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Anarquia ou Barbarie

~ A anarquia é a percepção ecológica da sociedade, é o entender a participação livre de cada membro da coletividade como fundamental para a existência, para o exercício da verdadeira cidadania que é viver na coletividade respeitando a diversidade. Anarquia é coletivamente sermos o poder, é todos nós decidirmos em conjunto, de forma horizontal o que fazermos em nossas vidas e em nossos bairros, cidades….

Anarquia ou Barbarie

Arquivos de Categoria: Comunicação

[Portugal] O Binóculo e Louise Michel

21 domingo fev 2016

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, História, Louise Michel

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História, história da anarquia, História Social; Louise Michel, Louise Michel

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Fonte: A.N.A.

O Binóculo foi um jornal humorístico de periodicidade primeiro quinzenal e depois semanal que se publicou em Ponta Delgada, tendo a sua redação na rua de São Brás, 98 e 100. Foi um dos projetos dos dois irmãos editores de jornais João Cabral (1853-1916) e Augusto Cabral (1856-1924), que foram proprietários da Litografia Lusitana.

João Cabral, identificado em alguns jornais como professor de desenho, foi segundo Ana C. Moscatel Pereira, a alma do jornal e do seu filho “O Pist”, tendo sido “um artista de mérito que estuda e que progride a olhos vistos […]” e que ia “conquistando logar honroso não só pela firmeza do traço e correção do desenho, mas também pela graça que faz presidir aos seus trabalhos”.

No seu número 47 relativo ao dia 18 de agosto de 1883, o jornal “O Binóculo” tem como assunto principal a vida da revolucionária francesa Louise Michel (1830-1905) que foi professora, poetisa e escritora e uma das participantes da Comuna de Paris.

Como uma das principais militantes da Comuna de Paris, Louise Michel foi um pouco de tudo, desde enfermeira e condutora de ambulâncias até comandante de um batalhão feminino. A propósito da participação das mulheres nos combates escreveu: “Os nossos amigos homens são mais atreitos a desfalecimentos de coragem que nós, as mulheres. Durante a Semana Sangrenta, foram as mulheres que levantaram e defenderam a barricada da Place Blanche- e mantiveram-na até à morte”.

Tendo recebido uma educação inspirada pelos ideais da Revolução Francesa, estudou e tirou o curso de professora primária, mas como se recusou a prestar juramento a Napoleão III foi-lhe vedado o acesso ao ensino público.

Impedida de trabalhar no ensino público, Louise Michel usa a herança que recebeu do avô para abrir escolas na província. Mais tarde regressa a Paris e continua a ensinar durante quinze anos, ao mesmo tempo que publica livros de poesia e romances.

Na sequência da derrota da Comuna, ela que tinha conseguido fugir, acabou por se entregar para que a sua mãe presa em seu lugar fosse libertada.

Condenada a dez anos de deportação, foi enviada para a Nova Caledônia onde manteve atividade política e foi autorizada a trabalhar como professora. Mais tarde, depois de ter sido presa por diversas vezes, exilou-se em Londres, onde dirigiu, durante vários anos, uma escola libertária.

Desconhecemos se João Cabral simpatizava ou não com os ideais de Louise Michel e que fontes terá utilizado para dedicar a capa e um texto àquela revolucionária francesa.

No texto referido, depois de considerar que Louise Michel havia sido condenada a “uma pena severíssima imposta a uma mulher”, “seis anos de prisão, seguidos de 10 anos de vigilância policial” por ter participado numa manifestação em que foram saqueadas três padarias”, “O Binóculo” escreveu que ela não aceitou ser considerada criminosa comum, tendo afirmado “que o seu crime era político, e não devia ser tomada responsável pelo saque dado a algumas padarias, que não promoveu, e seria levado a efeito por alguns garotos, que, coitados, teriam fome”.

Sobre o espírito de sacrifício de Louise Michel, no texto referido podemos ler que ela era dotada de um temperamento capaz de suportar as mais rijas provações do infortúnio, sem murmurar uma queixa ou imprecação”.

Em relação à sua dedicação aos outros e à causa que abraçou, também se pode ler que “ela, no tempo de exílio, se despojava ali das meias que trazia nos pés para dar aos mais necessitados!“ e que “amava a revolução com entusiasmo, como fanatismo cego, não por amor de si, mas dos operários e da paz do universo”.

Teófilo Braga

Fonte: http://www.correiodosacores.info/index.php/opiniao/18682-o-binoculo-e-louise-michel

agência de notícias anarquistas-ana

lua n’água
entre pétalas
alumbra o abismo

Alberto Marsicano

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(Salvador) Campanha financeira do jornal anarquista Café Preto

27 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anarquia, Café Preto, Comunicação, Comunicação Libertária, Democratização da comunicação, Mídia Contra Hegemônica, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A

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Café Preto, comunicação, comunicação libertária, democratização das comunicações, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A

café-preto2Fonte: Rede de Informações Anarquistas – RIA

O Café Preto é um jornal popular sediado na cidade de Salvador-BA que surge da necessidade de noticiar um mundo tornado invisível, um mundo de lutas e resistências. Queremos noticiar os conflitos territoriais, desde as lutas quilombolas até as reivindicações dos trabalhadores nas periferias das cidades. Queremos questionar a história oficial da Bahia, sempre contada a partir de um olhar colonizador, e que insiste em vender a imagem do sempre feliz, satisfeito, e acolhedor povo baiano.

Para mostrar o outro lado da história, repleta de belas lutas e tristes fatos, é que surge o Café Preto, um jornal anarquista, que dialoga e constrói ombro a ombro uma outra perspectiva de comunicação.

Somos um jornal voltado para o público popular, desta forma seria contraditório cobrarmos a sua distribuição.

Até aqui temos colocado em prática a ajuda-mútua e o faça-você-mesmo para tocar nossas atividades, e para mantermos a sustentabilidade financeira do jornal, precisamos de
mais companheiros e companheiras nesta correria.

Diante disto, estamos aqui buscando ampliar nossa rede de cooperação entre aquelas e aqueles que simpatizam com o sabor do Café Preto. Precisamos da sua ajuda para complementar o pagamento dos nossos custos, pois o cobrador já já baterá às nossas portas.

