (Japão, Coreia do Sul e Filipinas em particular), a Grã-Bretanha também viu como uma ameaça a ascensão da marinha alemã, e o que ainda era pior: uma ameaça existencial contra a via marítima vital do canal da Mancha e suas próprias defesas costeiras [24].

No entanto, quaisquer que fossem suas ambições navais, a direção natural rumo à extensão de uma potência terrestre como a Alemanha, era em direção a leste, mais especificamente em direção ao Império Otomano em decomposição; isso era tanto mais evidente porquanto suas ambições na África e no Mediterrâneo ocidental estavam bloqueadas pelos franceses e pelos britânicos. O dinheiro e o militarismo andavam de mãos dadas e o capital alemão afluiu para a Turquia [25], abrindo caminho a cotoveladas com seus concorrentes britânicos e franceses. Grande parte desse capital dedicou-se a financiar a estrada de ferro Berlim-Bagdá: na verdade, tratava-se de uma rede de estradas de ferro que deviam conectar Berlim a Istambul, para logo seguir em direção ao sul da Anatólia, Síria e Bagdá, e também Palestina, Hejaz e Meca. Numa época em que os movimentos de tropas dependiam das estradas de ferro, isso tornava possível ao exército turco, equipado com armas alemãs e treinado por militares alemães, mandar tropas que teriam ameaçado tanto a refinaria britânica de Abadã (na Pérsia, hoje Irã) [26], como o controle britânico do Egito, do canal de Suez: esta era uma ameaça alemã direta contra os interesses estratégicos da Grã-Bretanha. Durante grande parte do século XIX, a expansão russa na Ásia Central, que supunha uma ameaça sobre a fronteira persa e sobre a Índia, era o principal risco para a segurança do Império britânico; a derrota da Rússia pelo Japão em 1905 havia acalmado suas pretensões orientais a ponto de em 1907 um tratado anglo-russo podia ao menos temporariamente – solucionar os conflitos entre os dois países no Afeganistão, na Pérsia e no Tibete. A Alemanha era agora um rival a ser enfrentado.

Inevitavelmente, a política oriental da Alemanha significava para ela um interesse estratégico nos Bálcãs, no Bósforo e no Dardanelos. O fato da estrada de ferro entre Berlim e Istambul ter que passar por Viena e Belgrado fazia que o controle, ou ao menos a neutralidade, da Sérvia, passasse de repente a ser de grande importância estratégica para a Alemanha. Por sua vez, isto a colocava em conflito com um país que – nos tempos de Bismarck – tinha sido o bastião da reação e da solidariedade autocrática, ou seja, o principal aliado da Prússia e da Alemanha imperial: a Rússia.

Desde o reinado de Catarina, a Grande, a Rússia havia se firmado (nos anos 1770) como potência dominante do Mar Negro, eliminando os otomanos. O comércio cada vez mais importante da indústria e da agricultura russas dependia da liberdade de navegação no Estreito de Bósforo. A ambição russa apontava para o Dardanelos e o controle do tráfego marítimo entre o Mar Negro e o Mediterrâneo (os objetivos russos no Dardanelos já tinham levado à guerra com a Grã-Bretanha e a França na Crimeia em 1853). Luxemburgo resumiu assim a dinâmica da sociedade russa que impulsionava sua política imperialista: “Por um lado, nas tendências de conquista do czarismo se manifesta a expansão tradicional de um império poderoso, cuja população abrange hoje 170 milhões de homens e que trata de alcançar, tanto por motivos econômicos como estratégicos, o livre acesso aos mares, ao oceano Pacífico no Oriente e ao Mediterrâneo no Sul. Por outro lado, a sobrevivência do absolutismo implica na necessidade de manter uma posição que imponha respeito na concorrência geral dos grandes Estados ao nível da política mundial para assegurar o crédito financeiro do capitalismo estrangeiro, sem o qual o czarismo não pode viver. (…) No entanto, cobram cada vez mais importância os interesses burgueses modernos como fator do imperialismo no império czarista. O jovem capitalismo russo, que sob o regime absolutista não pode alcançar, como é natural, seu desenvolvimento completo nem sair, em geral, da fase do primitivo sistema de saque, vê diante de si um brilhante futuro pelas incomensuráveis fontes naturais deste gigantesco império. (…) É a previsão desse futuro e, por assim dizer, como adiantamento da avidez de acumulação, o que enche a burguesia russa de um ímpeto marcadamente imperialista e que a faz se manifestar com ardor suas pretensões na repartição do mundo” [27]. A rivalidade entre a Alemanha e a Rússia pelo controle do Bósforo se encontrou inevitavelmente com seu ponto nevrálgico nos Bálcãs, onde o avanço da ideologia nacionalista característica de um capitalismo em vias de se desenvolver criava uma situação de tensão permanente e guerra sangrenta intermitente entre os três Estados que nasceram do Império Otomano em decomposição: Grécia, Bulgária e Sérvia. Estes três países se aliaram contra os otomanos na Primeira Guerra dos Bálcãs, e brigaram entre si para repartir o butim – em particular na Albânia e na Macedônia – durante a Segunda Guerra dos Bálcãs [28].

