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Anarquia ou Barbarie

~ A anarquia é a percepção ecológica da sociedade, é o entender a participação livre de cada membro da coletividade como fundamental para a existência, para o exercício da verdadeira cidadania que é viver na coletividade respeitando a diversidade. Anarquia é coletivamente sermos o poder, é todos nós decidirmos em conjunto, de forma horizontal o que fazermos em nossas vidas e em nossos bairros, cidades….

Anarquia ou Barbarie

Arquivos de Categoria: Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,

Há muitas Anarquias! Leia sobre elas, pergunte menos nas redes sociais.

03 quinta-feira mar 2016

Posted by litatah in Anarco Ecologia, Anarco Feminismo, Anarco Primitivismo, Anarco Punk, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia, Anarquia Verde, Anarquismo Especifista, anarquismo no Brasil, Anarquismo no Paraná, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Correntes da Anarquia, Imaginário e Plano Simbólico, Municipalismo Libertário, Plataforma, Sem categoria

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anarquia, anarquia e ordem, anarquia ou barbarie

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Por Gilson Moura Henrique Junior

Perguntas genéricas como “anarquista pode comer carne de porco?” ou “anarquista trabalhar pra comer é incoerência?” não vão muito longe, não ajudam exatamente a dirimir dúvidas sobre anarquia ou a melhor forma de militância anarquista. Pior, no fundo é preguiça, porque não procura ler sobre anarquia, quer só a solução fácil.

 
Claro, há trocentas pessoas entre bem intencionadas ou carentes de serem messias dos novatos para responder as perguntas, e ambos ai se satisfazem com o papel de transformar o debate meio bobo em algo parecido com conscientização, só que no fim todos ganham apenas a satisfação momentânea do ego.
 
Anarquia é muita coisa, anarquistas são muitas coisas. Tem anarco sindicalismo, anaco primitivismo, anarco ecologia, anarco feminismo, anarcos queer, plataformistas, makhnovistas, municipalistas libertários, anarco new age e por ai vai.
 
Anarquia não é um sistema de crenças, nem um sistema politico centralizado em dogmas fáceis, em regras rígidas, a ordem na anarquia é a diversidade de saídas, percepções e construções.
 
Há anarco veganos, há quem não vincule anarquia à forma de alimentação.
 
Há federalistas, há isolacionistas, há milhares de formas de se organizar de forma anarquista.
 
Há ao anarco individualismo, há as zonas a Defender, dá pra ser anarquista sozinho ou em coletivos, e até em federações.
 
Há anarquistas autoritários, como há anarquistas libertários.
 
Dá até pra ser anarquista machista ou liberal se chamando anarquista ou anarquista de estilo de vida, que tem pouco ou nada de anarquista,mas fala que é pra ficar bem na fita da rebeldia.
 
Não deveriam haver anarquistas não anarquistas,mas os há também.
 
Confuso? Não, porque anarquia não contempla uma definição unitária e autoritária de si mesma e nem fica fiscalizando quem a pratica pra ver se seguiu Bakunin direito.
 
Dá até pra ser anarquista sem ler sobre anarquia, é o anarco preguiçoso, muito comum nas redes sociais. Ele também é anarquista, poderia ser um anarquista melhor se lesse as diversas tendências anarcas e se organizasse, sozinho ou coletivamente, pra produzir ações anarquistas.
 
Ah, não se esqueçam, esperar uma sociedade anarquista no futuro é que nem esperar papai Noel, anarquismo é aqui e agora. Essa busca de uma sociedade futura que um dia virá após um evento escatológico semi religioso chamado Revolução tem mais chance de dar certo em partidos socialistas.

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O PAPEL DAS LINHAS AUXILIARES NA MANUTENÇÃO DA SUPREMACIA BRANCA

02 terça-feira fev 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Antirracismo, Bandeiras de Luta, Esquerda partidária, Favela Vencerá, Gentrificação, Guerra às Drogas, Imaginário e Plano Simbólico, Linha auxiliar, Manifestos, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Mobilização Quilombola, Moradia, Movimentos de Favela, movimentos sociais, Organização de base, Periferias e Favelas, Prática, Questão racial, Quilombolas, Racismo, Racismo ambiental, Remoções, Repressão, Revolta Popular, Teoria, Violência Racial

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anti-racismo, antirracismo, democracia e protestos, favela, Favelas, Linha auxiliar, Linha auxiliar da burguesia, Linha auxiliar de governos, racial, racismo, racismo ambiental, violência, Violência Racial

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Fonte: Favela Vencerá

 Por Aganju Shakur, articulador da Campanha Reaja ou Será Morta/o. 

Apontamentos estratégicos sobre a luta contra Genocídio do Povo Negro (II) 

Nós não amamos nossos opressores, não queremos agradá-los e esmolar seus cargos e editais. Estamos criando na prática autogestionária, autonomista, pan-africanista, uma ferramenta de autodefesa que tem criado incômodo nos comandos das policiais, nas tropas, nos governos genocidas de esquerda e direita e nos ativistas que vêem seu projeto governista afundar. Que afundem sozinhos, que mergulhem com sua mágoa entre vocês. Abandonem-nos.

Dr. Hamilton Borges Walê [1]

Já estamos em 2016 e dizem por aí que Oxalá vai reger o ano.  É verão e estamos nas ruas sangrentas da Bahia de Rui Costa (PT), onde, segundo dados sub-notificados da Central de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar da Bahia (Centel) [2], trinta pessoas foram assassinadas na cidade de Salvador no segundo fim de semana do ano. Interior adentro o rastro de sangue continua; três pessoas assassinadas no primeiro dia do ano em Cruz das Almas. Sete pessoas assassinadas em seis dias na cidade de Feira de Santana. Estamos na Bahia, terra desgraçada onde a cada cinco pessoas assassinadas pela polícia, cinco são negras.

Os dados são apenas números, tabulações e curvas de nível, não dão conta de dimensionar o terror racial nas ruas, muito menos o assombro que causam os miolos espalhados no asfalto, a dor dos ossos quebrados em torturas e da carne lacerada por disparos de arma de fogo. Os dados não mensuram a neurose. Você fica em uma neurose tá ligado cêro. Aquela sensação, quase uma certeza, que será o próximo corpo abatido.  Aí você sai de casa e tem a convicção que pode não voltar. A neurose do motor à diesel e giroflex. Trombou de frente com a tático na madruga já sabe; entrou na mala, amanheceu na vala, no Cia ou na Estrada das Águas, todo picotado e embalado para viajem pro fundo da represa.

Há também uma atmosfera de medo. O medo da morte prematura; de deitar na cova rasa, seja por bala ou pela maca. O medo de ser impedido de criar seu rebento; ou de nunca ter. O medo de não brincar com seus netos. O medo de nunca mais ver a pessoa que ama, de nunca mais sentir o cheiro dela ou de não sentir o peso de suas coxas sobre seu corpo.  O medo de burlar a ordem natural das coisas e ser enterrado por sua mãe. O medo de adormecer; dos repetidos pesadelos, torturado na mata; chute no saco, costela quebrada e tiro na cara. Você começa a ver os rostos deformados dos pivetes bagaçados; ouvir as súplicas das tias por justiça e o clamor por vingança dos país. O medo de não cumprir a simples tarefas de contabilizar e nominar os corpos. A neurose do arrebento.

Estamos na Bahia, onde está lotado o Quartel dos Aflitos, o mais antigo quartel da Polícia Militar do Brasil. Aqui a polícia que mais mata no mundo ainda ganha gratificação financeira. Jovens negros são assassinados todos os dias prematuramente por disparos de arma de fogo.  Há um aumento exponencial de mulheres negras que tem se matado por não suportarem a dor de terem que enterrar seus filhos em sua idade mais produtiva.  Homens negros, despedaçados psicologicamente por não conseguiram salvar seus rebentos da besta, tem consumido endemicamente drogas pesadas; crack, cachaça e cocaína.  As famílias negras estão sendo fraturadas e aniquiladas. A cena é triste e por mais que os hippies planejem “rebeliões” pelas redes sociais e se sintam “chocados” com os pivetes bagaçados com 68 ou 111 tiros, não há espaço para afetação ideológica.

Diante desse quadro de holocausto nós da Campanha Reaja ou Será Morta/ohá mais de 10 anos estamos enfrentando o terror racial nas ruas e colocando por terra a etiqueta racial da submissão. Nos inserimos como combatentes nesse cenário de guerra. Para quem não sabe, e triste do negro/a que não saiba, na Bahia há uma guerra racial de alta intensidade contra a comunidade negra. Essa guerra de alta intensidade tem sido a principal estratégia utilizada pela supremacia branca, de esquerda e direita, para perpetuação, ramificação e interiorização dos multifacetados dispositivos estatais e paraestatais que compõem o continuum Genocídio do Povo Negro. É uma guerra em todos os termos; nos disparos, nos calibres, nas perfurações e na idade prematura dos assassinatos. Uma guerra que possui múltiplas dimensões; físicas, psicológicas, químicas e afetivas.

Essa guerra racial contra negros/as tem se intensificado nos últimos 13 anos diante da intrincada teia de dispositivos militares do governo supremacista branco do PT. Dispositivos diretos e indiretos, diretos como a crescente legitimação institucional de chacinas e massacres como modus operandi na ação policial [3]. Ou dispositivos indiretos; cooptação racial, neutralização e vigilância de organizações radicais negras. Nesses termos na análise que segue trataremos especificamente de um desses dispositivos: as linhas auxiliares da supremacia branca.

O tema das linhas auxiliares foi um debate tático em variados contextos insurrecionais radicais negros, seja de libertação nacional ou na luta por direitos fundamentais. Usualmente o debate se encaixa no contexto da teoria política pan-africanista das elites negras [4], tendo em obras como, Declaramos Guerra ao Inimigo Interno e África deve unir-se, como algumas de nossas referências clássicas para análise em tela. De maneira geral as elites negras; financeiras, intelectuais e burocráticas, mantém o seu status quo racial, às custas de serem mantenedores de uma etiqueta racial da subjugação, que busca a incorporação com as estruturas de poder branco e não sua demolição por completa. Como alerta o antigo líder da organização nacionalista negra Nação do Islã:

“A chamada elite negra, subsiste das migalhas da filantropia branca e do que pode ser espremido ou extorquido do magro rendimento dos operários negros.” (Elijah Muhammad, O Poder Negro)

Diante dessa conjuntura, para os fins organizacionais da presente análise, entendemos por linhas auxiliares ou forças auxiliares, o conjunto de instâncias estatais, paraestatais e da iniciativa privada, que compõem a intrincada rede política de alianças da supremacia branca no contexto específico de uma guerra racial de alta intensidade. As linhas auxiliares sustentam o projeto civilizacional da supremacia branca em momentos de crise. Além de controlar ideologicamente a opinião pública; seja legitimando o projeto genocida em curso; ou subdimensionando o impacto da guerra racial na comunidade negra.

No contexto específico da guerra racial de alta intensidade na Bahia, as linhas auxiliares são essencialmente, a extensa rede de alianças da supremacia branca, composta por partidos políticos, o lobby das ONGs de direitos humanos, o falido projeto político da promoção da igualdade racial, o lobbydos grupos de pesquisas nas universidades públicas e privadas, o lobby do empreendedorismo étnico; que tem jogado nome do honorável Garvey na lama e por fim, o mais recente lobby do “genocídio da juventude negra” ou“extermínio da população pobre e negra”.

No entanto, cabe acentuar que na Bahia do sionista Jacques Wagner e do nazista Rui Costa, o projeto político de promoção da igualdade racial tem se consolidado nos últimos 13 anos como a principal linha auxiliar de sustentação ideológica da supremacia branca de esquerda, democrático-popular. Linha auxiliar essa, que se ramifica por instâncias estatais e paraestatais, mas que tem em dispositivos de rendição racial sua principal incubadora doutrinaria.

É preciso termos plena dimensão do papel tático que as secretarias de promoção da igualdade racial tem exercido no conjunto de políticas ramificadas que estruturam e perpetuam a manutenção do Genocídio do Povo Negro. Essas ditas secretarias dos “negros”, que são na verdade aparelhos estatais de rendição racial tem dado legitimidade ideológica e sustentado politicamente governos supremacistas brancos nos últimos vinte anos.  Até então agiam de maneira subterrânea nas frestas subalternas do aparelho estatal. Entretanto, no último ano, diante do contexto da luta comunitária das mães, pais, familiares e amigos das vítimas da Chacina do Cabula, o papel das linhas auxiliares tornou-se público e notório na sociedade civil. Cabe um breve histórico.

No mês de março (2015) a Campanha Reaja ou Será Morta/o foi recebida em audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na OEA, para tratar de extermínio de jovens negros no Brasil [5]. Fizemos e defendemos uma petição que condenava o Estado Brasileiro por crime de lesa-humanidade:Genocídio.  O governo supremacista branco brasileiro, representado peloSecretário de Ações Afirmativas da SEPPIR; um homem negro, fez uma longa e exaustiva fala, admitindo a falência do governo em reduzir os índices de desigualdades e letalidade que atinge de sobremaneira o Povo Negro.  Contudo, apesar de apresentar relatórios, protocolos e programas fantasmas o governo saiu derrotado na reunião; não sem antes teatralizar, com a afetação do senhor Breno Costa, representante interino do Brasil junto à OEA, que quebrou o protocolo para mostrar quem é o branco na mesa.

Ainda no mesmo mês, também no contexto da luta comunitária por justiça e reparação de mães, pais e familiares das vítimas da Chacina do Cabula, aconteceu uma reunião amplamente divulgada pela mídia, entre a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do estado da Bahia (Sepromi) e o baixo-oficialato da Polícia Militar, especialmente, com representantes das tropas especializadas, como Rondesp, Caatinga, Peto, entre outras [6].

Essa reunião teve um triplo objetivo tático: 1) formalizar uma parceria interinstitucional entre uma secretaria de promoção da igualdade e a SSP-BA; 2) selar uma aliança operacional entre uma elite negra burocrata e uma elite negra militar; 3) a reunião cumpriu o papel de tentar salvar a imagem pública do governo de Rui Costa, que havia sido abalada politicamente no cenário internacional, diante da nossa fala na audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na OEA. Não foi à toa que a reunião foi amplamente divulgada pela mídia.

A linha auxiliar tentou desautorizar publicamente as graves denuncias que realizamos na Corte Interamericana, além de municiar ideologicamente a corporação policial. Desse modo essas instituições de “promoção da igualdade” tem se qualificado como estruturas formais de rendição e subjugação racial, onde, uma elite negra intelectualmente domesticada em centro de pesquisas e racialmente submetida aos desmandos de uma esquerda branca historicamente racista, tem negociado e colaborado ideologicamente com o Genocídio do Povo Negro no Brasil.

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Em agosto mais uma vez as linhas auxiliares foram acionadas pela supremacia branca para neutralizar a luta racial comunitária insurrecional. Dias depois do I Encontro de Formação e Organização Pan-africanista: Contra o Genocídio do Povo Negro e da III Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro,fomos publicamente agredidos em meios de comunicações virtuais, por um texto elaborado por um dos pensadores ideológicos do projeto falido da Igualdade Racial. Como comenta o Dr. Hamilton Borges Walê:

“Foi veiculado recentemente pelas páginas do Geledés, um texto de um ‘ativista’ negro, ex- assessor especial da Seppir que passou todo o governo Lula criticando Matilde Ribeiro e Edson Santos, cujo conteúdo pretende nos difamar, nos desqualificar – nos atacar tal qual um soldado da Rondesp faz conosco todos os dias aqui na Bahia. Age como inimigo, fazendo alegações sem consistência e olhem que ele é o melhor que essa gente perfumada que adora os “puxadinhos” do governo tem. No texto, o ex-assessor não fala uma palavra sobre a polícia que mata negros, sobre o governo que colocou o exército para matar e controlar gente preta na Maré (RJ). Ele pegou um avião, foi para a Bahia buscar palanque em nossa organização construída sem os brilhos dos banquetes governamentais e dessas ONGs negras submetidas ao modelo imposto para facilitar a barganha com seus fundos, agências e governos, organizada do nordeste para o mundo, longe dos holofotes do centro político do país.”  (Hamilton Borges Walê, A Marcha contra o Genocídio do Povo Negro incomoda os inimigos)

Bem como podemos observar, as linhas auxiliares tem um papel preponderante na manutenção da supremacia branca, sobretudo, na perspectiva de manter uma cultura política racial de subjugação e incorporação ao projeto político em curso. Estamos na Bahia, em meio a uma guerra racial de alta intensidade. Somos uma ameaça para supremacia branca e suas linhas auxiliares. Estamos inseridos no submundo da política racial, distantes do controle ideológico da new democracia racial.

Por fim, dirijo-me agora à militância de nossa organização. Nas capitais, cidades do interior, ocupações, assentamentos, quilombos, celas de cadeia, salas de aula, ao povo do hip-hop, aos pivete, as novinhas, aos tios e as tias.  À todo “exército de ratos” que nos acompanham e protagonizam a luta comunitária. Permaneceremos no submundo, acumulando nosso conjunto de métodos comunitários de enfrentamento ao Genocídio do Povo Negro. Apenas assim conseguiremos erigir nossa Plataforma Pan-africanista de Enfrentamento ao Genocídio do Povo Negro, baseada na centralidade dos programas de serviço comunitários, na auto-organização, na ação direta combativa nas ruas e na autodefesa como princípio estruturante de nossa organização. Não há tempo para distinção intelectual ou afetação ideológica; é tempo de centralidade no trabalho comunitário.  E como disse o coroa cêro: “sem volta, sem voto, sem vacilação”.

Janeiro de 2016

NOTAS

 [1] A Marcha contra o Genocídio do Povo Negro incomoda os inimigos, por Hamilton Borges Walê. Texto na integra em http://bit.ly/1n6Heaq

[2] Salvador e RMS registram quase 30 assassinatos no fim de semana, ver emhttp://bit.ly/1Zq3eZA

[3] Chacinas, massacres e terrorismo racial na Bahia, por Aganju Shakur. Texto na integra em http://bit.ly/235b3IN

[4] Quem tiver mais interesse em compreender o papel de linha auxiliar das elites negras, ver:  Declaramos Guerra ao Inimigo Interno (Samora Machel); O Poder Negro (E.U. Essien-Udon); Uma Questão de Raça (Cornel West); A África deve unir-se (Kwame Nkrumah) e Mensagem ao Movimento Negro (Assata Shakur).

[5] OEA cobra ações para enfrentar genocídio de negros no Brasil, por Lena Azevedo, ver em http://bit.ly/1Q3z8IF

[6] Sepromi e PM formam grupo de trabalho para realizar ações ligadas às questões raciais, Ver em http://bit.ly/1Ki0KW3

[7] Não precisava cuspir no prato, ver em http://bit.ly/1JPgaGn

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Revelador diálogo a respeito da suposta política repressiva do governo de São Paulo e uma reflexão subsequente

25 segunda-feira jan 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, bruno lima rocha, Esquerda partidária, MST, MTST, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, PODEMOS, Presos Políticos, Presos políticos, Repressão, Teoria

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Análise, Análise de conjuntura, bruno lima rocha, Cooptação, esquerda, esquerda partidária, estado repressor, estratégia e análise, MST, MTST, PM, repressão, violência

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Fonte: Estratégia e Análise

Por Bruno Lima Rocha

Na metade de janeiro de 2016 tive uma conversa através de rede social – no privado – com um amigo de longa data, morador do estado de São Paulo, e profundo conhecedor da política local. Este conhecimento inclui importantes municípios como Santos, Campinas, Guarulhos, a região do ABCD, assim como do poder municipal em São Paulo capital, e óbvio, o Palácio dos Bandeirantes. Além de acadêmico, este militante com muita experiência notou o avanço da repressão policial contra as marchas organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e entidades aliadas. As palavras a seguir são de fonte segura, e podem ser lidas como uma suposição – já que não tenho a prova material – ou como uma hipótese bastante provável, que é como eu as encaro. Eis a fala deste amigo:

“Fala Bruno, sobre a repressão em SP, uma amiga que trampa no governo bem próxima de quadro tucano disse que a tática é apavorar prá esvaziar os atos e deixando só os mais mais aguerridos, aqueles que justamente pela bronca acumulada tenderiam a se tornar mais violentos e “justificar” a posteriori a repressão pelos “vândalos”. Enfim, a ideia central é evitar que massifique.”

“Aliás tem a orientação de bater muito, mas evitar sangue, braço quebrado, coisa que a mídia possa escandalizar. Claro que é duro calibrar isso numa tropa com sangue nos olhos. Também tem a orientação de “respeitar” apenas jornalistas da grande mídia. Blogs, independentes, etc são considerados ativistas e receberão o tratamento de militantes.”

“Novamente é difícil seguir isso à risca, pegaram pesado com jornalistas do UOL e da Gazeta esses dias. Os caras estão tentando ficar num grau de violência suficiente prá dissuadir, mas não tão alto que escandalize a mídia e gere solidariedade massiva como em 2013.”

Queria aportar uma breve reflexão. Infelizmente a maior parte da esquerda restante – nem incluo mais a base do governo e as tradições do lulismo, stalinismo e trabalhismo – conhecem pouco ou nada da interna do aparato repressivo e oscilam entre a denúncia e a fracassada tentativa de arregimentação. As políticas de segurança pública, o funcionamento interno destas corporações militares ou civis, os códigos de lealdade, o emprego da violência oficial e do Terror de Estado (como é o caso do acionar policial nas áreas de favela ou periferia) devem ser um tema da ordem do dia para quem quer analisar e transformar este país. O período do lulismo não fez nada ou quase nada a este respeito, deixando o entulho autoritário praticamente intacto.

Alianças espúrias com oligarquias estaduais e falta de coragem política levam a este abandono de debate. O mesmo se dá na relação com as forças armadas e especificamente com o exército de Caxias. Trago esta reflexão porque o caminho mais fácil seria responsabilizar o governo tucano paulista pelas atrocidades, sem levar em conta, por exemplo, as barbaridades e atrocidades cometidas pela PM baiana já no comando do terceiro governo petista. Não se trata necessariamente de uma relação belicosa e repressiva do governo dos Bandeirantes, haja vista o acionar da Brigada Militar em 2013 sob governo do ex-comunista profundamente arrependido, Tarso Genro. Até presos políticos tivemos na província, sendo que há seis processados e um condenado em primeira instância.

É urgente avaliar a relação permanente entre os governos estaduais e o aparelho repressivo sob seu comando, mas nunca sob sua inteira lealdade. Não é nada difícil a autonomização dos corpos tecnoburocráticos, em particular no caso de forças policiais. Estudar este comportamento e tomar esta medida na promoção de lutas justas e massivas é tarefa urgente para reconstruirmos o pensamento e a ação da radicalidade de esquerda em defesa do interesse das maiorias no Brasil.

 

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Que esquerda é essa? Ou porque a posição da CAB está correta – 2

25 segunda-feira jan 2016

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Fonte: Estratégia e análise

Por Bruno Lima Rocha

Como construir um partido político de esquerda sem projeto político? Como falar em socialismo sem uma projeção de sociedade? Como caracterizar uma etapa se não há objetivo finalista, sem uma via estratégica, sem a dimensão tática correspondente? O maximalismo só atende ao nível da filosofia política, mas fazer política de forma séria, consequente e por esquerda prevê um – ou alguns – projetos de acumulação de forças que vão se encontrar ou desencontrar ao longo da via. Desde que o muro caiu a maior parte da esquerda restante, da ex-esquerda, no caso da América Latina do campo classista e nacional-popular, perdera esta dimensão de metas de médio e longo prazo na política e acabam jogando o jogo do liberalismo, mesmo que por tabela.

Até o final da Guerra Fria era mais “fácil”, pois mesmo com críticas ao carcomido e horroroso modelo soviético, ainda havia abundante ilusão e fantasia autoritária (não entre os libertários), como a tese absurda de partido único e formação de vanguardas políticas. Centenas de milhares de militantes sinceros em nosso Continente deram a vida por projetos semelhantes, com especial ênfase nas organizações político-militares, alternativa do nacionalismo de esquerda e do marxismo latino-americano ao modelo de partido comunista, seja este descendente do SPD original – onde Marx militou – ou de sua derivação mais conspiratória, com origem leninista. Em nosso país, o exemplo acabado e reivindicado – pelo exemplo – é o de Carlos Marighella e seus correligionários. Mas, não há  uma linha sequer em algum documento da ALN afirmando como seria o sistema político, o sistema jurídico, a base econômica sob controle coletivo e outros aspectos fundamentais da vida em sociedade. Todo o respeito para quem se jogou por um mundo melhor, mas ajuda saber como pensavam o que seria – será – este mundo. O que não existe em teoria não se realiza na sociedade.

A crise política pós-Guerra Fria vem daí, da ausência de teoria de ruptura. O que temos de viúvas do eurocomunismo reivindica este Marx já criticado do SPD e acabam compondo a social-democracia como ideário máximo dentro do sistema capitalista.  Não adianta tergiversar, buscar debates escapistas ou fugir da polêmica. De forma e séria e contundente há de se perguntar para toda força política no campo da esquerda: “Companheiro, companheira, o quê vocês querem? Onde querem chegar? Qual o caminho para atingir este objetivo? Porque tem ou não adesão às vias eleitorais? Qual o limite do jogo institucional para vocês?” Sem esse debate franco não há caminho a seguir e tudo não passa ou de luta reivindicativa – o que é bom, mas sem projeto não acumula para além dos momentos de ascensão – ou pior, termina esta energia social sendo canalizada para a jogatina eleitoral.

Utopia não é devaneio e nem demência, é o lugar a ser construído, o ideário onde de forma racional e consequente aqueles e aquelas aderentes a um conjunto de ideias (ideologia) se organizam politicamente para tal. Especifismo (o anarquismo politicamente organizado como força classista e popular) é isso, é só isso, é tudo isso. É tudo isso com a democracia direta em todos os níveis, sem aderir à venda casada do liberalismo, aonde a “democracia” vem junto da “liberdade” econômica.

É este o debate que deve ser feito – sim estou defendendo que sejamos francos uns com os outros ao menos uma vez na existência – sem subterfúgios, sem manobras de assembleias com boiada votando conforme o capa preta manda, sem papagaiada de formação hierárquica e jogo de cena para a torcida. E, pasmem, este é o debate que todas as forças evitam, evitam ao máximo, porque esta discussão consequente obriga a um nível de compromisso e autocrítica que não condiz mais com as práticas autoritárias, personalistas, descomprometidas, e não sobrevivem a chavões que são aplicados como panaceia autoexplicativa, como: “os fins justificam os meios”; “política é um  jogo dialético”, “tem de  ver a correlação de forças e fazer as alianças possíveis para o momento”…Sim, e para que? Por quê? Com quem? Com quais ferramentas?

O debate está aberto e este analista não tem delegação para falar em nome do coletivo, mas sim, como todos e todas que aderem ou apoiam, tem o dever de levar adiante as ideias coletivas e torna-las socialmente aplicáveis e compreendidas. A palavra de ordem e ideia guia construir um povo forte é isso. Criar, reforçar, um conjunto de entidades de base ou movimentos massivos que tenham a articulação interna e o poder necessário para tentar vetar o que não é favorável às maiorias e acumular forças para modificar a correlação de forças com independência de classe.  É o mínimo para apontar no rumo de uma política massiva, de base, mesmo dentro desta democracia indireta mas com disposição para transformar as relações sociais a partir das lutas coletivas.

Aonde chegar e qual sociedade se quer organizar é outro debate. Há consensos bastante ampliados a este respeito e pode ser tema de outro texto. Por agora, fica a pergunta: Se não há um projeto concreto de poder do povo, que esquerda é essa?

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Que “esquerda” é esta? Ou porque a posição da FAG está correta. – 1

25 segunda-feira jan 2016

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Fonte: Estratégia e análise

Por Bruno Lima Rocha

Existe um mito contemporâneo afirmando que tanto a direção do MST como do MTST estariam mais à esquerda e forçariam o governo a tomar atitudes mais compensatórias, assim como redistribuir o poder interno no pacto de classes do lulismo. Desde 2003, ano após ano este mito foi retomado, com a ajuda da direita midiática.

Para reforçar esta ideia, há uma linha hierárquica de transferência de posição e campo de alianças organizado pelos militantes de confiança de Stédile e se organizam no Levante Popular da Juventude e na Consulta Popular. É uma espécie de modelo híbrido de frente política com esquerda social, com hierarquia pouco visível e um trabalho mais fluido como era o da Ação Popular quando a AP se desvincula da Igreja Católica em 1962. Não tenhamos nenhuma ilusão. A aparente democracia interna é linha baixada do “grupo de estudo” ou outro círculo de confiança. Na medida em que as decepções se acumulam, mais gente não sai de casa e o recrutamento e a mobilização ficam em cima da necessidade material urgente e da inflexível hierarquia interna. Mais combustível para a direita que não é governo e a perseguição midiática anti-povo.

Agora, com o “novo governo” Dilma dando recado para Nelson Barbosa liberar o Banco Central a operar com “autonomia”, na verdade, estamos vendo outro jogo de cena. O PT finge que pressiona o governo, que finge ser pressionado e finge estar fazendo um giro para a confiança dos mercados; enquanto isso a “esquerda social” finge estar propondo uma ou duas articulações de tipo frente popular e as mesmas não têm deliberação alguma e não passa de um acórdão de capa-preta e burocracia sindical.

É por isso que a posição de quem não quer aderir a uma frente em que nada está em jogo e quem banca a infra impõe a pauta está correta. Quem quebra a unidade das forças sociais em defesa da maioria é quem faz composição com a direita. O declínio da hegemonia petista (dos petismos, mas com o controle interno do antigo Campo Majoritário e externo da Via Campesina-MST-Grupo do Stédile) vai demorar a ser consolidado e arrancará em carne viva pedaços ainda maiores de nosso tecido social a cada dia mais fragilizado. Esta ferida estanca é com luta, demora, mas passa.

 

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Por uma geoestratégia dos povos – 1

22 sexta-feira jan 2016

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, bruno lima rocha, Internacional anarquista, Teoria

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anarkismo, Análise, Análise de conjuntura

25A-povo (6)

 

Fonte: Anarkismo

 

Por Bruno Lima Rocha

Introdução – Nesta nova série, inicio um conjunto de textos de difusão que visam ganhar a densidade até se tornarem um ensaio posterior. A meta não é necessariamente polemizar de fora para dentro da academia, e sim servir como apoio da frente teórica dentro da corrente para os debates, proposições e perspectivas em termos de política internacional, economia política internacional e relações internacionais. Muitas vezes, diante da impossibilidade teórica, há impossibilidade estratégica, logo, nada se realiza e quase tudo se copia ou mimetiza. A razão desta nova série é aportar uma contribuição para diminuir esta lacuna.

A história dos povos neste contexto fica subordinada ao arranjo temporário entre elites dirigentes e classes dominantes a partir de suas respectivas posições em Estados pivô geopolíticos e Agentes Geoestratégicos.

O cenário internacional é quase sempre marcado através de grandes eventos e situações onde ocorrem tomadas de decisão a influenciar a vida de milhões e até mesmo bilhões. A história dos povos neste contexto fica subordinada ao arranjo temporário entre elites dirigentes e classes dominantes a partir de suas respectivas posições em Estados pivô geopolíticos e Agentes Geoestratégicos. Os primeiros são observados pelas agendas midiáticas como os países regionalmente poderosos e que podem influenciar – a partir de sua condição local-regional e sua relevante posição geográfica – a “estabilidade” de um território ampliado. Os segundos têm seus excedentes de poder ultrapassando a determinação geográfica (em termos espaciais) e incidem para além de suas fronteiras físicas. Esta relação tensa projetada sobre um tabuleiro territorial costuma ser chamado de O Grande Jogo. Ir além desta condicionante é um grande desafio para pensar e analisar o mundo através de um viés libertário (igualitário e democrático).

Os conflitos internacionais e o chamado Grande Jogo costumam abafar ou subordinar os movimentos de libertação dos povos. Uma das maiores dificuldades em realizar uma linha crítica e comprometida nas relações internacionais e estudos de política em escala mundializada e o desenvolvimento de uma teoria que fuja da armadilha derivada do realismo e do pensamento stalinista, de base leninista. A soma do pragmatismo político (real politique), com o realismo ofensivo (a maximização de interesses em todos os níveis sem nenhum escopo ou limite moral para exercer tal vontade), passando pelo jogo de interesses e cinismo em distintas escalas (geopolitik), faz com que o pensamento da esquerda restante termine por se encantar por governos autoritários, embora os mesmos se contraponham ao “ocidente” como tal. É sempre positiva a existência de poderes mundiais para contrabalançar um pouco do excedente de poder da Superpotência. Mas, por outro lado, nenhum jogo entre Estados pode servir ao interesse e aos projetos estratégicos dos movimentos dos povos.

Para contribuir neste esforço, proponho uma análise bastante acessível, ao dividir o Jogo Internacional em três níveis. O primeiro nível é o Grande Jogo, em nível geoestratégico – portanto, ultrapassando o determinismo geográfico e o posicionamento original dos Estados. Este Jogo não atende em hipótese alguma o interesse dos povos, menos ainda das classes subalternas dos países subdesenvolvidos, semi-periféricos e potências eternamente em ascensão, como o Brasil. Não deveríamos em quase hipótese alguma embarcar no engajamento neste Grande Jogo, sendo que no momento a nova Guerra Fria ocorre entre Estados Unidos e União Europeia X China e Rússia; isto sem falar nas rivalidades intra-blocos ou entre aliados.

O segundo nível talvez seja o mais perceptível, onde em regiões bastante conturbadas, as potências de nível médio, operando como pivôs geopolíticos e com aliados dispostos a fazer guerras indiretas se aliam impondo suas pautas também a grandes potências. No caso específico do Oriente Médio, verificamos o jogo de Israel, Turquia, Arábia Saudita e Irã com níveis elevados de autonomia diante da força de proteção de EUA, Otan, EUA e Rússia, respectivamente. Quase sempre os grupos dominantes domésticos costumam ter poderes absolutos de veto dentro do jogo regional quando há um nível elevado de conflito. O jogo de nível dois confunde-se com os aliados domésticos e pode pender de lado segundo a condição de domínio nos Estados e territórios soberanos.

O terceiro nível é, de fato, o único onde os protagonistas são os povos em luta. Estes podem ter dimensão doméstica ou mesmo regional, sempre e quando há o protagonismo dos agentes que atuam a partir de países ou pertencimentos, como através da etnicidade, tal é o caso da esquerda do Curdistão. O desenho destes conflitos de nível três é onde podem se desenvolver formas de vida coletivas com autonomia das novas instituições sociais, onde a democracia direta e a economia autogestionária podem ser exercidas em média e larga escala. A defesa destes territórios ou ao menos a condição de veto dos povos em luta, é a única chance para garantir um agendamento internacional que vá ao encontro dos anseios da maior parte da humanidade, em geral colocada na condição de vítimas ou massas de manobra das decisões tomadas pelas elites dirigentes e frações de classe dominante em escala mundial.