Mas como funciona este jornal?

Como qualquer outro jornal, temos um objetivo maior de existência. Acreditamos que um outro mundo é possível, um mundo diverso e repleto de solidariedade, de apoio-mútuo, autonomia, horizontalidade e liberdade.

Funcionamos de forma autogestionária, sem hierarquias e extremamente organizada, onde todos exercem a democracia de forma direta, livre e solidária, desde a seleção das pautas, passando pela redação das matérias, a elaboração de fotografias e até a confecção de vídeos e a diagramação das versões impressas e online do jornal.

Buscamos utilizcafé pretoar uma linguagem popular e simples, abordando temas de extrema complexidade e do interesse da população baiana, sem perder a profundidade necessária para instigar uma análise crítica dos fatos apresentados. Tentamos dar visibilidade às lutas ocultas que a grande mídia corporativa jamais terá interesse em noticiar. Priorizamos a distribuição nas ruas, nos meios populares, nas periferias urbanas, nas comunidades rurais, mas também não esquecemos o nosso público antenado no meio digital. Dessa forma, além do nosso Jornal impresso, auto-gerimos uma página oficial, uma página de facebook e um canal no youtube.

Quais são os custos de produção?

Muitos! Até agora, alguns dos nossos custos principais são::

Custo por edição

  • Toner (recarga): R$ 250,00
  • Manutenção (Peças, mão-de-obra…): R$ 250,00
  • Papel para impressão: R$ 100,00
  • Operacional (transporte, alimentação…): R$ 150,00

TOTAL: R$ 750,00

Investimentos iniciais

  • Impressora: R$ 3.153,86

Investimentos futuros

  • Toldo (Distribuição do Jornal nas ruas, realização de eventos…): R$ 139,00
  • Câmera Digital: R$900
  • Tripé: R$100
  • Microfone Gravador: R$300
  • Sede?? =D

Como posso ajudar?

Como você viu, nossos custos são bem altos, então você pode nos ajudar fazendo uma doação mensal no valor que couber no seu bolso! Veja abaixo um passo a passo de como fazer isso:

Caso você não tenha um telefone fixo ou celular, pode colocar um número aleatório para completar o cadastro. O mesmo vale para o caso de você ter dificuldade de preencher qualquer um dos demais campos obrigatórios de cadastro.

Se a situação estiver difícil e não puder contribuir, tudo bem, você pode ajudar na divulgação do Jornal, nos ajudando com materiais (textos, imagens, vídeos) e, até mesmo, fazendo parte da construção desse cafezinho. O Café Preto agradece e fortalece!

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(ARTIGO) O grito que vem da favela: Ninguém falará por nós!

26 terça-feira jan 2016

Posted by litatah in Antirracismo, Bandeiras de Luta, Black Block, Comunicação, Comunicação Libertária, direitos, Guerra às Drogas, Mártires da Luta, Mídia Contra Hegemônica, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Mobilização Quilombola, Moradia, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organização de base, Organizações Anarquistas, Periferias e Favelas, Perseguição política, Prática, Presos Políticos, Presos políticos, Questão racial, Quilombolas, Racismo, Racismo ambiental, Rafael Braga, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Repressão, Revolta Popular, Todo Apoio aos 23, Violência

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favela, favelados, guerra aos pobres, movimentos sociais, pobres, pretos, racismo, repressão, UPP, violência

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas – RIA

Há aproximadamente 700 favelas no Rio de Janeiro, são mais de 100 anos de resistência, mais de um século de uma história contada por grandes mudanças, lutas, conquistas e organização. A criminalização da pobreza já existia desde o surgimento da favela, muitas delas passaram pelas remoções, a polícia já perseguia e olhava para as pessoas que habitavam a favela como criminosas, os jornais da época também tratavam o lugar e a população como ‘feio’, ‘invasor’, ‘violento’, ‘sujo’, ‘sem estudos’ etc.

Depoimentos e práticas atuais dos governantes e de toda a sociedade fazem mostrar que tais atitudes e argumentos não mudaram. As favelas continuam sendo criminalizadas, invadidas, alteradas, transformadas por forças vindas de cima para baixo. Atualmente, inúmeras favelas localizadas na cidade do Rio estão há mais de cinco anos sofrendo com grandes transformações em seus espaços, seja com as remoções forçadas, ou com as invasões das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Sendo estas ações comandadas pelos próprios governantes.

Em 2010, 119 favelas foram parar na lista das remoções para dar lugar às vias expressas e a grandes obras. Metade delas já sumiram do mapa. Aproximadamente 50 favelas estão hoje sofrendo com as UPPs. Tudo isto porque o Rio passou a ser palco dos megaeventos, a Copa do Mundo, que ocorreu em 2014, e a Olimpíada, em 2016.

Diante dos fatos que são históricos, como colocar em debate de que a favela é cidade? Quais os desafios de se defender e entender a identidade favelada quando se tem uma sociedade toda que criminaliza, afasta, mata, extermina este espaço que tem historicamente raça, é o povo negro, indígena e oriundos dos estados do nordeste do país, e que pertence a uma determinada classe? Como argumentar dentro do lugar chamado favela que a cultura favelada deve ser valorizada, permanecida, continuada, praticada, passada de geração para geração?

Toda a cultura da vida favelada é criminalizada: os ensinamentos, a religião, as vestes, a forma de falar, de se comportar, a música, a construção das casas, da vida, do dia a dia. Como praticar a defesa deste local sem o discurso de ódio à outras classes e tendo como base de que este é um lugar comum, comunitário, onde tudo se aprende em comunidade e que tais exemplos devem ser passados para toda a sociedade?

Mas como passar para toda a sociedade esta grandeza de vida comunitária? Como argumentar dentro e fora sobre esta tal vida alternativa que se sustenta há mais de um século com muita resistência diante de tantos problemas internos e preconceitos externos e também internos? Como e por que deve-se mostrar a outras favelas que nós somos comuns, independente da favela em que moramos, já que nossas realidades são iguais? Como argumentar o sentindo da vida comunitária para outros movimentos sociais, que durante anos ignorou a vida favelada?