A ascensão desses novos Estados nacionais agressivos nos Bálcãs não podia deixar indiferente o outro império declinante da região: Áustria-Hungria. Para Luxemburgo, “a monarquia dos Habsburgo não é a organização política de um Estado burguês, mas unicamente um sindicato desconexo de uns quantos bandos de parasitas sociais que querem recolher alguns punhados, utilizando os meios de poder estatais, enquanto se mantém a maçã podre da monarquia”, e a Áustria-Hungria estava constantemente sob a ameaça das novas nações que a rodeavam e todas eram compostas das mesmas etnias que certas partes do Império: daí a anexação pela Áustria-Hungria da Bósnia-Herzegovina, com o objetivo de impedir à Sérvia um acesso ao Mediterrâneo.

Em 1914, a situação na Europa se assemelhava a um cubo de Rubik (cubo mágico) mortal, suas distintas peças estavam tão estreitamente imbricadas que mover uma delas significava necessariamente mover todas elas.

Os sonâmbulos despertos

Isso quer dizer que as classes dominantes, os governos, não sabiam o que faziam, que de certo modo – segundo o título do livro de Christopher Clark, Os Sonâmbulos –, entraram em guerra por acidente, que a Primeira Guerra Mundial não foi mais que um terrível engano?

De jeito nenhum! Sem dúvida alguma, as forças históricas descritas por Luxemburgo, na análise possivelmente mais profunda já escrita sobre a entrada em guerra, mantinham a sociedade pressionada: neste sentido, a guerra era o resultado de rivalidades imperialistas imbricadas. As situações históricas chamam ao poder os homens que lhes correspondem e os governos que arrastaram a Europa e o mundo à guerra sabiam muito bem o que faziam e o fizeram deliberadamente. Os anos de transição do século até o estouro da guerra caracterizaram-se por repetidos alertas, cada um mais grave que o anterior: a crise de Tanger em 1905, o incidente de Agadir em 1911, as Primeira e Segunda Guerra dos Bálcãs. Cada incidente impulsionava adiante a fração pró-guerra de cada burguesia, reforçando a ideia de que a guerra era de qualquer forma inevitável. O resultado foi uma corrida armamentista absurda: a Alemanha pôs em marcha seu programa de construção naval e a Grã-Bretanha seguiu-lhe os passos; a França aumentou a duração do serviço militar obrigatório para três anos; enormes empréstimos franceses financiaram a modernização das estradas de ferro do pequeno, mas eficaz, exército sérvio. Todas as potências continentais aumentaram o número de homens convocados para as fileiras.

Cada dia mais convencidos de que a guerra era inevitável, a pergunta para os governos europeus era simplesmente: quando? Quando estariam completos os preparativos de cada um em relação a seus rivais? Esse seria o “bom” momento para a guerra.

Se Luxemburgo via na Alemanha o novo “fator imprevisível” da situação europeia, isso significa que as potências da Tríplice Aliança (Grã-Bretanha, França e Rússia) eram vítimas inocentes da agressão expansionista alemã? Essa é a tese de alguns historiadores revisionistas atuais: a luta contra o expansionismo alemão não só se justificava em 1914, mas, basicamente, 1914 foi o precursor da “boa guerra” de 1939. Isto sem dúvida é verdade, mas os países da Tríplice Aliança poderiam ser tudo, mas nunca vítimas inocentes. E a ideia de que somente a Alemanha era “expansionista” é ridícula, quando comparamos o tamanho do Império Britânico – fruto da agressão expansionista britânica – com o da Alemanha: curiosamente, isto nunca parece passar pelas cabeças dos historiadores ingleses domesticados [29].

Na verdade, a Tríplice Aliança preparava há muitos anos uma política de cerco da Alemanha (assim como os Estados Unidos desenvolveram uma política de cerco à URSS durante a Guerra Fria e hoje tentam fazer o mesmo com a China). Rosmer o demonstra com uma nitidez irretocável, baseando-se nas correspondências secretas entre os embaixadores belgas das distintas capitais europeias [30].

Em maio de 1907, o embaixador em Londres escrevia: “Fica claro que a Inglaterra oficial dá prosseguimento a uma política silenciosamente hostil, que tende a conseguir o isolamento da Alemanha, e que o rei Eduardo não vacilou em pôr sua influência pessoal a serviço desta ideia” [31]. Em fevereiro de 1909, temos notícias do embaixador em Berlim: “O rei da Inglaterra afirma que a manutenção da paz sempre foi o objetivo de seus esforços; é o que não cansou de dizer desde o começo da campanha diplomática que levou a cabo, com o fim de isolar a Alemanha; mas não se pode deixar de observar que a paz do mundo nunca esteve tão comprometida como quando o rei da Inglaterra se pôs a consolidá-la” [32]. De Berlim, de novo, lemos em abril de 1913: “A arrogância e o menosprezo com que estes [os sérvios] recebem as reclamações do gabinete de Viena somente podem ser explicados pelo apoio que pensam encontrar em São Petersburgo. O encarregado de negócios da Sérvia dizia aqui recentemente que seu governo não teria dado passos adiante há 6 meses, omitindo as ameaças austríacas, caso não tivesse sido incentivado pelo ministro da Rússia, o Sr. Hartwig…” [33].