Em termos normativos, as propostas que saem das agências da ONU (FAO, UNESCO, mesmo a OIT, ACNUR, dentre outras), além das redes transnacionais de defesa de causas (advocacy, como a Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras, dentre outros) são bastante aceitáveis, mas não têm a força necessária de serem implantadas. Tal condição de força depende necessariamente do protagonismo dos povos nos conflitos e lutas sociais de nível três. É neste nível que os interesses das maiorias vêm a ser exercidos de forma direta, através da luta coletiva e radicalmente democrática.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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Turquia destrói o Curdistão, o mundo silencia

30 quarta-feira dez 2015

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Curdistão, curdos, notícias, PKK, repressão, Revolução de Rojava, turquia

cerimonia fúnebre PKK

Por Uzay Bulut

Originalmente publicado no Instituto Gatestone

Retirado de Kurdish Question.

Em 1990, o exército turco foi usado para queimar aldeias turcas; hoje eles queimam cidades curdas.

Neste mês, três bairros da cidade curda de Silvan na província de Diyarbakir – Tekel, Konak e Mescit – foram colocados sob toque de recolher militar e, em seguida, atacados do dia 03 de novembro a 14 de novembro. As linhas de telefone, de água e eletricidade foram cortadas.

Os bairros, sitiados por veículos blindados da polícia, foram então bombardeados por tanques e artilharia foi disparada das colinas. Muitas casas foram atingidas por balas e bombas; algumas casas foram queimadas. [1]

Representantes do gabinete do governador em Diyarbakir alegaram que as operações militares eram destinadas a “remover as valas e barricadas” construídas por alguns jovens curdos, mas os relatórios provenientes da cidade revelaram que a operação, na verdade, parecia visar a limpeza étnica da cidade a partir da sua população nativa de mais de dois mil anos, os curdos. [2]

“Nós não conseguimos receber informações desses bairros por qualquer meio” Disse Firat Anli, o co-presidente da Câmara de Diyarbakir,  a agência de notícias Firat (ANF). “Nós não podemos mandar nenhum alimento ou ajuda humanitária. Pacientes de diálise, crianças, idosos … Não temos nenhuma informação sobre a sua situação. Eles têm sido mantidos isolados do resto do mundo.”

Edip Erk, um antigo deputado do Partido Democrático do Povo pró-curdo, HDP, falou à agência Bianet News: “Três deputados do HDP foram a esses bairros. Dizem que há muitos feridos. Mesmo a lei marcial permite que os feridos sejam levados para hospitais, mas em Silvan eles [autoridades turcas] não estão permitindo fazer isso.

“As instituições públicas nesses bairros, tais como os centros de saúde, estão fechados. Há uma enorme escassez de alimentos. Nós informamos as autoridades que gostaríamos de enviar um caminhão com comida, mas ainda não recebemos resposta. O caminhão então, ainda está aguardando.

“O chefe de polícia da cidade nos disse que ele não está administrando a operação. O Ministério está. É uma operação militar. Aqui, ele é utilizado para ser como uma prisão aberta;…. Agora, é um centro de tortura aberto” [3]

As operações policiais especiais, a partir de suas mesquitas e veículos blindados, disse aos moradores da cidade para “evacuem os bairros ou vamos atirar em todos vocês.”

Se os curdos deixaram suas casas, eles irão atirar. Se eles ficarem, vão ser bombardeados.

Silvan não foi o primeiro alvo do exército turco depois das eleições de 7 de junho. Muitas cidades e municípios que são a fortaleza do movimento nacional curdo – tal como Diyarbakir, Cizre, Sirnak e Hakkari — tem sido atacadas [4]

“Esta deve ser a “nova Turquia” prometeram”, disse Abdullah Zeydan, um deputado da cidade de Hakkari. “Agora eles nos têm como alvo e  mesmo os deputados. Eu não sei de onde eles tiram este poder. Antes das eleições, o AKP prometeu estabilidade e paz; sua visão de estabilidade e paz é usar violência contra as MPs. “[5]

Ziya Pir, um deputado do HDP, disse que um funcionário do Ministério do Interior lhe contou que “eles vão apagar esses três bairros de Silvan do mapa … Equipes de operações especiais abrem fogo contra tudo que se move. [6]

Pir acrescentou que as conversações com as autoridades não deram nenhum resultado; o governador e o gabinete do governador lhes disse que “eles receberam as ordens das autoridades superiores.”

O gabinete do governador de Diyarbakir, no entanto, anunciou: “No centro da cidade, tomamos todos os tipos de precauções para garantir a vida e a segurança da propriedade dos cidadãos, a preservar a paz e a estabilidade atual, para proteger os cidadãos de todos os tipos de atos de terror, e para garantir a segurança e a ordem em conformidade com toda a legislação vigente. “

Os meios de comunicação pró-governo comemoraram os ataques. O jornal Haberturk, por exemplo, relatou com alegria: “Uma grande operação foi iniciada em Silvan com a ação de tanques de guerra. “

Silvan se transformou numa cidade fantasma. 20.000 pessoas tem segundo os relatos, fugido de uma cidade que tinha 86.600 habitantes.

E depois de Silvan, o novo alvo do governo é a cidade Turca de Nusaybin onde 89.4% da população votou no partido pró-curdo HDP nas eleições de primeiro de Novembro.

Um toque de recolher militar foi declarado na cidade em 13 de novembro e ainda está em curso. Pessoas estão presas em suas casas.

Ramazan Kaya, um médico que trabalha no Hospital estadual de Nusayabin, disse a BBC que um de seus parentes teve de colocar sua criança numa geladeira para reduzir sua febre.

Aqueles que saem são alvejados pela polícia. Selamet Yesilmen (44), uma mãe de cinco filhos e grávida, era uma delas. Ela foi morta a tiros em frente de sua casa por um atirador de elite em 15 de novembro. Seus dois filhos foram gravemente feridos e hospitalizados. Yilmaz Tutak, que tentou socorrê-la, também foi baleado e ferido pela polícia.

Tahir Elci, presidente da Associação Diyarbakir Bar, confirmou que Yesilmen foi atingida com uma arma que é usada por atiradores de elite (snipers); ela atinge o alvo rapidamente e explode dentro do seu corpo.

Em 18 de Novembro, Hasan DAl, 45 anos, foi assassinado no jardim de sua casa. 13 pessoas se feriram desde então. Um deles se chamava Gule Tutak, a mãe de Yilmaz Tutak, morta prematuramente pela polícia [7].

Este é o segundo toque de recolher que a cidade está exposta desde as eleições de 7 de junho. O primeiro foi decretado no dia primeiro de outubro e durou seis dias. Ahmet Sonmez (61) e Sahin Turan (25) foram assassinadas pela polícia.

A maioria das pessoas nessas cidades tem resistido por longas décadas contra a assimilação imposta pelo Estado turco. Elas continuam falando curdo, e continuam exigindo seus direitos e autonomia. Esses são motivos suficientes para o Estado turco ver essas cidades como inimigas que precisam ser destruídas.

O Estado turco nunca tratou um grupo não-turco ou não-muçulmano de maneira moralmente justa. Assassinato e destruição tornaram-se em séculos longas tradições do domínio turco. Hoje, a opressão contra as minorias na Turquia continua inabalável. Há cem anos, o regime turco abatia Armênios, Assírios e gregos da Anatólia, enquanto o mundo era mais silencioso. Agora é a vez curdos. O mundo ainda está em silêncio.

Uzay Bulut, nasceu e cresceu em Muslim, é um jornalista turco que reside em Ankara.

[1] Veja fotos e vídeos do toque de recolher aqui: “Apagando do mapa? Cenas de destruição do exército turco na cidade curda de Silvan (VIDEO)”, 11 Nov 2015, Russia Today

[2] “Não há dúvida de que um povo curdo existia como um grupo identificável há  possivelmente, mais de dois mil anos”, escreveu o pesquisador David McDowall em “História Moderna dos curdos,” IB Tauris; 2004.

[3] Na semana do 3 de novembro, seis curdos — Muslum Tayar, Sertip Polat, Engin Gezici, Ismet Gezici, Mehmet Gunduz ile Yakup Sinba – foram atingidos mortalmente pela polícia. Um deles, Engin Gezici, tinha 24 anos, pai de três filhos, foi morto em frente a sua casa. Sua tia, Ismet Gezici, de 55 anos, correu para socorrê-lo mas também foi morta. Os deputados do HDP e outros representantes curdos tentaram buscar seu corpo, mas a polícia não permitiu ninguém entrar na vizinhança. Depois disto, três parentes de Gezici, sob intenso tiroteio, entraram no bairro e resgataram seu corpo. Mas eles foram impedidos e presos pela polícia que aprendeu seu corpo desfalecido. Engin e Ismet Gezici repousaram sob o som de explosões e armas de fogo.

[4] O jornal Ozgur Gundem noticiou que a polícia abriu fogo num café no bairro de Feridun, que não estava sob toque de recolher. Mehmet Yavuz (45), Seyfettin Kurt (44) e Abdulsamet Kesici (50) foram gravemente feridos Yavuz morreu a caminho do hospital. Abdullah Guney, de 7 anos, foi atingido por balas, e Ibrahim Yazkent, de 12, por uma granada. Enquanto isso, estudantes universitários na província curda de Hakkari organizaram um protesto onde também se juntaram dois deputados do HDP. Ambos, e Selma Irmak, foram feridos pela polícia. “Nós nos juntamos a manifestação dos deputados de Hakkari,” disse Zeydan. “Os Panzers nos pararam e sem dar nenhum aviso , começaram a nos atacar. Isso foi um ataque direcionado. Minha mão quebrou;  há queimaduras e cicatrizes no meu corpo.

[5] “Enquanto estávamos falando com a polícia, eles dispararam suas armas”, disse Irmak, que também foi ferido. “Uma bala de plástico bateu no meu ouvido. Eles miraram e atiraram em nós numa distância de uma cuspida. De repente, eles usaram as bombas de gás e balas de borracha.” (Vídeo)

[6] Pir continuou: “E é isso o que eles estão fazendo agora. Eles estão abrindo fogo em todos os lugares – incluindo atirar indiscriminadamente contra civis. Os soldados, policiais ou algumas pessoas não registradas que eu chamo de ” Caçadores de cabeças ” fuçam em tudo de cima a baixo, onde eles vêem qualquer sinal de vida. “Pir disse que armas pesadas foram usadas nesses bairros, os tanques foram postos nas colinas que da região; os edifícios foram atingidos com fogo de artilharia, os civis em grupos de 10 ou 15 se refugiaram nos pisos ou sótãos de suas casas.

[7] A Agência de Notícias Dicle noticiou alguns dos feridos. Suleyman Altekin, 65 anos, foi baleado e ferido pela polícia durante a tentativa de ir à casa de seu filho. Faysal Cakar e seu filho de 10 anos de idade, Cano Cakar foram feridos por estilhaços de uma granada lançada pela polícia. Sirin Bilgin foi baleado nas costas na varanda de sua casa. Abdulkadir Yilmaz, de 65 anos, teve um ataque cardíaco e morreu porque ele só pode ser levado para o hospital apenas 3 horas mais tarde devido ao bloqueio das estradas. Halime Guner (35), uma mãe de 3 filhos, levou  um tiro no pé, na frente de sua casa. Fatma Kulat, 42 anos, foi baleada e gravemente ferida pela polícia, enquanto estava em sua cozinha.

Siga Uzay Bulut no Twitter

Tradução: Rafael V.

FONTE: Solidariedade à Resistência Popular Curda!

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Vitória da rebelião estudantil na África do Sul

29 terça-feira dez 2015

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atos, África do Sul, educação libertária, Movimento estudantil, ocupa escola, revolta popular, Rhodes deve cair, Zuma

Vitória da rebelião estudantil na África do Sul

Depois de dez dias de protestos sem precedentes, os e as estudantes da África do Sul arrancaram uma vitória contra o aumento das taxas universitárias previstas para o próximo ano.

Por: Ashley Fataar

O movimento “As taxas devem cair” foi maior revolta estudantil desde o fim do apartheid.

A África do Sul tem aproximadamente um milhão de estudantes matriculados em instituições de ensino superior. E a maioria das universidades se mobilizaram para dizer que tipo de país almejam.

A rebelião foi altamente ideológica em suas reivindicações e democrática em sua prática. O grau de automobilização e auto-organização foi impressionante. Seu exemplo serve de inspiração para as demais lutas, pois nos mostra que a ação de massas, vindo de baixo, é o caminho para conquistar vitórias.

Os e as estudantes ocuparam edifícios da universidade, atacaram as portas do parlamento na Cidade do Cabo e conseguiram mobilizar 50.000 pessoas para protestar nos escritórios do governo em Tshwane (Pretoria).

A rebelião estudantil foi realmente um “festival dos oprimidos”. Muitas e muitos estudantes estavam participando de manifestações pela primeira vez na vida. E fizeram isso com alegria.

Foi fácil para os e as estudantes mais ativas debater sobre a crise capitalista, a austeridade, as raízes do crescente racismo e sobre o socialismo como uma alternativa.

Além da educação gratuita, os e as estudantes estão reivindicando que as universidades acabem com a prática da terceirização.

Nas palavras dos e das estudantes: “Não podemos continuar tolerando a exploração, a criminalização e o assédio praticado contra os trabalhadores terceirizados. Queremos um salário que dê para viver! As empresas têm que sair! Os trabalhadores têm que ficar!”

A revolta mostra que nunca devemos ser complacentes. A luta pode estourar numa explosão de raiva e determinação em setores da vida pública que, à primeira vista, podem parecer muito passivos.

Num mundo em profunda crise, o povo está lutando contra as medidas de austeridade que tentam lhe impor. Há um ou dois anos, os estudantes não estavam mobilizados. Estavam submetidos a obrigações extenuantes e afogados pelas taxas.

Mentalidade

Como saída diante da miséria, os e as estudantes estavam imbuídos de uma mentalidade de que poderiam ascender à nova classe média negra emergente. Alguns eram caracterizados como jovens que davam mais atenção à sua aparência e a seus celulares do que aos debates acerca da construção de uma nova sociedade.

O movimento foi precedido este ano pela campanha “Rhodes deve cair”, que lutava contra a presença contínua de estátuas de figuras do apartheid, como Cecil Rhodes, nos campi universitários. Canalizava a presença do racismo e a falta de transformação no interior das universidades.

Esse movimento foi dinâmico, mas não levou a maioria dos estudantes a uma ampla rebelião. Quem conseguiu isso foi o movimento contra as taxas.

Começou à noite, quando os e as estudantes da Universidade de Wits foram bloqueá-la devido ao aumento das taxas em 10,5%. Durante uma semana, a maioria das universidades foram fechadas pelo(a)s estudantes em todo o país. Outros centros educativos começaram a se unir ao movimento até o início de novembro.

O ministro da Educação, Blade Nzimande, membro do Partido Comunista, pensou que podia conter a rebelião mantendo o aumento em 6%, como aconteceu no ano passado.

Por este motivo foi vaiado quando ia fazer um discurso fora do parlamento. Dias depois, o presidente Jacob Zuma teve que intervir, lançando a proposta de 0% de aumento para o ano de 2016.

O governo do CNA (Congresso Nacional Africano) está tentando ganhar a direção do movimento para desviá-lo. No entanto, as velhas credenciais de um governo de libertação nacional já não são muito bem vistas pelos estudantes.

Querem uma educação gratuita agora, não em um futuro distante.

Num ato para avaliar a marcha de Tshwane e a campanha “Não às taxas”, um estudante comentou: “Este ato de massas em Wits é uma das coisas mais extraordinárias que vivi em minha vida política“.

“O nível do debate é extraordinário. A grande maioria está favor de rejeitar a estratégia de Zuma. Não perder força na luta por uma educação gratuita e conectar nossa luta com a da classe trabalhadora! Impressionante.”

A luta continua.

Artigo publicado originalmente no jornal Socialist Worker:https://socialistworker.co.uk/art/41574/Students+rebellion+in+South+Africa+should+inspire+us+all

Tradução: George Bezerra

Fonte: LIT-CI

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SOLIDARIEDADE AOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL! AÇÃO DIRETA PARA GARANTIR DIREITOS!

23 quarta-feira dez 2015

Posted by litatah in Anarco Ecologia, Anarco Primitivismo, Anarquia, Anarquia Verde, anarquismo no Brasil, Anarquismo no Paraná, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Antirracismo, Coletivo Anarquista Luta de Classe, Ecologia, Mobilização Indígena, Organização de base, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Prática, Publicidade, Questão indígena, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental

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Agroecologia, Anarco ecologia, anarco-ecologia, anarcoecologia, calc, ecollogista, ecologia, ecologia social, ecologiasocial, genocídio indígena, indígena, indígenas, questão indígena

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Fonte: CALC – Coletivo Anarquista Luta de Classes

Sabemos que a formação social brasileira é bastante característica, tendo sido os povos originários massacrados pela ganância da coroa portuguesa e de toda a elite branca europeia. Para pensar em um processo revolucionário no Brasil é fundamental considerar e fortalecer a organização os povos do campo, da floresta e do mar.

A conjuntura atual do Brasil é de grandes ataques contra a classe oprimida e os povos indígenas, mais uma vez, têm seus direitos históricos ameaçados. Dessa vez pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, de autoria do deputado Almir Sá (PL), que diz respeito à transferência da atribuição de demarcação de terras indígenas, quilombolas e reservas ambientais, que hoje se encontra nas mãos do Poder Executivo (representado pela União, FUNAI e INCRA) para o Poder Legislativo (representado pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal).

Sabemos qual a composição do Congresso Nacional, composta por frentes parlamentares conservadoras como a bancada ruralista; que serve aos interesses do agronegócio, grandemente interessada na aprovação da PEC 215. Assim, fica clara a dimensão do ataque que a aprovação dessa PEC representará. As terras indígenas e quilombolas que já foram homologadas e/ou registradas com muita organização e ação direta do movimento indígena e quilombola também estão sendo ameaçadas, pois a PEC também possibilita a revisão das terras já demarcadas.

Na luta contra a aprovação da PEC 215, o movimento indígena foi às ruas no dia 3 de novembro demonstrar que está mobilizado e não aceitará calado os ataques do Estado. A manifestação contou com cerca de 50 pessoas, que afirmavam que a luta será suada e que não vão abrir mão de ter os direitos dos povos originários reconhecidos no país.

Na última quarta-feira, dia 11 de novembro, o movimento foi novamente às ruas nos estados do Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Os indígenas trancaram importantes rodovias com o intuito de dar visibilidade e fazer pressão na defesa de seus direitos.

Aqui no Paraná, cerca de 100 pessoas, dentre as quais os indígenas da Aldeia Araçaí (Piraquara) e de outras aldeias da região, além de advogados do movimento e apoiadores da causa, bloquearam a rodovia BR 277, que liga Foz do Iguaçu à Paranaguá, onde está localizado o importante Porto de Paranaguá, ponto de escoação de commodities do agronegócio brasileiro. Após 3 horas e meia de bloqueio da rodovia nos dois sentidos, os indígenas decidiram finalizar o ato caminhando até a praça de pedágio da concessionáriaECOVIA e liberaram as cancelas para passagem gratuita. Logo após, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) reprimiu, de maneira intransigente, o ato político dos indígenas.

Nós, Coletivo Anarquista Luta de Classe (CALC) e da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), demonstramos nosso apoio e solidariedade ao movimento indígena, que está indo às ruas lutar por seus direitos. Demonstram que os direitos dos de baixo não são concedidos, mas conquistados somente através da ação direta.  Com grande radicalidade e combatividade os povos indígenas escrevem a sua história!

SOLIDARIEDADE AO MOVIMENTO INDÍGENA!

SEMIÃO VILHALVA VIVE!

TODA FORÇA A ALDEIA AÇARAÍ!

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De uma concepção instrumental do Estado ao marxismo contra-revolucionário: quais as condições para um debate com os anarquistas? (2ª parte)

23 segunda-feira nov 2015

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Fonte: Passa Palavra

Os processos revolucionários implicam para os marxistas terem de fazer algo mais que contornar teorias críticas, fazendo-os assumir posições revolucionárias ou contra-revolucionárias. Por Rodrigo Oliveira Fonseca

Leia a 1ª parte.

Os trotskistas não inventaram o fetiche do Estado, que certamente se desdobra no seu comportamento à frente dos organismos sindicais, mas que pode ser melhor compreendido a partir de um retorno, caracterizando:

O embaraço do marxismo com a prática política (via aberta para aparelhar a polícia)

A despeito da consideração de Marx em os Grundrisse de que “o ser humano é, no sentido mais literal, um animal político, não apenas um animal social, mas também um animal que somente pode isolar-se em sociedade”, não se deve esquecer o postulado pelo Manifesto Comunista de que “toda luta de classes é uma luta política”, mas “desaparecidos os antagonismos de classe no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando na mão dos indivíduos associados, o poder político perderá seu caráter político”.

Quase trinta anos depois, Engels falará da substituição do governo sobre as pessoas pela direção dos processos produtivos e administração das coisas. Não ocorria a ele que qualquer relação entre sujeitos e coisas é fundamentalmente uma relação social, uma relação entre sujeitos… muitas das vezes reificados ou fetichizados. Foram drásticos os efeitos desse intelecto administrativo-gestorial sobre o socialismo soviético, em que “a ordem social, pretensamente desembaraçada dos efeitos da luta de classes, converte-se em uma ordem natural, na qual não há lugar para contradições: quando muito ‘dificuldades de organização’” [1].

Por aí, vemos bem o caráter absolutamente estratégico da consideração teórica da prática política no interior do marxismo como forma de combate às suas posições e versões tecnicistas, gestoras e burguesas.

Pode ser até doloroso reconhecer, mas o próprio Marx (qual Marx? tudo o que sob seu nome se legitima a partir de sua obra) não deve ser isentado da conformação deste marxismo determinista das forças produtivas, profundamente despolitizante e, em última instância (nos seus desdobramentos históricos), contra-revolucionário. Ao contrário do que afirma Charles Bettelheim, nos escritos do fundador do socialismo científico tanto a luta de classes como o desenvolvimento das forças produtivas aparecem no papel de “motor” da história. Althusser aponta o que lhe parecem ser os casos mais contundentes: a Miséria da Filosofia— “ao adquirirem novas forças produtivas os homens mudam o modo de produção, ao mudarem o modo de produção, a maneira de ganhar a vida, transformam todas as suas relações sociais. O moinho de água nos dá a sociedade dos senhores feudais; o moinho a vapor, a sociedade dos capitalistas industriais”; e o famoso Prefácio de 1859, que depois será bastante retomado e “discutido” por Stálin, em um trecho feito canônico no qual Althusser nota a ausência (casual? justificável? compreensível? a partir de quê?) de quaisquer menções e considerações referentes ao Estado, às classes sociais e à luta de classes. Algo profundamente estranho à obra máxima da maturidade do corte epistemológico, O Capital, segundo o filósofo franco-argelino.

Em texto de crítica radical ao “politicismo” um Marx de 25 anos é explícito ao categorizar a política enquanto esfera limitada e limitadora da ação e da compreensão do social, considerando o intelecto político sinônimo de pensamento burguês, mistificador do poder da vontade e adversário das perspectivas políticas e teóricas que se pautam pela totalidade, vaticinando que, juntamente ao Estado, a própria política deveria ser abolida.

O Estado jamais encontrará no “Estado e na organização da sociedade” o fundamento dos males sociais […]. Onde há partidos políticos, cada um encontra o fundamento de qualquer mal no fato de que não ele, mas o seu partido adversário, acha-se no leme do Estado. Até os políticos radicais e revolucionários já não procuram o fundamento do mal na essência do Estado, mas numa determinada forma de Estado, no lugar da qual eles querem colocar uma outra forma de Estado. [2]

Se a formulação nos ajuda a pensar na movimentação dos partidos (inclusive na dos que se querem revolucionários) — e oferece uma curiosa arma aos anarquistas na sua oposição de fundo à estratégia marxista —, ela não faz o mesmo em relação à compreensão do Estado. Como Marx afirma na Crítica do Programa de Gotha, “por mais que associemos de mil formas a palavra ‘povo’ à palavra ‘Estado’, não nos aproximaremos um milímetro sequer da solução do problema”. Povo, popular, socialista, operário, de novo tipo…

Afinal, de que modo um Estado “deriva” de uma formação social e atua na sua reprodução? Basta haver a separação entre produtores e os meios de produção e a consequente “necessidade” de que estes se mantenham separados? A afirmação de uma tal necessidade não é outra coisa que a luta de classes? Daí surgiria um “espaço” a ser preenchido pela função Estado? Mas onde (numa tópica) ou em que momento (numa dialética) da vida social encontramos o Estado operando? Como ele opera? Pela prática política?

N’A Ideologia Alemã, a relação entre sociedade e Estado se dá da seguinte forma: a partir de uma conexão materialista dos homens, desenvolvem-se interesses coletivos referentes à dependência recíproca dos indivíduos entre os quais o trabalho social está dividido, interesses estes que na história assumiram umaforma autônoma sobre esta base real dos laços sociais existentes: a forma de Estado, pela qual, sem que se questione a manutenção da divisão social do trabalho, as lutas reais entre as classes assumem formas ilusórias.

Vemos que houve uma sofisticação da crítica ao politicismo do jovem Marx, sofisticação pela qual as lutas reais entre as classes, quando se dão em torno do Estado, não questionam a divisão social do trabalho e assumem “formas ilusórias”. O filósofo Jacques Rancière resiste a essa categorização, a qual ele classifica de metapolítica: uma sintomatologia que implica conceber a falsidade como a verdade própria do político. A distância entre a verdade social e a falsidadepolítica apareceria de modo intransponível na tradição marxista; a política seria aquilo que ela esconde: a luta de classes, o movimento real da sociedade [3]. A distância entre o cidadão rousseauniano e o homem hobbesiano, entre a (ilusão da) soberania cidadã e a (verdade da) guerra civil passa, assim, do estatuto de condicionante de uma realização/transposição — a emancipação humana como ultrapassagem dos limites da cidadania política, segundo o jovem Marx (praticamente um… anarquista!) — para a figura de uma mera denúncia, na qual o próprio social, o movimento real da sociedade, é desenhado como algo destituído de política, sendo “sempre redutível, em última instância, à simples não-verdade da política”. É por isso que “Marx só concebia a possibilidade de consolidação de uma forma social pós-capitalista se essa estivesse desembaraçada do revestimento político”, do seu “invólucro institucional”, e ao longo de sua trajetória teórica terminou não oferecendo mais do que os contornos de uma teoria eminentemente crítica dessa “capa”, o Estado capitalista [4].

Mas os processos revolucionários em sua concretude implicam de modo incontornável para os marxistas terem de fazer algo mais que contornar teorias críticas, fazendo-os assumir posições revolucionárias ou contra-revolucionárias, fazendo com que tenham de estimular a experimentação das massas, as lutas, o desentendimento, os novos aparelhos de poder do proletariado, a prática política aberta, a luta proletária (e não a burguesa) de classes, por um lado… ou fazendo com que tenham, por outro, de aparelhar a polícia, mitigar e dissimular os problemas, esconder os dissensos, espalhar o medo, ampliar os mecanismos de contagem dos corpos, dominação e extorsão… Serão os processos revolucionários que levam, de modo contingente, a uma ou a outra posição? Ou as estratégias políticas, as alianças de classes (assumidas ou rompidas) e as crises teóricas não resolvidas também participam?

Já quando estão fora de conjunturas e processos revolucionários, as vertentes do marxismo em geral menos se dividem e mais se revezam entre uma politização generalizada (da sociedade, do cotidiano e, se efetivamente marxistas, da economia) e um esforço pela superação da política como parte da superação da sociabilidade burguesa. Provavelmente temos um equívoco no cruzamento dessas duas referências à “política”, como ainda se tem tantas vezes nas referências ingênuas que são feitas à sociedade civil e seus poderes enquanto uma exterioridade em relação ao Estado — ou seja, apaga-se o fato de que os principais agentes da sociedade civil no Brasil, por exemplo, são as federações industriais, os bancos, as construtoras, mineradoras, etc., que participam ativamente do Estado.

Deste modo, mostra-se importante trabalhar essa equivocidade, distinguindo o que é Estado do que é prática política. Jacques Rancière propõe que chamemos por polícia (e não de política) a todo o conjunto dos processos que operam “a agregação e o consentimento das coletividades, a organização dos poderes, a distribuição dos lugares e funções e os sistemas de legitimação dessa distribuição”. Não é o caso de dizer que a polícia — essa que vemos diretamente nas ruas reprimindo passeatas e ocupações e, mais genericamente, protegendo a ordem e o patrimônio — não tenha nada a ver com a nova referenciação proposta por Rancière. Essa polícia das ruas é uma espécie de baixa polícia, que só intervém na medida em que falha aquela outra, a que se mantém escondida/disfarçada sob o nome da política. Rancière, inclusive, acredita que no futuro o próprio nome policial será trocado, em função do “processo de eufemização pelo qual nossas sociedades revalorizam, ao menos em imagem, todas as funções tradicionalmente desprezadas”.

Ora, a contagem dos corpos, a agregação das coletividades e a organização dos poderes é um processo essencial dos Estados, sobretudo se o tomarmos na sua proximidade invisível e cotidiana, com Gramsci e Althusser, e não como uma exterioridade ou capa dos processos sociais “reais”. Buscando dar mais concretude à filosofia política de Rancière, é o caso de dizer que nem sempre os processos de polícia necessitam se esconder sob o nome e os disfarces da política institucional. Essa talvez seja uma diferença entre os burgueses e os gestores no seio do Estado Amplo, o que nos leva a compreender melhor o papel policial dos gestores.

João Bernardo diferencia Estado Restrito e Estado Amplo para ressaltar que, do ponto de vista dos trabalhadores, é necessário incluir as empresas e todo o seu aparato técnico, seus legisladores, seus tomadores de decisões, suas “políticas sociais”, enfim, todos os mecanismos que asseguram a extração de mais-valia, o despendimento maior de tempo e capacidade de trabalho em relação àquilo que é incorporação do trabalho social (via usufruto da produção social em bens, “serviços”, etc., pelos produtores diretos). O Estado Restrito, que diz respeito às relações intra-capitalistas, é justamente esse do espetáculo político — mas um espetáculo que, a meu ver, deve ser compreendido em meio ao processo de formação continuada de um bloco histórico dominante, para usar um conceito gramsciano. Todo Estado, afinal, passa sempre por um agenciamento de interesses comuns, como a afirmação de que haja uma tal separação entre produtores e meios de produção, que apara as arestas dos interesses particulares pela produção de consensos. Além de conformar, por esta via, a consciência de classe comum das classes dominantes, o Estado investe e atua numa divisão política permanente das classes dominadas, de modo a pôr obstáculos à unidade de classe do proletariado — ou seja, obstáculos ao seu próprio agenciamento enquanto classe contra si, contra a sua condição objetiva de existência.

Mas eu pergunto: se o método desenvolvido por Marx é a própria análise que ele empreendeu do capitalismo, e se tudo aquilo que os marxistas produzem está centrado sobre as modalidades de produção/reprodução social e suas possibilidades de transformação no capitalismo, em que medida temos ou teremos um “modelo”, um “norte” ou uma “carta de princípios” se não experimentando e teorizando no calor da luta de classes anticapitalista? — das suas tragédias e dos seus êxitos, de suas crises e de suas desobstruções.

Nesse sentido, o marxismo das forças produtivas, determinista, se mostra enquanto um obstáculo e uma força contra-revolucionária. A linha determinista da reflexão teórica iniciada por Marx, principal responsável pelo embaraço e contenção da prática política do proletariado, foi apoiada e prosseguida de modo ainda mais claro (ainda que nem sempre homogêneo) por Engels, Plekhanov, Trotsky e Stálin. Essa linha foi, até os anos 1960, a vertente hegemônica no campo marxista, quando então, a partir do maoísmo, da Revolução Cubana e das lutas anticoloniais, a centralidade da luta de classes na compreensão da história foi recuperada — tendo por consequência uma maior visibilidade da crise do marxismo realmente existente. Por certo que essa visibilidade não encontrou um campo fértil para se desenvolver e permitir ultrapassagens.

Mas não acabou, tem mais. Há de se considerar aqui a pretensão de ser uma ciência, ou melhor, de ser uma ciência análoga às outras, uma ciência que se faz sob diferentes modalidades de apagamento do político, apagamento de suas demandas e comandas, para usar uma expressão empregada por Michel Pêcheux. Tanto pelo viés aristotélico, antigo e ultrapassado (mas produtor de muitos e graves efeitos!), de eruditos e sacerdotes que, numa verdadeira “escolástica da luta de classes”, apresentam modelos prontos para toda e qualquer sistematização. Tanto pelo viés teoricista (e herético) de Althusser, que provocou a difusão do conhecimento da peste do assujeitamento e da reprodução, mas imprimiu um debate truncado e pouco tangível à perspectiva mais que fundamental da transformação [5]. Mas, sobretudo, pelo viés ontológico, em busca (ou em “simulância”, em socorro) da onipotência do Materialismo Dialético, o Diamat, todo poderoso por ser verdadeiro, filosofia unificada, coerente, que consegue reproduzir o real no pensamento, e é muito facilmente institucionalizada, transformada em verdadeira Ciência-Estado, em “ciência régia” (no dizer de Pecheux), ou “ciência total” (no de José Paulo Netto, referindo-se ao stalinismo), a decretar do alto da fortificação ocupada o que é e o que não é legítimo, verdadeiro, revolucionário,… Ou o que é e o que não é idealismo, como o anarquismo, que imaginaria um homem e uma revolução ideais, na interpretação sugerida por Canary.

Parafraseando Michel Pêcheux, já é hora de pararmos de proteger Marx e de nos protegermos nele. Se fôssemos chegar à conclusão de que isso que ele nos legou não tem furos, contradições, limites, fracassos, “impurezas” e equívocos (desde uma perspectiva de classe), seria o caso de embalsamar a sua teoria em um museu, e de preferência do patrimônio imaterial, pois assim ele jamais teria tido qualquer aderência ao real da história. Há de se destacar, muito mais e com mais profundidade do que qualquer adversário de classe, tudo aquilo que no marxismo é contraditório, ambíguo e, pior, nocivo à luta do proletariado.

Não são poucos os autores que se debruçaram sobre esta tarefa, ainda que aparentemente não tenham chegado às fileiras ou às páginas do PSTU. Ellen Meiksins Wood, por exemplo, identifica em algumas obras de Marx a predominância de uma racionalidade econômica e determinista, que ela chama de interpretação burguesa do devir histórico do capitalismo, contra a qual ela defende uma segunda narrativa, presente (pelo menos os seus fundamentos) n’O Capital, em que Marx evidenciaria o caráter aberto do devir histórico, submetido às injunções das lutas sociais e políticas entre as classes.