Essas são perguntas que uma pessoa não é capaz de responder, ou uma dita acadêmica/acadêmico estudioso de favelas ou de outras áreas, nem mesmo grupos podem saber as respostas. Nenhum discurso de ódio também é capaz de dar respostas, as únicas pessoas que têm legitimidade e podem responder essas perguntas são aquelas que nasceram nas favelas e vivem cotidianamente a sua realidade e resistência, sendo elas negras, brancas, indígenas, mulheres ou homens, pois todos são atravessados pela pobreza que é fruto da desigualdade do sistema capitalista.

São respostas que não serão dadas do dia para o outro, são respostas que a própria prática diária vai mostrar. Os fatos históricos mostram que durante anos e anos estes lugares foram e são criminalizados. No entanto, é preciso conhecer a história para dar continuidade a esta grande sobrevivência comunitária. Ou seja, só quem pode responder essas perguntas é a favela, pois ela é o todo de um grande mundo de diversidades que ali nasceram e nascem; cresceram e crescem; resistem e existem.

De: Carolina favelada
“Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos”, estes são relatos de Carolina Maria de Jesus, ela nasceu em 1914, Minas Gerais. De família pobre, esta mulher negra e favelada passou a vida resistindo, sobrevivendo, criando sozinha os seus filhos. Eu, moradora de uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, comunicadora favelada, me identifico com cada frase, livro desta grande mulher negra e favelada chamada Carolina, pois seus escritos são nada menos do que a sua própria realidade. Habitar este espaço chamado favela é sinônimo de muita resistência, cultura, alegria, misturados a grandes desafios por causa da falta de direitos, um deles, o direito à vida. No entanto, é preciso que nós, favelados, coloquemos para além dos muros das favelas, a nossa própria história!

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[Grécia] Coordenação de coletividades contra a barbárie psiquiátrica: “A Psiquiatria dominante assassina”

19 terça-feira jan 2016

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Bandeiras de Luta, Comunicação, Comunicação Libertária, Grécia, Internacional anarquista, Luta antimanicomial, Organizações Anarquistas

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Agência deNotícias Anarquistas - A.N.A, anarquismo na grécia, grécia, Luta antimanicomial

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Fonte: A.N.A.

Há poucos dias, a “Coordenação de coletividades contra a barbárie psiquiátrica” realizou uma ação (intervenção) nos dois hospitais psiquiátricos de Atenas, após as mortes-assassinatos de três pacientes nesses hospitais. A seguir, publicamos o texto informativo sobre a ação, e o texto distribuído durante a mesma. Ambos foram elaborados pela Coordenação.

O texto informativo sobre a ação:

Na sexta-feira 18 de dezembro de 2015 vários coletivos lutadores que não querem e não podem esquecer a barbárie que prevalece em hospitais psiquiátricos e que levou à morte de pelo menos três pessoas, realizamos uma intervenção nos dois hospitais psiquiátricos de Atenas, Dafni e Dromokaitio. Visitamos as alas dos hospitais, distribuímos textos e conversamos com os pacientes, funcionários, familiares de pacientes e visitantes, fomos para os escritórios da Associação dos Trabalhadores em Dafni e, claro, os escritórios da Administração, onde em ambos os hospitais não estavam nem os diretores nem os vice-diretores. Também pichamos slogans no exterior do edifício em que haviam sido assassinados três pacientes, bem como o prédio da Administração. Finalmente, do lado de fora dos hospitais abrimos faixas contra a barbárie psiquiátrica.

Nesta nossa intervenção encontramos várias reações que refletem diferentes lógicas. Houve gente que nos ouviu com atenção, gente que queria expressar suas angústias, mas também lógicas em que as contenções dos pacientes são o único caminho, e que não são capazes de imaginar uma lógica terapêutica diferente.

Também, encontramos com lógicas que acreditam que não podemos falar sobre o que acontece em hospitais psiquiátricos, ou pelo menos não podemos falar (não temos o direito de falar) dentro desses hospitais. Havia pessoas em cargos administrativos que consideraram que nosso discurso e nós não “temos espaço” (nos hospitais), trataram de nos limitar a um determinado espaço. Alguns, depois de nos assediar verbal e fisicamente, chamaram a Polícia. Suas provocações foram respondidas por nossa insistência para intervir apenas onde foram geradas as condições que levaram à morte dos pacientes.

O texto distribuído:

Hoje estamos aqui para não nos acostumar com a barbárie. Porque não nos esquecemos das mortes “invisíveis” e ainda das mais “invisíveis” condições que as geraram.

Vemos e notamos ao nosso redor a Soberania política e econômica atacando a todos os setores das classes mais baixas. Tendo como veículo os memorandos, o Capital e o Estado estão desvalorizando e eliminando direta ou indiretamente, tudo que diz respeito sobre o nosso salário social e meios de nossa subsistência. Estamos conscientes de que as consequências para a saúde, especialmente mental, são esmagadoras.

Para o futuro imediato, como parte desta ofensiva, e mais além do uso excessivo da tortura de restrições mecânicas, a comunidade psiquiátrica dominante e o ministério da Saúde promovam planificações como os tribunais psiquiátricos (artigo 69), os “quartos tranquilos”, em que os pacientes estão isolados e monitorados por câmeras, e o tratamento a domicilio obrigatório dos pacientes. O “fechamento de hospitais psiquiátricos” que andam espalhando (dada a falta de financiamento e de serviços comunitários alternativos) segue a lógica da abolição e dos cortes, em prejuízo dos pacientes, que normalmente não gozam de nenhuma atenção e em muitos casos segue a lógica de jogar nas ruas aqueles que não podem pagar. Verificou-se que embora a doença seja interclassista, o tratamento tem uma índole classista inexorável.

Concretamente, no campo da saúde mental, os fatos testemunham o desmantelamento completo de seus serviços. Aqui, a barbárie parece ter se convertido em um sistema. Durante o ano passado houve muitos mortos. Quatro pacientes atados foram queimados em setembro, outro foi fatalmente ferido após ser atacado por outro paciente em maio, no Centro de Atendimento de Crianças de Lejena as crianças são amarradas e mantidas em jaulas, um paciente cometeu suicídio no hospital psiquiátrica de Dafni, Atenas, e há também outras mortes “invisíveis” de que ninguém conhece.