Na França, o desenvolvimento consciente de uma política agressiva e chauvinista tornou-se perfeitamente claro para o embaixador belga em Paris (janeiro de 1914):“Eu tive a honra de informar-lhes que são os Srs. Poincaré, Delcassé, Millerand e seus amigos os que inventaram e deram prosseguimento à política nacionalista, patrioteira e chauvinista cujo renascimento constatamos (…) Vejo nisso um grande risco que ameaça hoje a paz da Europa (…) porque a atitude adotada pelo gabinete Barthou é, no meu modo de ver, a causa determinante de um incremento nas tendências militaristas na Alemanha” [34].

A reintrodução na França de um serviço militar de três anos não era uma política de defesa, mas um preparativo deliberado para a guerra. Citemos de novo o embaixador em Paris (junho de 1913): “O fardo da nova lei será tão pesado para a população, os gastos que implicará serão tão exorbitantes, que o país rapidamente protestará, e a França encontrar-se-á diante deste dilema: uma renúncia que não poderá suportar ou a guerra a curto prazo” [35].

Como declarar a guerra

Dois fatores foram levados em conta nos cálculos dos estadistas e políticos nos anos que conduziram à guerra: em primeiro lugar, a avaliação de seus próprios preparativos militares e dos de seus adversários; em segundo lugar – igualmente importante, inclusive na Rússia czarista e autocrática – a necessidade de aparecer diante do mundo e diante de suas próprias populações, sobretudo os operários, como a parte ofendida, que somente atuava para se defender. Todos os poderes queriam entrar em uma guerra que outro tinha causado: “O jogo consiste em levar o adversário a realizar um ato que poderá ser explorado contra ele ou a aproveitar uma decisão já tomada” [36].

O assassinato de Francisco Fernando, a faísca que acendeu a mecha, não foi obra de um indivíduo isolado: Gavrilo Princip disparou o tiro mortal, mas não era senão um membro a mais de um grupo de assassinos organizado e armado por uma das redes organizadas pelos grupos sérvios ultranacionalistas “Mão Negra” e “Narodna Odbrana” (“Defesa Nacional”), que quase era um Estado dentro do Estado e cujas atividades eram perfeitamente conhecidas pelo governo sérvio e mais concretamente por seu Primeiro Ministro, Nicolas Pasič. A Sérvia mantinha estreitas relações com a Rússia e nunca teria empreendido tal provocação se não estivesse segura do apoio russo contra uma reação austro-húngara.

O governo austro-húngaro não poderia deixar passar a ocasião de atacar o calcanhar da Sérvia [37]. A investigação policial não mediu palavras para apontar a Sérvia com o dedo, e os austríacos estavam confiantes que o choque provocado entre as classes dirigentes europeias iria outorgar-lhes o apoio destes ou ao menos sua neutralidade, quando atacassem a Sérvia. Com efeito, para a Áustria-Hungria não lhe restava outra opção que a de atacar e humilhar a Sérvia; fazer menos teria significado um golpe devastador para seu “status” e sua influência na região crítica dos Bálcãs, deixando-a completamente a mercê de seu rival russo.

Para o governo francês, uma “guerra dos Bálcãs” era a situação ideal para lançar um ataque contra a Alemanha: se a Alemanha pudesse ser arrastada a uma guerra para defender a Áustria-Hungria, e a Rússia acudisse em defesa dos sérvios, a mobilização francesa poderia apresentar-se como uma medida de defesa preventiva contra o perigo de um ataque alemão. Mais ainda, era pouco provável que a Itália, a princípio aliada da Alemanha, mas com interesses nos Bálcãs, entrasse em guerra para defender a Áustria-Hungria na Bósnia-Herzegovina.

Dada a aliança que enfrentava, a Alemanha estava em uma posição de debilidade, contando como único aliado a Áustria-Hungria, esse “bando em decomposição organizada”, como dizia Rosa Luxemburgo. Os preparativos militares na França e na Rússia, o desenvolvimento de sua “Entente” com a Grã-Bretanha, levaram os estrategistas alemães à conclusão que mais valia ir para o enfrentamento o mais cedo possível, antes que seus adversários estivessem inteiramente preparados. Daí uma observação em 1914: “É absolutamente necessário que caso se estenda o conflito[entre Sérvia e Áustria-Hungria] (…) seja a Rússia a que leve a responsabilidade” [38].