João Bernardo diverge não do teor, mas daquela localização na obra marxiana e dos termos de referência a uma interpretação burguesa em seu interior. N’O Capital, Marx teria entronizado a disciplina capitalista de empresa, contrastando a organização fabril com uma suposta desorganização e arbitrariedade do mercado, bastante útil aos gestores, e servindo-se daquela organização (do seu desenvolvimento planificado, não da sua ruptura) como base de passagem ao modo de produção futuro, ao socialismo.

Louis Althusser extrai as consequências práticas (políticas) por Marx ter adotado, n’O Capital, um método de exposição contábil da mais-valia, apresentando-a como a diferença entre o valor produzido pela força de trabalho e o valor das mercadorias necessárias à reprodução desta força (o salário), abstraindo as condições da reprodução da força de trabalho. Ou seja, Marx deixou aberta uma porta para a interpretação economicista da exploração (Althusser é sempre muito condescendente ou respeitoso em suas heresias com Marx e Lenin):

Em realidade, a exploração não se reduz a esta retenção do valor, ela não pode ser pensada senão nas suas formas e nas suas condições concretas, nas coerções implacáveis do processo de trabalho (divisão e organização técnicas, duração, intensificação, parcelização etc.) e da divisão e da disciplina da organização do trabalho por um lado, e por outro nas coerções do processo de produção e de reprodução da força de trabalho [6].

No que toca especificamente ao modo de expor a descoberta da mais-valia, parece-me que João Bernardo[7] chegou a uma formulação bastante elucidativa, que permite com maior facilidade politizar o fenômeno da extorsão e tomá-lo como fator estrutural ou sistemático do modo de produção capitalista (em suas diferentes vias):

O problema da mais-valia é o problema do tempo. Há os que dispõem do seu tempo: não são explorados. Há os que não dispõem do seu tempo: são explorados. Há os que dispõem do tempo dos outros: são exploradores.
Posta a questão desta maneira, a afirmação de que o tempo é a substância das relações sociais capitalistas nada tem de abstracto. Ser despossuído do seu próprio tempo, ou dispor do tempo alheio, são as duas situações mais evidentes e perceptíveis no quotidiano de qualquer empresa. Nenhum trabalhador nem nenhum administrador poderá ignorar esta formulação.

Logo em seguida, Bernardo afirma que é justamente na perspectiva da mais-valia que não ocorreu qualquer falência do marxismo. E o alargamento que ele promove da compreensão da exploração, se faz do tempo a própria substância das relações sociais, não implica, entretanto, em economicismo e redução teórica da opressão à exploração. “Trata-se de ampliar a maneira como concebemos a mais-valia e de fundar nesse quadro uma teoria do poder político”.

Este talvez seja o ponto produtivo e classista para o início de um debate. Após passarmos e repassarmos pela crítica da prática policial exercida contra os trabalhadores e suas expressões autônomas e heterodoxas nas experiências marxistas de poder, um verdadeiro debate entre anarquistas e marxistas poderá ter lugar através de uma tal articulação proposta entre exploração e dominação, que dê vazão a uma teoria do poder político que não produza variações do poder capitalista.

* * *

Para encerrar, é preciso deixar claro que não pretendi dizer que o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) ou qualquer outro partido da esquerda marxista é “contra-revolucionário”. A questão foi outra: mostrar que os desdobramentos de uma teoria, ou melhor, os desdobramentos sobre as falhas, fracassos, lacunas e ambiguidades de uma teoria em sua história, se dão sempre em meio e a partir da luta de classes. É isso que representou a conformação de um quase paradoxal marxismo contra-revolucionário. Mas tenho convicção de que também existe luta de classes no interior dos partidos, e que se os debates forem abertos, sinceros e não viciados, poderemos aumentar a visibilidade da crise do marxismo e produzir algo novo.

Dito isso, passo a palavra para Victor Serge, alguém com muita moral revolucionária para produzir um efeito de fechamento sobre estas questões. Tomei a liberdade de negritar uma construção paradoxal que, a meu ver, se faz sobre a mesma dificuldade com a qual lidei acima. Supostamente ele fala apenas dos problemas da literatura proletária em meio ao jovem regime soviético, só que não. Em seguida, dou voz mais uma vez a Michel Pêcheux. Essa dupla me mostra com clareza, e eu espero que faça o mesmo aos leitores, o duplo desafio polítco-prático e teórico-epistemológico, o qual devemos encarar com responsabilidade.

A literatura não pode, se quiser cumprir integralmente sua missão em nossa época, fechar os olhos aos problemas internos da revolução. Vitoriosa ou vencida, firmando-se ou recuando, preocupando as vanguardas operárias ou latente no espírito das massas, a revolução está hoje por toda parte; seus males são os nossos. É preciso, entretanto, defendê-la ao mesmo tempo contra seus inimigos externos e contra seus inimigos internos, isto é, contra os germes destrutivos que ela traz em si mesma. Grande é a dificuldade desta última tarefa. Ao fazê-lo, parece que corremos o risco de fornecer armas à reação e de desencorajar os indecisos; admitamos que sim; considero mais grave, porém, o risco contrário, o da involuntária lavagem cerebral e a criação de um conformismo revolucionário tão convencional e mentiroso quanto qualquer outro. Os operários que se insurgem contra uma república burguesa agradam em princípio — mas não por muito tempo, é verdade — às pessoas da exterma-direita. Os valentes que, em uma Comuna sitiada, se permitissem denunciar a incapacidade do comando não deixariam de ser acusados de fazer o jogo dos partidários de Versalhes; mas eles sem dúvida o estariam fazendo menos do que a incapacidade do comando. Adotemos a solução viril, a única digna do proletariado: encaremos a verdade.
Victor Serge, Literatura e Revolução

[…] eu gostaria que, marxistas ou não, sejamos capazes de frustrar, em nosso domínio de investigação e de reflexão, a irresistível tendência ao narcisismo teórico que pode tomar diversas formas integrativas, entre a a-historicidade antropológica e a historicidade homogênea de um simbolismo coletivo que parece ter dificuldades em suportar a categoria da contradição.
Michel Pêcheux, Metáfora e Interdiscurso.

As obras que ilustram o artigo são acrílicos sobre tela de Catarina Aleluia (1985).

Notas

[1] Michel Pêcheux, Delimitações, inversões, deslocamentos [1982].

[2] Marx, Glosas críticas marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social”. De um prussiano. [1844].

[3] Jacques Rancière, O desentendimento.

[4] Cf. Felipe Mello da Silva Brito, Da Crítica Político-Estatal à Crítica da Política e do Estado (dissertação de mestrado, 2005).

[5] Afinal, em sua principal obra, ele nunca avançou na escrita do tomo II, sobre a luta de classes nas formações sociais capitalistas, tendo interrompido o trabalho no tomo I, sobre a reprodução das relações de produção capitalistas, que deu origem ao famoso artigo de 1970 sobre os Aparelhos Ideológicos de Estado.

[6] Louis Althusser, Le marxisme aujourd’hui, p. 301, lido no texto de Miriam Limoeiro-Cardoso, “Sobre Althusser e a crise do marxismo”. BOITO JR (et. al.). A obra teórica de Marx: atualidades, problemas e interpretações. São Paulo: Xamã, 2000.

[7] Em “Depois do marxismo, o dilúvio?” [Pode encontrar-se aqui].

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De uma concepção instrumental do Estado ao marxismo contra-revolucionário: quais as condições para um debate com os anarquistas? (1ª parte)

23 segunda-feira nov 2015

Posted by litatah in Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Comuna de Paris, Decrescimento, Esquerda partidária, História, Imaginário e Plano Simbólico, Makhnovistas, PODEMOS, Revolução Espanhola, Revolução Russa, Sacco e Vanzetti, Seattle, Teoria

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Fonte: Passa Palavra

Esse incrível fetiche do Estado, feito instrumento-objeto estratégico que poderá salvar o proletariado, funciona como forma de interditar a prática política. Por Rodrigo Oliveira Fonseca

A verdade, enfim, nossa verdade proletária, não precisa ser construída incessantemente, em pesquisas, discussões, lutas fraternais? Os congressos de nossas organizações podem decidir soberanamente as questões de doutrina que comandam a ação e são comandadas por ela; e é preciso, pois o que nos importa acima de tudo, na transformação do mundo, é a eficácia da ação. Mas não haveria como lhes pedir que decidissem questões de filosofia, de método científico, de arte ou de história, sem retornar à tradição dogmática dos concílios da Igreja romana. A máquina universal para fabricar a verdade ainda não foi inventada – e não somos nós, os marxistas revolucionários, quem deve sonhar com ela…
Victor Serge, Literatura e Revolução

[…] o velho marxista tinha absoluta convicção de estar equipado de parafusos celibatários marxistas, quando na verdade não dispunha senão de roscas… sem porcas. E toda vez que ele se punha a trabalhar, era a mesma coisa: ele juntava duas peças de madeira, cada uma com seu buraco, em perfeita coincidência. Colocava a rosca no buraco e girava, girava, girava… no vazio, sem nenhum resultado, e de forma que sua construção estava sempre se desfazendo.
Michel Pêcheux, O Discurso: estrutura ou acontecimento.

Aproveito a iniciativa do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) de discutir o anarquismo — Marxismo e anarquismo — para retomar e avançar algumas questões sobre as quais apenas comecei a me debruçar [1], que me parecem essenciais não para a luta de classes na teoria, mas para mobilizar a discussão teórica em meio à luta de classes em seus desdobramentos em táticas e estratégias. Ao ler o texto de Henrique Cannary, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU, certos silêncios se fazem ensurdecedores, conduzindo a falsos problemas com os anarquistas ou ao menos não chamando as coisas pelos seus nomes mais produtivos e esclarecedores para o universo da prática política. É, então, uma bela oportunidade para tentar fazer ainda mais sentido com o que se diz e o que não se diz na discussão das táticas e estratégias. Vamos realmente conversar, camaradas? Ou só disputar militância?

Gostaria também que o sentido maior dessas linhas fosse o de atingir a todos aqueles que, à esquerda, não extraímos algumas lições contundentes da crise do marxismo – desde 1989? desde a década de 1930? desde a Revolução Russa e sua gestação? -, contentando-se com a tese dos “desvios” e das “traições”. Alguma coisa do próprio núcleo da obra de Marx potencializou toda uma série de infortúnios aos trabalhadores em suas lutas, mas isso só pode ser efetivamente visto (e sofrido) se nos despirmos da atitude religiosa e confortável pela qual costumam ser lidos os textos clássicos e as revoluções distantes que herdamos.

É uma perfeita inversão dizer que não nos cabe, à distância do tempo e do espaço, nos intrometermos criticamente nas particularidades históricas do desenvolvimento das experiências socialistas. “Bela” fórmula consagrada no campo político dos Partidos Comunistas para estes se desvencilharem dos compromissos e das dificuldades que ali se manifestaram e se manifestam (China, Cuba, Vietnã, Coreia do Norte). “Belo” caminho para as reproduzir em condições particulares. Outra postura, igualmente religiosa, é acreditar que “a história”, o proletariado cada vez mais vasto, internacional e qualificado, e os processos revolucionários presentes e futuros, se encarregarão de sacudir essa herança e nos mostrar os novos caminhos. Nossas responsabilidades, afinal, são ao mesmo tempo políticas e teóricas. Não é mais nem nunca foi razoável tentar “conter” a crise do marxismo, como o fazem os Partidos Comunistas, mascará-la (seccionando-a) sob o nome de “stalinismo”, como o fazem os trotskistas, ou, por fim, sucumbir a ela, como ocorreu com a ampla maioria dos marxistas [2].

* * *

Antes de tudo, salta aos olhos que Henrique Cannary apresente certas construções textuais com tanta segurança: “segundo o marxismo…”, “o marxismo acredita que…”, “os marxistas…”. Cabe, enfim, perguntar:

O marxismo é Um? (marxismo e contra-revolução)

Será que todo o marxismo, ou toda reflexão e ação política inspirada na vasta obra reconhecida enquanto marxista, contribui para produzir (no interesse do proletariado) a “análise concreta da situação concreta”, na formulação de Lenin? Será que ele sempre fornece, na formulação mais clara de Ellen Meiksins Wood, “um modo de análise especialmente bem equipado para explorar o terreno no qual a ação política deverá ter lugar” [3]? Dito ainda mais diretamente: será que o marxismo tem servido sempre como uma força primordial nos processos de transformação revolucionária?

É evidente que, ao longo de sua história, o marxismo é responsável por mobilizar e conscientizar politicamente uma vasta parcela do proletariado, ajudando-o a compreender a realidade de sua exploração e de suas resistências, sua dupla realidade de classe em si e contra si (ou para si): o papel dos processos de extorsão de trabalho na reprodução do capitalismo e o papel das lutas sociais na sua superação. Ou seja, através de suas mais subversivas descobertas teóricas, a mais-valia e a luta de classes, o marxismo entrou para a história não como mais um sistema de ideias reformadoras, e sim como uma força revolucionária.

No entanto, sob a sombra e através do “corpo” do marxismo, também se legitimaram processos de extração de mais-valia e de exercício da luta de classes contra o proletariado. As imensas e insofismáveis dificuldades do processo revolucionário na Rússia [4], que se bateu contra uma série de adversidades históricas, teóricas, geográficas, militares, econômicas, culturais, etc., fazem com que seja difícil encontrar um ponto exclusivo ou predominante através do qual se possa compreender tal inversão do papel revolucionário do marxismo. Mas, sem exclusividade, cabe destacar a ruptura da smytchka, da decisiva aliança entre operários e camponeses (numa Rússia predominantemente agrária), ruptura estimulada desde muito cedo por Bogdanov e Trotsky, sinalizada logo após a morte de Lenin, e consolidada ao final dos anos 1920. Os consideráveis elementos que então poderiam apontar para a construção de um “Estado de novo tipo”, proletário, “voltado à sua extinção”, justificado pela necessidade de se expropriar os expropriadores — elementos como os sovietes, as comissões de fábrica, a experimentação das massas e a intensa revolução cultural —, sucumbem em favor de uma variação vermelha do velho Estado contra-revolucionário, policial, num processo crescente em que a repressão foi sendo expandida do alvo czarista até atingir em cheio (após atingir o campesinato) a própria classe operária.

Essa tragédia se materializou em diversos aspectos da vida cotidiana na URSS e mesmo nas expectativas revolucionárias e processos organizativos dos comunistas em todo o mundo, sendo que o aspecto mais crucial, de um ponto de vista proletário, pode ser visto na consolidação do despotismo fabril soviético. A militarização da força de trabalho e a estatização dos sindicatos, medidas defendidas por Trotsky em 1920 [5]; o recrutamento de capitalistas e especialistas burgueses para a direção das grandes empresas durante a Nova Política Econômica (NEP); a implementação dos primeiros planos quinquenais e depois das “leis objetivas do modo de produção socialista”; o abandono da tese da ditadura do proletariado; a competição econômica com os EUA encarada como decisiva em relação ao destino do socialismo no resto do mundo… em todos estes fenômenos, que atravessam a experiência soviética do início ao fim, se materializa uma dupla extorsão sobre o proletariado, a de sua mais-valia e a de sua iniciativa política. A separação entre produtores e meios de produção por fim se manteve, sob a pressão ideológica e a coerção estatal da nova “propriedade social”. Os conselhos de fábrica, por exemplo, essenciais para derrotar a resistência burguesa, foram subordinados aos sindicatos, que foram subordinados ao Partido Bolchevique, que foi subordinado ao Estado soviético, que se subordinou, enfim, ao processo de acumulação de capital, realizado através de unidades de produção relativamente independentes, ou melhor, orientadas pela acumulação primitiva, nutridas pela extração de mais-valia absoluta dos trabalhadores. E o círculo se fecha. A dominação sobre os trabalhadores soviéticos assentou não exatamente em um desvio, uma degeneração ou uma contingência conjuntural, mas na própria extorsão de seu trabalho, em condições de luta piores do que aquelas dos países centrais do capitalismo — onde, a partir da propaganda do bloco socialista e da considerável mobilização política dos trabalhadores europeus, em especial, garantiram-se os mecanismos de mais-valia relativa…

Se nos primeiros anos da revolução propostas tão polêmicas como a da militarização do trabalho e estatização dos sindicatos eram amplamente debatidas pela imprensa e pelos órgãos de poder local, o mesmo não acontecerá a partir da segunda metade da década de 1920, quando cessa a publicidade das discussões do partido, de modo a se construir uma imagem unitária e harmônica do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Por mais genial que tenha sido Lenin, e ele o foi, mantendo-se em geral atento às contradições e oportunidades daquele processo, muita água já havia passado nesse rio. Eugene Zamiatin, por exemplo, autor do poderoso romance Nós, de 1920, não errou muito em seus prognósticos futuristas distópicos. A expressão aberta das contradições certamente alimentaria a luta proletária, mas era evitada não sob esse pretexto, obviamente, e sim pela intensa disseminação do medo contra os inflitrados pelo imperialismo e os maus elementos, os indivíduos degenerados, os inimigos do povo, os agentes da desordem, os perturbadores da harmonia socialista. Assim como as catástrofes são grandes oportunidades para os negócios capitalistas, o duro enfrentamento com o imperialismo também serviu aos gestores soviéticos de condição otimizada para se manter uma ordem policial em casa. Por esta via, a iniciativa autônoma dos trabalhadores é criminalizada e aniquilada, chegando-se ao sofisticado ponto teórico de ser “interditada” a luta de classes do proletariado — afinal, segundo Stálin, “a supressão das classes parasitas faz desaparecer a exploração do homem pelo homem” (1934), “os exploradores não mais existem e não há ninguém mais para reprimir”, logo, a URSS estava “livre dos conflitos de classes” (1939)[6].

Esta é ou não é, afinal, uma questão para ser discutida abertamente com os anarquistas, autonomistas, conselhistas, luxemburguistas e demais expressões políticas e ideológicas daquele processo que foram sendo marginalizadas? Ou “o marxismo” concorda que a luta de classes na URSS foi superada pela derrota dos parasitas burgueses?

Ao identificar e restringir a classe exploradora aos indivíduos juridicamente detentores dos meios de produção, apagou-se ideologicamente a existência e a reprodução de uma estrutura assimétrica nas formas de produzir, apagou-se a visibilidade do lugar de dominação dos gestores soviéticos nas relações sociais de produção [7]. Combatendo com vigor o igualitarismo salarial e tomando o aumento da produção (e o desenvolvimento das forças produtivas) como motor da história, toda a divisão técnica e social do trabalho foi apresentada em termos “realistas”, “pragmáticos”, o que me parece explicar perfeitamente o papel fundamental do Estado naquela formação social “pós-revolucionária”.

* * *

Entramos assim no cerne da minha crítica à primeira parte do texto divulgado na página do PSTU. Essa primeira parte se refere à polêmica com os anarquistas em torno do Estado, ao fato de que eles entornam ou contornam o Estado — uma segunda parte deste texto foi anunciada e abordará a questão propriamente econômica, o que já nos informa algo (através dessa divisão e sua ordem) acerca do marxismo do PSTU. Que o anarquismo faça isso ou não, e como ele faz, não é o ponto que eu levanto. Pergunto-me o que está sendo fundamentalmente contornado na proposição desse debate pelo “marxismo”. É algo que certamente prolonga e prolongará infinitamente a sua crise e sua impossibilidade de dialogar com todas as expressões da classe trabalhadora e suas estratégias.

Henrique Canary refere-se ao Estado como mero produto de uma determinada realidade social. E temos assim mais um elemento a reforçar a tese de que há um marxismo contra-revolucionário, sendo mesmo coisa dos capitalistas (burgueses e gestores) separar ideologicamente os produtos dos processos e dos agentes da produção. Essa relação aí tende a aparecer de forma esgarçada ou mecânica e, de qualquer modo, não significativa. Este marxismo tende a apagar o papel do Estado na produção e reprodução do capitalismo, ignorando a densa e inovadora produção teórica de autores como Gramsci e Althusser. O Estado, ainda que não tomado enquanto neutro, o que já seria um escândalo, é compreendido pelo marxismo contra-revolucionário como uma externalidade à acumulação de capital. Nos termos de Canary, é uma “organização especial” que estabiliza e complementa a exploração econômica. Nessa vertente do marxismo (ortodoxa, dominante) o Estado não merece muito mais atenção que isso; afinal, “o mal fundamental da sociedade é a propriedade privada dos meios de produção” — o que, posto dessa forma, estabelece uma identificação mecanicista entre as formas jurídicas de propriedade e as relações de classe. Este não é, de modo algum, um marxismo do primado das relações sociais de produção e da prática política do proletariado; é um marxismo das forças produtivas, determinista, o que ajuda a compreender por que os trotskistas conceituam a URSS e outras experiências socialistas enquanto “estados operários burocraticamente degenerados”.

A opção pelo termo degenerado para conceituar estes Estados é outro elemento bastante significativo. Remete a um estado originariamente “saudável” (autêntico, no caso, “operário”) sucedido por uma enfermidade (a burocracia) que o corrompe e compromete para a sua missão (a revolução permanente). O fato de que seja uma burocracia a estragar tudo (o que “ia bem”) e não uma determinada estratégia, partido e práxis, e o fato de que seja a degeneração de um Estado (que seria efetivamente operário) trabalham muito bem o desvirtuamento da dimensão propriamente política do fenômeno da perda — e do erigir deste Estado —, dimensão essa pela qual ficaria muito mais claro, inclusive, o papel de destaque de Trotsky na conformação doutrinária do marxismo soviético, no delineamento das alternativas que progressivamente foram sendo implementadas e nos enfrentamentos com a Oposição Operária e com as posições proletárias.

A compreensão instrumental do Estado produz um curioso efeito ideológico: ele parece ser bem pouca coisa, à primeira vista, coisa trivial, um (mero) produto a ser expropriado antes de ser desconstruído através da eliminação das condições (econômicas) e das necessidades (da luta de classes) que o fundam. No entanto, vemos aqui, ou melhor, vemos na história que nos informa das consequências práticas dessa concepção instrumental de Estado, a própria estrutura do fetiche: um determinado objeto — que pode ser um objeto teórico, um conceito — nos permite contornar e suportar algo difícil que não ignoramos, que nos é dolorosamente conhecido. O Estado é, sempre foi e sempre será um problema para os processos revolucionários, e o modo fetichista pelo qual ele foi (sub)teorizado promoveu a sua assunção à figura do “verdadeiro sujeito da sociedade, de suas transformações, de seu desenvolvimento”, como formulam Bettelheim e Chavance sobre o lugar central do Estado na ideologia staliniana [8]. Não sendo em absoluto nada simples, mas cheio de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas, esse incrível fetiche do Estado, feito instrumento-objeto estratégico que poderá salvar o proletariado (protegendo-o de si mesmo, tutelando-o), funciona como forma excelente de interditar a prática política.

Mas não, os trotskistas não inventaram esse fetiche, que certamente se desdobra no seu comportamento à frente dos organismos sindicais, e que pode ser melhor compreendido a partir de um retorno, como veremos no próximo artigo.

Notas

[1] Na primeira parte de minha tese de doutoramento reservei a seção inicial para uma “limpeza de terreno” em torno dos conceitos de Estado e de política, que me foram bastante caros nas seções seguintes.

[2] Não se tratando aqui de texto acadêmico, vou me permitir citar e referenciar o mínimo necessário, bastando de antemão esclarecer que na base de muitas das questões que eu apresento está a leitura crítica, não dogmática, com meus entendimentos e desentendimentos, de diversos textos do Passa Palavra e de autores como Michel Pêcheux, Louis Althusser, Charles Bettelheim e João Bernardo.

[3] Ellen Melksins Wood, apud Darlan Montenegro, “A separação entre o econômico e o político e a questão da democracia no pensamento de Ellen M. Wood”. Crítica Marxista, n. 34, 2012.

[4] Ivo Tonet comenta que a burguesia e o proletariado russos eram tão fracos que não havia condições nem para uma revolução burguesa nem para uma revolução proletária. Mas bem sabemos, especialmente no Brasil, que a falta de revoluções stricto sensu não é motivo para que não haja desenvolvimento… capitalista.

[5] Em sua argumentação, Trotsky deixava claro não se tratarem de medidas excepcionais, apenas motivadas pelo comunismo de guerra, mas sim necessárias à transição para o socialismo. O dirigente defendeu também a criação de campos de concentração para os operários que abandonassem seus postos de trabalho, combatendo o “mais lamentável e mais miserável preconceito liberal” que não enxergava o caráter produtivo do trabalho obrigatório.

[6] “Enquanto, de um lado, considerava-se que estas [as classes] haviam desaparecido, de outro, afirmava-se que as relações de produção correspondiam perfeitamente às forças produtivas, e que qualquer contradição eventual deveria desaparecer em tempo útil, graças à ‘sociedade socialista’”. Charles Bettelheim, A luta de classes na URSS, vol. 1 [1976].

[7] Charles Bettelheim fala de burguesia de Estado, mas me parece mais profícua a utilização do conceito de gestores, como propõe João Bernardo e como muito bem desenvolveu João Valente Aguiar no seu recente texto Marx e a nação: Um abraço pela frente e uma facada por trás. Ademais, não concordo com a afirmação de Bettelheim de que o marxismo teria sido “abandonado” na URSS. Duas ou três palavras brutais sobre Marx e Lênin são suficientes para entender isso. E algumas boas lições tomadas das resoluções e dos cursos de formação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) também me mostraram a amplitude no interior do que se designa marxismo, de modo que o meu rompimento com esta organização foi perfeitamente consequente com uma recusa em reproduzir uma de suas vertentes “prussianas”, voltada à construção “por cima”.

[8] Charles Bettelheim e Bernard Chavance, “O stalinismo como ideologia do capitalismo de Estado”. In NAVES (org.). Análise marxista e sociedade de transição. Campinas, SP: Unicamp, IFCH, 2005.

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LUTAS SOCIAIS E O RETORNO DO ANARQUISMO ORGANIZADO ÀS TERRAS PARANAENSES

20 sexta-feira nov 2015

Posted by samuelvfm in Anarquia, anarquismo no Brasil, Anarquismo no Paraná, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Bandeiras de Luta

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Anaquismo no Paraná, anarquia, anarquismo no Brasil, Análise de conjuntura, Coletivo Anarquista Luta de Classe, educação libertária, greve, História do Anarquismo, saúde, transporte

Paraná

Publicado no jornal No Batente #5

Fonte: Coletivo Anarquista Luta de Classe

Anarquismo e a luta de classes: no mundo, no Brasil, no Paraná

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O Anarquismo, Socialismo Libertário, é um projeto político ideológico forjado na luta entre a classe dominada e a dominante, surgindo no século XIX. É na Europa e na luta entre os trabalhadores urbanos e seus patrões que o anarquismo vai se constituindo, consolidando-se enquanto projeto político dentro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). A partir da segunda metade do século XIX, o anarquismo passa a ter muita relevância nos movimentos do campo e da cidade, destacando-se em movimentos revolucionários em Paris, México, Ucrânia, Manchúria e Espanha.

No Brasil, o anarquismo começou a se desenvolver a partir do final do século XIX, em meio ao crescimento da população urbana e da indústria. A exploração dos trabalhadores e trabalhadoras, com jornadas de trabalho extenuantes, condições insalubres e salários baixos, deu espaço a inúmeras revoltas e greves. Neste período, milhares de imigrantes europeus vieram ao Brasil e se juntaram a um povo lutador e mestiço que já batalhava aqui, trazendo consigo também a ideologia do anarquismo que tinha grande influência nos movimentos populares na Europa.

É no final do século XIX que a Colônia Cecília surgiu, comuna que ocorreu no município de Palmeira no Paraná, e no começo do século XX que as mobilizações urbanas tiveram grande força e influência anarquista no Paraná e no Brasil.

Com greves e revoltas históricas, os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras conquistaram aumentos de salário e direitos trabalhistas, mas, com a repressão e criminalização do Estado, tanto o movimento sindical como a articulação dos anarquistas enfraqueceu. Com centenas de deportações e prisões, o anarquismo deixou de ter destaque nas mobilizações populares por quase todo o resto do século XX no Brasil e até o século XXI no Paraná.

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Após a repressão e criminalização às organizações anarquistas no início do século XX, o anarquismo perdeu seu vetor social, isto é, perdeu sua relevante inserção nos movimentos populares durante várias décadas. No Paraná, o CALC tem como objetivo retomar este vetor social, assim como as demais organizações da CAB pretendem fazê-lo em seus estados. Para nós, é essencial que a organização anarquista influencie os movimentos sociais para que eles sejam os mais combativos e agreguem mais gente possível, construindo a partir das bases a luta contra a dominação.

O Paraná é e foi palco de muita luta da classe oprimida. No campo e na cidade, a revolta e a organização dos de baixo é marca presente neste estado do sul do Brasil. Os conflitos agrários e sindicais estão muito presentes desde o final do século XIX, a luta por reforma agrária e melhoria de salários já perdura por mais de um século e a resistência dos de baixo se manteve contra a ditadura civil-militar, contra os latifundiários e patrões.

Desde o final da ditadura no Brasil, muita luta e organização foi feita no Paraná, surgindo aqui o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em Cascavel na década de 80; existindo um histórico forte de luta sindical nos 80 e 90 nos centros urbanos; criando-se vários movimentos de luta por moradia e associações de moradores que permitiram que milhares de pessoas tivessem uma moradia e conquistassem serviços públicos nas periferias desde a década de 80; além de um movimento estudantil que luta a décadas contra a precarização e privatização.

Atualmente vivemos uma conjuntura muito difícil para a classe oprimida, no Paraná e no Brasil. Para grande parte do povo brasileiro o Partido dos Trabalhadores (PT) representou a esperança de mudança e melhoria de vida. Porém, apesar de o PT estar inserido fortemente em inúmeros movimentos sociais no campo e na cidade, seu objetivo sempre passou por “conquistas eleitorais”, de modo que qualquer transformação radical deixa de ser possível. Especialmente quando o PT ganha a presidência do Brasil evidencia-se como vários instrumentos de luta da classe oprimida (como sindicatos, associações de moradores, entidades estudantis, movimentos do campo) estavam dependentes desse partido, passando a ser cada vez mais burocratizados e atrelados a interesses partidários. Entretanto, tais interesses são muitas vezes antagônicos aos de quem o partido se propõe a representar.

Retomada do Anarquismo Organizado nas lutas sociais no Paraná

Neste cenário recente é que o CALC surge e tem como tarefa se inserir nos movimentos e contribuir para que não se reproduzam os mesmos erros e vícios da esquerda institucional, que considera os movimentos sociais como meio de disputar o Estado. Propomos e temos agido no sentido da busca de transformações da realidade concreta, a partir da defesa do caráter classista e combativo dos movimentos, acumulando força social para que consigamos acabar com o sistema capitalista.

Desde seu surgimento, o CALC atua em diversas frentes de luta e seu esforço é para ampliar ainda mais sua atuação. Mesmo antes de seu lançamento público, seus militantes fundadores atuaram no movimento estudantil universitário, na luta pelo transporte público e na luta comunitária, em Curitiba. E com o decorrer dos anos foi estendendo sua atuação para a luta sindical, pela saúde e expandindo sua influência para além da capital paranaense.

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Luta pela Educação

Atuamos nas greves de 2011, 2012 e 2015 na UFPR, que tiveram várias conquistas importantes no âmbito da assistência e permanência estudantil, com caráter combativo e organizado desde as bases dos cursos.

Diante da crise econômica gerada pelos de cima, os de baixo são obrigados a pagar a conta, mais uma vez. No Brasil, o ano de 2015 iniciou com a ameaça de um ajuste fiscal que pretendia enxugar os gastos públicos para aumentar o lucro dos grandes bancos e empresariado. A educação sofreu corte de 18 bilhões de reais e está previsto corte ainda maior para o ano de 2016, com congelamento dos salários e na contratação de professores até 2017. Em consequência disso, diversas universidades pelo país estão sem verbas para manter seu funcionamento; sem verbas de custeio (pagamento de trabalhadores terceirizados, água, luz, telefone) e com inúmeros prejuízos para programas de assistência e permanência estudantil (corte de bolsas, programas pesquisa, extensão e monitoria). Em resposta ao grande golpe que a educação enfrenta, 46 universidades federais entraram em greve neste ano. A UFPR não ficou de fora da luta, trabalhadores técnico-administrativos, professores e estudantes entraram em greve geral em defesa da educação pública e contra o ajuste fiscal. Diante da postura intransigente do Reitor Zaki Akel, os estudantes decidiram ocupar o prédio da Reitoria e só saíram de lá com negociação de pautas e garantia de um calendário de negociação continuado.

No âmbito estadual a educação pública também sofre cada vez mais ataques dos governos e, atualmente, sofre duros golpes do Governador Beto Richa (PSDB), tanto cortando investimento, como reprimindo e criminalizando a luta dos estudantes, trabalhadores e trabalhadoras. No primeiro semestre de 2015 tivemos uma luta histórica contra as medidas de austeridade do governo Richa, duas ocupações da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) e muita ação direta para impedir o “pacotaço de maldades” do governo. O movimento sindical dos servidores públicos, com destaque aos professores do magistério estadual, em conjunto com o movimento estudantil secundarista e universitário barraram medidas que cortariam direitos dos trabalhadores, sucateariam ainda mais as escolas e tirariam a autonomia universitária.

Porém, com as dívidas do Estado do Paraná podendo colocar em risco o futuro político de Beto Richa, era “necessário” atacar a previdência dos servidores públicos para conseguir pagar as contas. Mas o movimento de luta não aceitaria isso de braços cruzados. Então, no histórico dia 29 de abril, a Praça Nossa Senhora da Salete no Centro Cívico de Curitiba, tornou-se cenário de guerra. Milhares de trabalhadores, trabalhadoras e estudantes indefesos contra uma artilharia de guerra. Apenas um lado tinha armas, o que houve não foi um confronto, mas, sim, um massacre. Centenas de pessoas desmaiaram, ficaram feridas, e tiveram sequelas. Sem contar com inúmeras detenções que ocorreram naquele dia e os milhares de trabalhadores e trabalhadoras que estão tendo sua previdência roubada.

Durante e após as mobilizações contra as medidas de austeridade, Beto Richa e seus comparsas do governo do Paraná tentaram criminalizar os libertários e anarquistas como sendo “infiltrados” no movimento legítimo dos professores e colocando o anarquismo como sinônimo de bagunça e desordem. Ao mesmo tempo em que a burocracia sindical fazia o desserviço de pedir para que abaixássemos as bandeiras rubro-negras. Não vão nos intimidar! A bandeira rubro-negra continuará erguida! Protesto não é crime!