Nesses incidentes, embora a questão da escassez trágica de pessoal possa ser fatal, o culpado é o sistema psiquiátrico de repressão através de restrições e drogas psicotrópicas. Embora as políticas nos últimos anos tenham intensificado a barbárie, esta última está baseada no conceito e na prática psiquiátrica dominante, que tomou uma posição clara ao lado do Poder, para reprimir, controlar e, em última instância, impor a ordem pública.

Aqueles que são avaliados como inadaptados, não normais, não convencionais e “diferentes”, são qualificados cada vez mais como “perigosos” pela Psiquiatria dominante, como os imigrantes, os que questionam o Poder político estabelecido etc. Todos estes são chamados de “grupos sociais perigosos”. E no campo da chamada Saúde Mental são responsáveis o Sistema psiquiátrico, as empresas farmacêuticas, as ONGs, as agências de segurança, e os interesses privados.

Sob esse espectro de disciplina e controle, foi criado (montado) um mecanismo onde o tratamento feito é a vigilância, a repressão e, finalmente, o controle absoluto dos pacientes nas masmorras infernais que são ironicamente chamadas de hospitais psiquiátricos. O paciente perde a sua identidade humana. Por meio de um emaranhado jurídico está praticamente fora da lei. Torna-se presa dos desejos, experiências e interesses. Torna-se refém do sistema psiquiátrico e dos psiquiatras que o servem. É uma situação que continua depois que o paciente recebe alta, estando muitas vezes estigmatizado por toda vida.

Os trabalhadores da saúde e todos os trabalhadores em hospitais psiquiátricos e em todos os serviços de Saúde Mental são muito pressionados e trabalham à beira da exaustão (2-3 pessoas para cada 40-50 pacientes, horários estressantes, etc.), e muitas vezes forçados a trabalhar como engrenagens e órgãos executivos de uma Psiquiatria desumana, e com a imensa responsabilidade de seus sindicatos que não chegam a botar em dúvida, inclusive muitas vezes chegam a adotá-la como a única abordagem adequada e viável. As contenções dos pacientes, assim como a repressão são cotidianas, não só para aqueles que são considerados “perigosos”, mas potencialmente para todos. No relatório, apesar do registro de muitos erros, omissões, deficiências, o óbvio, quer dizer, que a ninguém aconteceria nada se não estivesse atado, nem sequer é examinado.

A indiferença e o individualismo predominante na sociedade reproduzem este mecanismo, sendo o resultado a indiferença hipócrita sobre o que acontece atrás das portas fechadas, que os “perigosos” sejam mantidos à distância.

Para nós, a questão é superar os hospitais psiquiátricos e a desinstitucionalização, levando a sociedade, os profissionais da área de Saúde Mental, e as partes interessadas um papel ativo e protagonista. Para alterar a cultura e o comportamento institucional, para eliminar o uso da violência, a contenção de pacientes, o isolamento e a repressão com medicamentos, como uma forma de imposição institucional da Psiquiatria. Isso significa substituir e superar as instituições por uma rede integrada de serviços comunitários. Significa condições satisfatórias de trabalho e de salários, e a consolidação dos ativos (conquistas) dos trabalhadores. Significa uma resposta personalizada para as necessidades específicas de cada paciente, o respeito total e praticar seus direitos e sua dignidade, e seu reconhecimento como um interlocutor igual em todo o processo terapêutico. Significa a eliminação de qualquer tipo de atividade empresarial privada no setor da Saúde Mental. Exemplos neste sentido da desinstitucionalização existem tanto na Grécia como no estrangeiro.

No entanto, a superação e a mudança da metodologia psiquiátrica dominante não é uma decisão que será tomada por algum centro, mas que serão organizadas por todos os envolvidos no processo de sua transformação, e, em última instância por todos os lutadores contra a barbárie capitalista.

Coordenação de coletividades contra a barbárie psiquiátrica

O texto em grego:

http://kifiliou.blogspot.gr/2015/12/blog-post_21.html

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/coordinacion-de-colectividades-contra-la-barbarie-psiquiatrica-la-psiquiatria-dominane-asesina/

agência de notícias anarquistas-ana

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Luta antimanicomial pede saída do coordenador de Saúde Mental

06 quarta-feira jan 2016

Posted by litatah in Anti Fascismo, Bandeiras de Luta, Comunicação, Ditadura, Gentrificação, Luta antimanicomial, Notícias, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos

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Fora Valencius, Luta antimanicomial

liberdade

Fonte: Rede Democrática

Publicado: 31 Dezembro 2015

Eles afirmam que Valencius é contrário à reforma e sua nomeação trará retrocessos | Foto: Carol Lessa/AlerjNo plenário da Alerj, defendendo reforma psiquiátrica

O movimento antimanicomial, psiquiatras, pacientes, familiares e trabalhadores da área lotaram o plenário e a galeria da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) durante a audiência pública das comissões de Saúde e Trabalho da casa e pediram a renúncia do novo coordenador geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, Valencius Wurch, empossado há uma semana. Valencius representa um retrocesso na luta antimanicomial e na reforma psiquiátrica implantada no país a partir da Lei 10.216/2001, que instituiu os cuidados psicossociais aos pacientes e não mais o isolamento e a internação.

A integrante do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial Melissa de Oliveira Pereira explica que o psiquiatra foi diretor da Casa de Saúde Dr. Eiras de Paracambi, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o maior manicômio privado da América Latina, que foi fechado por ordem judicial em 2012 após anos de denúncia de violações de direitos humanos.

“Ele foi coordenador numa época em que Paracambi representava uma casa de tortura e maus tratos, chegando a um período em que morria uma pessoa por dia por abandono. Os pacientes ficavam algemados nas camas de concreto onde tinha uma canaleta para escorrer o xixi. Passavam fome, eram estupradas. Isso na década de 90. Nessa mesma época ele se posicionou na imprensa contrário à reforma psiquiátrica brasileira e assim tem permanecido enquanto professor, se posicionando contrário à luta antimanicomial”.

Segundo Melissa, a sede da Coordenação-Geral de Saúde Mental do ministério está ocupada pelo movimento desde o dia 15 e só vão deixar o local após a saída de Valencius Wurch do cargo. Antes da audiência, o movimento fez uma caminhada da Cinelândia até a Alerj, onde ocupou as escadarias do Palácio Tiradentes.