A população britânica não estava muito animada para entrar na guerra para defender a Sérvia; o mesmo ocorria na França. A Grã-Bretanha também necessitava de um“pretexto para tentar convencer uma parte importante de sua opinião pública. A Alemanha lhe proporcionou um, excelente, ao invadir a Bélgica com seus exércitos”. Rosmer cita o Tragedy of Lord Kitchener do Visconde Esher, para este fim: “O episódio belga foi um golpe de sorte que chegou a ponto de dar à nossa entrada na guerra o pretexto moral necessário para preservar a unidade da nação, ou ao menos do governo” [39]. Na verdade, os planos britânicos para um ataque contra a Alemanha, preparados há muito tempo em colaboração com os militares franceses, previam desde anos atrás a violação da neutralidade belga…

Todos os governos dos países beligerantes deviam, portanto, enganar sua “opinião pública” fazendo-a acreditar que lhes impuseram uma guerra que já estavam preparando e buscando há muitos anos. O elemento crítico desta “opinião pública” era a classe operária organizada, com seus sindicatos e partidos socialistas, que afirmavam claramente há muitos anos sua oposição à guerra. O fator principal que abriria o caminho para a guerra tinha que ser, portanto, a traição da socialdemocracia e seu apoio outorgado ao que a classe dominante chamou cinicamente de uma “guerra defensiva”.

As causas subjacentes de tamanha e monstruosa traição ao dever internacionalista mais elementar por parte da socialdemocracia serão objeto de um próximo artigo. Basta por agora dizer aqui que a pretensão atual da burguesia francesa, que afirma que “num instante se apagaram as múltiplas disputas políticas, sociais, religiosas, que tinham dividido o país” não são senão mentiras grosseiras. Ao contrário, contada por Rosmer, a história dos dias precedentes ao estouro da guerra é a de manifestações constantes contra a guerra, brutalmente reprimidas pela polícia. Em 27 de julho, a CGT chamou uma manifestação e “das 9 às 12 da noite (…), uma multidão enorme afluiu sem parar aos bulevares. Enormes forças policiais foram mobilizadas (…). Mas são tão numerosos os operários que chegam dos subúrbios ao centro que a tática policial [de separar os manifestantes em pequenos grupos] chega a um resultado imprevisto: rapidamente se contam tantas manifestações como ruas. As violências e as brutalidades policiais não podem com a combatividade desta multidão; toda a tarde, o grito de ‘Abaixo a guerra!’ ressoará desde a Ópera até a Praça da República” [40].

A burguesia francesa ainda tinha outro problema: a atitude do dirigente socialista Jean Jaurès. Jaurès era um reformista, em um momento da história em que o reformismo se situava entre a burguesia e o proletariado, mas profundamente comprometido na defesa da classe operária (precisamente por isso sua influência entre os operários era muito grande) e apaixonadamente oposto à guerra. Em 25 de julho, quando a imprensa informa sobre a rejeição por parte da Sérvia do ultimato austro-húngaro, Jaurès devia falar em um comício eleitoral em Vaise, perto de Lyon: seu discurso centrou-se não nas eleições, mas no temível risco de guerra “Nunca em 40 anos, a Europa esteve em uma situação de ameaça tão trágica (…). Atualmente temos contra nós, contra a paz, contra a vida dos homens, uns acontecimentos terríveis e contra os quais será necessário que os proletários da Europa realizem os esforços de solidariedade suprema que estejam em suas mãos” [41].

A princípio, Jaurès acreditou nas garantias fraudulentas do governo francês segundo as quais trabalharia pela paz, mas em 31 de julho já havia perdido suas ilusões e no Parlamento pediu uma vez mais aos operários que fizessem o possível para se opor à guerra. Rosmer diz: “Corre o rumor de que o artigo que vai escrever em breve para o número de sábado de L’Humanité será um novo “Eu Acuso!” [42], que denunciará as intrigas e as mentiras que puseram o mundo no limiar da guerra. À tarde (…)encabeça uma delegação do grupo socialista ao Quai d’Orsay [o Ministério de Assuntos Exteriores]. Viviani não está aí. É o Subsecretário de Estado quem recebe a delegação. Depois de ter escutado Jaurès, pergunta-lhe que pensam fazer os socialistas diante da situação: ‘Seguir nossa campanha contra a guerra!’, responde Jaurès. Ao que Abel Ferry replica: ‘Nem se atreva!, pois o matarão ao dobrar a esquina!’” [43]. Duas horas mais tarde, quando Jaurès regressa ao seu escritório deL’Humanité para escrever o temido artigo, o assassino Raoul Villain o mata com dois tiros de pistola à queima-roupa que provocaram sua morte instantânea [44].

Definitivamente, a classe burguesa francesa não deixou nem um cabo solto quando se tratou de garantir “a unidade e a coesão nacional”!