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Luta Comunitária

A luta comunitária e por moradia tem um grande histórico no Paraná, especialmente em Curitiba. Entretanto, nas últimas décadas anda desarticulada e burocratizada, com associações de moradores servindo na maioria das vezes para apoiar candidatos em épocas eleitoreiras e sem fazer luta direta ou articular os moradores e moradoras para conquistar direitos e moradias dignas. Os movimentos por moradia ligados ao PT, após a “vitória nas urnas” passaram a se desarticular e perder força nas periferias. Como resposta a isso, é criado o Movimento de Organização de Base (MOB) no Paraná em 2014 – movimento social comunitário e por moradia que é baseado na independência de classe, democracia de base e ação direta. Hoje o CALC contribui para o fortalecimento do MOB em Curitiba e no Paraná, movimento que tem lutas importantes por regularização fundiária, água, luz, e tem construído cooperativas e ações culturais.

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Luta pelo Transporte

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A luta pelo transporte público tem seu ápice nas Jornadas de Junho de 2013, primeira vez em mais de 30 anos foi feita uma luta de massas a revelia das lideranças e organizações alinhadas ao PT, com manifestações com dezenas de milhares de pessoas e ocupações de prédios públicos – em Curitiba tivemos a ocupação da Câmara Municipal em outubro daquele ano. O CALC compõe desde lá aFrente de Luta Pelo Transporte em Curitiba, e contribuiu com a construção do Coletivo Tarifa Zero (CTZ), que faz parte da federação do Movimento do Passe Livre (MPL). No Paraná, quem manda no transporte público são as máfias do transporte e só com muita força social organizada conseguiremos transporte coletivo público e tarifa zero.

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Luta pela Saúde

Outra luta relevante e intensa em que tivemos inseridos foi a luta contra a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), privatização do Hospital de Clínicas da UFPR, o maior hospital público do Paraná – a partir da Frente de Luta pra Não Perder o HC. Em 2014, o movimento estudantil e sindical da UFPR se organizou para não permitir que a EBSERH fosse aceita na universidade, algo que já estava acontecendo em quase todos os outros hospitais escola do país. Após muita resistência do movimento, em um golpe articulado pelo Reitor Zaki Akel e em meio a bombas de gás lacrimogênio e tiros de bala de borracha, a EBSERH foi aprovada em 28 de agosto. A privatização do HC-UFPR foi aceita em uma “reunião por celular” entre os conselheiros universitários.

barramos de novo

Muita luta aconteceu e muito mais está por vir!
Pela construção dos movimentos pela base!
Viva a organização do povo!
Lutar! Criar Poder Popular!

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O PL4330 E OS ATAQUES DAS CLASSES DOMINANTES

17 terça-feira nov 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Manifestos, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos

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Análise, análise de classe, Análise de conjuntura, PL4330

Créditos da imagem: Vitor Teixeira

Créditos da imagem: Vitor Teixeira

por OASL

Fonte: Organização Anarquista Socialismo Libertário – São Paulo

Em junho de 2013 assistimos revoltas contra aumento de tarifas de ônibus em todo país, muitas delas obrigando governantes a revogarem os novos custos das passagens, e que em diversas ocasiões se estenderam para além deste período. Por sua vez, esses eventos serviram, em certa medida, como catalisadores de uma série de greves importantes nos anos seguintes.

Tivemos em 2014, com uma Copa do Mundo sendo aqui sediada, de um lado, greves históricas dos trabalhadores da construção civil, de rodoviários em diferentes estados, de metroviários de São Paulo, mais de 90 dias de greve dos professores da rede estadual, paralisações de metalúrgicos contra demissões. Do ponto de vista da luta social, os de baixo protagonizaram e continuam protagonizando grandes e intensas mobilizações.

Por outro lado, vemos os de cima se articularem, com pouca diferenciação e mais preocupados em manter seus privilégios ou conquistar posições políticas para retribuir àqueles que patrocinaram suas campanhas. O projeto de lei antiterror, cujo autor é o petista ministro da Justiça Eduardo Cardozo, veio como uma resposta direta às últimas manifestações, uma prevenção para que um novo 2013 radicalizado não aconteça. Toda a polarização social nas últimas eleições, especialmente a partir do segundo turno da corrida presidencial, mostra-se cada vez menos lógica, à medida que mais e mais promessas de campanha são ignoradas, e novos ataques aos trabalhadores são anunciados. Se vivemos agora em 2015 numa crise, como o Itaú pode ter atingido um lucro de 22% superior ao mesmo trimestre do ano passado?

Nesse cenário, damos destaque para um projeto de lei que pode transformar radicalmente as relações de trabalho. O PL4330 (atualmente PLC30) proposto ainda no governo Lula em 2004, se propõe a “regulamentar” o trabalho terceirizado, possibilitando tal contrato em qualquer tipo de atividade. Hoje a lei permite que as empresas terceirizem apenas “atividades meio” (como serviço de limpeza na Petrobrás, por exemplo). Ainda assim tivemos, nos últimos 10 anos, avanços significativos na quantidade de empregos estabelecidos nesse regime, que envolve hoje 12 milhões de trabalhadores em todo país.

Por que a FIESP, uma entidade ligada aos patrões, estaria tão interessada na agilidade de sua aprovação? A entidade patronal alega que serão gerados novos empregos, aumentando produtividade e competitividade das empresas; e que os terceirizados encontrarão, a partir da regulamentação, mais proteção aos seus direitos, aumentando sua capacidade econômica e proporcionando um maior recolhimento de impostos. Que a empresa contratante da prestadora de serviço seria – como se já não fosse! – corresponsável pelo cumprimento dos direitos dos trabalhadores a qualquer momento em que fossem descumpridos. A lei, então, traria quase magicamente benefícios para todos.

Apesar da proposição do PL4330 em 2004, a terceirização existe há mais tempo que isso, e sempre teve como principal objetivo enfraquecer o valor da força de trabalho. Tira-se a identidade do empregado terceirizado com o seu ambiente de trabalho, tendo ele muitas vezes que prestar o mesmo serviço de vigilância, por exemplo, em duas ou três empresas diferentes na mesma semana; tira parte dos vínculos entre os trabalhadores de uma mesma empresa, diminuindo assim a força do sindicato que a represente (ou tornando mais fácil sua cooptação);  no caso de descumprimento de direitos, como atraso no pagamento, ou mesmo de falência da prestadora de serviço,  cria uma confusão jurídica para recuperar aquilo que é devido aos trabalhadores.

Não há nenhum benefício a ser “regulamentado” pelo PL4330, e não à toa hoje a mão de obra precarizada (mulheres, negros, imigrantes e ex-presidiários) é predominante nas funções terceirizadas. Se tiver efeito de lei, isso ampliará para todo e qualquer tipo de atividade a possibilidade de terceirização, tornando-a regra nas relações de trabalho.  Uma escola deixará de ser pressionada por melhores condições de salário por seus professores, à medida que este trabalhador será pessoa jurídica; em caso de insatisfação com aquilo que é pago rompe-se o contrato, fazendo com que o empregador livre-se do problema. E é nesse sentido que opera o tal avanço conservador. Empreiteiros e banqueiros já entenderam que, para assegurar suas posições políticas, devem financiar campanhas de todos os políticos com possibilidade concreta de ganhar e levar adiante seus interesses. Nada mais interessante para um empregador do que livrar-se da possibilidade de ser pressionado para cumprir direitos ou para aumentar aquilo que paga de salário a seus empregados.

Estamos num cenário em que as questões políticas são discutidas com muito mais intensidade por todos os trabalhadores. Frente a isso, nossa posição é mais uma vez apontar: Nenhuma confiança nos de cima! Construir poder popular é o caminho mais seguro para que os interesses da nossa classe possam ser assegurados!

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O Brasil em transe reacionário: a luta das mulheres e os neoconservadores

16 segunda-feira nov 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,

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Análise de conjuntura

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Por Bruno Lima Rocha

Fonte: Anarkismo.net

O país que está à direita do ENEM

No fim de semana de 20 e 21 de outubro, o país realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Nesta avaliação universal que pode dar acesso a universidades públicas e privadas, ao menos três questões chamaram a atenção da direita mais ideológica. Destas, a que mais chamara atenção da UDN pós-moderna e o novo obscurantismo na era da internet partiu de uma frase consagrada da existencialista Simone de Beauvoir: “a mulher não nasce mulher, se torna mulher”. Outras duas questões tinham como base citações do maior geógrafo da história brasileira, Milton Santos, e outra, um poema do líder da libertação de Angola, Agostinho Neto. Atenderam ao ENEM mais de sete milhões de pessoas, a imensa maioria composta de jovens entre 15 e 20 anos. Assim, ao menos uma boa parcela de estudantes em idade formativa esteve exposta a temas políticos fundamentais para a compreensão de temas contemporâneos.

A reação não se fez por esperar. Na segunda feira dia 22 de outubro os comentaristas de sempre, em escala nacional e nos estados já gritavam acerca do caráter “bolivariano” do Exame. Sinceramente, não vi bolivarianismo algum, apenas a sintonia com temas do presente, considerando que estamos vivendo há mais de uma década onde há uma sincronia de duas tímidas políticas: as compensatórias e as do reconhecimento. Ideologicamente, o pacto do lulismo é conservador, e se formos observar em detalhe os dirigentes históricos do PT vinculados a este projeto temos uma enorme incidência de gente corrompida, vivendo de luxúrias e com estilo vida semelhante aos antigos adversários políticos e inimigos de classe quando o ex-sindicalista que segundo ele mesmo nunca foi de esquerda ainda agitava a luta dos trabalhadores. Ainda assim as tímidas políticas compensatórias e de reconhecimento atiçaram às elites brasileiras ecoando no conservadorismo de toda ordem, incluindo a legião de neopentecostais a professar a Teologia da Prosperidade e o Conservadorismo Moral. Não tardou para a luta das mulheres passar a ser alvo permanente das várias UDNs e TFPs pós-modernas recheando a internet brasileira.

No período logo após o Enem tivemos fatos midiáticos que resultaram em fatos políticos. No interior de São Paulo, um promotor chama “Simone de Beauvoir” de “baranga” e relaciona sua posição com o fato de ser – em tese e como se isso importasse – pouco atraente aos homens. Na mesma sequência, o eterno demente reacionário Danilo Gentili veicula em rede nacional e compartilha um de seus comandados fazendo uma verdadeira ode misógina simulando uma redação perfeita para tirar 10,0 no Enem. A semana culmina com a postagem de um admirador rio-grandense de Gentili fazendo bravatas na internet e agindo como provocador na 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre.

Esta última provocação fez parte de um enredo ainda mais agressivo que terminara com a Brigada Militar tentando retirar as militantes de uma praça que ocupavam para ensaiar esquete teatral a ser encenada na Feira do Livro de Porto Alegre no dia 02. Após a covarde agressão, a intervenção na Feira do Livro – no centro da capital gaúcha – foi uma marcha de resposta e repúdio, sendo que no dia seguinte, 03 de outubro, centenas de mulheres foram em marcha ao Palácio Piratini (sede do Poder Executivo estadual) repudiando a repressão da polícia militar. Definitivamente, o conflito de 4ª geração no ambiente interno de um país está marcado pela condição de postar e distribuir conteúdos de distintos formatos e alinhando-se com uma causa ou pela reação a esta causa.

Eduardo Cunha caminha para o cadafalso, mas o transe reacionário continua

Está instaurada pelo Conselho de Ética da Câmara a investigação para apurar se Eduardo Cunha (PMDB-RJ) incorreu na quebra de decoro e logo, pode vir a ser cassado pelos pares. Tudo bem que o requerimento foi iniciativa das bancadas da REDE e do PSOL, o que de cara anuncia escassez de votos, mas isso pode ser usado para acuar ou o cardeal líder do baixo clero, ou fazer com que as avançadas pouco republicanas de Cunha coloquem o governo de Dilma (ou o que deste resta) contra a parede. Para Lula – agora alvo direto da Operação Zelotes através de sua família – tal como era da Lava-Jato – a mesma operação que pegara as contas de Cunha na Suíça – isto vem a calhar, obrigando a mídia de porte a tirá-lo um pouco da vitrine, apesar das recentes capas das revistas semanais Veja e Época.

Meu temor neste momento não é Cunha cair – se for, já vai tarde de onde nunca deveria haver estado – mas justamente esse requerimento operar como uma operação de bombeiro para os escândalos do governo. O maior dano já está feito, tanto da parte de Cunha como do pacto lulista. O primeiro anuncia em alto e bom som que é contra as políticas compensatórias e de reconhecimento promovidas, de forma tímida e por vezes envergonhada, pelo pacto do lulismo. Já o próprio pacto, é inclusivo, mas conservador, logo, opera como reforço dos valores do sistema, empurrando mais de 40 milhões de brasileiros para o justo mundo dos direitos mas também para o universo do capitalismo de consumo suntuoso. Isso sem estabelecer as bases de desenvolvimento necessário para alcançar o longo prazo. Resultado: agora que o modelo entrou em crise de fim de ciclo, o cinto aperta um pouco e todos nós estamos como mareados, mesmo para quem está à esquerda do governo como é o caso deste que aqui escreve.

De todas as maneiras, com ou sem o aproveitamento tático por parte do lulismo e de seus sócios mais diretos – a banca e as empreiteiras, sócios majoritários de quase todos os governos a primeira, e eleitos campeãs nacionais as segundas – somente e tão somente por um de seus vários projetos de lei já valeria a pena cassá-lo por oito longos anos e cortar a cabeça da serpente de quem tem cara e preparo para falar na Câmara pelo pior do Brasil, a Bancada conjunta BBBB (Bíblia-Boi-Bala-Bola). Eduardo Cunha é o autor do Projeto de Lei 5069 de 2013, alterando a Lei 12,845, que na prática, autoriza a pílula do dia seguinte para o caso de estupro. Como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou o andamento do PL de Eduardo Cunha, nós estamos diante de um elogio indireto à violência de gênero, autorizativo do aborto na prática.

Com essa e mais uma série de estripulias neoconservadoras – como o modelo de família, a campanha contra o que acusam ser a “ideologia de gênero”, Eduardo Cunha consegue estar à frente de gente do quilate de Marco Feliciano (PSC-SP) e do viúvo da ditadura capitão Jair Bolsonaro (PP-RJ). Com esta capacidade de liderança, já tivemos o golpe da PEC da Redução da Maioridade Penal através de uma manobra parlamentar digna de um fabricante profissional de salsicha (na madrugada de 2 de julho de 2015), além da mesma Emenda haver tramitado já positivamente na CCJ do Senado. O mesmo ocorrera com o PL das terceirizações (PL 4330/2004). Cunha botou para andar a pauta mais horrenda do Brasil e o trator continua devastando os direitos constitucionais. A última veio através do genocídio institucional, com a aprovação da Comissão Especial de Terras Indígenas a PEC de Omar Serraglio (PMDB-PR) que dá a potestade para o parlamento da última definição das terras ancestrais dos povos originários.

A atual Legislatura não para por aí. Na 4a dia 28 de outubro, o Senado aprovou o substitutivo do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que não exclui o protesto social do crime de “terrorismo”. Como o texto veio da Câmara com essa especificação – na prática garantindo os direitos constitucionais ao protesto social – agora Cunha pode manobrar à vontade fortalecendo sua posição de barganha junto ao governo.

O transe reacionário vai continuar e a ex-esquerda já se perdeu pelo caminho

O transe reacionário e inflexão do governo à direita do que fora prometido no segundo turno da campanha presidencial de 2014 fez do país um celeiro do pior do conservadorismo somado a ataques neoliberais de todos os lados. Para uma política profissional como a nossa, Eduardo Cunha torna-se espelho de seus pares. Já o pacto lulista e seus operadores líderes, passaram dos limites da quebradeira ideológica, vivendo em propriedades de terceiros e com formas de vida nababescas para quem vem de origem assalariada. Nunca a esquerda brasileira foi tão refém de seus hábitos, havendo incorporado as malditas formas de vida dos antigos adversários e inimigos de classe. Temos um longo caminho pela frente para reconstruir a ideia de democracia por esquerda – direta obviamente – e uma luta tática importante para confrontar este reacionarismo crescente no país.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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Ataques em Paris: contra as guerras deles, nossas solidariedades – Alternative Libertaire

16 segunda-feira nov 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Alternative Libertaire, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Comunicação, Comunicação Libertária, curdistão, curdos, Decrescimento, Ecofeminismo, Federação Anarquista do Rio de Janeiro, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, França, Gentrificação, Guerra às Drogas, Internacional anarquista, Libertação animal, Manifestos, Mártires da Luta, Mobilidade Urbana, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organização de base, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Presos Políticos, Presos políticos, Publicidade, Repressão, Revolução, Revolução Curda, turquia, Violência, ZADs]., Zonas a Defender [Zones à Défendre

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Alternative Libertaire, Análise, análise de classe, Análise de conjuntura, anti imperialismo, solidariedade à frança

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Fonte: FARJ – Federação Anarquista do Rio de Janeiro – Organização Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira

Agências de Notícias Anarquistas (ANA) on 15 de novembro de 2015

Uma onda de ataques mortais teve lugar ontem à noite em Paris e Saint-Denis.

O governo francês está travando guerras em vários países (Líbia, Mali, Síria…) há anos. Hoje estas guerras tiveram um impacto sobre o território francês.

Sofremos estes ataques que visam espalhar o terror e provocar divisões no seio da população. Alternative Libertaire condena estes ataques: matar pessoas aleatoriamente na rua e cegamente com o único propósito de assustar é abominável.

Estes ataques são obra de um movimento político – o jihadismo salafista – cujas primeiras vítimas são as populações civis do Oriente Médio e, nos últimos dias, já chegaram a Beirute. Esse mesmo movimento político que continua a travar uma guerra contra as forças progressistas curdas na Síria.

Na sequência destes ataques, desencadear-se-ão operações de segurança sustentadas por forças políticas que se utilizam de nossos medos para nos jogar uns contra os outros.

Agora, as pessoas imigrantes e as minorias muçulmanas neste país estão começando a ser afetadas por declarações políticas e estão sujeitas a retaliações indiscriminadas.

Não será uma repetição de dispositivos draconianos que irá impedir novos ataques. O estado de emergência é a suspensão de vários direitos democráticos, a legalização de medidas repressivas em grande escala no que diz respeito aos vários setores da população que não têm nada a ver com os ataques.

Rechaçamos que o governo aproveite esta oportunidade para proibir as mobilizações sindicais e ecologistas futuras.

Tudo isso irá espalhar e reforçar os medos e ódios. Tudo isso só vai levar a uma escalada entre os ataques terroristas cada vez mais sangrentos e respostas de segurança cada vez mais repressivas. A resposta não é nem a retirada nem a militarização da sociedade.

A solução não virá daqueles que contribuíram para esta situação, com suas políticas militaristas, imperialistas, discriminatórias, de ódio. Eles usam isso para cada vez mais impor um Estado policial e de unidade nacional entre exploradores e explorados, que rechaçamos e denunciamos.

A solução requer o fortalecimento da solidariedade, nos bairros e em nossos locais de trabalho, e através da consolidação de todas as pessoas e de todos os que negam todos os regimes terroristas. Não vamos nos permanecer isolados! Vamos nos reunir para falar sobre nossas responsabilidades com a situação, especialmente em termos de ações unitárias de todas as forças de transformação social.

Alternative Libertaire, 14 de novembro de 2015

alternativelibertaire.org

agência de notícias anarquistas-ana

sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos

Nenpuku Sato

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David Graeber: “Holofotes sobre o setor financeiro evidenciam quão bizarramente distorcida está nossa economia em termos de remuneração”

13 sexta-feira nov 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Abolição do trabalho, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Consumismo, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Comunicação, Comunicação Libertária, David Graeber, Economia, Mobilidade Urbana, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, pós-capitalismo, Publicidade, Teoria

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Agroecologia, anarco-ecologia, anarcoecologia, colapso economico, David Graeber, ecologia, economia, economia política, empregos sem sentido, Entrevista, Graeber

ows_david

Fonte: SALON | 01.06.2014

Tradução: Fernando Amorim. Revisão Samuel Victor – Coletivo Anarquia ou Barbárie.

David Graeber explica porque quanto mais seu trabalho ajuda os outros, menor é sua remuneração.

THOMAS FRANK

David Graeber é um antropólogo americano que leciona na London School of Economics. Ele é autor do clássico “Dívida: os primeiros cinco mil anos” e desempenhou um papel importante no lançamento do movimento Occupy Wall Street. Ano passado, ele escreveu um ensaio muito discutido perguntando o que aconteceu com a velha promessa da sociedade de mais tempo de lazer para os trabalhadores. Para as tarefas que vieram a ocupar o tempo que já foi prometido ser nosso, Graeber inventou o rótulo delicado e ligeiramente obscuro, “empregos sem sentido”.

Eu quis saber exatamente o que ele quis dizer com isso, e assim discutimos o assunto por e-mail. A conversa a seguir foi levemente editada.

Iniciemos pelo começo: a previsão de Keynes, na década de 1930, de que muito em breve os trabalhadores teriam todos os tipos de tempo de lazer em virtude do aumento da produtividade. Existe uma história dessa ideia? Quero dizer, outros também afirmaram isso, certo?

Bem, elementos radicais do movimento dos trabalhadores começaram a adotar tais visões desde muito cedo. Após as bem-sucedidas campanhas pela jornada de oito horas, nos anos 1880, as pessoas imediatamente começaram a pensar que poderíamos reduzi-las para sete, seis horas, ou menos. Paul Lafargue, genro de Marx e autor de “O Direito à Preguiça”, já estivera demandando algo nesse sentido em 1883. Tenho uma camiseta com uma estampa no estilo virada do século que diz: “filie-se ao IWW para um novo amanhecer”, com um desenho de um nascer do sol sobre os telhados, e em que está escrito no sol: “semana de quatro dias, dia de quatro horas”. Não sei exatamente de quando essa imagem realmente é, mas suponho que seja da década de 1910 ou de 1920. Nos anos 1930, muitos dos sindicatos centraram esforços em prol de uma semana de 35 horas. Minha mãe trabalhava na indústria de vestuário na época e foi assim que ela acabou se envolvendo na revista musical do Sindicato Internacional das Trabalhadoras em Vestuário (ILGWU, na sigla em inglês), “Agulha e alfinetes”, porque todo mundo tinha conquistado uma semana mais curta e o sindicato começou a promover atividades de lazer.

E quando essa expectativa começou a definhar?

Nos anos 1960, a maioria das pessoas pensava que as fábricas automatizadas e, em última instância, a eliminação de todo o trabalho manual, provavelmente estaria a apenas uma ou duas gerações de distância. Todos, desde os situacionistas até os Yippies, diziam “deixem as máquinas fazerem todo o trabalho!” e contestavam o próprio princípio do trabalho de 9 as 5. Nos anos 1970, houve de fato uma série de hoje esquecidas greves selvagens de trabalhadores da indústria automobilística e outras, em Detroit, Turim, eu acho, e em outros lugares, onde se clamava basicamente: “estamos fartos de trabalhar tanto”.

Esse tipo de coisa deixou diversos ocupantes do poder em uma espécie de pânico moral. Foram criados grupos de pesquisa para analisar o que fazer – basicamente, como manter o controle social – em uma sociedade onde cada vez mais formas tradicionais de trabalho estavam em vias de se tornarem obsoletas num curto espaço de tempo. Muitas das queixas que você vê na obra de Alvin Toffler e figuras similares no início dos anos 70 – de que o rápido avanço tecnológico estava empurrando a ordem social para o caos – tem a ver com essas ansiedades: da feita que o lazer em excesso havia criado os movimentos de contracultura e juventude, o que aconteceria quando as coisas fossem ainda mais relaxadas? Provavelmente, não por acaso que foi nessa época que começaram as reviravoltas, tanto no que se refere à orientação da pesquisa tecnológica, que foi afastada da automação e reorientada para tecnologias informacionais, médicas e militares (basicamente, tecnologias de controle social), quanto no que se refere às reformas de mercado, que nos remeteriam a um emprego menos seguro, com jornada mais longa e maior disciplina de trabalho.

Hoje a produtividade continua aumentando, mas os americanos trabalham mais horas por semana do que antigamente, e não menos. Além disso, mais do que trabalhadores de outros países. Correto?

Os EUA, mesmo sob o New Deal, sempre foram muito mais mesquinhos que a maioria dos países ricos quando se trata de ausências, sejam elas licença maternidade ou paternidade, férias, etc. Mas desde os anos 1970, as coisas vêm definitivamente piorando.

Os economistas têm uma explicação para essa combinação de maior produtividade e aumento de horas de trabalho? O que é e o que você acha disso?

Curiosamente, os economistas tendem a não considerar interessantes tais questões – coisas realmente fundamentais sobre valores, por exemplo, ou questões políticas ou sociais mais amplas sobre como a vida das pessoas realmente é. Eles raramente têm algo a dizer sobre elas munidos apenas de seus próprios recursos. Só quando algum não-economista propõe explicações sociais ou políticas para o surgimento de cargos administrativos e gerenciais aparentemente sem sentido é que eles respondem no susto: “Não, não. Poderíamos ter explicado isso perfeitamente bem em termos econômicos”, e elaboram alguma coisa.

Por exemplo, assim que meu texto foi publicado, a revista The Economist se apressou em providenciar-lhe uma réplica, em apenas um ou dois dias. Era uma resposta incrivelmente fraca em argumentos, cheia de falácias lógicas óbvias, mas sua ideia central era: bem, pode haver muito menos pessoas envolvidas na produção, no transporte e manutenção de produtos do que costumava haver, mas faz sentido que tenhamos três vezes mais administradores porque a globalização tornou o processo de produção hoje muito mais complicado. Temos computadores em que o circuito é projetado na Califórnia, produzido na China, montado em Saipan, encaixotado em alguma prisão em Nevada, enviado pela Amazon de um dia para outro para Deus-sabe-onde… Isso parece suficientemente convincente até que você realmente pare pra pensar a respeito. Então você percebe: se as coisas são assim, por que a mesma coisa acontece nas universidades? Porque lá também ocorre o mesmo acúmulo interminável de empregos administrativos, camada sobre camada. Será que o processo de ensino tornou-se três vezes mais complicado do que era na década de 1930? E se não, por que a mesma coisa acontece? Assim, a maioria das explicações econômicas não faz sentido.

Tudo isso é verdade e muito correto sobre o que acontece nas universidades, mas deve haver uma explicação oficial – senão econômica – para que não tenhamos conseguido a Grande Conquista que todos esperavam há não muito tempo. Quero dizer: Keynes estava completamente bêbado, ou um sistema desse tipo simplesmente não iria dar certo, ou trabalhadores não são educados o suficiente para merecer tantas férias, ou as coisas que produzimos hoje são simplesmente muito melhores do que as coisas que as pessoas produziam no tempo de Keynes, fazendo com que elas valham mais e tomem-nos mais horas de trabalho para serem obtidas. Deve haver alguma coisa.

Bem, a explicação casual é sempre o consumismo. A ideia é que, dada a escolha entre dias de quatro horas, e dias de nove ou dez horas com carros esporte, iPhones e oito variedades de sushi, todos nós decidimos coletivamente que o tempo livre realmente não vale a pena. Isso também se conecta ao argumento da “economia de serviços”, em que ninguém quer mais cozinhar, limpar, fazer reparos ou mesmo preparar seu próprio café. Portanto, todo o novo emprego reside na manutenção de uma infraestrutura para que as pessoas apenas deem um pulo na praça de alimentação, ou no Starbucks, em seu caminho para o trabalho. Então, se você levantar a questão para alguém que não costuma pensar sobre o assunto, certamente grande parte dessa situação será simplesmente tomada como senso comum. Mas isso, obviamente, também não constitui muito de uma explicação.

Em primeiro lugar, apenas uma pequena proporção dos novos postos de trabalho tem a ver de fato com a produção de brinquedos de consumo, e a maior parte dos que tem a ver estão no exterior. Ainda assim, mesmo lá, o número total de pessoas envolvidas na produção industrial diminuiu. Em segundo lugar, mesmo nos países mais ricos, não está claro se o número de empregos de serviço realmente aumentou tão dramaticamente como gostamos de imaginar. Se olharmos para os números entre 1930 e 2000, constatamos que costumava haver um grande número de empregados domésticos. Esses números despencaram. Em terceiro lugar, você percebe também que o que tem crescido não são os empregos de serviços em si, mas empregos de “serviços, administrativos e de escritório”, que passaram de cerca de um quarto de todos os empregos nos anos 1930 para talvez algo em torno de três quartos hoje. Mas como você explica uma explosão de gerentes médios e burocratas através de um desejo por sushi e iPhones?

E então, finalmente, chegamos à questão óbvia de causa e efeito. As pessoas trabalham muito porque acabamos concebendo de alguma forma independente este desejo por cafés e pães sofisticados, acompanhantes de cães e similares, ou será que as pessoas estão comprando lanches pra viagem e contratando pessoas para saírem com seus cães porque estamos todos trabalhando demais?

Talvez parte da resposta resida no fato de as pessoas terem se esquecido da expectativa de mais tempo de lazer, e de não haver nenhuma agência política para se exigir mais isso. Então, não haveria necessidade de se explicar o que aconteceu. Quero dizer, não há mais greves selvagens.

Bem, podemos falar do declínio do movimento sindical, mas há algo mais profundo. No final do século XIX e início do século XX, uma das grandes divisões entre os sindicatos anarquistas e os sindicatos socialistas refere-se as suas reinvindicações: enquanto os últimos sempre pleiteavam salários mais altos, os anarquistas demandavam menos horas. É por isso que os anarquistas estiveram tão envolvidos nas lutas pela jornada de oito horas. É como se os socialistas estivessem essencialmente comprando a ideia de que o trabalho é uma virtude, de que o consumismo é bom, mas que tudo isso deveria ser gerido democraticamente, enquanto os anarquistas estavam dizendo não, que o esquema todo – aquele em que todos nós devemos trabalhar mais e mais por mais e mais coisas – é podre desde sua raiz.

Já disse isso antes, mas acho que uma das maiores ironias da história é como esse posicionamento sempre é descartado quando os movimentos dos trabalhadores conseguem chegar ao poder. Em geral, foram os grupos de anarquistas clássicos – camponeses e artesãos recentemente proletarizados – que se insurgiram e fizeram as grandes revoluções, seja na Rússia, na China e, no que nos diz respeito, na Argélia e na Espanha – mas elas sempre resultaram em regimes geridos por socialistas que aceitaram o trabalho como uma virtude em si mesma, cujo propósito era criar uma utopia do consumidor. É claro que eles eram completamente incapazes de prover tal utopia do consumidor. Mas que benefícios sociais elas de fato asseguraram? Bem, o maior deles, aquele que ninguém fala, foi a garantia do emprego e segurança no trabalho – a “tigela de arroz de ferro”, como chamam na China, mas que também tem muitos outros nomes. De fato, você não poderia ser mandado embora de seu emprego. Como resultado, você não teria que trabalhar muito duro de verdade. Assim, formalmente tinha-se um dia de oito ou nove horas, em que todos estavam trabalhando, de fato, talvez quatro ou cinco horas.

Tenho vários amigos que cresceram na União Soviética, ou na Iugoslávia, que me descreveram como as coisas funcionavam. Você acordava de manhã, comprava o jornal, ia trabalhar, lia o jornal. Então, talvez, trabalhasse um pouco. Depois disso, tiraria uma demorada hora de almoço, com direito a uma visita ao banho público… Se pensarmos sobre isso sob essa ótica, concluiremos que as conquistas do bloco socialista parecem bastante impressionantes: um país como a Rússia conseguiu passar de um remanso para uma grande potência mundial com todos trabalhando em média talvez quatro ou cinco horas por dia. O problema é que eles não podiam considerar isso uma coisa boa. Eles tinham que fingir que era um problema, “o problema do absentismo,” ou o que fosse, porque, é claro, o trabalho era tomado como a virtude moral final. Eles não podiam valorizar o grande benefício social que efetivamente prestaram, que é, aliás, a razão pela qual os trabalhadores dos países socialistas não tinham ideia em que estavam se metendo quando aceitaram a ideia de se introduzir a disciplina de trabalho de estilo capitalista. “O quê? Temos que pedir permissão para ir ao banheiro?” Isso lhes parecia tão totalitário quanto aceitar um estado policial do estilo soviético teria sido para nós.

Essa ambivalência ainda persiste no coração do movimento dos trabalhadores. Como cresci numa família de trabalhadores, de esquerda, eu sentia isso o tempo todo. Por um lado, há esse imperativo ideológico para validar o trabalho como uma virtude em si mesma, que é constantemente reforçado pela sociedade em geral. Por outro lado, há o fato de que a maioria dos trabalhos é obviamente estúpida, degradante, desnecessária e produz a sensação de que é melhor evitá-lo, sempre que possível. Mas essa mesma ambivalência torna muito difícil de nos organizarmos, como trabalhadores, contra o trabalho.

Vamos falar sobre “empregos sem sentido.” O que você quer dizer com esse conceito?

Quando falo de empregos sem sentido, refiro-me ao tipo de posto de trabalho em que mesmo aquele que o ocupa sente que ele não precisaria de fato existir. Muitos deles são constituídos de gerências médias, por exemplo: “o coordenador de visão estratégica da Costa Leste” em alguma grande empresa. Isso significa basicamente que você gasta todo seu tempo em reuniões ou formando equipes que, em seguida, enviarão relatórios umas para as outras. Ou alguém que trabalha em uma indústria que sente que ela não precisaria existir, como a maioria dos advogados de empresas que conheço, ou operadores de telemarketing, ou lobistas… Basta pensar o seguinte: quando você entra em um hospital, metade dos funcionários nunca parecem fazer qualquer coisa para as pessoas doentes, apenas preenchem formulários de seguro e enviam informações uns para os outros. Obviamente, parte deste trabalho precisa ser feito, mas em sua maioria, todo mundo que trabalha lá sabe o que realmente precisa ser feito e que os noventa por cento de tempo restantes não passam de perda de tempo. Pense também nos trabalhadores auxiliares que dão suporte às pessoas que trabalham em empregos sem sentido. Por exemplo, existe um escritório onde as pessoas basicamente transformam papelada formatada em alemão em papelada formatada em inglês ou algo assim, e tem que haver toda uma infraestrutura de recepcionistas, porteiros, seguranças, técnicos de informática, que constituem o tipo de emprego sem sentido de segunda ordem. Eles estão realmente fazendo alguma coisa, mas eles estão fazendo isso para dar suporte a pessoas que estão fazendo nada.

Quando publiquei o texto, houve uma torrente de confissões de pessoas em cargos sem sentido, tanto em empresas privadas como no serviço público, de diversos setores. Foi interessante constatar que seus relatos não revelavam qualquer grande diferença entre o setor público e o setor privado nesse sentido. Por exemplo, existe um cara cujo único dever é manter uma planilha que mostra quando certas publicações técnicas estão fora da data e enviar e-mails para os autores para lembrá-los da necessidade de efetuar atualizações. De alguma forma, ele teve que transformar isso em um trabalho de oito horas por dia. Outro relatou ter que examinar políticas e procedimentos dentro da corporação e elaborar planos, descrevendo formas alternativas de alcançá-los, relatórios que circulam com o objetivo de dar a outras pessoas em trabalhos semelhantes a chance de ir a reuniões e coordenar dados para escrever novos relatórios, nenhum dos quais foi implementado. Outra pessoa confessou criar anúncios e conduzir entrevistas para cargos em uma empresa que eram invariavelmente preenchidos por promoção interna de qualquer maneira. Em suma, muitas pessoas disseram que sua função básica era criar tarefas para outras pessoas.