Valencius é contrário à reforma e sua nomeação trará retrocessos

Ex-paciente psiquiátrico, aos 70 anos Milton Freire trabalha nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) e afirma que a reforma foi extremamente benéfica. “Eu fui para o hospital com 15 anos e pelo menos 12 eletrochoques eu tomei. A gente não podia falar nada. O mais importante é que cria uma tradição psicossocial, antes só havia uma tradição organicista, eles isolavam as pessoas e davam remédio. Hoje as pessoas tomas remédio, porém um dos remédios é a vida social, são as atividades expressivas, a vida afetiva, a vida próxima à família, não isola as pessoas. Um dos objetivos é a inserção social”.

Casa sem condições

Pesquisadora do Laboratório de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ana Paula Guljor, foi contratada pelo município de Paracambi para supervisar a casa dirigida por Valencius, onde verificou muito cheiro de urina, fezes e criolina, pacientes maltrapilhos, nus, jogados pelo chão ou amarrados nas camas de ladrilho sem colchão, pouquíssimas atividades terapêuticas e sem ressocialização.

“Ele tinha uma atuação fora, na conferência ele estava organizando as defesas contra o projeto da reforma, que é a ampliação dos serviços, a implantação do hospital dia no local. A forma como ele fala é uma mentira deslavada. Ele pertenceu ao Ministério da Saúde, mas o fato de você trabalhar no hospital público não significa que você tenha compromisso público e muito menos experiência de gestão pública”, afirmou.

Deputados também pediram que Valencius renuncie ao cargo

Todos os deputados que fizeram uso palavra da audiência também pediram que Valencius renuncie. André Ceciliano lembrou que a casa aprovou uma moção de repúdio à nomeação de Valencius. Se colocando como ex-preso político, Carlos Minc (PT) afirmou que nem nos porões da ditadura presenciou o que viu em inspeção à Dr. Eiras em termos de tortura. Wanderson Nogueira (PSB) culpou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, pela nomeação e pediu a saída dos dois. Flávio Serafini (PSOL) disse que não existe nenhuma publicação científica de Valencius sobre o tema. Marcelo Freixo (PSOL) disse que, mesmo que o psiquiatra tenha mudado de opinião, a trajetória dele não condiz com a luta antimanicomial.

“Nós tivemos as galerias lotadas, o plenário lotado, diversos profissionais, familiares, usuários, da luta antimanicomial, se posicionando na defesa da reforma psiquiátrica e contra uma indicação política das mais desastradas que o Ministério da Saúde poderia fazer nesse momento. O senhor Valencius tem um histórico que não é compatível com a luta antimanicomial”.

Wurch saiu antes do fim da audiência

Valencius Wurch saiu antes de terminar a audiência e não falou com a imprensa. Durante sua fala, foi interrompido diversas vezes por gritos do público de “uh, é mentira”, “cínico” e “torturador”. Ele disse que está aberto ao diálogo e que isso implica as pessoas falarem o que pensam e também ouvirem os outros. Disse que é declaradamente a favor da reforma psiquiátrica e concordou que a situação da casa de saúde que dirigia era degradante. “A Dr. Eiras era um horror, ainda bem que fechou. Eu fiz um projeto: ‘isso aqui não pode mais existir, mas enquanto existir as pessoas têm que ser bem tratadas’”.

Segundo Wurch, quando assumiu a direção havia 2.300 pessoas internadas em Paracambi e quando ele deixou a instituição eram 1.500, “portanto, eu contribui para a desinternação”. O psiquiatra se colocou à disposição dos movimentos para retornar à casa em três meses para avaliar os projetos, ao que foi interrompido aos gritos de “renuncia”. O coordenador terminou sua participação citando o lema do próprio movimento antimanicomial: Nenhum passo atrás, manicômio nunca mais.

Fonte:

http://www.psicologiahailtonyagiu.psc.br/materias/ponto-vista/132-carta-aos-medicos-chefes-dos-manicomios

http://www.sul21.com.br/jornal/luta-antimanicomial-pede-saida-do-coordenador-de-saude-mental-do-ministerio-em-audiencia-na-alerj/

http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-12/luta-antimanicomial-pede-saida-do-coordenador-de-saude-mental-do

Por Akemi Nitahara, Agência Brasil

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Uma história marcada por censura e resistência

22 terça-feira dez 2015

Posted by litatah in Anarquia, Aparelhos de reprodução ideológica, Comunicação, Comunicação Libertária, Democratização da comunicação, História, Mídia Contra Hegemônica, Mídia Hegemônica, Teoria

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comunicação, comunicação libertária, democratização das comunicações, História, História do Anarquismo, História Social, Teoria

Handcuffed to her computer: very demanding job or censorship

Por Dirceu Fernandes Lopes em 03/06/2008 na edição 488
Fonte: Observatório da Imprensa

A Imprensa no Brasil surgiu em 1706, em Pernambuco. Depois, em 1747, no Rio de Janeiro. Mais tarde, em 1807, em Vila Rica, Minas Gerais. Essas três tentativas foram suprimidas por ordem do governo português. O objetivo da Coroa era manter a Colônia atada a seu domínio, nas trevas e na ignorância. Manter as colônias fechadas à cultura era característica própria da dominação. A ideologia dominante deve manter o povo ignorante.

Em 1808, contudo, com a vinda da família real de Portugal para o Brasil, fugindo das forças de Napoleão Bonaparte, Antonio Araújo, futuro Conde da Barca, mandou colocar no porão do navio Medusa o material tipográfico que havia sido comprado para a Secretaria de Estrangeiros e da Guerra. No Brasil, mandou instalar o equipamento nos baixos de sua casa, à rua dos Barbonos, no Rio de Janeiro. Em 31 de maio desse ano, D. João VI oficializou a imprensa mediante o Ato Real.

Nascia a Imprensa Régia, no Rio de Janeiro. Isso aconteceu 308 anos após a descoberta do Brasil. Até então, Portugal não permitia a instalação da imprensa na Colônia. Assim, no dia 10 de setembro saía o primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro, considerado por alguns historiadores o primeiro jornal brasileiro. No entanto, três meses antes, surgira em Londres oCorreio Braziliense, que, embora tenha nascido fora da Colônia, é apontado também por historiadores como o primeiro periódico do país.