Não há guerra sem operários

Quando se depositam coroas de flores e quando os grandes deste mundo se inclinam diante de monumentos ao soldado desconhecido nas comemorações, quando nossos dirigentes pagam milhões de euros ou libras, quando soam as trombetas pelas mortes depois de cerimônias solenes, quando os documentários fluem nas telas de televisão e quando os historiadores cultos nos contam as causas da guerra, exceto as que realmente têm importancia, assim como todos os fatores que poderiam tê-la impedido, exceto os que realmente poderiam ter pesado na balança, os proletários do mundo inteiro, sim, devem lembrar.

Lembrar que as causas da Primeira Guerra Mundial não foram as casualidades históricas, mas os mecanismos implacáveis do capitalismo e do imperialismo, que a Grande Guerra abriu um novo período na história, uma “era de guerras e revoluções” como disse a Internacional Comunista. Este período continua sendo hoje o nosso, e as mesmas forças que levaram o mundo à guerra em 1914 são responsáveis hoje pelos massacres sem fim no Oriente Médio e na África, alimentando tensões a cada dia mais perigosas entre a China e seus vizinhos no mar da China meridional.

Lembrar que a guerra não pode ser feita sem os operários, como carne de canhão e carne de fábrica. Lembrar que as classes dominantes devem garantir a unidade para a guerra e que nada as deterão para obtê-la, desde a repressão brutal até o assassinato sangrento.

Lembrar-se de que são os mesmos partidos “socialistas” que se põem hoje à cabeça de qualquer campanha pacifista e humanitária, os que traíram a confiança de seus antepassados em 1914, deixando-os desorganizados e sem defesa diante da máquina de guerra capitalista.

Lembrar, enfim, que se a classe dominante teve que fazer tal esforço para neutralizar o proletariado em 1914, foi porque o proletariado é a única força que pode levantar uma barreira confiável contra a guerra. Somente o proletariado mundial leva em si mesmo a esperança de derrubar o capitalismo e o perigo da guerra de uma vez por todas.

Há cem anos, a humanidade estava diante de um dilema cuja solução continua, única e exclusivamente, nas mãos do proletariado: socialismo ou barbárie. Este dilema continua hoje diante de nós.

Jens

[1] É irônico constatar que o título do filme foi tirado de um livro de antes da guerra escrito pelo economista britânico Norman Angell, que pretendia que a guerra entre potências capitalistas avançadas, por estarem suas economias estreitamente ligadas e interdependentes, tinha se tornado impossível. Esse tipo de argumento é o que hoje pode ser ouvido sobre a China e os Estados Unidos.

[2] Nem é necessário dizer que, tal qual outras obras aqui mencionadas, Nada de novo no fronte foi proibido pelos nazistas depois de 1933. Também foi proibido entre 1930 e 1941 pela censura australiana.

[3] É surpreendente, pelo contrário, que o poeta de guerra patriótico inglês mais famoso, Rupert Brooke, não tenha nunca conhecido o combate, visto que morreu enfermo vendo o assalto a Galípoli.

[4] Isto foi objeto de uma polêmica na imprensa alemã.

[5] Projeto talvez muito louvável, mas que não servirá em quase nada para compreender as causas da Grande Guerra.

[6] http://www.iwm.org.uk/centenary

[7] Comemorar a Grande Guerra (2014-2020): propostas para um centenário internacional, por Joseph Zimet, da “Direção da memória, do patrimônio e dos arquivos”, http://centenaire.org/sites/default/files/references-files/rapport_jz.pdf

[8] É surpreendente ver que a grande maioria das execuções por desobediência militar no exército francês ocorreu durante os primeiros meses da guerra, o que sugere uma falta de entusiasmo que devia ser cortada pela raiz imediatamente (veja-se o informe ao Ministro de Ex-Combatentes, Kader Arif, de outubro de 2013):http://centenaire.org/sites/default/files/references-files/rapport_fusilles.pdf

[9] Vale à pena mencionar aqui que o título Os Sonâmbulos foi extraído da trilogia do mesmo nome escrita por Hermann Broch em 1932. Broch nasceu em 1886 em Viena, de família judia, mas converteu-se em 1909 ao catolicismo. Em 1938, depois da anexação da Áustria, foi detido pela Gestapo. No entanto, graças à ajuda de amigos (entre os quais James Joyce, Albert Einstein e Thomas Mann), pôde emigrar para os Estados Unidos, onde viveu até sua morte em 1951. Die Schlafwandler conta a história de três indivíduos durante os anos de 1888, 1905 e 1918, respectivamente, e examina as questões colocadas pela decomposição dos valores e da subordinação da moral às leis do lucro.

[10] Tradução nossa.

[11] Veja-se nosso artigo “O anarcosindicalismo diante da mudança de época; a CGT francesa até 1914”, Revista Internacional nº 120:http://es.internationalism.org/rint/2005/120_CGT.html

[12] Cf. Hew Strachan, The First World War, tomo 1.

[13]http://www.marxists.org/espanol/luxem/09El%20folletoJuniusLacrisisdelasocialdemocraciaalemana_0.pdf

[14] Le mouvement ouvrier pendant la guerre, Éditions d’Avron, maio de 1993.