O conceito de emprego sem sentido parece muito convincente e até bastante óbvio para mim – eu costumava trabalhar como temporário e testemunhei essas coisas em primeira mão – mas outros podem apelar para o populismo de mercado e dizer: quem é você para dizer que o trabalho de alguém é sem sentido, Sr. Graeber? Você deve pensar que você é melhor do que o resto de nós ou algo assim.

Bem, continuo enfatizando: não estou aqui para dizer a quem pensa que seu trabalho é valioso que eles estão iludidos. Só estou dizendo que se as pessoas acreditam secretamente que seu trabalho não precisaria existir, elas provavelmente estão certas. Os arrogantes são aqueles que pensam que sabem mais, que acreditam que há trabalhadores que são tão estúpidos que eles não entendem o verdadeiro significado do que fazem todos os dias, que não percebem que isso realmente não é necessário, ou pensam que os trabalhadores que acreditam que eles estão em empregos sem sentido têm um sentido tão exagerado de auto-importância que eles acham que deveriam estar fazendo outra coisa e, portanto, descartar a importância de seu próprio trabalho, como se não fosse bom o suficiente. Ouço muito isso por aí. Essas pessoas são as arrogantes.

O problema dos empregos sem sentido se tornou mais evidente para nós agora por causa da crise financeira, dos resgates feitos a Wall Street e ao agora bem sabido fato de que as pessoas que fazem quase nada de produtivo se apropriam tanto das recompensas de nossa sociedade? Quero dizer, sempre soubemos que havia empregos sem sentido por aí, mas o absurdo de tudo isso nunca pareceu tão gritante antes, digamos, de 2008.

Acredito que os holofotes voltados ao setor financeiro evidenciaram o quão bizarramente distorcida está nossa economia em termos de quem é recompensado e pelo o quê. Havia um manto de mistificação lançado sobre tudo o que dissesse respeito a esse setor – era-nos dito que é tudo muito complicado, que você não ia entender, que se trata de ciência muito avançada, você sabe, eles utilizam programas tão complicados que só astrofísicos poderiam entendê-los, esse tipo de coisa. Apenas tivemos que aceitar a palavra deles de que, de alguma forma, eles criavam valor de maneiras que nossas mentes simples não poderiam compreender. Então, depois da eclosão da crise, percebemos que um monte dessas coisas eram nada além de golpes, golpes bastante simplórios até, como fazer apostas que você não poderia pagar caso perdesse e esperar que o governo iria salvá-lo se isso acontecesse. Esses caras não estavam criando qualquer tipo de valor. Eles estavam arruinando o mundo e sendo absurdamente bem pagos para isso.

De repente, tornou-se possível percebermos que, se há uma regra, ela diz que quanto mais obviamente seu trabalho beneficiar os outros, menor será sua remuneração por ele. Altos executivos e consultores financeiros que arruínam a vida dos outros recebem milhões, burocratas inúteis são bem pagos, etc. Já as pessoas que exercem funções obviamente úteis como cuidar dos enfermos, ensinar as crianças, reparar sistemas de aquecimento quebrados, fazer colheitas são os piores remunerados.

Outra coisa curiosa que ocorreu após a eclosão da crise é que as pessoas passaram a se deparar com justificativas para esses arranjos. Você começa a ouvir por aí: “É claro que mereço ser bem pago, afinal, faço um trabalho miserável e alienante” – pelo qual elas não se referiam a serem forçadas a entrar no esgoto ou embalar peixe, mas exatamente o oposto – que eles não conseguiam realizar trabalhos que tivessem algum benefício social evidente. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas está se tornando uma espécie de tendência. Recentemente li um blog muito interessante em que o autor, Geoff Shullenberger, aponta que hoje em muitas empresas assume-se que, se houver um trabalho que alguém possa querer fazer por qualquer motivo que não seja o dinheiro, qualquer trabalho que é visto como tendo mérito intrínseco, então este trabalho não deveria ser remunerado. Ele deu o exemplo do trabalho de tradução, mas isso se aplica também à lógica dos estágios e afins, amplamente expostos por autores como Sarah Kendzior e Astra Taylor. Ao mesmo tempo, essas empresas estão dispostas a desembolsar grandes quantias de dinheiro para pagar burocratas cheios dos planejamentos estratégicos, os quais eles sabem muito bem que não farão absolutamente nada.

Você sabe que está descrevendo o que aconteceu ao jornalismo. Pelo fato de as pessoas quererem fazê-lo, agora paga-se muito pouco por ele. O mesmo ocorre com o ensino universitário.

O que aconteceu? Bem, acho que isso se deve em parte a uma hipertrofia desse impulso para validar o trabalho como uma coisa em si. Em outros tempos, os estadunidenses aceitavam uma versão rudimentar da teoria do valor trabalho. Tudo o que consideramos bonito, útil ou importante à nossa volta foi produzido através do trabalho, por pessoas que empenharam esforços físicos e mentais para sua criação e manutenção. O trabalho é valioso na medida em que cria essas coisas que as pessoas gostam e precisam. Desde o início do século XX, tem havido um enorme esforço por parte das pessoas que governam este país para mudar isso: para convencer a todos de que o valor realmente vem das mentes e visões de empresários, e que os trabalhadores comuns são apenas robôs descerebrados que transformam essas visões em realidade.

Mas, ao mesmo tempo, eles tinham que validar o trabalho de alguma forma, de modo a nos dizer, simultaneamente: o trabalho é um valor em si mesmo. Ele gera disciplina, maturidade ou algo assim, e qualquer um que não ocupe a maior parte de seu tempo trabalhando com o que não goste é uma pessoa má, preguiçosa, perigosa, parasitária. Assim, o trabalho é valioso, não importando se represente ou não algo de valor. Temos, então, essa mudança peculiar. Como qualquer um que já teve um emprego do tipo 9 as 5 sabe que a coisa que todo mundo mais odeia é ter que parecer ocupado, mesmo depois de ter terminado uma tarefa, apenas para deixar o chefe feliz, porque é o “tempo dele” e você não tem nenhuma área de lazer por perto, mesmo que não haja nada que você realmente necessite estar fazendo. Agora é quase como se esse tipo de negócio fosse a forma mais valorizada de trabalho, porque é trabalho puro, livre de qualquer tipo possível de gratificação, mesmo aquela gratificação que advém de sabermos que estamos de fato fazendo alguma coisa. E cada vez que há algum tipo de crise, isso se intensifica. Dizem-nos: “Ó, não! Teremos todos que trabalhar mais”. E da feita que a quantidade de coisas que realmente precisam ser feitas permanece mais ou menos a mesma, há uma hipertrofia adicional da falta de sentido.

Fico pensando a respeito das implicações políticas disso. Você fala de uma situação que obviamente requer os sindicatos, mas que também pode tomar outro rumo. Lembro-me de uma passagem em seu livro, “The Democracy Project”, em que você atribui à conhecida inimizade da classe trabalhadora contra a “elite liberal” o fato de que a elite liberal tem empregos bons, gratificantes etc., que por definição a maioria das pessoas comuns nunca será capaz de conseguir. Gostaria que você falasse mais a respeito.

Bem, aqui retornamos à questão dos estágios não remunerados. Há alguns anos escrevi um texto para a Revista Harpers intitulado “Exército de Altruístas”, onde tentei dar conta do poder do populismo de direita, especialmente com a maneira com que o “odiamos a elite liberal” e o “apoiamos as tropas” parecem ter uma ressonância muito profunda e semelhante, até mesmo para constituírem uma forma de se dizer a mesma coisa. Concluí que as pessoas que integram a classe trabalhadora odeiam mais a elite cultural do que a elite econômica – e não se esqueça, eles não gostam muito da elite econômica –, mas eles odeiam a elite cultural porque eles os veem como um grupo de pessoas que se apropriou de todos os postos de trabalho bem remunerados do mundo. Se você deseja uma carreira tendo em vista qualquer forma de valor diferente do monetário – se você quer trabalhar com jornalismo tendo em vista buscar a verdade, ou nas artes tendo em vista a busca pela beleza, ou em alguma instituição de caridade, ou em uma ONG internacional, ou na ONU tendo em vista promover justiça social – bem, mesmo supondo que você possa preencher os requisitos necessários, você não será pago pelos primeiros anos de trabalho. Então, em tese, após a graduação, você teria que morar por alguns anos em Nova York ou alguma outra cidade cara sem dinheiro algum. Quem mais pode fazer isso a não ser os filhos da elite? Suponhamos, então, que você trabalhe como operador de empilhadeira ou mesmo como florista. Da mesma forma que você sabe que é pouco provável que seu filho ou filha se torne um alto executivo ou alta executiva, você também sabe que não há praticamente chance alguma dele ou dela se tornarem um crítico ou crítica de teatro do jornal New Yorker, ou um advogado ou advogada internacional de direitos humanos. A única maneira que eles poderiam ser pagos decentemente para fazer algo nobre, algo que não seja só pelo dinheiro, é através do alistamento militar. Assim, dizer “apoiamos as tropas” é uma forma de dizer “foda-se” para a elite cultural que acha que somos um bando de trogloditas, mas que também se certificam que nossos filhos nunca serão capazes de se juntar ao clube dos ricos benfeitores, mesmo que ele ou ela seja duas vezes mais inteligente do que qualquer um deles.

Assim, a direita manipula o ressentimento do grosso da classe trabalhadora, que não tem condições de dedicar suas vidas a qualquer coisa puramente nobre ou altruísta. Mas, ao mesmo tempo – e aqui está o verdadeiro gênio do mal do populismo de direita –, ela também manipula o ressentimento daquela porção da classe média atada a empregos sem sentido contra o grosso da classe trabalhadora, que, pelo menos, realiza um trabalho produtivo, de benefício social óbvio. Pense em todo o alvoroço popular que cerca os professores de ensino básico. Há essa campanha interminável de difamação, em que eles são acusados de terem salários muito altos, serem indulgentes, e responsáveis por todos os problemas em nosso sistema de ensino. Na verdade, os professores do ensino fundamental passam por condições realmente aviltantes por muito menos dinheiro do que eles seriam pagos caso estivessem em qualquer outra profissão que exigisse o mesmo nível de educação. E quase todos os problemas que os direitistas se referem não são de forma alguma criados pelos professores ou pelos sindicatos de professores, mas por administradores escolares – aqueles que recebem uma remuneração muito maior e, principalmente, têm empregos sem sentido clássicos que parecem se multiplicar indefinidamente, mesmo que os próprios professores sofram arrochos e sejam aviltados. Então, por que ninguém reclama desses caras? Na verdade, vi uma coisa escrita por um ativista de extrema-direita em um blog – disse ele: bem, o engraçado é que, quando começamos nossas campanhas de reforma escolar, procuramos focar nos administradores, mas não demorou, elas se deslocaram para os professores e de repente a coisa toda explodiu. É difícil explicar isso de qualquer outra forma que não seja: um monte de gente se ressente dos professores pelo fato de eles ocuparem postos de trabalho genuínos, significativos. Você ajuda a moldar vidas jovens e ajuda a fazer uma diferença real para as outras pessoas. E a lógica parece ser: isso já não deveria ser o suficiente para eles? Eles querem fazer isso, e querem os salários da classe média, e segurança no trabalho, e férias, e benefícios também? Você encontra essa lógica até entre os trabalhadores da indústria automobilística: “Mas você produz carros! Isso é um trabalho de verdade! E você também quer US$ 30 por hora?”

É uma estratégia imperfeita. O anti-intelectualismo, por exemplo, funciona em muitos setores da classe trabalhadora branca, mas não tanto para os imigrantes ou os afro-americanos. O ressentimento contra aqueles que realizam um trabalho gratificante coexiste com um ressentimento por ter que realizar um trabalho sem sentido antes de mais nada. É uma mistura instável, mas temos que reconhecer que, em países como os EUA, tem sido muito eficaz.

O que pode ser feito a respeito?

Logo após a publicação de meu texto original sobre empregos sem sentido, eu costumava pensar que, se eu quisesse, poderia começar toda uma carreira em aconselhamentos de emprego – porque muitas pessoas escreveram para mim dizendo: “Percebo que meu trabalho é inútil, mas como posso sustentar uma família fazendo algo que realmente vale a pena?” Um monte de gente que trabalhava no balcão de informações no Zuccotti Park, e em outras ocupações, me disse a mesma coisa: jovens típicos de Wall Street vinham até eles dizer: “Sei, vocês estão certos. Não estamos fazendo nenhum bem ao mundo fazendo o que fazemos, mas eu não sei como viver com menos de um salário de seis dígitos. Teria que aprender tudo de novo. Você poderia me ensinar?”

Mas eu não acho que podemos resolver o problema via deserção individual em massa ou algum tipo de despertar espiritual. Isso é o que muita gente tentou nos anos 1960 e o resultado foi uma selvagem contraofensiva que tornou a situação ainda pior. Penso que precisamos atacar o cerne do problema: o de termos um sistema econômico que, por sua própria natureza, sempre vai recompensar quem prejudica outras pessoas e punir quem as beneficiam. Penso em um movimento de trabalhadores, mas de um tipo muito diferente do que conhecemos. Um movimento de trabalhadores que consiga finalmente abandonar todos os vestígios da ideologia que diz que o trabalho é um valor em si, que consiga redefinir o trabalho como um cuidar de outras pessoas. Acredito que vimos os primeiros sinais desse tipo de movimento durante o movimento Ocuppy. Lembro-me de ter ficado particularmente impressionado com a página na internet do movimento “Nós somos os 99%” – era uma página onde as pessoas que apoiavam o movimento, mas eram em sua maioria ocupados demais para realmente tomar parte nas ocupações ou conjuntos, poderia contribuir postando fotos de si mesmas segurando cartazes que descreviam sua situação de vida. Demograficamente, foi um muito revelador. Talvez 80% delas fossem mulheres. E mesmo os homens trabalhavam, em grade maioria, em profissões assistenciais: saúde, serviços sociais, educação. E as queixas eram surpreendentemente uniformes: basicamente, todas diziam “Quero fazer algo da minha vida que de fato beneficie outras pessoas; mas se eu me arriscar num tipo de trabalho em que eu cuide de outras pessoas, eu ganharia tão pouco e me endividaria tanto, que não conseguiria cuidar nem de minha própria família! Isso é ridículo!”

Chame-a revolta das classes do cuidado. Porque, afinal de contas, as classes trabalhadoras sempre foram, de fato, as classes do cuidado. Digo isso como uma pessoa oriunda da classe trabalhadora. Não apenas são quase todos fornecedores de cuidado (como também tomadores de cuidado!) de fato da classe trabalhadora, mas pessoas de tais origens sempre tendem a se ver como o tipo de pessoa que se preocupa ativamente com seus vizinhos e comunidades, e a valorizar esses compromissos sociais muito além de qualquer vantagem material. Acontece que nossa obsessão com certos tipos bem específicos de trabalhadores machões – operários fabris, caminhoneiros, esse tipo de coisa –, se tornou o paradigma de todo o trabalho em nossa imaginação e não nos permite atentar para o fato de que a maior parte da classe trabalhadora sempre esteve envolvida em um tipo ou outro de trabalho de cuidado. Então, acho que precisamos começar pela própria redefinição do trabalho. Começar, talvez, com o clássico “trabalho de mulher” – cuidar das crianças, zelar pelas coisas – como o paradigma para o próprio trabalho. Assim será muito mais difícil de sermos confundidos sobre o que é realmente valioso e o que não é. Como disse, nós já estamos vendo os primeiros sinais desse tipo de coisa. É uma transformação tanto política quanto moral e acho que é a única maneira que podemos superar o sistema que coloca muitos de nós em empregos sem sentido.

Thomas Frank é um colunista de política e cultura da Salon. Seus diversos livros incluem “O que está acontecendo com Kansas,” “Pena dos bilionários” e “Um mercado sob Deus”. É editor fundador da revista The Baffler.

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A “JUSTIÇA” DO ESTADO TEM UM LADO. E NÃO É O DO POVO.

10 terça-feira nov 2015

Posted by litatah in Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, CAB, Coletivo Anarquista Luta de Classe, Coordenação Anarquista Brasileira, Manifestos, Manifestos, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organização de base, Organizações Anarquistas, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Prática, Presos Políticos, Repressão, Todo Apoio aos 23

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Fonte: CALC

Não é de hoje que o Poder Judiciário deixa de servir a quem ele teoricamente deve, aos “cidadãos e cidadãs da nação”, às “pessoas de bem”. O direito, tal como é organizado hoje, tem o papel de garantir a propriedade de quem já a tem e marginalizar quem não se encaixa nos padrões do sistema capitalista de dominação.

Enquanto protege os interesses dos grandes, do capital e de todos aqueles que têm condições de pagar um bom advogado,mercantiliza o direito à liberdade e à defesa na atual “democracia”, criminaliza a pobreza e os movimento sociais.

O dito “Estado Democrático de Direito” da Constituição Federal é oEstado Oligárquico de Direito na prática – direitos para os ricos, para os brancos; migalhas, chacinas e prisões para os pobres, pretos e marginalizados.

Não é preciso uma pesquisa minuciosa para que encontremos casos em que fica explícito qual o lado das autoridades judiciárias. Num conflito judiciário em que uma parte tem residência fixa, estuda ou estudou na universidade, é branca e pode bancar um advogado renomado contra um pobre, desempregado e que necessita da Defensoria Pública; a dita igualdade só existe no papel.

Trazendo para um caso da realidade paranaense atual, é importante fazermos um breve histórico. Curitiba até alguns anos atrás era marcada pela grande presença e ação de gangues nazi-fascistas nas ruas da cidade, como podemos destacar nas seguintes manchetes tiradas de canais de comunicação:

“Neonazistas atacam em Curitiba depois de protesto deste domingo e geram pânico
http://revistaladoa.com.br/2015/03/noticias/neonazistas-atacam-em-curitiba-depois-protesto-deste-domingo-geram-panico”;

“Grupo de skinheads causa terror no Largo da Ordem de Curitiba
http://pr.ricmais.com.br/cidade-alerta-parana/videos/grupo-de-skinheads-causa-terror-no-largo-da-ordem-de-curitiba/”;

“Jovem assassinado por skinheads foi confundido com punk, diz a polícia – http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/jovem-assassinado-por-skinheads-foi-confundido-com-punk-diz-a-policia-f5los39ezvfoh25cjgkw2i6ha”;

“Estudante sofre ataque homofóbico
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/estudante-sofre-ataque-homofobico-eijxzdx1pz9p59lrolj1cipu6;

Polícia identifica estudante skinhead que matou punk em Curitiba
http://pr.ricmais.com.br/seguranca/noticias/policia-identifica-estudante-skinhead-que-matou-punk-em-curitiba/;

Quatro são esfaqueados após briga no Curitiba Rock Carnival, diz polícia –
http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2014/03/quatro-sao-esfaqueados-apos-briga-no-curitiba-rock-carnival-diz-policia.html;

Guarda Municipal é preso após atirar contra rapaz no Largo da Ordem –
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/guarda-municipal-e-preso-apos-atirar-contra-rapaz-no-largo-da-ordem-77cw3c42ek0i0sp4ljj5po026

Dentre os casos listados, queremos listar um, o de Adriano de Souza Martins, conhecido com Pararaio. Três meses atrás, dia 31 de julho de 2015, Pararaio retornou à liberdade após estar preso desde março de 2014.

Pararaio é um lutador antifascista da cidade de Curitiba que foi acusado por 4 tentativas de homicídio depois de ter se envolvido numa briga para defender seu amigo Diego (conhecido com Xarope) que estava sendo espancado e esfaqueado no chão por um grupo de nazi-fascistas durante o evento do Curitiba Rock Carnival. Pararaio foi inclusive acusado de ter esfaqueado o próprio amigo Xarope, para ilustrar a “justiça” do Estado e sua falta de sensibilidade perante os acontecimentos.

Pararaio foi levado pela polícia sob a acusação de ter esfaqueado 3 nazi-fascistas e Diego, enquanto foram os fascistas que deram 6 facadas em Diego – que ficou gravemente ferido. Nenhum nazi-fascista foi detido e foram considerados vítimas; levando o aval para continuarem cometendo as atrocidades que costumam fazer.

Mais uma amostra de que a “justiça do Estado” tem um lado e que obviamente não é a dos que lutam contra o racismo, machismo, homofobia e o fascismo. Não é nem necessário dizer qual a origem social de Pararaio e Diego em contraponto com a dos nazi-fascistas, que estavam em maioria e tiveram advogados, promotores e juízes ao seu lado.

Quem acabou sofrendo com isso? Pararaio ficou encarcerado por 1 ANO E 5 MESES A MAIS do que “deveria”, de acordo com a própria “justiça” burguesa. O julgamento levou 1 ano e 5 meses para acontecer e lá Pararaio foi condenado a 1 ano, sendo que não deveria ser em regime fechado – mas é claro que se o “criminoso” tivesse muito dinheiro e família conhecida não passaria uma noite na cadeia superlotada.

O Estado não recua em suas decisões, ele é a materialização da intransigência e violência – seja pela polícia, seja pelas prisões ou por outras instituições. Quanto mais quando se trata dos pobres e dos movimentos sociais organizados, porque quando você é pobre, é excluído sistematicamente das discussões e decisões políticas da sociedade; quando você é pobre e se organiza com outros pobres para exigir o direito de participar da vida política do seu bairro, da sua cidade, do seu país você representa uma ameaça aos interesses dos poderosos – e o Estado está aí para isso, defender os interesses dos de cima.

O caráter do Estado reverbera em todos os campos da sociedade, desde as crianças pobres e negras que serão as primeiras a sofrer com a redução da maioridade penal até os idosos que tem suas aposentadorias saqueadas quando o Estado “quebra” o seu caixa. O pobre pode morrer na fila do SUS, pode ficar desempregado e sem uma educação de qualidade, mas os lucros milionários sempre são garantidos. O Estado está nas mãos de quem manda e nós não queremos que só alguns possam decidir sobre o futuro de todos e todas – por isso lutamos pelo socialismo libertário.

Não vamos nos esquecer da mídia de massas, que cumpre um papel essencial na formação ideológica conservadora da sociedade e que muito contribui para que o Estado e o direito sirvam sempre aos poderosos. Pegando mais um exemplo do nazi-fascismo na atualidade, vejamos como a mídia reage quando o réu é um branco fascista:  http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/08/me-sinto-um-lixo-diz-assassino-confesso-que-esquartejou-propria-tia.html; na própria manchete, nem citada é a palavra “skinhead”, comumente designada para se dirigir a esse grupos neonazistas, e muito menos as palavras “nazi” ou “fascista”.

Fica claro que tudo isso é uma questão de CLASSE. Os anarquistas, os antifascistas, lutam contra a dominação de classe – que os grandes capitalistas, latifundiários e burocratas do Estado impõem sobre o povo; contra dominação de gênero, etnia, etc. Enquanto os fascistas defendem essa dominação e ainda agem para que ela seja maior e mais violenta. É por isso que jovens como Pararaio sofrem todos os dias as retaliações, não por cometerem crimes, mas por pertencerem à classe dominada, por serem pobres, por morarem na periferia. Mas a nossa luta não vai parar!

SOLIDARIEDADE A PARARAIO!

DIEGO PRESENTE! LAGARTO PRESENTE!

VIOLENTO É O ESTADO!

NÃO VAMOS ESQUECER, NEM PERDOAR!

SOLIDARIEDADE AO COLETIVO ANTIFA 16 E À LUTA ANTI-FASCISTA

fascismo não se discute

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A revolução curda é a primeira revolução socialista vitoriosa do século XXI!

02 segunda-feira nov 2015

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Fonte: Comitê de Solidariedade à Resistência Popular Curda 

Por Rodrigo Silva

O objetivo desse texto é mostrar o contexto histórico e as perspectivas do nosso trabalho de solidariedade à resistência popular curda. Vou tentar ser didático,me perguntem se ficar muito confuso.

A Guerra

A revolução de Rojava (19 de julho de 2012) só foi possível no contexto da guerra civil síria. Em março de 2011, como parte das revoltas populares que formaram a Primavera Árabe, o povo sírio se levantou contra o governo de Bashar Al-Assad, que está no poder desde 2000, sucedendo o seu pai, Hafez Al-Assad (1971-2000).

Como em vários casos de governos da região, era um regime nacionalista burguês, ou seja, que tomava medidas de fortalecer o mercado interno e a indústria nacional, entrando algumas vezes em conflito com as potências imperialistas. E antidemocrático: o núcleo do poder era a família Al-Assad e a minoria religiosa alauíta, que é uma dissidência do Islã xiita. Depois do fim do campo da URSS, o governo sírio se tornou neoliberal.

Os protestos pacíficos de 2011-2012 foram duramente reprimidos, e o conflito acabou se transformando numa guerra civil que se arrasta até hoje, causando mais de 220 mil mortes. As partes em conflito são:

  • o governo,
  • setores da oposição civil, que corresponde a várias forças políticas, desde o Conselho Nacional Sírio (ligado aos EUA) até os Comitês Locais de Coordenação (que são organizações de base), até setores fundamentalistas islâmicos,
  • setores militares, dos quais os principais são a Jabhat al-Nusra (Al Qaeda na Síria), Arhat al-Sham e, finalmente o ISIS (Estado Islâmico, um racha da Al-Qaeda), enquanto a oposição liberal armada é o Exército Livre da Síria, que é muito heterogêneo, tendo desde unidades nacionalistas até a maioria, que é praticamente controlada pelos EUA.

Todas as potências regionais estão intervindo na guerra civil. O Irã, através do Hibollah/Líbano, está apoiando Assad, assim como a Rússia. Os dois tentam contrabalançar a influência americana na região, já que os EUA apoiam o CNS e os aliados dos EUA, Arábia Saudita e Qatar, apoiam os grupos fundamentalistas.

A partir de 2012, com a militarização do conflito, os setores fundamentalistas passaram a ter hegemonia quase total sobre a oposição a Assad.

A questão étnico/religiosa envenena mais ainda o conflito, porque parte da população síria,que é, em sua maioria muçulmana sunita, vê a luta contra a oligarquia alauíta como um conflito religioso. Isso tem levado setores não necessariamente pró-Assad, como os xiitas, drusos (outra dissidência do xiísmo) e cristãos, a serem contra a oposição, com medo de sofrerem perseguição religiosa se os sunitas tomarem o poder.

As divergências entre as seitas do Islã lembram um pouco as diferenças entre católicos e protestantes. A cisão entre sunitas e xiitas aconteceu após a morte de Muhammad (Maomé), e se deu em torno de quem deveria liderar a Umma (a comunidade muçulmana). Para os sunitas, qualquer muçulmano poderia ser escolhido como califa (regente), enquanto os xiitas diziam que o representante deveria ser da família de Muhammad.

O sunismo logo se tornou a religião das elites do califado, e é baseado numa interpretação mais legalista da religião (formas de orar, como praticar caridade, como se vestir e comportar etc), enquanto o xiismo se identificou com os setores mais pobres e tem um aspecto mais messiânico (é muito importante para os xiitas o retorno do Imã Mahdi, junto com Jesus Cristo, para julgar o mundo).

No mundo atual, essa divisão religiosa se transformou, no Oriente Médio, em uma divisão política, entre os sunitas, ligados à Arábia Saudita (que abriga a cidade sagrada de Meca, para onde anualmente os muçulmanos do mundo todo vão peregrinar), e os xiitas, ligados ao Irã, que desde 1979 é uma república islâmica com um regime xiita.

Os fundamentalistas são os setores que querem que as leis religiosas islâmicas (sharia) sejam a base do Estado. Entre eles, o ISIS é o mais extremista, porque eles se consideram a restauração do califado sunita estabelecido após a morte de Muhammad.

Entre todas essas forças, está o PYD (Partido Democrático da União), que é o partido sírio ligado o PKK curdo.

O PKK

O PKK foi criado em 1984 por Abdullah Öcallan, como um partido guevarista para lutar por um Estado curdo. Na época, era uma organização muito autoritária, com um forte culto à personalidade do seu dirigente, e métodos brutais, como alistamento forçado, assassinato de civis e lavagem de dinheiro do tráfico de drogas para financiar o partido.

Em 1999, Öcallan foi preso e, na prisão, influenciado pela derrota provisória da luta armada do PKK e pelo fim da União Soviética, começou a fazer uma autocrítica profunda das suas concepções políticas. Através de leituras do anarquista Murray Bookchin, a direção do PKK, e depois todo o partido, passou a defender uma teoria chamada de confederalismo democrático. Ou seja, eles defendem a criação de um poder popular formado por uma confederação de cidades, cada uma controlada por assembleias de bairro.

Ainda dentro da autocrítica, o PKK se tornou uma organização feminista. Ao lado do seu braço armado, a YPG (Unidade de Defesa Popular), foi criado um braço armado só de mulheres, a YPJ (Unidade de Defesa Feminina). A importância da YPJ é tão grande que foi uma mulher, Meisa Ebdo, que dirigiu a resistência armada contra o Estado Islâmico na cidade de Kobanê. Nos cantões (as cidades autônomas), existem estruturas femininas paralelas em todos os níveis.

Isso não significa que o PKK mudou completamente, existem vários relatos de que ainda está presente o autoritarismo na prática da organização, e muitas dessas mudanças ainda não foram realmente incorporadas pelo partido, mas parece claro que existiu sim uma mudança.

No caso do feminismo, os limites do PKK também são aparentes. As estruturas de mulheres são formalmente autônomas, mas a grande influência teórica do feminismo do PKK é reconhecida abertamente como sendo o próprio Öcalan (!!!), e as YPJ quase nunca levantam reivindicações explicitamente feministas (direitos reprodutivos, prostituição, violência masculina etc).

A revolução de Rojava

Aproveitando o vácuo de poder, em julho de 2012 os curdos, dirigidos pelo PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), tomaram o controle de Rojava (o Curdistão sírio), no norte da Síria.

Os curdos são o maior povo sem Estado do mundo, cerca de 50 milhões de pessoas, e estão dividido entre quatro países: Turquia, Irã, Síria e Iraque. No Iraque, existe o Governo Regional Curdo (KRG), com autonomia regional, dirigido pelo KDP (Partido Democrático Curdo), de direita e pró-americano.

Já em Rojava, que é o Curdistão sírio, está acontecendo uma verdadeira revolução socialista, dirigida pelo PKK, que está aplicando o confederalismo democrático.

O confederalismo também é uma resposta aos conflitos étnicos do Oriente Médio. Cada assembleia de bairro em Rojava elege três representantes para a assembleia geral da cidade, sendo que pelo menos uma deve ser mulher, e os representantes são divididos em um curdo, um turco e um sírio cristão. Não por acaso, membros das minorias religiosas sírias, como os cristãos e muçulmanos xiitas e sufis, têm se refugiado em Rojava, para fugir da violência religiosa. Asassembleias de mulheres têm poder de veto sobre as decisões que afetam as mulheres.

Curda segurando uma metralhadora.

O fato que colocou o PKK nas manchetes de todos os jornais do mundo foi a proteção que eles ofereceram aos refugiados yazidis. Os yazidis são uma religião milenar. Eles cultuam o Anjo Pavão, que segundo a religião deles, foi punido por Deus pelo seu orgulho, e foi para o inferno antes de se arrepender. Por causa da semelhança entre esse mito e o diabo no cristianismo e no Islã, os yazidis são considerados satanistas pelo Estado Islâmico, e são assassinados através de crucificação e decapitamento.

O caráter da revolução curda

Como Trotsky explicou, as tarefas das revoluções burguesas, como a separação entre Estado e religião, direitos iguais para as mulheres, democracia e independência nacional, só podem ser realizadas na era do imperialismo através de revoluções socialistas.

Portanto, a forma do confederalismo democrático expressa o conteúdo de classe de ditadura do proletariado, ou seja, o governo direto das massas populares através de assembleias (as Casas do Povo e Casas das Mulheres em Rojava), defendidas através do seu exército popular (YPG/YPJ).

A revolução curda é a segunda revolução socialista do século XXI, depois da revolução nepalesa (2006), traída pela sua direção maoísta. Nela se repete o esquema de todas as revoluções sociais dirigidas por guerrilhas no século XX (Vietnã, Cuba, Nicarágua etc): o aparato do Estado é destruído e substituído pelo aparelho guerrilheiro, que é a expressão organizada do poder das classes oprimidas.

No caso do PKK, um paralelo muito forte pode ser traçado com o PC Iugoslavo. Era um partido stalinista tradicional mas, sob pressão do isolamento imposto pela URSS, precisou se apoiar nas massas populares, adotando várias medidas democráticas e estimulando até certo ponto a autogestão e a autoorganização.

O papel dos EUA

Desde setembro de 2014, o PKK vem colaborando com os EUA na luta contra o ISIS. OS EUA têm interesse em impedir que o Estado iraquiano seja desestabilizado, já que o mesmo é uma semicolônia americana. Por isso, tem estado em conflito com a Turquia, que também é membro da OTAN, mas que prefere o ISIS do que uma possibilidade de levante popular curdo nas suas fronteiras.

Esse fato, junto com a oposição do PKK ao governo Assad desde 2004, tem levado setores da esquerda a considerar os curdos como agentes do imperialismo. Assim, vemos o triste espetáculo de setores que se reivindicam socialistas apoiando uma ditadura assassina, quando não dizendo que o ISIS deve ser defendido diante dos ataques americanos (!!!).

Essa atitude é chamada, dentro do movimento trotskista, de campismo, ou seja, dividir o mundo em dois “campos”, do quais um deve ser apoiado contra o outro. Na lógica campista, toda crítica ao suposto campo “progressivo” na verdade favorece o inimigo principal. Essa lógica foi adotada pela grande maioria dos partidos comunistas, que silenciavam sobre quaisquer formas de opressão no campo soviético e, hoje, é adotava por supostos “antiimperialistas”.

Esse tipo de visão maniqueísta apaga as lutas de classes, a substituindo pela lógica burguesa de conflitos entre governos. O nosso ponto de vista deve ser: quais são as forças reais no conflito? Elas são autônomas, ou são marionetes do imperialismo? O imperialismo está tentando se aproveitar dessas forças, ou é o impulsionador delas?

Fazer essas perguntar é respondê-las. O movimento de libertação curdo é um movimento de massas de um povo inteiro. Os EUA podem taticamente apoiá-lo, para enfraquecer o seu inimigo na região. Mas esse apoio, como o ano passado mostrou, pode ser rapidamente retirado, assim que os curdos se voltam contra os seus aliados (como a Turquia).