Marcada pelo oficialismo e pela oposição, a imprensa brasileira viveu assim os primeiros anos. Durante o Brasil Colônia apareceram no país mais de 50 jornais, a maioria de duração efêmera. A censura, que começara com a Imprensa Régia, acabou em 1821, procurando-se caracterizar, porém, os chamados crimes de imprensa com punições.

Em 1811, a Imprensa Régia publicava a primeira revista carioca, O Patriota. Também nesse ano surgia, na Bahia, a Idade de Ouro do Brasil, nos mesmos moldes da Gazeta do Rio de Janeiro, que defendia o absolutismo. A Idade de Ouro nascia para neutralizar o material contrário a Portugal, que chegava ao Brasil com a abertura dos portos.


Independência

A censura prévia, que teve fim em 1821, já tinha sido abrandada seis anos antes, em 1815, sendo permitida a publicação livre de anúncios, convites, letras de câmbio e outros papéis semelhantes. Com a liberdade de imprensa, surgiram vários jornais no Brasil. Boa parte desses periódicos procurava mobilizar a opinião da Colônia contra a dominação portuguesa.

Mas, se vários jornais defendiam a Independência, outros procuravam combatê-la. Na Independência, a imprensa se caracterizava por ser excessivamente doutrinária, relegando a informação para segundo plano. Outro ponto fundamental dos jornais: linguagem violenta. Um dos que ficaram mais conhecidos por essa marca foi o Malagueta, que teve seu redator, Luís Augusto May, espancado por ter criticado o Ministério Imperial liderado pelos irmãos Andradas. May teve suas mãos aleijadas.

Em 1821, nascia o Diário do Rio de Janeiro, precursor dos atuais jornais informativos, o primeiro a publicar notícias do cotidiano, deixando de lado a tendência doutrinária dos outros órgãos. Seu conteúdo era voltado para furtos, assassinatos, diversões, espetáculos, observações meteorológicas, correio, anúncios de venda de escravos, leilões, compras, vendas, achados e aluguéis. Passou a ser chamado de Diário do Vintém, pelo baixo preço, e Diário da Manteiga, porque publicava os preços desse produto. Circulou até 1878.

Também em 1821 nasce, na Bahia, o Diário Constitucional, primeiro periódico criado no Brasil para defender os interesses brasileiros. O jornal apoiava a maioria brasileira na Junta Provisional, que substituía o governador baiano. Essa junta era formada pela maioria de portugueses e tinha o apoio de órgãos oficiais, conhecidos como áulicos, principalmente o Semanário Cívico e Idade de Ouro do Brasil. O Diário venceu essa primeira campanha eleitoral da imprensa brasileira.

Com a Independência, a imprensa intensificou a luta pela normalização da vida política no Império, pregando ordem, liberdade e respeito à Constituição, influindo no curso dos acontecimentos. Com o fim da Gazeta do Rio de Janeiro, em 1822, foram criados diversos jornais da imprensa áulica, entre eles o Espelho, que transcrevia jornais de Lisboa e publicou vários artigos de D. Pedro I, considerado um jornalista panfletário, irreverente e polêmico, que publicava artigos inflamados contra seus adversários. D. Pedro utilizava vários pseudônimos: Simplício Maria das Necessidades, Sacristão da Freguesia de São João de Itaboraí, O Inimigo dos Marotos,Piolho Viajante, O Anglo-Maníaco, O Espreita, o Ultrabrasileiro, O Filantropo e o Derrete Chumbo a Cacete.


Cipriano Barata

O fim da censura não impediu que a Corte tentasse manter a Colônia sob seu domínio, utilizando a imprensa. Para cada jornal que nascia na oposição, surgiam muitos outros combatendo a Independência. Entre os muitos jornalistas punidos por irreverência ou injúria ao governo colonial está Cipriano Barata, conhecido por Baratinha. Nascido em 1762, em Salvador, Bahia, Barata estudava na Universidade de Coimbra, em 1789, quando aconteceu a Revolução Francesa. A primeira vez que manteve contato com a imprensa foi com a distribuição de panfletos durante essa revolução, agitando a burguesia contra a monarquia. Ativista da Conjuração Baiana e da República, em Pernambuco, em 1817, depois deputado constituinte, em 1823, Barata estreava, em 9 de abril desse ano, com o jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco. Defendia a Independência com mudanças radicais e era contra a escravatura.

O jornal saía às quartas-feiras, com linguagem vigorosa e crítica, mostrando as podridões do poder. Preso em várias oportunidades por desafiar e denunciar as mazelas do regime, na medida em que mudava de prisão Barata soltava um novo jornal. Assim, criava o jornalismo do cárcere. OSentinela da Liberdade, que por tantas vezes teve suas edições interrompidas, recebeu vários complementos em seu nome, de acordo com o lugar em que Barata esteve preso: Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, Sentinela da Liberdade na Guarda do Quartel General,Sentinela da Liberdade na Guarita de Villegaignon.

O Sentinela da Liberdade inspirou a criação de dezenas de outros jornais com esse nome pelo país. Barata foi um dos pioneiros da liberdade de imprensa e, em 1823, escreveu: ‘Toda e qualquer sociedade onde houver imprensa livre está em liberdade; que esse povo vive feliz e deve ter alegria, segurança e fortuna; se, pelo fato contrário, aquela sociedade ou povo que tiver imprensa cortada pela censura prévia, presa e sem liberdade, seja debaixo de que pretexto for, é povo escravo que pouco a pouco há de ser desgraçado até se reduzir ao mais brutal cativeiro’.

Em 1825, depois de ser preso na Fortaleza do Brum, em Recife, por participar da Conjuração do Equador (rebelião que reuniu vários estados do Nordeste contra D. Pedro I), Barata publicou um jornal com o título Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, atacada e presa na Fortaleza do Brum, por ordem da Força Armada Reunida. Alerta! Em 1835, Barata escrevia o seu último Sentinela da Liberdade, aos 75 anos. O jornal durou 13 anos, mas outros apareceram em todo o país, mesmo depois de sua morte, em 1º de julho de 1838.