[15] O segundo tomo foi publicado depois da Segunda Guerra Mundial. É muito mais resumido, já que Rosmer teve que fugir de Paris durante a Ocupação alemã e seus arquivos foram confiscados e destruídos durante a guerra.

[16] Rosmer, op. cit., p. 84.

[17] Folheto de Junius, capítulo VI.

[18] Luxemburgo cita aqui uma carta de Marx ao Braunschweiger Ausschuss: “Quem não se ensurdecer com o clamor momentâneo, e não deseje ensurdecer o povo alemão, deve compreender que a guerra de 1870 traz necessariamente consigo os germes da guerra da Alemanha contra a Rússia, assim como a guerra de 1866 engendrou a de 1870. Digo necessariamente, a menos que ocorra o improvável, ou seja, que estoure antes uma revolução na Rússia. Se isso não ocorrer, pode-se considerar que a guerra entre a Alemanha e a Rússia é já um fato consumado. O fato desta guerra vir a ser útil ou perigosa, depende inteiramente da atitude do vencedor alemão. Se tomarem a Alsácia-Lorena, a França e a Rússia tomarão as armas contra a Alemanha. Seria supérfluo assinalar as desastrosas consequências.”

[19] http://marxists.org/francais/luxembur/junius/rljcf.html

[20] Idem

[21] A primeira crise marroquina de 1905 foi provocada por uma visita do Kaiser a Tanger, formalmente para apoiar a independência marroquina, mas na verdade para se opor à influência francesa. A tensão militar era de suma importância: a França cancelou as licenças militares e avançou suas tropas até a fronteira alemã, enquanto que a Alemanha começou a chamar as filas de reservistas. Finalmente, os franceses cederam e aceitaram a proposta alemã de uma Conferência internacional, que foi celebrada em Algeciras em 1906. Mas os alemães tiveram uma grande decepção quando comprovaram que todas as potências europeias os abandonaram, particularmente os britânicos, e somente tiveram o benefício do apoio da Áustria-Hungria. A segunda crise marroquina ocorreu em 1911, quando uma rebelião contra o sultão Abd al-Hafid deu à França o pretexto para mandar tropas ao Marrocos, sob o pretexto de proteger os cidadãos europeus. Os alemães, por sua parte, aproveitaram o mesmo pretexto para mandar a canhoneira Panther ao porto atlântico de Agadir. Os britânicos suspeitaram que isso seria um prelúdio para a instalação de uma base naval alemã na costa atlântica, que ameaçaria diretamente Gibraltar. O discurso de Lloyd George na Mansão House (citado por Rosmer) foi uma ameaça dissimulada de declaração de guerra se a Alemanha não cedesse. Finalmente, a Alemanha reconheceu o protetorado francês no Marrocos, e recebeu em troca uns quantos pântanos na desembocadura do Congo.

[22] Atual Qingdao, onde os alemães implantaram a fábrica de cerveja que fabrica hoje a cerveja “Tsingtao”.

[23] Fofleto de Junius, op. cit.

[24] A ideia de Clark, e também de Niaal Gergusson em The Pity of War, de que a Alemanha havia ficado muito defasada com relação à Grã-Bretanha em uma corrida marítima de armamentos é absurda: ao contrário da marinha alemã, a britânica devia proteger um comércio mundial, e não se entende bem como a Grã-Bretanha não tivesse se sentido ameaçada pela construção de uma poderosa frota situada a menos de 800 quilômetros de sua capital e ainda mais perto de suas costas.

[25] Ainda que nos textos europeus daquele momento, os termos “Turquia” e “Império Otomano” fossem usadas indistintamente, é importante relembrar que o mais apropriado é o segundo: no começo do século XIX, o Império Otomano cobria não somente a Turquia, mas também o que hoje é a Líbia, a Síria, o Iraque, a península da Arábia, além de grande parte da Grécia e dos Bálcãs.

[26] Esta refinaria era importante, sobretudo por razões militares: a frota britânica acabava de substituir o carvão pelo diesel. A Grã-Bretanha possuía carvão em abundância, mas não tinha petróleo. A busca de petróleo na Pérsia foi impulsionada, sobretudo pelas necessidades da Marinha Real, com o objetivo de assegurar o abastecimento de combustível.

[27] Folheto Junius, op. cit., capítulo 4.

[28] A Primeira Guerra dos Bálcãs estourou em 1912, quando os membros da Liga dos Bálcãs (Sérvia, Bulgária e Montenegro) lutaram contra o Império Otomano com o apoio tácito da Rússia. Embora não fizesse parte da Liga, a Grécia se uniu aos combates, ao final dos quais os exércitos otomanos foram derrotados pelos quatro costados: o Império Otomano viu-se privado, pela primeira vez em 500 anos, da maioria de seus territórios europeus. A Segunda Guerra dos Bálcãs estourou imediatamente depois, em 1913, quando a Bulgária combateu a Sérvia, a qual havia ocupado, com a cumplicidade da Grécia, grande parte da Macedônia, que tinha sido prometida para a Bulgária.