Sobre o assunto, esse texto é altamente recomendável.

O futuro de Rojava

Mas qual é a perspectiva para uma revolução social democrática, laica e feminista num mundo globalizado?

Hoje, por causa da mundialização do capital, é qualitativamente mais difícil um país conseguir manter alguma autonomia econômica, como foi demonstrado no caso da chantagem da União Europeia contra a Grécia e a capitulação do seu governo.

Portanto, é praticamente inviável a confederação democrática de Rojava conseguir expropriar o conjunto da burguesia. O foco de um governo popular na região deve ser manter e fortalecer as estruturas democráticas e apoiar a revolução curda na Turquia e no Irã.

Portanto, é coerente a formação das Forças Democráticas Sírias, para lutar por uma Síria democrática onde os curdos possam viver em uma região autônoma. Já na Turquia, o HDP (Partido da Democracia Popular), que é o braço político da esquerda turca e curda está enfrentando o começo de uma guerra civil, depois do seu resultado eleitoral histórico esse ano (mais de 10% dos votos). Enquanto isso, o PJAK (PKK no Irã) ainda sofre a maior repressão de todos os quatro países.

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As perspectivas em Rojava nesse contexto são duas: ou uma “sulafricanização” (ou seja, aderir às regras do capitalismo dependente, como o CNA fez) sob pressão dos EUA. Ou uma “zapatização” (manter o governo popular através da autonomia regional, e tentando desenvolver a luta pela autonomia na Turquia e no Irã, a exemplo do EZLN no México), que seria a forma viável, nas condições atuais, de dar um desfecho estável e progressista ao conflito.

De qualquer forma, o nosso apoio, a partir dos Comitês de Solidariedade em todo o mundo, é uma forma de quebrar o isolamento político e dar um alívio econômico, na medida das nossas forças. Estamos vendo uma revolução que está durando mais que a Espanhola (1936-39), e que é a perspectiva mais concreta de uma nova sociedade que estamos vendo no nosso século.

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SOBRE ANARQUISMO: uma entrevista com Judith Butler.

30 sexta-feira out 2015

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anarcofemin, anarcofeminismo, anarquia, anarquia e feminismo, ecofeminismo, feminismo, feminismo interseccional, filosofia, Filosofia Contemporânea

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Judith Butler.*

Fonte: Territórios da filosofia

Judith Butler é filósofa pós-estruturalista, feminista e teórica da Queer Theory Suas reflexões contribuíram para renovar amplamente os estudos feministas e as teorias de gênero, assim como os estudos contemporâneos em filosofia e ética. Butler é atualmente professora na cátedra Maxine Elliot, do Departamento de Retórica e Literatura Comparada da University of California, em Berkeley; é igualmente professora visitante da Columbia University, no departamento de Inglês e Literatura. Em 2009, recebeu o Andrew W. Mellon Foundation’s Distinguished Achievement Award por sua contribuição ao legado das Humanidades. Desde 2006 Judith Butler atua como Hannah Arendt Professor de Filosofia no European Graduate School (EGS), Suíça.

Doutorou-se em filosofia pela Yale University, em 1984, com a tese Subjects of Desire: Hegelian Reflections in Twentieth-Century France, e publicada em 1987 pela Columbia University Press. Butler é autora de trabalhos pioneiros como Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity(Routledge, 1990), no qual introduz o conceito de perfomatividade; e Giving an Account of Oneself(Fordham University Press, 2005) no qual discute os limites do autoconhecimento. Além disso, entre seus trabalhos, detacam-se: Bodies That Matter: On the Discursive Limits of “Sex” (Routledge, 1993); The Psychic Life of Power: Theories of Subjection (Stanford University Press, 1997); Excitable Speech (Routledge, 1997); Antigone’s Claim: Kinship Between Life and Death (Columbia University Press, 2000); Precarious Life: Powers of Violence and Mourning (Verso, 2004); Undoing Gender(Routledge, 2004); Who Sings the Nation-State?: Language, Politics, Belonging (coautoria com Gayatri Spivak, Seagull Books, 2008); Frames of War: When Is Life Grievable? (Verso, 2009); além de seus dois últimos livros em coautoria Is Critique Secular? (UC Berkeley, 2009) e The Power of Religion in Public Life (Columbia University Press, 2011).

É apoiadora da campanha internacional BDS (Boycott, Divestment and Sanctions) em defesa da causa Palestina. Em 2010 Butler recusou, durante a cerimônia de premiação em Berlim, o prêmio Civil Courage Award (Zivilcouragepreis) devido ao racismo de alguns organizadores. Em 23 de outubro de 2011, Butler esteve em Nova Iorque apoiando o movimento Occupy Wall Street. A entrevista a seguir foi realizada por Jamie Heckert durante os meses de março e junho de 2010.

JH: Inúmeros estudiosos se debruçaram sobre os seus trabalhos para o desenvolvimento da teoria anarquista, incluindo eu mesmo e vários outros colaboradores deste volume21 (particularmente Lena Eckert). Isso foi possível devido ao desenvolvimento recente daquilo que se rotula de pós-anarquismo, anarquismo pós-estruturalista e anarquismo pós-moderno; neles os escritos de figuras como Foucault, Deleuze, Guattari, Lyotard e Baudrillard são tidos como a continuidade (e talvez a substituição) da teoria e práxis da tradição anarquista. Você está familiarizada com esse tipo de literatura? É possível ler o seu trabalho à luz do anarquismo, devido a suas afirmações públicas incluindo a recente entrevista na qual você se refere a si mesma como uma ‘anarquista provisória’. Você poderia falar um pouco mais sobre sua relação com a identidade anarquista?

JB: Não estou segura se entendo o anarquismo como uma identidade, mas sim como um movimento, que nem sempre funciona de modo contínuo. Há pelo menos dois pontos de referência nas políticas contemporâneas que chamam a atenção. Um tem a ver com o ‘Anarquistas contra o Muro’; outro é como o anarquismo queer se coloca como uma alternativa importante para o movimento do libertarismo gay em ascensão. Embora eu tenha certeza de que os anarquistas contra o muro em Israel/Palestina estejam interessados na história do movimento anarquista, me parece que esse é um caso no qual a ação direta contra a força militar e a política de segregação seja um evento muito poderoso. Se você acompanhar as manifestações semanais em Bi’lin, poderá ver que os corpos humanos colocam-se no caminho das máquinas que estão construindo o muro da separação, estão se expondo ao gás lacrimogênio e, literalmente, estão produzindo uma interrupção e redirecionando o poder militar. O ponto é entrar na cena, nos edifícios, nos movimentos e detê-los, redirecioná-los, mas também utilizar o corpo como um instrumento de resistência. É importante que haja câmeras na cena e as máquinas, funcionando como contramáquinas, documentem a violência do Estado de Israel, mas também interrompam os esforços para controlar a cobertura da mídia dessas ações. Desde que o racismo está na base deste muro da segregação, veremos também o escândalo da violência perpetrada contra os ativistas israelenses. Claro que a indignação é muito maior contra esse tipo de agressões e mortes do que qualquer outra infligida contra os palestinos ou outros estrangeiros durante a cena. Existe um importante componente anarco-queer nessas demonstrações e tem a ver com o episódico, a ação direta extraída das velhas tradições da ACT UP, por exemplo. Mas, tem a ver também com o ato de expor e deter a violência ostensiva de uma autoridade legal.

Creio que seja importante destacar esse último item, porque o regime legal é, em si mesmo, um regime violento e a violência legal consome todos os recursos devidos no processo ou na intervenção legal, então o anarquismo torna-se o modo de contestar e opor a operação violenta do estado.

Comparemos isso com as novas formas de libertarismo gay que vemos emergir em lugares como o Reino Unido, Bélgica e Holanda. Lá a oposição claramente racista com a nova imigração e a relação fóbica para com as populações do Norte da África ou do Oriente Médio, principalmente muçulmanos, recrutou defensores gays que esposam a liberdade pessoal, o direito à propriedade privada e as relações de mercado. Embora pontos de vista libertários como esses usualmente estão circunscritos ao aparelho do Estado, mínimo ou ‘privado’, esses proponentes do libertarismo gay invariavelmente fazem uma concessão para com o Estado, apoiando os esforços anti-imigração, e defendendo formas de nacionalismo e eurocentrismo que são patentemente excludentes e racistas. Dessa forma, os gays libertários favorecem o Estado, são recrutados por ele e ajudam a manter a violência estatal contra outras minorias. É importante reconhecer que ‘liberdade’ significa liberdade pessoal e não está, de nenhum modo, ligada aos esforços pela igualdade ou à luta contra a violência estatal. Mas qualquer minoria precisa fazer aliados entre os que estão sujeitos à arbitrariedade e às formas devastadoras da violência estatal. É dessa maneira que penso que o anarquismo queer é mais ‘inteligente’ com relação ao poder do Estado e à violência legal, em particular. O libertarismo gay imagina-se defendendo os direitos individuais, mas falha ao perceber que o individualismo é uma forma social que, sob as condições do capitalismo, depende da desigualdade social e do poder violento do Estado. Este último torna-se claro nas políticas anti-imigração.

Então, o anarquismo, no sentido que me interessa, tem a ver com a contestação das dimensões ‘legais’ do poder do Estado, colocando desafios perturbadores sobre a legitimidade do Estado. A questão não é como atingir um estado ou a forma final para a organização política da sociedade. É um efeito desorganizador que toma o poder, exercita o poder sob condições nas quais a violência legal e estatal estão profundamente conectadas. Nesse sentido, ele sempre tem um objeto e uma condição provisória, mas não é uma forma de vida ou um fim em si mesmo.

JH: Obrigado por essa resposta profunda e provocante. Eu estou particularmente interessado na clara consideração da compaixão e equidade que li na sua crítica da construção dos muros em torno de nações e identidades. Para dar sequência a partir da sua última declaração, posso perguntar como você conceitualiza o Estado? Eu penso nos escritos de Foucault sobre a governamentalidade e como isso foi prefigurado pelo filósofo anarquista judeu, Gustav Landauer, quando escreveu: “o estado não é algo que possa ser destruído por uma revolução, mas é uma condição, certa relação entre os seres humanos, um modo de comportamento humano, destruímos isso construindo outras relações e comportando-se diferentemente”. Dessa maneira, eu penso, se daria a prática de interrupção da violência estatal, da problematização do poder do Estado e das identidades individualizadas com a qual estão interligados, não são também um modo de vida, de relacionar-se diferentemente? Em outras palavras, a debilidade ou transbordamento dos muros e fronteiras não são potencialmente um processo contínuo?

JB: Minha preocupação com essa formulação é que pode ser entendida como se o Estado fosse permanente. Podemos dizer que o Estado é permanente, mas certas formas de Estado não são. Talvez seja igualmente verdade dizer que porque não há ‘Estado’ é menos que uma formação estatal, os Estados são tipos de arranjos que vêm a ser, alteram-se e dissolvem-se. Parece-me que o direito à revolução depende da possibilidade de o Estado ser dissolvido pela vontade do povo em coro. Esse é um tipo de poder que a soberania popular tem sobre a soberania estatal e quero manter essa noção. É verdade que certos estados projetam suas performances, mas só podem fazê-lo se tentam instituir sua permanência e só podem fazê-lo através do fortalecimento dos efeitos da sua legitimidade, claro, seu poder armado – tanto a polícia quanto o exército. Então, não faz mais sentido dizer que o Estado está sempre em processo de reinstitucionalizar seus efeitos de permanência e que as intervenções críticas podem ser feitas de vários lugares onde a reinstituição acontece. Em outras palavras, a reinstituição não é garantida e a falta de garantia pode ser exposta por estratégias que chamamos anarquistas.

JH: Há alguma conexão entre a sua concepção de anarquismo como uma intervenção na reinstituição do Estado e seus trabalhos anteriores sobre a performance de gênero?

 

JB: Talvez a questão real seja sobre a relação entre a performance reiterativa e a influente distinção, feita por Walter Benjamin, entre a violência da lei que preserva e da lei fundacional. Percebo que toda vez que a lei é reiterada, há uma refundação e uma reinstituição. Isso se torna importante em relação à greve geral – uma greve que não é protegida pela lei, mas que busca paralisar um regime de lei existente. Poder-se-ia dizer que, às vezes, estamos sob a obrigação de puxar o freio de emergência sobre as normas de gênero. Eu creio que Irigaray coloca algo assim quando sugere que nós obstruímos a maquinaria da diferença sexual.

JH: Pergunto isso porque para muitos de nós, particularmente o anarquismo queer e anarco-feministas, o anarquismo é simultaneamente interrupção ou paralisação da institucionalização do Estado a favor da soberania popular e subversão das identidades disciplinadas do cotidiano e das relações hierárquicas. Parece-me que esse último tópico tem sido um tema na sua obra.

JB: Sim, é sim. Eu também gostaria de assinalar que há uma operação de liberdade e agency/ação que não é a mesma entendida como liberdade pessoal do indivíduo sob os regimes da democracia liberal. É claro que há proteção legal para certos tipos de liberdade, mas se a versão de liberdade como a ideia de proteção legal se torna tudo que concebemos sobre liberdade, então certamente estamos constrangidos de maneiras inaceitáveis. É importante ressaltar que várias formas de regulação de gênero, hierarquia social e exclusão operam através de domínios de poder que não estão reduzidos à lei, mas isso também significa que as formas de resistência e exigência por liberdade que fazemos não podem ser integralmente conceitualizadas sob a rubrica da lei. Essa é uma forma de insistir que as demandas de um movimento social radical devem exceder as reformas legais, mesmo que elas sejam, às vezes, úteis para esse movimento. Meu ponto de vista é que o anarquismo é uma importante forma de pensamento e ação precisamente quando temos que decidir sobre onde e como adentrar em regimes de poder, quais oportunidades existem para sua subversão. Para obter alguma amplitude, essa é a função da situação contingente e das possibilidades que ela abre, mas também significa que a agency/ ação não é sempre institucionalizada e institucionalizável. De fato, se a ação política é permanecer crítico, ela deve pesar os custos da institucionalização e resistir a qualquer institucionalização integral. Isso não significa que devemos evitar todas as práticas institucionais, mas que elas não devem tornar-se normas restritivas para uma mudança política radical.

JH: Eu concordo sobre o valor de se fazer um trabalho subversivo no interior do conjunto das instituições e também estou muito atento aos desafios emocionais e políticos. Existem exemplos particulares de políticas anarquista, feminista e/ou queer que você particularmente aprecie, que permitem essas operações da liberdade ou mesmo de soberania popular?

JB: Me impressionam os ‘Anarquistas contra o muro’ e outras ações contra o muro em Bi’lin que continuam a desviar os militares e angariaram grande apoio nas redes globais. As demonstrações contra o confisco de propriedades palestinas na Berlim do leste têm crescido e é animador vê-las. Eu também sou a favor de organizações que ajudam pessoas indocumentadas nos Estados Unidos e na Europa, especialmente quando essa assistência ocorre por baixo do radar da lei. De certo modo, essas ações estão por baixo da lei, fora da lei e mesmo contra a lei, mas são fundamentalmente movimentos para mudar a lei e para manter leis existentes ampliando os padrões de justiça. Vejo igualmente que o movimento estudantil, opondo-se à destruição da educação pública, em muitos países, está invariavelmente confrontando-se com forças policiais e é crucial encontrar formas de resistir à violência policial e expor sua dimensão criminosa. Similarmente o ativismo squatter, que procura reivindicar propriedades e o próprio direito à habitação pela virtude de terem feito essa reivindicação e pavimentar esse caminho, esses são movimentos críticos. Contrabandear medicamentos para os territórios palestinos quando as fronteiras estão fechadas deve ser incluído entre os movimentos importantes desse tipo. Os grandes encontros contra a globalização, como o exemplo de Chiapas, ocorrido há alguns anos, devem estar incluídos na minha lista, assim como as atividades transgênero que tomam as ruas, com seus aliados queer, em muitos países do mundo, apesar de que é na rua que lhes falta proteção e são submetidos à violência policial. O mesmo ocorre com os trabalhadores do sexo desprotegidos (algumas vezes, como se sabe, esses dois grupos se sobrepõem). Eu espero que no estado do Arizona haja um descumprimento generalizado das novas leis racistas. Minha esperança é que todos os membros da Universidade do Arizona, por exemplo, escolham ministrar cursos de Estudos Étnicos, agora que foram banidos legalmente. Se cada um se dispuser a ensiná-los, então as universidades não serão capazes de fazer cumprir essa lei hedionda e ela se tornará uma lei desprovida de poder.

JH: Agora aqui temos um ponto que eu realmente gostaria de explorar: o que permite a liberdade da recusa? O modo como eu entendi não é só essa lei que está vulnerável ao descumprimento ou a recusa, mas todas as leis. Ou, em outras palavras, o cumprimento é uma parte necessária da refundação e reinstituição do poder do Estado (em contraste, talvez, a uma reiteração coletiva do compromisso com a lei produzida através da soberania popular, como as leis revolucionárias do Exército Zapatista de Libertação Nacional). A observância da lei, por sua vez, é produzida através de várias formas de terrorismo de Estado. Como você escreveu em Bodies that Matter: “There must be a body trembling before the law, a body whose fear can be compelled by the law, a law that produces the trembling body prepared for its inscriptions”.3 Existe algo na prática anarquista que acalme o corpo trêmulo para que eu ou você, ou qualquer um possa agir sem estar constringido pelo medo da lei e a ameaça da violência, ambas sempre entrelaçadas, particularmente contra aqueles corpos inscritos como susceptíveis de violação: corpos de mulheres, corpos queer, corpos escuros, corpos criminosos, corpos insanos, corpos indígenas, corpos pobres, corpos sem teto, corpos indocumentados, corpos de animais e todas as incontáveis maneiras em que essas inscrições se cruzam? Ou, ainda, o que permite que os movimentos ou transições para soberania popular, apesar do Estado, reivindiquem o poder?

JB: Se os corpos temem é através do temor, por assim dizer, que agimos. O temor pode levar a submeter-se ou a agir, e qualquer um pode agir para acalmá-lo – primeiro, através da fantasia de que a observância da lei irá satisfazê-lo e nos deixar em paz; segundo, através da resistência que trabalha furtivamente sob a aparência do cumprimento da lei, ou desafiando abertamente e precisando suportar o que virá no futuro, que desencadeará consequências no futuro.

JH: Desde nossa última correspondência, os militares israelenses atacaram a flotilha Gaza Freedom em águas internacionais, matando inúmeras pessoas, ferindo muitas e aprisionando outras. Fiquei impressionado com as palavras de Avital Leibovich, um porta-voz dos militares israelenses, citado pela Al Jazeera: “nós temos o direito de nos defendermos”. Como é que as pessoas são, às vezes, capazes de tornar-se tão desconectadas da sua empatia pelos outros que a entrega de comida e medicamentos seja vista como uma invasão de inimigos? E que efeito isso tem em outras relações íntimas com o nosso próprio corpo e o corpo do outro?

JB: É claro, temos que acompanhar uma sequência específica de paranoia para entender como a ‘autodefesa’ poderia ser evocada pelos israelenses neste episódio. Se o navio carregado de alimentos e remédios furou o bloqueio, então o bloqueio foi quebrado e outras embarcações carregando armas e material para construir bunkers e artilharia passarão. E esses navios serão (em parte ou no todo), vindos do Irã, o que significa que o Irã penetrou em Gaza. Mesmo assim, a noção de autodefesa só funciona se aceitarmos como pressuposto que a fronteira marítima de Gaza deveria permanecer sob a soberania da autoridade israelense e não há qualquer fundamento legal para essa pretensão. As outras formas para justificar autodefesa parecem emergir imaginando um grupo de ‘mercenários’ embarcando no navio em um segundo local; porém, mais que tudo, a reivindicação de autodefesa é claramente refutada pelo fato corroborado, e agora está altamente documentado, de que os israelenses atiraram antes de embarcar no navio. Então, quem exatamente precisa se defender contra ataques?

Para o anarquismo, a luta é importante desde que tenhamos bons motivos para desobedecer a má lei. Ao mesmo tempo, quando vemos estados trapaceando e quebrando leis internacionais, nós temos que responder essa afronta. A questão não é ser contra todas as leis, nem viver sem nenhuma lei. A questão, no meu ponto de vista, é desenvolver uma relação crítica com a lei, que é, antes de tudo, um campo do poder que é diferentemente aplicado e apoiado. Nós temos que fazer parte da luta para fazer com que a lei seja justa, mas nenhuma lei existente será capaz de nos dizer o que é a justiça. Nesse sentido, temos que buscar recursos para normas extralegais e valores para decidir estratégias em relação à lei.

JH: Você tem falado sobre o anarquismo inúmeras vezes em palestras públicas, mas esta é a primeira vez, eu creio, que você escreve sobre isso para uma audiência pública. Você poderia dizer algo sobre isso?

JB: Na verdade, eu escrevi sobre isso em relação a “A Critique of Violence” de Benjamin, e lá sugeri que Benjamin coloca uma perspectiva “extralegal” para julgar regimes legais criminosos. Quando a lei se torna um instrumento da violência do Estado (e sua força coercitiva que, de alguma maneira, está sempre implicada com a violência), então há que se engajar em formas de desobediência para exigir outra ordem de lei. Desse jeito há que se tornar o que Althusser denomina “um mal sujeito” ou um anarquista provisório, a fim de desvincular a lei do processo de subjetivação. Isso acontece na greve geral quando se falha como trabalhador e como cidadão com a finalidade de expor um modo de exploração econômica injusto ou um regime estatal violento, ou ambos. Nós não temos acesso à lei natural neste momento, mas apenas a certa explosão de liberdade crítica, como também o exercício da capacidade crítica e um poderoso poder de negação. Nós podemos entender essa explosão como aquela parte da soberania popular que nunca é totalmente codificada pela lei e sobre a qual todas as leis dependem para persistirem e a qual sempre potencialmente implica na dissolução de um código legal ou regime particular.

JH: Você mencionou nesta entrevista conexões entre anarquismo e a transgressão, ou a suspensão das normas de gênero. Eu vejo, também, conexões com anarquismo no seu ensaio sobre intervenções cirúrgicas realizadas nas pessoas intersexo, “Doing justice to Someone”4. Você poderia falar um pouco mais sobre as conexões que vê entre o anarquismo e os transgêneros, intersexo e política de gênero queer?

JB: Uma e outra vez, os novos esforços políticos para estabelecer o casamento como uma questão de igualdade civil ou inserir os gays no serviço militar como uma questão de tratamento desigual perante a lei, permaneceram dentro das estruturas da conjugalidade ou do militarismo e buscaram apenas atingir metas políticas no interior dessas estruturas. Mas o que acontece a um movimento quando ele cessa de questionar os valores do militarismo e, na verdade, da própria conjugalidade? Ele perde sua capacidade crítica e rompe alianças com todos aquelas pessoas gays, lésbicas, transexuais, queer, bi e intersexuais que estão lutando contra a ascensão do militarismo, contra o racismo estrutural e nacionalismo, contra a brutalidade da polícia em relação às minorias sexuais e de gênero e os que estão tentando encontrar formas de vida e de desejos que se sustentam fora das normas do casamento e livres da violência policial e psiquiátrica. Esse último parece ser o objetivo final de qualquer movimento de minorias de sexo e gênero – que verdadeiramente pensa analiticamente sobre as estruturas sociais existentes e insiste em produzir novas. Talvez o anarquismo esteja, nesse sentido, ligado ao poder produtivo.

JH: Você tem algum outro comentário sobre os links entre anarquismo e sexualidade que ainda não expôs?

JB: Apenas um: que cada esforço, psiquiátrico ou legal para regular a sexualidade causa prejuízo e violência, mas também falha desde que a sexualidade pode ser punida, mas enquanto uma pessoa sexuada viver, a sexualidade não pode ser extinta pela lei (preferiria tomar a lei como um objeto a sofrer a morte final).

Notas

[2] HECKERT, Jamie; CLEMINSON, Richard. Anarchism and Sexuality: Ethics, Rela­tionships and Power. Routledge: Nova Iorque, 2011.

[3] “Deve haver um corpo trêmulo perante a lei, um corpo cujo medo possa ser obrigado pela lei, uma lei que produz o corpo trêmulo preparado para suas inscrições”.

[4] Butler, J. “Doing Justice to Someone: Sex Reassignment and Allegories of Transsexu­ality”. GLQ: A Journal of Lesbian and Gay Studies, 7(2):621-6.

* Entrevista publicada em: BUTLER, Judith. SOBRE ANARQUISMO: uma entrevista com Judith Butler. In: Revista de Ciências Sociais, n. 36 – abril de 2012 – pp.19-27.

** Tradução do original em inglês por Loreley Garcia.

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Teoria dos jogos simultâneos à moda brasileira: o ataque do PMDB e o balanço do mundo político criminalizado

29 quinta-feira out 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,

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Análise de conjuntura

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Quem governa com chantagistas acaba sendo chantageado. Cunha empurra e Temer puxa o tapete, dizendo que a reforma ministerial e o enxugamento das pastas geraria “instabilidade na base”.

Por Bruno Lima Rocha.

Fonte:  Anarkismo

A semana anterior a Assembleia da ONU concretiza o que este analista já intuía. As chances reais de impeachment cada vez menores e o poder e a voracidade do PMDB de um lado e os especuladores com rubrica de outro, irão colocar no canto do ringue a ex-desenvolvimentista que governa sem governar. Vejamos uma análise retrospectiva.

O jogo do PMDB, a reforma ministerial e o avanço final para a aliança oligárquica

Após assistir ao programa partidário do PMDB na TV aberta, na noite de 24 de setembro de 2015, o que era sintoma aparentemente fechou meu diagnóstico. A disputa concreta hoje no país é na interna da legenda de Renan, Temer e Cunha e a meta é tomar conta do governo federal. O vice-presidente vai orquestrar a tomada dos ministérios mais relevantes e marcar as eleições municipais do ano que vem. De sua parte, o maior partido de centro-esquerda da América Latina, o PT, está cedendo quase tudo de seu programa já frouxo e lavado e isto para não perder o Poder Executivo. Se o PMDB chega a abandonar o governo é para tomá-lo através de um golpe parlamentar.

Temos de congratular e dar os parabéns aos “estrategistas” de ex-esquerda. Conseguiram recuar tanto que se confundem com o aliado circunstancial e ex-inimigo dos anos ’80.

Eduardo Cunha avança

A anunciada reforma ministerial termina sendo um jogo de cabo de guerra entre o vice-presidente e o presidente da Câmara. De novo repito, é bem-feito para a ex-esquerda. Quem governa com chantagistas acaba sendo chantageado. Cunha empurra e Temer puxa o tapete, dizendo que a reforma ministerial e o enxugamento das pastas geraria “instabilidade na base”. Parece que estamos vendo um teatro encenado, uma ópera bufa protagonizada por canastrões de segunda linha, como o ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan. É como disse – ou teria dito – o conhecido narcotraficante Fernandinho Beira Mar quando lá chegou – em Brasília – para depor na CPI do Narcotráfico: “estou chegando na humildade, vim aqui para aprender”.

Ao invés de escantear o chantagista, como péssimos negociadores e derrotados ideológicos, o Planalto adula o achacador maior, como afirmara o ministro relâmpago da Educação, Cid Gomes.

Inclusive, na última semana veio a público o convite de Dilma Rousseff a Cunha, para que o presidente da Câmara participasse das decisões sobre a reforma ministerial. O mesmo convite teria se estendido a Renan Calheiros e outros nomes que lideram o PMDB na Câmara e no Senado. Cunha, que poderia ser o protagonista da série House of Cards, responde recusando-se a participar do debate, aumentando o desconforto e insegurança do governo petista.

O jogo Político-Criminal. 19ª fase da Operação Lava-Jato e o país das (ex) esquerdas que se auto-iludiram

Simultaneamente a crise política no governo federal, a 19ª fase da Operação Lava-Jato anda de vento em popa, e agora vai atirando para todos os lados. Enquanto isso, pergunta-se: e a Zelotes por onde anda mesmo? Cabe aqui uma brevíssima análise de cenário político-econômico-criminal, digna de operações como a Chacal e a Satiagraha.

Na 19ª fase da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal prende João Augusto Henriques, citado como lobista do PMDB. Denunciado por corrupção pelo Ministério Público Federal, Henriques estaria envolvido no pagamento de propina ao partido, através de contratos firmados com a Petrobrás. Este lobista é a arma apontando para Eduardo Cunha, e mela o jogo pela ala do PMDB apostando em derrubar a mandatária cujo governo seu partido participa com o vice-presidente.

Enquanto isso, já na 2ª fase da Operação Zelotes, a PF cumpre mandatos de busca e apreensão em diversos escritórios de contabilidade no Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul. A Receita divulgou nota explicando que o objetivo das buscas era obter documentos contábeis de algumas das empresas investigadas, para auxiliar as investigações. As investigações da Zelotes ainda ocorrem sob sigilo, para evitar a exposição dos acusados. Ao mesmo tempo, o efeito político do silêncio da Zelotes é terrível, com os alvos saindo isentos de difusão e não pagando com suas reputações como pessoas jurídicas, ainda sendo vistas como ilibadas pela opinião pública.

No momento em que escrevia esta síntese, no ao vivo, o procurador federal e o delegado da PF estavam dando uma coletiva que diretamente orienta a conclusão do ato criminal para a presidente Dilma e/ou Zé Dirceu quando no exercício do cargo da Casa Civil no governo Lula. É interessante observar que o canto da sereia vem pela sirene da Polícia Federal. Eu sempre vibrei com as operações que punem o andar de cima, mas sem cair no engodo de supor que uma postura jacobina possa superar a luta direta, e tampouco confiar na conduta dos operadores policiais como linha de frente de um processo político. Tal seria uma contradição em si, na busca incessante de um Serpico brasileiro. A ex-esquerda anda rebuscando o mito do PCB (me refiro ao partido de linha soviética e prestista) querendo encontrar desesperadamente uma burguesia nacional desenvolvimentista, e depois passaram a buscar um delegado tipo “cavaleiro da esperança”.

Do tenentismo pulamos – pularam – para o jacobinismo da PF. Quem se lembra do fato de que o delegado Protógenes Queiroz (um brasileiro de valor, sem dúvida), andava a tiracolo com a então deputada federal Luciana Genro (PSOL) e depois deu uma banana para a nova legenda e elegeu-se na coligação proporcional pelo PC do B com os votos do Tiririca puxando-o vai entender o que digo.

Digo também que é bem feito para o lulismo, pois em 2003 a PF ia fazer a limpa por dentro, através da CPI do Banestado e com sua nova Lei Orgânica, mas o Planalto com Zé Dirceu e Lula preferira prestigiar os delegados maçanetas de Romeu Tuma e aí tudo virou pó, como nas operações Chacal e na Satiagraha. Agora amargam da infecção para a qual não se vacinaram no decorrer dos primeiros anos de governo. Sendo parte do esquema, em maior ou menor grau, os herdeiros políticos e seguidores do lulismo como pacto de classes de falido têm de bancar o custo político da verossimilhança com os piores adversários de antanho. Para piorar ainda mais, observamos que as resultantes das transações pouco ou nada republicanas investigadas na Lava-Jato seriam:

– Criminalizar as operações da Petrobrás cujo papel do PT seria (é) de novo entrante no jogo das indicações aproveitando-se das possibilidades da carta convite, sem licitação.

– Afundar ainda mais a própria Petrobrás – efeito reverso – assim como as grandes empreiteiras, clientes do Bismarckismo Tropical (terceiro setor na hierarquia econômica, atrás apenas de Bancos e Mídia, à frente do latifúndio).

– Jogar de volta a criminalização sobre o agente econômico (a meu ver correta) e sobre os acordos políticos (que, de forma proposital, a conta recai apenas sobre o PT, midiaticamente tirando o foco dos demais operadores).

– Apresentar linchamento midiático seletivo, pois de mesma envergadura seria a Zelotes ou o escândalo do cartel do metrô de São Paulo (neste caso incluindo boa parte das mesmas pessoas jurídicas).

– Por tabela, jogar gasolina na fogueira política, aumentando o custo da aliança de Temer e Renan, e insuflando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contra o Planalto.

Como observação final vale comentar uma comparação de trajetórias presumidas. Quando prenderam o Zé Dirceu eu disse – e continuo dizendo – que ele não ia abrir nada. Já Antônio Palocci, não sei não.

A última esperança do impeachment e a direita que governa de fato

Como a ação no TSE caiu e a do TCU, mesmo tendo as contas rejeitadas, no balanço das acusações político-criminais, o aparecimento de indícios do Nardes na Operação Zelotes mela o jogo, a última esperança da UDN é derrubar a presidente eleita através de ação no STF. Esta é a continuidade do voto derrotado de Gilmar Mendes no TSE, mas entendo que não passa, a se considerar a derrota do mesmo no julgamento do financiamento empresarial de campanha. Vale lembrar que Gilmar Mendes permaneceu com o processo do financiamento privado de campanha parado por mais de um ano em seu gabinete, impedindo que a decisão da maioria dos ministros (que se mostraram a favor da inconstitucionalidade da proposta) fosse promulgada.

Os riscos de término do mandato são outros e estão no fogo amigo de Temer e Renan ou na possibilidade do Chicago Boy do Bradesco (o ministro da Fazenda Joaquim Levy) pegar o boné e voltar a faturar para si no mercado financeiro. De qualquer forma, perde a UDN, mas perde completamente a população brasileira, pois o governo administra por direita, com a direita e refém da direita.

A virada do jogo, Sérgio Moro para escanteio

Eu já havia falado e sigo afirmando que a última chance possível no curto prazo para a UDN era no TSE. Agora é mais factível o medo do “fogo amigo” do PMDB que é governo do que qualquer outra ameaça. Só anda o impeachment se aparecer um conjunto de gravações como a do caso Arruda e o Mensalão do DEM no governo do DF ou a corrupção pingada através de emissários, como foi o caso que deu origem a CPI dos Correios em 2005.

Nada disso impede que o juiz Moro avance em prisões delicadas, tendo como alvo possível gente como Antônio Palocci, ex-auxiliares de Dilma ou o próprio Lula. No caso, poderíamos assistir a repetição de habeas corpus instantâneos como os que o ministro Gilmar Mendes, então presidente do STF, concedera para Daniel Dantas no auge da Operação Satiagraha. O fato contundente é que o desespero agora abaterá a nova direita, pois a decisão do STF datada de 24 de setembro de 2015 na prática inibe e retira os superpoderes de Sergio Moro como herói dos neolacedistas e autoproclamado candidato a ser (tentar ser ao menos) o Giovanni Falcone brasileiro, embora com mais vocação para Baltasar Garzón nacional.