Pasquins

Em outubro de 1822, um mês depois da proclamação da Independência, a liberdade de imprensa voltou a ser cerceada. O clima agitado da época provocou o aparecimento dos pasquins, com característica panfletária e linguagem violenta, que chegava à calúnia e ao insulto pessoal. Seu conteúdo refletia o ardor das facções em divergência. Liberais e conservadores travavam verdadeira guerra de palavras utilizando os pasquins, que, geralmente, tinham vida efêmera.

Os próprios títulos demonstram o que eram os jornais: O Enfermeiro dos Doudos, O Palhaço da Oposição, O Grito dos Oprimidos, O Burro Magro, O Brasil Aflito, O Caolho, O Torto da Artilharia,O Soldado Aflito, O Crioulinho e muitos outros. Pelos títulos, dá para perceber que, freqüentemente, os pasquins recorriam ao preconceito, à aliciação das forças armadas e aos apelidos.

Em agosto de 1827, a censura volta a ser abolida. Isso provocou o aparecimento de novos jornais pelas províncias. Nesse ano, surge o Farol Paulistano, primeiro jornal da Província de São Paulo. Geralmente, os periódicos eram do tipo pasquim, que refletiam o interesse das autoridades, de intelectuais ou de alguns grupos. Também tinham vida efêmera.

Em 1829, começa a circular o segundo jornal da Província de São Paulo: o Observador Constitucional. Em 20 de novembro de 1830, João Batista Líbero Badaró, fundador do jornal, é assassinado. Antes de morrer, deixa uma frase que reforça sua resistência ao governo português:Morre um liberal, mas não morre a liberdade.

As forças políticas da época eram divididas em três grupos: direita conservadora, direita liberal e esquerda liberal (exaltados). A direita conservadora publicava os órgãos da imprensa áulica, comoDiário Fluminense, Jornal do Comércio e O Analista. A direita liberal utilizava seus jornais, como oAurora Fluminense e Astréia, para combater os excessos do governo e a pregação violenta da imprensa liberal de esquerda. Já a esquerda liberal era responsável pelos pasquins, que não poupavam os inimigos.

Enquanto os pasquins tinham vida curta, os órgãos da imprensa conservadora tinham sempre vida longa, como o Diário de Pernambuco (criado em 1825 e que existe até hoje), o Jornal do Comércio e o Correio Paulistano, entre outros. Entre 1832 e 1833, saíram do prelo 35 periódicos: 14 defendiam o governo e 21 faziam guerra aberta. A imprensa refletia as contradições sociais e políticas, além de influir no andamento dos acontecimentos.

A partir de 1837, a imprensa começou a utilizar a caricatura e, três anos depois, passou a circular no Rio de Janeiro A Lanterna Mágica, que marca o início das publicações ilustradas com caricaturas. A partir da metade do século 19, o Império se consolida e a imprensa política, representada principalmente pelos pasquins, esmorece. Com a organização urbana, que começa a se formar, a imprensa reflete as transformações da época. Em 1852, sai o Jornal das Senhoras, com sonetos, cartas de amor e moda.

É a época da conciliação, com o arrefecimento ou fim das lutas partidárias. Começava a predominar o jornalismo mais conservador, exemplificado, principalmente, pelo Jornal do Comércio. Os periódicos atraíam o leitor com os folhetins, que contavam com a participação de escritores da época, como José de Alencar. Começava a crescer a imprensa abolicionista e afloravam os primeiros jornais com idéias republicanas.


Republicanos e abolicionistas

No período que antecedeu a proclamação da República, surgiram jornais com tendências republicanas e abolicionistas. Isso em função de jovens de famílias abastadas que iam estudar na Europa e voltavam ao Brasil com idéias novas e liberais: idéias republicanas. As dificuldades dos transportes e do Correio prejudicavam a chegada de jornais da Corte nas províncias, o que provocava o aparecimento de mais periódicos no interior. Os ideais republicanos conquistaram a imprensa. Jornais defendiam a República e a libertação dos escravos. O movimento abolicionista era cada vez mais forte.

Quintino Bocaiúva, jornalista republicano, fez do jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, uma tribuna para destruição do regime monárquico. Em 1875, nascia A Província de São Paulo, que mais tarde passou a chamar-se O Estado de S. Paulo. A imprensa republicana já contava com 74 jornais: 20 no Norte e 54 no Sul. Em 1891, surgia o Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, montado como empresa. Trazia inovações como distribuição em carroças e ampliação dos correspondentes estrangeiros. Em 1895, era criado em Porto Alegre o Correio do Povo.

A imprensa destacava-se e recebia elogios. ‘Houve uma coisa que fez tremer as aristocracias mais do que os movimentos populares, o jornalismo’ (Machado de Assis).

Foi na Primeira República a fundação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que completou 100 anos em abril de 2008 com uma história de luta pela liberdade de imprensa. Em fins do século 19, a imprensa artesanal começou a ser substituída pela industrial. Em 1900, a República e a imprensa estavam consolidadas. A imprensa torna-se empresa. O jornalismo individual estava superado. Mas, ao virar empresa, a imprensa fica sob o domínio do estado e do capital.


Progresso

A evolução da imprensa, no fim do século 19 e início do século 20, depois da proclamação da República, aconteceu junto com o progresso do mundo ocidental. Os jornais se multiplicaram, aumentando as tiragens. As causas estão ligadas à generalização da instrução, democratização da vida política, urbanização crescente, desenvolvimento dos transportes e redução do preço de venda, devido ao barateamento da produção dos jornais e também à elevação do nível médio das massas.

Paralelamente a esses fatos, o progresso das técnicas foi fundamental no desenvolvimento da imprensa, como a invenção de tinta para impressão com secagem mais rápida e a substituição do papel de madeira por outro de fabricação mais barata. Além disso, houve a mecanização do sistema de composição com a invenção da estereotipia, que transformava a página em flãs de papelão, reduzindo o número de prensas, e a invenção de novas impressoras, que ampliaram o número de exemplares.

Na metade do século 19, a popularização do telégrafo favoreceu a transmissão rápida das informações. O telégrafo elétrico facilitou o trabalho das agências de notícias e agilizou ainda mais a informação a longa distância. Todos esses fatores levaram o jornal a tornar-se produto de consumo.