[29] http://www.theguardian.com/commentisfree/2013/jun/17/1914-18-not-futile-war

[30] Estes documentos foram recolhidos pelos alemães, que publicaram longos extratos depois da guerra. Como Rosmer indica: “As apreciações dos representantes da Bélgica em Berlim, Paris e Londres, têm um valor particular. A Bélgica é neutra. Por isso, os belgas têm a mente mais livre que os implicados para apreciar os acontecimentos; ademais, não ignoram que no caso de guerra entre os dois grandes grupos beligerantes, seu pequeno país correrá grandes riscos, em particular, o de ser um campo de batalha.” (op. cit., p. 68).

[31] Idem, p. 69.

[32] Idem, p. 70.

[33] Ibidem

[34] Idem, p. 73.

[35] Idem, p. 72.

[36] Idem, p. 87.

[37] Por outro lado, o governo austro-húngaro já havia tentado pressionar a Sérvia ao revelar ao historiador Heinrich Friedjung documentos fraudulentos que supostamente eram a prova de uma conspiração sérvia contra a Bósnia e a Herzegovina (veja-se Clark, p. 88, edição Kindle).

[38] Citado por Rosmer, op. cit., p. 8, a partir de documentos alemães publicados depois da guerra.

[39] Idem, p. 87.

[40] Idem, p. 102.

[41] Idem, p. 84.

[42] Em referência ao ataque sem concessões de Emile Zola contra o governo quando do caso Dreyfus.

[43] Rosmer, op. cit., p. 91. A conversa está relatada na biografia de Jaurès por Charles Rappoport nos próprios papéis de Abel Ferry (veja-se Alexandre Croix, Jaurès et ses détracteurs (Jaurès e seus detratores), Edições Spartacus, p. 313.

[44] Jaurès foi assassinado enquanto comia no Café du Croissant, em frente aos escritórios do L’Humanité. Seu assassino, Raoul Villain, tinha muitas semelhanças com Gravilo Princip: instável, emocionalmente frágil, dedicado ao misticismo político ou religioso – em suma, exatamente o tipo de personagem que os serviços secretos utilizam como provocador e a quem podem sacrificar sem o menor escrúpulo. Depois do assassinato, Villain foi detido e passou a guerra tranquilo, quase comodamente instalado numa prisão. Depois de seu julgamento, foi liberado e a esposa de Jaurès teve que pagar pelas custas judiciais.

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Luta antimanicomial pede saída do coordenador de Saúde Mental

06 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anti Fascismo, Bandeiras de Luta, Comunicação, Ditadura, Gentrificação, Luta antimanicomial, Notícias, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos

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Fora Valencius, Luta antimanicomial

liberdade

Fonte: Rede Democrática

Publicado: 31 Dezembro 2015

Eles afirmam que Valencius é contrário à reforma e sua nomeação trará retrocessos | Foto: Carol Lessa/AlerjNo plenário da Alerj, defendendo reforma psiquiátrica

O movimento antimanicomial, psiquiatras, pacientes, familiares e trabalhadores da área lotaram o plenário e a galeria da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) durante a audiência pública das comissões de Saúde e Trabalho da casa e pediram a renúncia do novo coordenador geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, Valencius Wurch, empossado há uma semana. Valencius representa um retrocesso na luta antimanicomial e na reforma psiquiátrica implantada no país a partir da Lei 10.216/2001, que instituiu os cuidados psicossociais aos pacientes e não mais o isolamento e a internação.

A integrante do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial Melissa de Oliveira Pereira explica que o psiquiatra foi diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras de Paracambi, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o maior manicômio privado da América Latina, que foi fechado por ordem judicial em 2012 após anos de denúncia de violações de direitos humanos.

“Ele foi coordenador numa época em que Paracambi representava uma casa de tortura e maus tratos, chegando a um período em que morria uma pessoa por dia por abandono. Os pacientes ficavam algemados nas camas de concreto onde tinha uma canaleta para escorrer o xixi. Passavam fome, eram estupradas. Isso na década de 90. Nessa mesma época ele se posicionou na imprensa contrário à reforma psiquiátrica brasileira e assim tem permanecido enquanto professor, se posicionando contrário à luta antimanicomial”.

Segundo Melissa, a sede da Coordenação-Geral de Saúde Mental do ministério está ocupada pelo movimento desde o dia 15 e só vão deixar o local após a saída de Valencius Wurch do cargo. Antes da audiência, o movimento fez uma caminhada da Cinelândia até a Alerj, onde ocupou as escadarias do Palácio Tiradentes.