Apontando conclusões

O país já não vive um risco real de impeachment por direita sendo que o governo já está à direita, tão à direita que é governado pelo PMDB, sofre oposição do PMDB e tem como núcleo duro uma área econômica blindada e a mando dos grandes operadores do cassino especulativo. A nova direita perdeu, a UDN está enredada pelas artimanhas de Cunha e os contragolpes no Judiciário e a ex-esquerda dividindo a base social ainda passível de mobilização entre uma louca posição de apoio crítico a um governo moribundo, mesmo quando convocam a Frente Brasil Popular reeditando os quadros desenvolvimentistas e ainda ilibados do partido comandado por Lula.

E viva a democracia indireta faturada pelo mercado financeiro.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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O consenso fabricado no Brasil: a ausência de contraditório na cobertura da política econômica nacional

29 quinta-feira out 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Economia

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Análise de conjuntura, economia, economia política

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A nota do Brasil baixara de BBB- para BB+, o que na prática implica em aumentar o custo do investimento de capital volátil no país. Obviamente a ausência de contraditório em rede aberta foi quase inexistente ou simplesmente nula.

Por Bruno Lima Rocha*

Fonte: Anarkismo

É consenso nos defensores da teoria crítica e pesquisadores da Economia Política da Comunicação (EPC) a compreensão de que as grandes corporações midiáticas, além de operarem como agentes econômicos, também são verdadeiros partidos políticos além de produtores de sentido e ideologia no intuito de reproduzir ideias-pensáveis, como afirma o Modelo de Propaganda de Noam Chomsky e Edward Herman.

Em algumas editorias e temas considerados estratégicos para os controladores de meios e seus pares, a cobertura além de ser seletiva, é cifrada. Quando se trata da pauta de economia e especificamente na política econômica, os governos de turno, quando optam pela via monetarista e neoliberal clássica, costumam ser blindados ou ao menos, terem os conceitos-chave preservados. No cenário político brasileiro, a simples presença de professores de economia de linha desenvolvimentista de mais diversos matizes é mínima ou simplesmente inexiste neste tipo de debate.

A fabricação do consentimento está se dando quando a maioria dos brasileiros escolhera um modelo de desenvolvimento no segundo turno das eleições presidenciais de 2014 e assiste ao governo de Dilma em seu segundo mandato a escolher a inflexão à direita comandada por um Chicago Boy (Joaquim Levy, atual ministro da Fazenda e que defendera tese de doutorado pela Universidade de Chicago, ciências econômicas, em 1993) e ex-funcionário do FMI. Tal opção, que frauda a escolha feita na urna, é reforçada pela ideia transmitida pela mídia hegemônica de que não há alternativa para além da política econômica de redução de gastos públicos, elevação do preço do dólar, diminuição da circulação de bens e serviços, congelamento salarial e, obviamente, pouco ou nada se fala quanto a taxa de juros básica (Selic, batendo 14,25% em média) e os R$ 35 bilhões que a União terá de pagar apenas de juros da dívida pública interna no ano fiscal de 2015.

Neste breve texto, damos uma mostra evidente de como a ausência de contraditório inibe ou mesmo impede o debate aberto, para além do círculo de especialistas ou grupos engajados.

O rebaixamento da nota brasileira pela S&P

No dia 09 de setembro de 2015 a agência de rating Standard & Poor’s (S&P) rebaixou o grau de investimento do Brasil. A nota baixara de BBB- para BB+, o que na prática implica em aumentar o custo do investimento de capital volátil no país, uma vez que a leitura dos operadores de mercado é de que quanto maior for o “risco”, mais vantajosas deverão ser as remunerações para a entrada deste capital. No jogo do Sistema Internacional isto equivale a um sofisticado e contratual mecanismo de chantagem a favor dos agiotas.

Obviamente a ausência de contraditório em rede aberta foi quase inexistente ou simplesmente nula. Observando com atenção a cobertura da política econômica promovida pelo portal G1 (em ampla nota de 09 de setembro de 2015, com o título “Standard & Poor’s tira grau de investimento do Brasil”, matéria assinada) e complementada por vídeos de comentaristas e notas televisivas da Globonews, o contraditório foi relativizado e sem o impacto necessário. Uma forma básica de gerar o debate e abrir a possibilidade de que o público receptor percebesse o que implica esta nota, seria uma simples narrativa factual da história recente (última década ou década e meia) desta mesma empresa.

Infelizmente, a lacuna de informação é proporcional à concentração dos meios de comunicação. Pouco ou nada se leu a respeito das manobras desta empresa de “análise” em 2008, dando dera nota máxima para o banco de investimentos Lehman e logo depois – na mesma manhã da falência a S & P ainda dava nota AA (a segunda maior) vendo o banco quebrar. Na cobertura econômica há um consenso fabricado em torno do reforço de uma mesma opinião com nuances de variação. O objeto deste artigo de análise começa na cobertura da Globonews, e vale citar que a própria não fez sequer uma checagem no que o portal G1 publicara a este respeito.

Mesmo sem aprofundar, o G1 dera a nota em 03 de fevereiro de 2015, afirmando que a S&P terá de pagar uma multa de US$ 1,37 bilhões de dólares por seu papel durante a “crise de 2008”. Obviamente a nota não explica que papel foi esse e quem fabricara a crise da bolha imobiliária, e menos ainda quais são os grupos de investidores que mais faturaram – e ainda faturam – com a mesma. Mesmo assim, bastaria esta citação para que a audiência abrisse uma posição de desconfiança diante do enunciado com a S&P no lide, atuando como Quem, o agente da ação.

A nota completa da S&P apresenta uma ode ao superávit primário, a ficção contábil que legalmente justifica o espólio rentista:

“A proposta orçamentária de 2016, apresentada em 31 de agosto, incorporava ainda outra revisão das metas fiscais do governo em um curto período de tempo. O orçamento proposto tem como base um deficit primário de 0,3% do PIB, ante a meta de superávit anteriormente apresentada de 0,7% do PIB, anunciada em julho. Esta mudança reflete os desacordos internos acerca da composição e da magnitude das medidas necessárias para reparar o deslize nas finanças públicas”.

O agendamento fortalece a inflexão neoliberal

Impressiona a sequência lógica dos fatos quando em 14 de setembro o ministro da Fazenda Joaquim Levy e o do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciam o pacote de ajuste, visando economia direta (corte de gastos) de R$ 26 bilhões de reais e a previsão de aumento de ingresso. A meta é garantir a “economia” através de ficção contábil para bater meta de superávit, assegurando o pagamento dos juros de rentistas, banqueiros e especuladores.

Em ritmo avassalador, o governo de Dilma Rousseff termina por aceitar a maioria das teses do adversário derrotado e termina por demonizar o primeiro mandato e a gestão de Guido Mantega à frente da Fazenda neste período. Não por acaso, as pressões midiáticas só aumentam, assim como desaparecem vozes dissonantes, ainda que dentro dos defensores de uma economia de tipo capitalista embora no rumo do desenvolvimento. Obviamente também que ao anunciar que o país “tem de economizar R$ 35 bilhões de reais para pagar em juros da dívida pública em 2016” e ao defender ardorosamente o enxugamento da máquina pública esta mesma cobertura já aqui citada nunca lembra o fato da maior despesa corrente líquida do país ser com os gastos de juros e rolagem da dívida interna. Este volume atingiu 45% em 2015 dentro do orçamento executado e deve bater meta igual ou semelhante quando fecharem as contas do orçamento da União em 2015.

A conta é simples e deve ser feita de modo direto. O orçamento anual da União equivale a cerca de 40 a 42% do PIB brasileiro. Ou seja, de cada 10 reais circulando no país, R$ 4,20 passam pelo orçamento federal. E, de cada 10 reais gastos pela mesma União, R$ 4,20 vão para o bolso de agiotas, especuladores e banqueiros. É preciso ir além para ultrapassar a cortina de fumaça. A lista de credores do Estado brasileiro é esta: 1) Bancos nacionais e estrangeiros, 47,24%; 2) Fundos de Investimentos, 17,77%; 3) Investidores estrangeiros, 11,32%; 4) Fundos de Pensão, 12,84%; 5) Seguradoras, 3,13%; 6) Fundos administrados pelo governo, 4,58%; e, 7) Outros, 2,12%. (Alerta Total, 02/04/2015, artigo do economista Hélio Duque).

Não por acaso, as duas instituições que mais faturam com a rolagem da dívida são os dois maiores bancos privados do Brasil, Itaú e Bradesco. Será tudo coincidência? Será tudo tão óbvio que o mero enunciado de dados concretos e fatos inequívocos e irrefutáveis faz com que o anúncio do rebaixamento da nota e a “defesa dos fundamentos da economia” venham a parecer uma farsa evidente? Fico com a segunda hipótese.

* Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
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[França] Contra a COP21: Chamada internacional!

27 terça-feira out 2015

Posted by litatah in Agroecologia, Anarco Primitivismo, Anarquia, Anarquia Verde, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Bandeiras de Luta, Ecofeminismo, Ecologia, Imaginário e Plano Simbólico, Libertação animal, pós-capitalismo, Permacultura, Publicidade, Racismo, Racismo ambiental, Squats e Okupas, ZAD- Zonas a Defender

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franca-contra-a-cop21-chamada-internacional-1

Fonte: A.N.A.

De 28 de novembro a 12 de dezembro vamos nos mobilizar em Paris contra a COP21 [Conferência das Partes].

195 chefes de estado e um número incalculável de diretores de grandes empresas vão se reunir para decidir medidas inúteis que pretendem reduzir as emissões de gases do efeito estufa. De fato, trata-se de decidir qual é a quantidade de “contaminação razoável” que as empresas poderão emitir na atmosfera. As novas quotas de CO2 são só outra fórmula que os países ricos encontraram para conceder-se o direito de contaminar impunemente. Nós não vamos deixar que aqueles que são os únicos responsáveis do aquecimento global e da mercantilização dos seres vivos desfrutem tranquilamente de sua enésima farsa!

A única solução para resolver este problema é o fim do sistema capitalista e produtivista, não uma cúpula em uma zona militarizada. Que todos aqueles e aquelas que não podem mais com este sistema mortífero da Europa e do mundo se reúnam em Paris contra a COP21!

Vão acontecer numerosas manifestações e encontros durante a conferência. Venham com vossas propostas e vossa vontade para criar juntos outras formas de vida em comum longe dos ditames econômicos.

Estão previstos locais de alojamento e de acolhida assim como as seguintes ações:

• Sábado, 28 de novembro: Encontro dos comboios da ZAD em Paris.

• Domingo, 29 de novembro: Manifestação.

• De 29 de novembro a 12 de dezembro: Diversas jornadas de ação.

• Sábado, 12 de dezembro: Encerramento e jornada de ação.

Assembleia parisiense contra a COP21

COP21@riseup.net

Facebook: Anticop21

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/09/24/canada-mudancas-climaticas-tem-muito-mais-a-ver-com-capitalismo-do-que-com-carbono/

agência de notícias anarquistas-ana

Bisneto a caminho.
As mãos trêmulas tricotam
Luvinhas de lã.

Silvia Maria Svereda

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O ataque dos agiotas e a tesoura dos neoliberais

21 quarta-feira out 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Aparelhos de reprodução ideológica, Comunicação, Comunicação Libertária, Democratização da comunicação, Economia, Esquerda partidária, Mídia Contra Hegemônica, Mídia Hegemônica

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colapso economico, Cunha, Dilma, economia, economia política, Folha de São Paulo, Levy, mídia, Mídia contra hegemônica, Mídia Hegemônica

A pedestrian passes in front of Standard & Poor's headquarters in New York, U.S., on Tuesday, Feb. 5, 2013. The U.S. is seeking as much as $5 billion in penalties from McGraw-Hill Cos. and its Standard & Poor's unit to punish it for inflated credit ratings that Attorney General Eric Holder said were central to the worst financial crisis since the Great Depression. Photographer: Scott Eells/Bloomberg via Getty Images

Um pedestre passa em frente da sede da Standard & Poor, em Nova York, EUA, na terça-feira, 5 de fevereiro de 2013. Os EUA estão buscando até US $ 5 bilhões em sanções de McGraw-Hill Cos. E da sua unidade da Standard & Poor para punir -lo para as notações de crédito inflacionados que o procurador-geral Eric Holder disse que foram fundamentais para a pior crise financeira desde a Grande Depressão. Fotógrafo: Scott Eells / Bloomberg via Getty Imagem

Fonte: Anarkismo

Por Bruno Lima Rocha.

Enquanto o pensamento à esquerda estiver sob a hegemonia do pacto lulista seremos reféns da traição sistemática, com ou sem ‘apoio crítico’ e as bravatas de sempre”, alerta Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais.

Introdução: as medidas recessivas da equipe econômica do Planalto

As medidas anunciadas pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) anunciam a tesoura geral no Planalto para assegurar a maldita meta de superávit (desejáveis 0.7% para 2016) e o vergonhoso e imoral volume de R$ 35 bilhões de reais de juros para o espólio da rolagem da dívida interna. Não contentes em cortar R$ 26 bilhões de um orçamento apertado, cujo montante alocado para os gastos com o espólio rentista equivalem a cerca de 40% a 45% do orçamento da União, na tarde de 14 de setembro de 2014, a pauta bomba circulando no Congresso configurava óbvia ameaça de impeachment. A disputa por facções de poder por vezes se mostram irrelevantes do ponto de vista ideológico. Para que impeachment se a direita já governa? Bem, talvez para assegurar a rendição total, o que inclui o retorno ao modelo de concessões do Pré-Sal e a posterior venda da Petrobrás.

Este parece um mundo apartado das tabelas de finanças da equipe econômica que está realizando as políticas da chapa que fora derrotada em 2014. Quando começa a falar o Chicago Boy do Bradesco, temos uma pequena viagem no tempo, um pesadelo neoliberal que recorda o mesmo tom de voz e as piadas sem graça de Pedro Malan. Definitivamente, essa gente sai de uma fábrica de lobotomia monetarista e nos governa de fato através dos mecanismos de controle mais vis.

O ataque dos agiotas e chantagistas internacionais

Nosso pesadelo societário no tempo presente começa na manhã de 09 de setembro, quando a mídia eletrônica brasileira anunciava a catástrofe advinda com a nota atribuída por uma agência de rating. Obviamente que nenhum lide de um mísero jornal brasileiro estampou em sua capa ou tela, e menos ainda em escalada de telejornal ou chamada de síntese radiofônica a vida pregressa desta mesma empresa. Bastava retornar no tempo, para o ano de 2008 e a reputação dos emissores da nota cairia por terra.

Em debates no espaço público virtual, tive a felicidade de receber o seguinte comentário de Miguel Gouveia, um consultor financeiro profissional radicado no Rio de Janeiro e conhecedor do mundo concreto dos mercados. Me disse Miguel:

“Um downgrading (rebaixamento da nota) dessas agencias, hoje muito questionadas devido a manipulação de ratings em 2008 pela qual foram TODAS condenadas a multas milionárias, implica no aumento do custo de dinheiro externo. Isto significa que o país não é bom devedor e portanto os bancos vão aumentar juros e riscos para emprestar dinheiro por aqui, e é a esses bancos que essas agencias servem. Isso (a nota) é muito importante para países como Grécia e Indonésia, etc. que precisam pedir dinheiro emprestado e devem ao FMI, por exemplo. Já o Brasil está com um nível muito alto de reservas, é credor do FMI (empresta dinheiro ao Fundo) e as grandes empresas tem lastro para seus empréstimos internacionais e nenhum banco está cobrando nenhuma delas. O Brasil é o 3° credor em títulos dos EUA, 7ª economia do mundo e temos mais de US$450 bilhões de dólares de reservas. Para o brasil, significa economicamente nada de coisa alguma ter uma agencia como a S&P rebaixar ou elevar qualquer rating”

Eu agrego que os impactos são de ordem política e de confiança, como numa espécie de profecia auto-realizada. Especificamente a agência de “análise” de risco Standard & Poor’s (S&P), tão festejada pela mídia aberta brasileira, foi condenada pelas autoridades dos EUA a pagar uma multa de Usd 1,37 bilhão de dólares pelas fraudes cometidas na chamada crise da bolha imobiliária e falência de bancos de investimentos. A saber, no maior escândalo destes analistas, a agência classificou como triplo a (AAA) ao falimentar banco Lehman Brothers meses antes da quebra. E, até a manhã da falência do Lehman (em setembro de 2008), recebia a nota A. Outro escândalo se deu com a “avaliação” da empresa de energia Enron, que recebeu grau de investimento até cinco dias antes de sua quebra, em dezembro de 2001. O caso da Enron formaliza o primeiro grande escândalo do século XXI e é magistralmente registrado no documentário “The smartest guys in the room” (Enron: os caras mais espertos da sala, 2005, dirigido por Alex Gibney).

A fraude da Enron envolve todas as pontas do negócio de venda de ações e apreciação de valor de algo que perdera seu lastro. Na jogada estavam os altos executivos desta empresa de energia, pois maquiavam balanços através da criação de empresas fantasmas em paraísos fiscais (como Bahamas e Cayman), onde supostamente estas empresas inexistentes comparavam ações da Enron. Com o lucro no azul, estes mesmos executivos aumentavam seus bônus por “produtividade”. As empresas de auditoria Arthur Andersen, Price Waterhouse e KPMG abalizavam as operações, afirmando que tudo ia bem. Já a mega corretora Merril Lynch, fez uma operação e compra e venda de investimentos da Enron na Nigéria e com isso movimentou as ações da empresa quase falida, inflando o valor de suas ações. E, para fechar o esquema, a S&P deu grau de investimento para a picaretagem empresarial promovida pelos “espertalhões” que comandavam a Enron. Resultado: uma falência fraudulenta, mais de cinco mil demitidos e outros vinte mil empregados quebraram juntos, pois foram incentivados a comprar ações da própria empresa.

Ao observarmos ambos os casos, e ao constatarmos o absurdo da rebaixa da nota brasileira em 09 de setembro de 2015, nos damos conta de que o país está sob um forte ataque especulativo. O Brasil perdeu, literalmente, o grau de investimento atribuído pela S&P – que em conjunto com a agência Moody’s e a Fitch, detêm 70% deste “mercado” de avalistas – sendo rebaixado de BBB- para BB+. Além do governo central e o seu orçamento, também foram rebaixados mais de quarenta empresas brasileiras, a começar pela Petrobrás, um dos alvos permanentes de cobiça internacional.

O país é alvo dos ataques internacionais – de ordem especulativa – e das direitas político-ideológica-financeiras, dentro e fora tanto do governo de turno (o do 3º turno, o real e concreto), como com e sem legenda, a exemplo da manada de entreguistas a sair às ruas em nome de um moralismo lacerdista. É óbvio que a meta de curto prazo é a reversão da melhora material das condições de vida – promovidas pelo pacto conservador e policlassista do lulismo – e uma inflexão na política econômica para assegurar os ganhos das hienas sedentas do mundo financeiro e, se possível, não avançar na quebradeira das indústrias aqui instaladas.

A rendição total é a meta permanente

A conta do orçamento não fecha, o governo quer bater meta de superávit primário e o Chicago Boy do Bradesco anuncia tentar atingir os 0,7%. Na manhã de 2ª, 14 de setembro, até o telejornal matutino Bom Dia Brasil (da Globo) reconheceu a necessidade de corte em função de R$ 35 bilhões necessários para pagar os juros da dívida pública! Como sempre, o óbvio entra como factual secundário, invertendo a causalidade. Manipulação de quinta categoria, pois é uma obviedade que evidencia a roubalheira rentista. A taxa de juros está estável, dizem eles. Sim, na última reunião do Copom não aumentaram os juros, e estes batem 14,25% ao mês como base da Selic! Depois obviamente algum gênio das finanças reclama que não temos poupança interna e os volumes de retirada da poupança batem tristes recordes, um depois do outro. Basta verificar o quanto rende o CDB e quanto rende a poupança!

E agora já se anuncia a profecia da família Frias quando em editorial, de 13 de setembro, o Grupo Folha da Manhã recorda seus tempos de colaboradora da ditadura militar e edita a versão pós-moderna do Fora! e Basta!. A Folha anuncia: “A última chance”, dando um ultimato para a presidente eleita, só altando ameaçar alguma Operação Brother Sam para reforçar seu ponto de vista. No dia seguinte, o Planalto de joelhos, cede a pressão dos agiotas externos e dos senhores de engenho e café daqui. Anunciam o congelamento ou cortes no Pronatec, FIES, ProUni, Minha Casa Minha Vida. O “enxugamento” será progressivo até atingirem o Bolsa Família, em período não muito distante daqui. Enquanto isso, a recessão maluca e a inflação de preços administrados retroalimentada pela alta do dólar (influenciada por compras sem fim por parte do Banco Central) eleva os custos da indústria brasileira e a previsão de demissões na construção civil é de 500 mil para este ano. Parabéns aos monetaristas e neoliberais de sempre. Perderam nas urnas mas levaram o Planalto de brinde!

E a esquerda onde está?

A Folha colocou a faca na garganta da ex-desenvolvimentista e o resultado foi uma vergonhosa inflexão monetarista cuja conta política será cobrada pelos chantagistas capitaneados por Eduardo Cunha (PMDB-RJ, Assembleia de Deus e intermediário de grandes capitais conforme verificado nos seus apoiadores diretos de campanha) e a conta social vai fazer com que tenhamos a sensação de estar no início do segundo governo FHC. Se isto não é estelionato eleitoral então a tal da democracia indireta perde direto para a tal da governabilidade.

Definitivamente não foi por falta de aviso, mas isso de nada adianta. Enquanto o pensamento à esquerda estiver sob a hegemonia do pacto lulista seremos reféns da traição sistemática, com ou sem “apoio crítico” e as bravatas de sempre. Ou viramos a mesa como em abril, maio e junho de 2013 ou vamos passar quatro anos assistindo o pior da politicagem associada ao pior do monetarismo.

A fragilidade do Brasil – mesmo dentro da selvageria do Sistema Internacional sob o modo de produção capitalista não é de ordem estrutural, mas ideológica. As elites dirigentes tem cabeça de bastardos, odeiam a si e a todos nós, materializando o conceito do complexo de vira-latas. Como dizia o Barão de Itararé, “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo!”.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

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A NECESSIDADE DA ORGANIZAÇÃO E A CRÍTICA AO “ANARCOFOFISMO”

19 segunda-feira out 2015

Posted by litatah in #resisteIzidora, AIT, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia Verde, anarquismo no Brasil, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Bandeiras de Luta, Black Block, CAB, CNT-FAI, Coletivo Libertário Évora, Comunicação, Comunicação Libertária, direitos, Direitos LGBT, Educação Libertária, Experiências anarquistas, Funk, GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, Imaginário e Plano Simbólico, Makhnovistas, Manifestações, Militarização das periferias, Mobilização Indígena, Mobilização Quilombola, Moradia, Municipalismo Libertário, Organização de base, Organizações Anarquistas, Plataforma, Prática, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Sem categoria, Teoria

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Fonte: Coletivo Libertário Évora

 

“E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar
Da lama ao caos, Nação Zumbi.

Todos conhecem a máxima “anarquia é ordem”, mas nem todos os anarquistas se propõem a vivenciá-la. Uma necessidade básica de sobrevivência e resistência é a organização; foi a partir da tentativa de auxiliarem-se mutuamente que surgiram os primeiros agrupamentos humanos; é pela organização que os animais evoluíram, e foi visando a organização que se desenvolveram as trade-unions e sindicatos.

A organização no anarquismo é essencial. A luta contra o capitalismo, o Estado e todas as formas de opressão exige uma organização. Não falo da formação de um “exército anarquista”, uma estrutura hierarquizada, autoritária; estas características mantém as ferrugens das engrenagens sociais atuais, e é justamente nestes pontos que a organização anarquista se difere.

Utilizando-se da ferramenta de análise histórica, a dialética, podemos chegar a conclusão de que o extremo oposto à democracia burguesa, o Estado, e ao capitalismo é a anarquia. O caos, em nossa concepção, é a atual condição da sociedade, pautada em um gerenciamento autoritário, hierarquizado (sempre privilegiando o “topo da pirâmide”), individualismo, consumismo extremado e alienação das faculdades humanas pelos pilares Estado/capital.

Concebendo a ordem social fundamentada em uma abstração antihumana (o Estado), e um sistema econômico que sobrevive das desigualdades sociais, uma organização anarquista vem a ser gerida de forma oposta à esta.

A arbitrariedade das obrigações advindas de cima para baixo, a autoridade, o poder do homem sobre o homem, uma vez negadas pela prática, desenvolve uma arranjo antiautoritário; esta por sua vez sobrevive de acordo com a consciência de cada indivíduo partícipe do processo de composição deste sistema, assumindo para si a responsabilidade do autogoverno. Este autogoverno de indivíduos-coletivos, negará também a disciplina imposta, coercitiva. Existirá sim, pela autodisciplina, a percepção da função do indivíduo dentro da sociedade e sua importância para o pleno desenvolvimento desta. Não é preciso Reis, Presidente ou deuses ordenando as necessidades da organização. Os indivíduos pertencentes, por eles mesmos, gerenciarão suas próprias forças e decidirão de forma horizontal a melhor forma de utilizá-la.

Também o individualismo é substituído pelo coletivismo/coletividade. Novamente, não falamos em homens e mulheres alinhados em fila, repetindo as mesmas palavras, industrialmente organizados. O que é tratado é uma substituição das formas de relacionamento humano, antes baseados no eu, na competição desumana, alternada para uma configuração de respeito e cooperação mútua. Não negamos obviamente a individualidade do ser humano, suas capacidades e desejos particulares, porém pautados nos pressupostos acima mencionados.

O combate incessante ao Estado e a economia atual. Lutar contra o Estado, sem pautar o anticapitalismo, ou lutar contra o capitalismo e preservar a estrutura do Estado, é ultraliberalismo ou socialismo autoritário. Ambos não são anarquistas.

A batalha contra o Estado é a luta contra a estrutura burguesa, que privilegia a classe dominante (em quaisquer sistemas sociais onde este exista), que usurpa as características humanas amarrando todos os indivíduos sob sua tutela e autoridade, esmagando tudo o que se opõe à máquina estatal com a violência de seu corpo repressivo, as falácias de seus sistemas de comunicação e as ilusões do voto.

Lutar contra o capitalismo é lutar contra as desigualdades sociais; contra a má distribuição das riquezas, contra a propriedade privada, contra as meritocracias, e todas as formas de opressão fortalecidas por este sistema econômico: O machismo, o racismo, a homofobia, e as estruturas de governo que são lançadas como última alternativa de manutenção do capital, como o nazismo e o fascismo.

Derrubar o Estado é derrubar o capital. Derrubar o capital é derrubar o Estado. Ambos são faces da mesma moeda, e preservar um ou outro, preservará também as injustiças sociais.

Uma organização que carregue em si estas lutas, possui o anarquismo como norte teórico e prático.

Desta forma, uma organização anarquista tende a ser antiautoritária, anti hierárquica, anticapitalista, anti estatal, autogovernada, cooperativa, respeitando as possibilidades e capacidades individuais, colaborando com as demais lutas libertárias no mundo.

Obviamente o texto não se encerra em si, e longe de ser uma fórmula definitiva para a autonomia dos movimentos anarquistas, múltiplos por si só em táticas e teorias, é antes um apelo aos que já se reivindicam anarquistas, a virem compor grupos ácratas já organizados, e caso na localidade não haja um grupo, que seja fundado. A urgência deste posicionamento é uma necessidade desde muitos séculos, e que no Brasil foi gritante no forjar das barricadas de junho de 2013.

Resistir e combater as  opressões é hoje questão de sobrevivência da humanidade, e este combate não se dará da noite para o dia, e muito menos de forma espontânea entre os povos. Creio particularmente que uma das finalidades da militância anarquista seja a de auxiliar indivíduos da sociedade atual a perceberem as amarras que cerceiam sua liberdade, e impedem o seu desenvolvimento, e além disso, resistir à elas.

O convite perdura, para os que já reconheceram as injustiças sociais e concebem os males que o Estado e o Capitalismo são por si só, para que participem ativamente da construção de órgãos anarquistas.

UMA CRÍTICA AO “ANARCOFOFISMO”

Muitos se declaram anarquistas, e negam a necessidade da organização. É este o anarquismo hiper abstracionista, que considera um pecado mortal até estudar a teoria libertária, pois esta cerceia a liberdade de pensamento, ou que dogmatiza o anarquismo, e que este significa liberdade total e absoluta (desconsiderando outras questões arraigadas à temática, como autodisciplina e respeito mútuo). Sectaristas, veem a luta anarquista como uma forma de autoritarismo contra a burguesia, umanarcofascismo. A inércia política é uma característica forte deste “anarquismo”; isto é, quando os seus idealizadores se declaram anarquistas, pois alguns creem que estas definições limitam o anarquismo. Autodissolvem-se em uma micro fração cujo vegetismo social é apropriado de bom grado pelos opressores. Que governo não deseja um anarquismo assim? Não combativo, não organizado, repartido em si mesmo, abstrato? Se comparado às lutas laborais de meados do século XIX e início do século XX, ou mesmo as recentes insurreições populares em todo o globo, este “anarcofofismo” não passa de uma piada de mau gosto. Assim alertamos aos companheiros sobre este discurso cancerígeno, aquoso, deturpador da realidade e inebriante, assim como as artimanhas sociais para manter o status quo coletivo, e declaramos que é algo a ser revisto, caso desejemos construir com nossas próprias forças uma sociedade livre, em igualdade, cooperação e horizontalidade.

Anarquismo é ordem.

Anarquismo é luta.

Edgar Rodrigues (pseudónimo) – GEAPI

aqui: http://anarquistas-pi.blogspot.pt/2014/03/a-necessidade-da-organizacao.html

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[Grécia] “É preciso muito trabalho”

07 quarta-feira out 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Fascismo, Comunicação, Comunicação Libertária, Ditadura, Grécia, Internacional anarquista, pós-capitalismo

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anarquismo na grécia, eleições na grécia, grécia

grecia-e-preciso-muito-trabalho-1

Fonte: A.N.A.

O comentário a seguir foi escrito por uma pessoa que participou de um debate aberto no Atenas Indymedia sobre as próximas eleições. O comentário foi publicado na página da web. No mesmo debate outro comentário que publicamos no nosso post foi “censurado” e transferido para a seção de comentários ocultos. O editor do comentário começa o texto em resposta a outro comentário que indicou que é necessário muito trabalho pelos anarquistas.

E não faz falta não só muito trabalho, mas também muito tempo de trabalho.  De trabalho individual e coletivo, de trabalho sistemático, persistente e difícil. Com consequência, continuidade e compromisso. Em geral, devido à idade média baixa no “espaço” (anarquista), no ambiente de processos coletivos prevalece uma noção distorcida do tempo. Se sente que, por causa da juventude, a maioria desses e dessas jovens tem uma noção completamente pessoal de como flui o tempo político em todas as conjunturas. Às vezes o concebem altamente condensado (por exemplo, em dezembro de 2008) e às vezes (principalmente) distendido…

Não acho que muitos estão dispostos a sair de campo, apesar das vaias que estão recebendo e receberão das quadrilhazinhas de aformalistas. Nas festas, concertos e outros eventos “auto-organizados” aparecem milhares de pessoas. Infelizmente, o nível médio de formação em nível de uma visão de mundo e consciência política e de classe no “espaço” chega pouco depois da dupla acab-antifa… E este é o maior problema: se queremos formar de maneira antihierárquica um movimento libertário consciente e eficiente, composto de coletividades políticas organizadas, com raízes sociais e ações destinadas a sujeitos políticos, temos que dedicar muito trabalho e muito tempo individual e coletivo para ver alguns mínimos resultados encorajadores 2-3 anos depois.

Em geral, nos processos do “espaço” (anarquista) prevalecem essas besteiras antidialéticas bem conhecidas, como a linguagem poético-sentimental e os intermináveis processos aformalistas. Portanto, uma grande parte dos participantes nos processos do “espaço” (assembleias e ações) não constroem consciências fortes (de classe e políticas), mas prevalece uma sopa fria de integração emocional. E quando termina a juventude e os sentimentos de raiva estão esgotados, 80-90% deles vão para casa para ouvir sua musiquinha e depois de 1-2 “ensaios” são alinhados frente às urnas para votar em qualquer detrito político da socialdemocracia neoliberal ou do bolchevismo quebrado faz várias décadas.

Lembro-me que desde 1984-1985 passaram milhares de turistas e turistas pelo “espaço”, a grande maioria deles estão agora em casa e fazem comentários engraçados no Facebook e outros meios de comunicação “sociais”. Poucos e poucas que permaneceram envolvidos e lutam após seus 30-35 anos pela anarquia. Deixando de lado o fato de que uma grande parte deles pertence à pequena burguesia e que eles não pertencem (e nunca pertenceram) as classes sociais inferiores e oprimidas. Assim, tão somente seus interesses de classe, combinados com os baixos níveis de suas consciências políticas, levou-os racionalmente onde estão hoje, e estes são os fatores que lhes fizeram reproduzir a dominação burguesa. A mesma “gangrena” continua até hoje.

E para voltar ao assunto do debate, vem o “ansioso” que tem pressa e quer tudo “aqui e agora” (usando os lemas do populista Papandreou, primeiro-ministro nos anos 80 e 90) e pergunta (forma supostamente bem intencionada…) o que vamos fazer agora que Lafazanis fundou o partido do dracma socialdemocrata. O que você gostaria de fazer? Votar no cadáver político batizado de “Unidade Popular”? Nem mortos… Tirar os “insurrectos” de nossos chapéus mágicos e encher as ruas? A morte e o derrotismo prevalecem desde que o Syriza conseguiu capitalizar politicamente nas urnas a ação social radical de 2010-2012 nas ruas.

Devemos construir um movimento pela via rápida (fast track)? Com quem aliar-nos para obtê-lo em tempo determinado? Com os que apoiaram nas eleições passadas o Syriza, sustentando que o movimento está ganhando melhores posições de reivindicação com o “primeiro governo de esquerda”, ou na companhia daqueles que dominaram o chamado processo de democracia direta no referendo governamental, só para votar e apoiar o “não”? Ou talvez devêssemos ir lado a lado com o neo-bolcheviques “libertários” gritando slogans gritados pelos comunistas na guerra civil? Você já viu qualquer análise séria e uma autocrítica sobre as avaliações e ações de política erradas de todos os mencionados acima? Há qualquer esforço, ainda que mínimo, na construção de uma política coletiva de avaliação das opções políticas e seus resultados? O que vejo, ouço e leio até hoje são apenas arrogâncias e textos sem sentido…

Aqui qualquer aventureiro amargurado coloca uma “A” circulado na frente de cada invenção ideológica sua, e as coletividades políticas do movimento libertário no território do Estado grego, sem esclarecer de maneira coletiva e federal o entorno de sua existência, ou seja, em que conjuntura econômica, política e social estão vivendo e lutando, e sem lidar com os eixos fundamentais da visão do mundo e da formação do movimento (o termo alternativo que está na moda são “propostas”) inconsciente e pacientemente aguardam o “erro” nas táticas da Soberania, após a qual as classes inferiores oprimidas sairão às ruas para expressar raiva. E então sairemos também para as ruas como ratos para enxertá-los com a combatividade insurrecionaria e aformalista, para que os persuadamos e se realize o imaginário ataque ao Parlamento, para que com isso se destrua o “existente”.