Valencius é contrário à reforma e sua nomeação trará retrocessos

Ex-paciente psiquiátrico, aos 70 anos Milton Freire trabalha nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) e afirma que a reforma foi extremamente benéfica. “Eu fui para o hospital com 15 anos e pelo menos 12 eletrochoques eu tomei. A gente não podia falar nada. O mais importante é que cria uma tradição psicossocial, antes só havia uma tradição organicista, eles isolavam as pessoas e davam remédio. Hoje as pessoas tomas remédio, porém um dos remédios é a vida social, são as atividades expressivas, a vida afetiva, a vida próxima à família, não isola as pessoas. Um dos objetivos é a inserção social”.

Casa sem condições

Pesquisadora do Laboratório de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ana Paula Guljor, foi contratada pelo município de Paracambi para supervisar a casa dirigida por Valencius, onde verificou muito cheiro de urina, fezes e criolina, pacientes maltrapilhos, nus, jogados pelo chão ou amarrados nas camas de ladrilho sem colchão, pouquíssimas atividades terapêuticas e sem ressocialização.

“Ele tinha uma atuação fora, na conferência ele estava organizando as defesas contra o projeto da reforma, que é a ampliação dos serviços, a implantação do hospital dia no local. A forma como ele fala é uma mentira deslavada. Ele pertenceu ao Ministério da Saúde, mas o fato de você trabalhar no hospital público não significa que você tenha compromisso público e muito menos experiência de gestão pública”, afirmou.

Deputados também pediram que Valencius renuncie ao cargo

Todos os deputados que fizeram uso palavra da audiência também pediram que Valencius renuncie. André Ceciliano lembrou que a casa aprovou uma moção de repúdio à nomeação de Valencius. Se colocando como ex-preso político, Carlos Minc (PT) afirmou que nem nos porões da ditadura presenciou o que viu em inspeção à Dr. Eiras em termos de tortura. Wanderson Nogueira (PSB) culpou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, pela nomeação e pediu a saída dos dois. Flávio Serafini (PSOL) disse que não existe nenhuma publicação científica de Valencius sobre o tema. Marcelo Freixo (PSOL) disse que, mesmo que o psiquiatra tenha mudado de opinião, a trajetória dele não condiz com a luta antimanicomial.

“Nós tivemos as galerias lotadas, o plenário lotado, diversos profissionais, familiares, usuários, da luta antimanicomial, se posicionando na defesa da reforma psiquiátrica e contra uma indicação política das mais desastradas que o Ministério da Saúde poderia fazer nesse momento. O senhor Valencius tem um histórico que não é compatível com a luta antimanicomial”.

Wurch saiu antes do fim da audiência

Valencius Wurch saiu antes de terminar a audiência e não falou com a imprensa. Durante sua fala, foi interrompido diversas vezes por gritos do público de “uh, é mentira”, “cínico” e “torturador”. Ele disse que está aberto ao diálogo e que isso implica as pessoas falarem o que pensam e também ouvirem os outros. Disse que é declaradamente a favor da reforma psiquiátrica e concordou que a situação da casa de saúde que dirigia era degradante. “A Dr. Eiras era um horror, ainda bem que fechou. Eu fiz um projeto: ‘isso aqui não pode mais existir, mas enquanto existir as pessoas têm que ser bem tratadas’”.

Segundo Wurch, quando assumiu a direção havia 2.300 pessoas internadas em Paracambi e quando ele deixou a instituição eram 1.500, “portanto, eu contribui para a desinternação”. O psiquiatra se colocou à disposição dos movimentos para retornar à casa em três meses para avaliar os projetos, ao que foi interrompido aos gritos de “renuncia”. O coordenador terminou sua participação citando o lema do próprio movimento antimanicomial: Nenhum passo atrás, manicômio nunca mais.

Fonte:

http://www.psicologiahailtonyagiu.psc.br/materias/ponto-vista/132-carta-aos-medicos-chefes-dos-manicomios

http://www.sul21.com.br/jornal/luta-antimanicomial-pede-saida-do-coordenador-de-saude-mental-do-ministerio-em-audiencia-na-alerj/

http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-12/luta-antimanicomial-pede-saida-do-coordenador-de-saude-mental-do

Por Akemi Nitahara, Agência Brasil

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[FAG] A saída não vem de cima!

06 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Sem categoria

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FARJ

Carta de opinião da FAG | A saída não vem de cima!

A situação política e econômica do país encontra-se num momento delicado. A aceitação do pedido de Impeachment contra Dilma Rousseff (PT) por parte do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) abre margem para diferentes e divergentes posições. A polarização entre os que defendem o governo Dilma Rousseff e os que defendem seu Impeachment precisa ser questionada. E seu questionamento deve ser feito através da afirmação e da construção de uma saída alternativa, de uma terceira posição, própria e característica dos de baixo, daqueles e daquelas que independente do desenrolar dos fatos, terão seus direitos sociais, suas condições de trabalho e a dignidade de suas vidas destroçadas e dificultadas ainda mais.

A saída não vem de cima!

Desde a eleição de Dilma Rousseff à presidência da república, e mesmo antes, as classes oprimidas vêm sofrendo duras penas…

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