O Cristianismo, nas primeiras décadas da sua história como uma religião, estava muito mais próximo da realidade (da época)…

E como eu escrevi muitas coisas, eu vou fazer um resumo:

1. Os que participam no mercado agropecuário das eleições, lançando seu voto às urnas, estão por excelência fora do movimento anarquista. Ponto. Eles podem chamar-se de “autônomos”, “auto-organizados”, “individualidades rebeldes” e tudo o que lhes passa na cabeça, menos anarquistas. Sabemos dos discursos de Durruti sobre as eleições em 1936. Que não se repitam, tratando de identificar, de uma maneira antidialética e antihistórica, o passado histórico da Espanha antes da revolução com o presente na Grécia.

2. A propagar a massiva abstenção, a nível nacional, no âmbito do movimento e sobre tudo no âmbito político. Se possível, um pôster comum, decidido por todos e “construído” sobre as decisões de um evento de dois dias entre as coletividades anarquistas. Um cartaz vermelho e preto colado em dezenas de milhares de paredes em toda a Grécia, antes e depois das eleições, mesmo que o rasguem e mesmo que o colem sobre os resíduos eleitorais.

3. Ações coletivas de caráter social, distribuindo textos em cada cidade, em cada vila e em geral onde existam coletivos libertários para fazê-los. Ações de intervenção social que venha a desenraizar a “lógica” da delegação. Já, depois da experiência coletiva e social da gestão política do terceiro memorando pela torpe socialdemocracia neoliberal, há muitos argumentos para fazer nosso discurso convincente. Para destacar a tríplice resistência-autogestão-solidariedade como o único rival realista da escolha da opção de delegação “facilmente digerível” das urnas.

Organização e luta pelo comunismo e a anarquia

O texto em grego:

https://athens.indymedia.org/post/1548088/

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/hace-falta-muchisimo-trabajo/

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/09/15/grecia-um-breve-comentario-sobre-o-aformalismo-e-suas-taticas/

agência de notícias anarquistas-ana

Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho

Matsuo Bashô

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A insurreição invisível: uma interpretação anti-governista da rebelião de 2013/14 no Brasil[1]

02 sexta-feira out 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Bandeiras de Luta, Black Block, Camila Jourdan, Contra barragens, Decrescimento, Ecofeminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Gentrificação, Greve, Guerra às Drogas, Jornadas de Junho, Libertação animal, Manifestações, Mártires da Luta, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Moradia, Organização de base, pós-capitalismo, Periferias e Favelas, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Prática, Presos Políticos, Presos políticos, Rafael Braga, Remoções, Repressão, Teoria, Todo Apoio aos 23, Violência, ZAD- Zonas a Defender

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Fonte: Núcleo de Estudos do Poder

Por Wallace dos Santos de Moraes, Camila Rodrigues Jourdan e Andrey Cordeiro Ferreira

Apresentamos aqui um texto escrito em resposta ao texto de André SINGER, publicado com o título   Rebellion in Brazil, na revista New Left Review (2014, vol.85, pp 19-37). O texto formula uma crítica do modo como as ciências sociais brasileiras em seus paradigmas hegemônicos tentam invisibilizar as ações de resistência e o significado da insurreição de 2013.

Comentando sobre os protestos na Turquia, Slavoj Zizek disse o seguinte:

“A luta pela interpretação dos protestos não é apenas ‘epistemológica’; a luta dos jornalistas e teóricos sobre o verdadeiro teor dos protestos é também uma luta ‘ontológica’, que diz respeito à coisa em si, que ocorre no centro dos próprios protestos. Há uma batalha acontecendo dentro dos protestos sobre o que eles próprios representam”(…).

Igualmente, no Brasil, há uma grande disputa entre as narrativas sobre o levante popular de 2013. Por razões ideológicas e político-eleitorais, diversos intelectuais participam de uma querela sobre os motivos da revolta de junho de 2013, bem como suas características. Buscaremos contrapor a análise de André Singer, publicada nessa revista, por omitir fatos fundamentais ocorridos entre 2013 e 2014 e, por consequência, induzir o leitor a uma interpretação equivocada dos acontecimentos. Podemos adiantar que a leitura de Singer buscou por todas as maneiras blindar a administração do Partido dos Trabalhadores (PT), perante a enorme insatisfação popular que explodiu no país no que estamos chamando de levante ou insurreição popular. O autor colabora para uma visão idílica do governo petista para fora do país, amparado em números que não encontram fundamento nas condições materiais de existência da classe e dos movimentos sociais e populares em geral.

Leia aqui o texto completo A insurreição invisível

 

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A nova direita e o objetivo estratégico do impeachment quase inalcançável

28 segunda-feira set 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Esquerda partidária

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Análise de conjuntura, Cooptação, Dilma, PT

eduardocunharelacionouaneutralidadeainfraestruturanecessariaparaoferecerconexao1383761926246_956x500

Fonte: Anarkismo.net

Por Bruno Lima Rocha

“Há uma evidente confluência de ideias-guia entre os que defendem o impeachment nas ruas (os grupos neoliberais) e os políticos de tradição oligárquica no Congresso Nacional. É por isso que no atual momento o povo perde de todos os lados. Seja pela direita que é governo, com o tucano e Chicago Boy Joaquim Levy à frente da pasta do Ministério da Fazenda (o mais importante dos ministérios); seja pela Agenda Brasil e a “salvação” do governo implicando em abrir mão de quase tudo para manter o mandato; seja pela oposição política formal que sem nenhum pudor apresenta um projeto entreguista de exploração de petróleo como o do senador José Serra (PSDB-SP), e na ponta direita da política, o povo brasileiro corre sério risco se as ideias reacionárias expressas nas ruas de 16 de agosto se tornarem realidade em alguma proporção. Logo, há muito mais em jogo do que a continuidade institucional a qualquer custo”, constata Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais.

Na última análise de conjuntura, me referi ao fato da UDN pós-moderna sair às ruas pedindo um recurso quase inatingível. O debate a respeito do impeachment tem mais repercussão nos círculos da nova direita do que condições concretas para sua realização. Ao não fazer circular este dado de realidade, os organizadores dos protestos do domingo 16 de agosto (a saber, agrupações como Movimento Brasil Livre; Vem Prá Rua, Revoltados Online, dentre outros) abusam da condição de manipulação midiática. Para demonstrar esta desinformação, descrevemos rapidamente os dois ritos realmente possíveis, não passando pela também hipotética renúncia da governante (de muito difícil consumação), são analisados abaixo.

As possibilidades de impeachment passam pelo Congresso Nacional e a regra atravessa votação de maioria absoluta de forma bicameral. Mas, vale ressaltar, a atual legislatura só pode votar a respeito de irregularidades iniciadas no mandato. Ainda que a vontade política da maioria da Câmara Federal comandada pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seja pelo impedimento da presidente Dilma Rousseff, em havendo irregularidades, estas teriam de ocorrer a partir de 1º de janeiro de 2015, quando inicia o segundo mandato. Como exemplo deste absurdo no ato de pedir impeachment agora, a Operação Lava Jato investiga crimes supostamente cometidos até o ano de 2014, portanto, antes do início do segundo mandato.

Como não há condições de julgamento de ações supostamente incorretas neste mandato, uma possibilidade para a oposição é o parecer técnico do Tribunal de Contas de União (TCU, um órgão assessor) a respeito das manobras fiscais – conhecidas como “pedaladas fiscais”. Caso as contas da presidente sejam “julgadas” incorretas abririam margem para o pedido de impeachment tramitar na Câmara. Óbvio que esta conjectura é anterior à denúncia feita pelo Procurador Geral Rodrigo Janot, este que foi sabatinado no Senado no dia 26 de agosto, sendo aprovada sua continuidade no cargo. As denúncias de Janot das supostas irregularidades cometidas pelo deputado Eduardo Cunha e o senador Fernando Collor de Mello abalaram a confiança dos operadores políticos. Ao colocar o líder do Blocão e comandante da pauta-bomba contra a parede (Cunha), a cruzada pelo impeachment acaba perdendo fôlego.

Outra possibilidade concreta de impedimento da presidente é o julgamento deste pedido impetrado pelo candidato derrotado senador Aécio Neves (PSDB-MG). Se o pleno do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgar que houve abuso de poder político – como nos atos de governo supostamente confundidos com atos de campanha – ou de poder econômico, através de caixa dois sendo investigado na Operação Lava Jato, estariam cassados os mandatos de Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer, do PMDB paulista.

Caso ocorra o improvável processo de impeachment pelo Congresso Nacional, haveria a posse do vice-presidente. Se a ação no TSE tiver andamento e julgar como culpados os dois titulares da coligação vencedora, o país seria assumido pela presidência da Câmara dos Deputados e seriam convocadas eleições em 90 dias. Neste caso, a aposta da direita que busca o impeachment tem de ser a criminalização de Lula.

O ex-presidente apanha diariamente na mídia, foi destacado como alvo da criminalização com o boneco de presidiário retratando-o durante o protesto de Brasília no domingo 16 de agosto e ainda assim não baixa de 30 pontos nos índices de pesquisas de intenções de voto. Se o hipotético candidato do PSDB, o senador por Minas Gerais e ex-governador deste estado, Aécio Neves não conseguir isolar a figura do ex-sindicalista do páreo pode realmente se complicar na disputa eleitoral. Este fato pode ser agravado em função da relação umbilical de Luiz Inácio com o empresariado brasileiro. Hoje o PT tem a pretensão e a articulação política para representar os líderes dos oligopólios operando no Brasil, deixando a muito de ter representação classista ou algo equivalente ao um partido eleitoral reformista como já foi.

Para além das chances legais do rito de afastamento da presidente reeleita, temos de observar que está em jogo, no curto prazo, a continuidade das instituições políticas brasileiras. Por mais escândalos em sucessão que existam (e são reais) não há de concreto envolvendo diretamente a figura da presidente. Logo, aprovar o impeachment pela condição de maioria parlamentar pode soar como golpe branco. Já no médio prazo, esta mesma maioria pode avançar de forma programática para retirada de direitos constitucionais.

Neste sentido há uma evidente confluência de ideias-guia entre os que defendem o impeachment nas ruas (os grupos neoliberais) e os políticos de tradição oligárquica no Congresso Nacional. É por isso que no atual momento o povo perde de todos os lados. Seja pela direita que é governo, com o tucano e Chicago Boy Joaquim Levy à frente da pasta do Ministério da Fazenda (o mais importante dos ministérios); seja pela Agenda Brasil e a “salvação” do governo implicando em abrir mão de quase tudo para manter o mandato; seja pela oposição política formal que sem nenhum pudor apresenta um projeto entreguista de exploração de petróleo como o do senador José Serra (PSDB-SP), e na ponta direita da política, o povo brasileiro corre sério risco se as ideias reacionárias expressas nas ruas de 16 de agosto se tornarem realidade em alguma proporção. Logo, há muito mais em jogo do que a continuidade institucional a qualquer custo.

Sinceramente não vejo como a permanência das instituições seja mais relevante do que a garantia dos direitos constitucionais e o conjunto da legislação de proteção e amparo aos trabalhadores, assim como o arcabouço jurídico de proteção da natureza e do reconhecimento de terras indígenas e quilombolas. A “transitologia” já deixou sequelas horríveis na América Latina e também em sua ciência política. Ao tomar como modelo de transição do Pacto de La Moncloa (onde ser dera a transição da Espanha pós-franquista), os latino-americanos acordaram em estabelecer democracias pouco ou nada substantivas, onde as condições de vida da maioria não foram levadas em conta. Logo, garantir os direitos constitucionais e a condição de organizar a base da sociedade para avançar nas conquistas coletivas é muito mais importante do que a democracia formal.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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(Uruguai) Sobre os ataques ao movimento anarquista em Montevidéu

24 quinta-feira set 2015

Posted by samuelvfm in Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Manifestações, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A

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criminalização da anarquia, Mujica, repressão, uruguai

Montevideu

Fonte: Rede de Informações Anarquistas

Em meio ao entusiasmo por grande parte da esquerda institucional brasileira pela vinda do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica ao Brasil, a Rede de Informações Anarquistas republica uma carta escrita por anarquistas uruguaios e uruguaias  em 2013 denunciando a perseguição e criminalização do movimento anarquista no Uruguai. Para passarmos a compreender que enquanto existir Estado, independente do governo no poder, haverá autoritarismo e repressão aos de baixo, uma vez Estado e Capital são elementos indissociáveis e não há programa reformista capaz de mudar esse fato.

 

Em uma semana e meia 14 companheiros foram presos, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos poderosos e seus delatores, estamos fazendo bem as coisas.

Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Os poderosos sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…

Entre tudo isso a raiva abre passagem.

O governo dos tupamaros tortura. Onde está a novidade?

O Estado que ocupa o território uruguaio não é alheio ao medo e intenção de recrudescer o controle sobre sua população, como estão levando adiante os diferentes governos progressistas da região (lembrem os encontros de segurança e “antiterrorismo” do Mercosul). O fantasma da primavera árabe, é um medo longínquo mas que palpita e o Brasil se converte em pesadelo para a camarilha empresarial. Qual é o pesadelo para os democratas, extremistas, radicais do poder e demais fascistas? A revolta, a insurreição que quando desperta não parece poder ser controlada. Uma raiva que não pode ser reconduzida pelo futebol ou a compra de roupas de marca ou congêneres. É aí onde aparecem os que lhes fazem o “trabalho sujo” a Bonomi, Tabaré e Mujica, as forças da ordem a serviço de sua autoridade. É aí que os mercenários criados pela direita e especializados pela esquerda do poder saem ao ataque.

Os violentos, encapuzados, anarquistas.

Palavras vazias de todo tipo tem enchido o papo dos jornalistas estes dias. Que os anarquistas isto e aquilo, que as táticas de violência urbana, que minorias, etc., etc. Os violentos de 14 de agosto, os radicais, os infiltrados em tudo, até na torcida do Penharol (como se nesta não houvesse sentimento antipolícia, que precise infiltrar-se os ácratas). Por todos os lados a união entre a repressão policial, a coordenação política e a preparação do conluio feito pela imprensa. O ataque tem várias pontas. O Estado defendendo-se definitivamente. Mas de que? De que se defende o Estado? Hoje todo o exército que mantêm a ordem existente (imprensa, polícia, militares, políticos e demais acomodados) se conjuga sob o abrigo de um nível inédito de consenso entre a direita e a esquerda no que têm a ver com a potencialização do desenvolvimento capitalista. Mas além do jogo eleitoral, as bases importantes do desenvolvimento do capital na região não se põem em discussão por nenhum dos partidos. A mega mineração, o desmatamento, a coordenação, em fim, pela instauração do plano IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana] e demais planos, sua grande coordenação política, econômica e militar seguem em marcha. É necessário deter e evitar toda resistência, todo germe de resistência. É necessário deter aos que não negociam, aos “violentos”.

Um passo mais…

E que dizer da violência? Não é para nós uma “opção política” como creem os sabidos da faculdade de ciências sociais. Para nada. Não é uma opção e não é para nada política. A escolha que sim fazemos é a de tentar viver do único modo que nos parece digno, o livre. O de não calar, o de fazer algo quando vemos que a coisa vai mal e vai ainda para pior. Escolhemos resistir, escolhemos defender-nos. Aqui (mais além do jogo preferido da imprensa, dirigentes sindicais e demais políticos) não há violentos e não violentos, bons e maus, e demais categorias do poder. Quem não se haja enojado, quem não haja sentido vontade de resistir à miséria, de opor-se e saltar ante tanta porcaria, simplesmente não deve ter sangue. Quem não se enoja conhecendo os negócios policiais com a pasta base, a miséria do trabalho ou o sabor da água de OSE? A violência neste mundo capitalista é natural, a resistência a ele, uma necessidade vital.

E outro depois…

Não negamos, jamais o temos feito, nossos crimes. Queremos e potencializamos a liberdade, esse é um grande crime contra o poder. Queremos e potencializamos não a etiqueta de liberdade, abstrata, utilizável e manejada por qualquer um. Por isso praticamos a solidariedade, o apoio mútuo, a reciprocidade, a resistência e é essa prática a que inevitavelmente produz choque em um mundo voltado cada vez mais a negar chão a quem está caindo. A cultura do medo não pode, não tem podido e não poderá amedrontar-nos ainda que o tente. Por isso os insultos, as ameaças com a tortura e a violência, por isso a pistola na cabeça de um companheiro na delegacia, a nudez forçada e os golpes. Por isso o enfurecimento.

E por que sorriem? Se perguntam…

Nós não temos aparência de vítimas. Se dizemos, se mostramos outro golpe ao movimento anárquico é para mostrar, para continuar mostrando esses golpes que sofremos geralmente em nossos bairros e que a polícia costuma silenciar. Sabemos falar, o fazemos bem e somos suficientemente livres e fortes para não nos calarmos. O porque de tantos e seguidos golpes ao movimento corresponde a um crescimento que o poder não tem podido frear, ainda que o tenha tentado. Corresponde a perda do medo e o abandono da confiança que parte da sociedade havia oferecido aos governos progressistas. Somos tratados com dureza porque o governo tem dado carta branca ante a presença que têm desbancado o parlamentarismo das ruas. Ante a ação direta que não busca negociar, que não pede nada. Somos tratados com dureza porque é contagioso um fazer auto-organizado que fomenta um verdadeiro diálogo, um entre iguais e não políticos ou empresários. Sorrimos por que são bons os ventos e sabemos nos defender.

O espelho do poder.

Onde olham sempre buscando a si mesmos. Em seus interrogatórios quando não se baseiam no simples insulto ou a ameaça, o que buscam é a eles mesmos e sua necessidade de chefes, de alguém que lhes diga o que têm que fazer. O poder necessita inimigos e não serve a seus interesses que estes não se vistam de terroristas, não busquem governar ou que não tenham autoridades. A falta de respeito em todos os âmbitos não pode vir para os serviços de inteligência mais que de um só grupo de pessoas, não pode não ter chefes ou não ter uma grande estrutura organizada para infundir o terror. Mas nós que estamos nas ruas sabemos que o seu crédito social acabou e que os companheiros são muitos e em nada respondem a lógica do partido. Pior para eles mas é assim.

Nós os anarquistas, não somos os que mantemos um sistema de saúde que gera morte e insanidade, não fazemos mega operativos nos bairros pobres, não empreendemos o saque e a destruição do meio ambiente e definitivamente não somos os que mantêm o negócio da pasta base nos bairros. Não dizemos aos jovens que não são nada se não têm certa marca de roupa e não fazemos cárceres para prendê-los depois.

Mas não somos tampouco cidadãos obedientes, não somos, jamais o temos sido dos que esquecem, somos parte dos que têm lutado sempre, como somos irmãos dos que lutam agora em qualquer parte do mundo contra um sistema que nega a vida. Impulsionamos e seguiremos impulsionando sempre a rebelião para conseguir mais e mais liberdade. Quiseram tirar da vista dos turistas os indigentes, criando uma ilusão de comércio, mas aqui não somos todos clientes ou submissos. Nem a todos se pode tapar. Nem todos se rendem.

Anarquistas.

Montevidéu, Agosto-Setembro 2013

Originalmente traduzido e publicado por Agência de Notícias Anarquistas (ANA)

 

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(Artigo) A democracia representativa é um ônibus de transporte público

04 sexta-feira set 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Anarco Ecologia, Anarco Feminismo, Anarco Primitivismo, Anarco Punk, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia, Anarquia Verde, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aparelhos de reprodução ideológica, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Código Aberto/Open Acess, Comunicação, Comunicação Libertária, Contra barragens, Correntes da Anarquia, Decrescimento, Democratização da comunicação, direitos, Direitos LGBT, Ditadura, Ecofeminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Gentrificação, Greve, Guerra às Drogas, homosexual, homossexual, Libertação animal, Mobilidade Urbana, Municipalismo Libertário, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Permacultura, Plataforma, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Reforma agrária, Software Livre, Squats e Okupas, Veganismo, ZAD- Zonas a Defender

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comunicação, comunicação libertária, estado, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, repressão, repressão noBrasil

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas – R.I.A

Passageiros e passageiras sabem o itinerário do ônibus mas não sabem dirigir, motorista sabe o caminho mas não sabe onde cada passageiro vai descer. O motorista para atentamente no ponto após um pedestre fazer sinal para subir e também quando um passageiro aperta o sinal luminoso para descer… Em tese…

Na prática os passageiros do banco direito à frente xingam a cada curva pra esquerda, reclamam a cada ponto parado, criminalizam os passageiros do “fundão” que estão tocando funk e pagode, reclamam de crianças viajando sentadas, dizem que já tem idade suficiente para viajar em pé e afirmam que crianças tem pagar passagem. Preferem os bancos altos e argumentam que adoram olhar a vista de cima. Passam a viagem inteira fazendo piadas de português, negros, homossexuais e pobres.

Os passageiros do banco direito ao fundo não se incomodam tanto quanto os da frente com o pagode do fundão já que em suas regiões pagode é algo comum, reclamam de tudo mesmo que não saibam do que estejam reclamando, seguram suas bolsas e mochilas com força com medo do rapaz em pé com celular na mão tocando funk.

Os passageiros dos bancos esquerdos à frente brigam para sentar no banco alto mas afirmam que todos os bancos deveriam ser iguais, reclamam que o motorista não sabe dirigir e afirmam que seriam melhores condutores, defendem o pessoal do pagode do fundão mas não sabem cantar pagode.

Os passageiros dos bancos esquerdos ao fundo reclamam que por diversas vezes fizeram sinal para o buzão parar, xingam porque querem descer a qualquer custo e tomar outro rumo, brigam com as pessoas dos bancos altos e reclamam que todos no ônibus são omissos ao não reclamarem que o motorista não para nos pontos sinalizados, alguns puxam a saída de emergência na possibilidade de pular com o buzão andando, mas desistem da ideia já que os passageiros dos bancos esquerdos à frente caguetaria para o motorista.

O motorista atropela todo mundo que cruza seu caminho, passa voado pelos quebra-molas, bate em todos os demais carros da rua e atravessa todos os sinais vermelhos.

O motorista não para em nenhum ponto para ninguém descer e dirige insanamente sorridente por dois motivos: o motorista é surdo e é o único no buzão que ganha direito para estar ali.

Em meio a tudo isso existem pessoas que só andam de bicicleta.

Por colaborador da Rede de Informações Anarquistas – R.I.A

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(Artigo) Eleição é farsa, movimentos sociais e organizações anarquistas também! Ou carta aberta de um anarquista cansado do falatório brasileiro

03 quinta-feira set 2015

Posted by litatah in #contratarifa, #resisteIzidora, Agência de Notícias Anarquistas, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aparelhos de reprodução ideológica, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Bandeiras de Luta, Black Block, Código Aberto/Open Acess, Comunicação, Comunicação Libertária, Contra barragens, Copyleft, Decrescimento, Democratização da comunicação, Direitos LGBT, Ditadura, Ecofeminismo, Educação Libertária, Entrevistas, Esquerda partidária, feminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Gentrificação, Greve, Guerra às Drogas, Izidora, Libertação animal, Manifestações, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Moradia, Movimento Estudantil, Movimento Sindical, Organização de base, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Periferias e Favelas, Permacultura, PODEMOS, Prática, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Reforma agrária, Remoções, Software Livre, Squats e Okupas, Veganismo, ZAD- Zonas a Defender, ZADs]., Zonas a Defender [Zones à Défendre

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas

Poderia começar esse texto de inúmeras formas com base nas coisas que vivi antes, durante e após 2013. E faço questão de colocar 2013 como um marco, não pelo modismo da militância (a quem, carinhosamente, chamarei de “militôncia”) mas sim por reconhecer que aquele ano foi marcante do ponto de vista da mobilização nas ruas. Nasci, cresci e vivi boa parte da minha vida rodeada por tiroteios, pneus em chamas, assassinatos e pequenas manifestações por falta d’água. Sou negro, o bairro em que cresci foi conhecido por ser uma área “neutra”, divisa entre duas facções rivais. Até 2013, por N motivos que eu poderia aqui colocar, eu realmente acreditava que a população ao meu redor estava anestesiada demais, demais mesmo, para mobilizar-se e fazer algo que valesse a pena. E olha que motivações da área em que nasci não faltaram, mas eu sei que chega uma hora que é preciso escolher entre se arriscar para mudar o sistema ou entregar-se a um individualismo vazio e inerte. E veja bem, faço questão de escrever “a um”, pois acredito sim que existem inúmeros individualistas muito mais dispostos e interessados em mudar o cenário caótico que a humanidade como um todo que já convivi do que meia dúzia de gato pingado fechado num clubinho organizativo. Mas, voltando ao assunto…

Sim, 2013 aconteceu, foi intenso e passou. Dele, ficou inúmeras provas de que é possível fazer algo real e concreto a partir da mobilização de pessoas interessadas em mudar a realidade em que vive. Porém, para a minha infelicidade, e acredito para infelicidade de muitos, apesar dessas provas e de tantas chances que temos tido para simplesmente SENTAR e CONVERSAR sobre o mundo que nos cerca, sem abrir mão das individualidades e optando pela difusão de um pensamento realmente LIBERTÁRIO, o que mais tenho visto são disputas acirradas, dentro e fora de coletivos, por poder. E é exatamente sobre esse poder, que julgo ser inexistente, e o que tem sido feito para alcançá-lo, que gostaria de passar o que venho sentindo através desse texto.

Em primeiro lugar, já passou da hora de alguns brasileiros acordarem para o fato de que O SÉCULO XIX/XX ACABOU! CHEGA! Sabe aquele livrinho lindo e adorável que você guarda na sua cabeceira revolucionária dessa sua casa de dois quartos e carro na garagem? Pois é, o meu “foda-se” pra ele, para seu autor/autora e para seus lindos e cegos militontos doutrinadores. Acordem, não estamos na revolução russa, não estamos na revolução espanhola, não estamos na Grécia, não estamos na Alemanha, essa porra não é a Islândia, essa porra é Brasil! Qual a dificuldade de colocar na cabecinha de vocês que somos um país historicamente COLONIZADO? Que aqui viviam povos cuja cultura simplesmente foi DESTRUÍDA, e que em nenhum momento os povos que aqui viviam (e os poucos que ainda vivem) pediram para teorias eurocêntricas do século passado se tornarem a salvadora de suas vidas? Qual a impossibilidade de compreender que para esse mesmo país, nós, negros e negras, que também tiveram suas culturas e sistemas políticos destruídos por impérios, fomos trazidos para cá e forçados a viver desprovidos de suas práticas culturais, políticas e sociais? E se nem os povos originários ou o povo negro estiverem mais a fim de brincar com a doce revolução que vocês tanto superestimam?

“Ahhhhh, quanto sectarismo nesse seu discurso!” Se fazer com que vocês entendam que muitos de nós não precisam de salvadores europeus é sectarismo, então está certo, está na hora de ser sectário! Porque quando a democracia representativa decide revelar sua verdadeira face e entrega na mão de empresários a pauta da demarcação de terras indígenas e a tal da inexistente reforma agrária, além de ainda autorizar o genocídio institucional da população negra e moradora da favela, o que, na prática, é a criminalização da pobreza, a Igreja Revolucionária do Último Dia e sua militôncia rapidamente aparece e diz que o caminho da salvação é esse ou aquele burguês barbudo com nome impronunciável para a maioria de nós! E o pior: se as reais vítimas desse sistema podre que só representa os interesses de quem pode pagar mais simplesmente decidem ignorar profecias marxistas ou bakuninistas… O tal revolucionário salvador das crianças simplesmente deixa cair sua máscara e se torna mais um tirano com sede de poder.

Outro ponto que não posso deixar passar batido: ANARQUISMO NÃO É SINÔNIMO DE PERFEIÇÃO ÉTICA E MORAL! Parem de achar que os anarquistas são seres incorruptíveis e que toda palavra que começa com o radical “anarco” é algo incrível e absoluto em si mesmo! O curioso é que seus principais idealizadores enquanto um sistema de ideias e práticas políticas e sociais ficariam espantados como os anarquistas brasileiros conseguem ser mais fascistas e estúpidos que muitos seguidores de Mussolini, Franco e diria até mesmo Hitler. Uma das coisas mais imbecis e idiotas que venho vendo desde 2013 está, curiosamente, no tal “movimento” anarquista brasileiro: a disputa pelo poder do discurso. Sim,  pessoas queridas, os anarquistas brasileiros optaram por gastar uma boa dose de tempo numa batalha verborrágica e entediante onde o tabuleiro é, nada mais nada menos que o Brasil e suas possibilidades diante do mundo, as peças são os seres sem luz anarquista (99% do país) e os jogadores somos nós, humanos dotados de uma magnífica capacidade de articular palavras e orações com tanta perfeição que até o Aurélio deve ter sido anarquista! Se bobear, Pasquale idem.

Nesse “War: Anarquismo”, verdadeiros guias espirituais jogam dados e posicionam seus pupilos anarcotontos em nome de bandeiras especifistas, sintetistas, plataformistas e toda sorte de –ismos e –istas que você puder contar. O objetivo final é conquistar regiões, formar federações e preparar-se para o inverno que está por vir. O único problema é que no final do jogo o vencedor descobre que as armas utilizadas não passam de interjeições e verbetes que até funcionaram em países europeus, mas que para cá os mesmos só conseguirão mobilizar pseudohackers, pós-graduandos anarcoturistas e uma meia dúzia de fodidos (que funcionam como ótimos idiotas úteis caso se incluam na categoria “negros, índios, e/ou quilombolas”). E qual seria esse discurso tão poderoso quanto a palavra execrável das Crônicas de Nárnia? Matou a charada se você pensou em Bakunin e sua turma.

Mas ora essa, não foi o próprio Bakunin que combateu esse personalismo bobo e burrocêntrico que esses anarcomimizentos brasileiros tanto parecem adorar e gozar quando destilam altas doses de teorias e mais teorias após uma boa madrugada regada de cerveja com milho transgênico produzida e fornecida pela AMBEV? Pois é… Ou tem algo de muito errado nessa tal de anarquia ou simplesmente não existem anarquistas no Brasil. Eu prefiro acreditar que não existe movimento anarquista brasileiro, e que boa parte dos que assumem para si a face de “anarquista” não passam de humanos putos com a vida (e com bons motivos) incapazes de desconstruir a si mesmos e que, na verdade, apenas reproduzem discursos de/e por poder. Libertários? Não… Isso é piada dentro do pretenso anarquismo verde, amarelo e preto. Os poucos e insignificantes libertários que existem pelas bandas de cá ou optaram por aquele individualismo que defendi no início ou simplesmente decidiram se isolar. Enquanto isso, o que resta são falsos anarquistas fechados em seus clubes de bolinhas, luluzinhas e azeitonas tramando o momento em que soltarão uma gargalhada do mal e dirão “hasta la vista, baby!” para todo esse sistema capitalista malvado e cruel que nos cerca e nos explora e blablabla…

rafa

É preciso ter CORAGEM para admitir que estamos na contra-mão de tudo e de todos/todas e que ERRAMOS e continuamos ERRANDO. Escrevendo como anarquista que tento ser, não acredito mais em revoluções fantásticas, juntar força no submundo da clandestinidade e aguardar o sinal da esperada transformação social. O Estado não é mais o grande vilão da história humana (se é que, penso eu, um dia foi, de fato). Numa realidade capitalista como a nossa, o Estado é o disfarce perfeito, é o colete a prova de balas que protege e blinda os verdadeiros inimigos da liberdade. E nessa NOSSA realidade, que os mais velhos PRECISAM entender se quiserem continuar falando numa linguagem comum, a tecnologia tornou-se o calcanhar de Aquiles para todos e todas, tanto para quem controla quanto para quem é controlado.

Porém, quem controla um território, em qualquer parte do mundo de hoje, de forma lícita ou ilícita, sabe que precisa ter um exército a sua disposição. O controle só é possível porque há uma ordem imposta através da força. E não importa o que nós façamos, enquanto todo o aparato produtor estiver à disposição dos controladores da humanidade, sempre haverá uma força maior preparada para impedir a tal “revolução”. Sério mesmo que vamos brincar de atirar com fuzis de madeira produzidos na clandestinidade contra armamentos pesados e pessoal bem treinado? É ainda mais sério que tem pessoas cegas de ambição sonhando em treinar grupos de elite para usar força contra força? Idiotices a parte, acredito que NADA irá mudar enquanto não travarmos e vencermos uma guerra muito mais urgente e que não demanda armas ou exércitos e que, por sua vez, pode subverter a ordem: a luta pela consciência e individualidade de cada humano que ainda consegue sentir-se humano neste mundo.

Estado e capitalismo só se tornaram possíveis porque seus idealizadores foram fortes pensadores do materialismo, cuja mesma filosofia influenciou práticas que até hoje atacam e destroem culturas milenares e libertárias. E essas culturas ainda sobrevivem em todo o planeta, numa clara resistência ao modelo de humanidade que está perversamente sendo construído há anos e que às vezes penso que nem os iluminados doutores da anarquia conseguem perceber. Não haverá humanidade se mantivermos a exploração do homem pelo homem, e essa exploração só se torna possível a partir de práticas que cada vez mais reduzem a possibilidade de diversificar o pensamento. É essa a realidade que a maioria de nós vive nesse mundo. É para ela que os que desejam sinceramente mudá-la devem se atentar para subverter. E isso tudo não deve ser, acredito eu, encarado como mais um discurso que apela para o surgimento de salvadores. Pelo contrário, pode e deve ser debatido, questionado, discordado, acrescentado, etc. Porém, antes de mais nada, é preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que nenhuma transformação social, e é nesse ponto que queria chegar, será possível se não houver reais transformações individuais. Um indivíduo que apenas repete discursos sem colocá-los em prática não passa de uma máquina a serviço de um projeto por poder.

O pior de tudo é que enquanto houver brigas verborrágicas e perda de tempo pela escolha daquele que será o melhor discurso a ser dito, haverá uma parcela cada vez maior de culturas destruídas, humanos maquinizados e aniquilação do pensamento. Por isso mesmo digo e repito: paremos de brigar por poder. Poder popular, poder para o povo, poder por poder, tudo não passa de verbos e slogans, mantras de posturas cada vez menos libertárias e mais libertícidas. Ou os indivíduos admitem que seus universos pessoais precisam ser, primeiramente, libertados para então estimular-se o pensamento libertário entre todos e todas, ou em breve seremos apenas um borrão na história daqueles que se colocarão como vencedores nessa disputa tola por poder e levarão o que sobrar da humanidade para o limbo do esquecimento (ou vocês realmente acham que nós, seres irrelevantes e estúpidos, vamos colonizar essa planetinha azul para sempre?).

Por R29 | Colaborador da Rede de Informações Anarquistas

“De baixo para cima, RIA você também!”

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