Imprensa anarquista

Com a chegada dos colonos europeus, que substituíram os escravos, começou a crescer a imprensa operária ou imprensa anarquista. Para falar da imprensa anarquista, criada por imigrantes deportados por razões políticas, no fim do século 19 e início do 20, é fundamental explicar o que é anarquismo: um movimento de idéias e de ação que, rejeitando toda a dominação exterior ao homem, se propõe a reconstruir a vida em comum sobre a base da vontade individual autônoma. Cada comunidade, cada indivíduo deve determinar sua vida. O homem precisa ser livre para viver feliz e em paz. O anarquismo nega o estado porque dá continuidade à existência de uma classe dirigente. As minorias que dominam os estados dirigem o destino das maiorias. Proposta do anarquismo: dissolução do poder do estado, do Parlamento, das representações e da burocracia. São instituições que vivem parasitariamente às custas do trabalho do proletariado. Elimine-se o estado e a propriedade privada e o homem será livre de carência, livre de dominação, livre para desenvolver suas potencialidades.

Isso colocado, é importante ressaltar que, através dos jornais, os anarco-sindicalistas, um segmento anarquista que teve maior repercussão nos países da América Latina, tentavam conscientizar não só os trabalhadores, mas também suas famílias sobre a doutrina e incitá-los à liberdade. No anarquismo, os jornais eram fatores fundamentais de mobilização operária. Instrumentos de conscientização da classe obreira e do alargamento de suas discussões. A missão do jornalismo não se limitava a difundir idéias, a educar politicamente, a atrair aliados políticos. Jornal não é somente um agente coletivo de propaganda, mas também um organizador social.

De 1890 a 1920 surgiram no Brasil 343 jornais. Desses, 149 eram de São Paulo, 35% destes, em idioma estrangeiro. Outros 100 eram do Rio de Janeiro e os 94 restantes estavam espalhados por todo o Brasil. Dos 343 títulos, 60 eram editados em outros idiomas: um em alemão, quatro em espanhol e 55 em italiano.

Uma característica marcante: a não-existência de repórter. As redações recebiam farto material sobre o movimento operário, incluindo cartas, relatórios de sindicatos, denúncias etc. Geralmente em formato tablóide e em quatro páginas, esses veículos nem sempre tinham publicidade, viviam das contribuições dos trabalhadores e da renda dos sindicatos e associações. Quando existia um anúncio de um produto, surgia com a recomendação da própria redação, dando um caráter de escolha política. Seu conteúdo não era meramente noticioso. Normalmente reproduziam na íntegra textos e conferências, além de charges reforçando o editorial. Não havia preocupação de recursos estéticos, os textos intensos ocupavam toda a página.

O caráter panfletário era demonstrado em frases alinhadas sob o nome do jornal: Um por todos, todos por um – Um panfleto de crítica social – A união faz a força. Outra marca desses periódicos eram denúncias de arbitrariedades no trabalho de menores e das mulheres.

Poucos jornais conseguiram certa regularidade de sobrevivência por período longo. A irregularidade na periodicidade devia-se às dificuldades financeiras e à perseguição do sistema estabelecido. A polícia apreendia o material nas gráficas, quebrava as máquinas e prendia os responsáveis.

******

Professor do Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

 

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Ataques em Paris: contra as guerras deles, nossas solidariedades – Alternative Libertaire

16 segunda-feira nov 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Alternative Libertaire, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Comunicação, Comunicação Libertária, curdistão, curdos, Decrescimento, Ecofeminismo, Federação Anarquista do Rio de Janeiro, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, França, Gentrificação, Guerra às Drogas, Internacional anarquista, Libertação animal, Manifestos, Mártires da Luta, Mobilidade Urbana, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organização de base, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Presos Políticos, Presos políticos, Publicidade, Repressão, Revolução, Revolução Curda, turquia, Violência, ZADs]., Zonas a Defender [Zones à Défendre

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Fonte: FARJ – Federação Anarquista do Rio de Janeiro – Organização Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira

Agências de Notícias Anarquistas (ANA) on 15 de novembro de 2015

Uma onda de ataques mortais teve lugar ontem à noite em Paris e Saint-Denis.

O governo francês está travando guerras em vários países (Líbia, Mali, Síria…) há anos. Hoje estas guerras tiveram um impacto sobre o território francês.

Sofremos estes ataques que visam espalhar o terror e provocar divisões no seio da população. Alternative Libertaire condena estes ataques: matar pessoas aleatoriamente na rua e cegamente com o único propósito de assustar é abominável.

Estes ataques são obra de um movimento político – o jihadismo salafista – cujas primeiras vítimas são as populações civis do Oriente Médio e, nos últimos dias, já chegaram a Beirute. Esse mesmo movimento político que continua a travar uma guerra contra as forças progressistas curdas na Síria.

Na sequência destes ataques, desencadear-se-ão operações de segurança sustentadas por forças políticas que se utilizam de nossos medos para nos jogar uns contra os outros.

Agora, as pessoas imigrantes e as minorias muçulmanas neste país estão começando a ser afetadas por declarações políticas e estão sujeitas a retaliações indiscriminadas.

Não será uma repetição de dispositivos draconianos que irá impedir novos ataques. O estado de emergência é a suspensão de vários direitos democráticos, a legalização de medidas repressivas em grande escala no que diz respeito aos vários setores da população que não têm nada a ver com os ataques.

Rechaçamos que o governo aproveite esta oportunidade para proibir as mobilizações sindicais e ecologistas futuras.

Tudo isso irá espalhar e reforçar os medos e ódios. Tudo isso só vai levar a uma escalada entre os ataques terroristas cada vez mais sangrentos e respostas de segurança cada vez mais repressivas. A resposta não é nem a retirada nem a militarização da sociedade.

A solução não virá daqueles que contribuíram para esta situação, com suas políticas militaristas, imperialistas, discriminatórias, de ódio. Eles usam isso para cada vez mais impor um Estado policial e de unidade nacional entre exploradores e explorados, que rechaçamos e denunciamos.

A solução requer o fortalecimento da solidariedade, nos bairros e em nossos locais de trabalho, e através da consolidação de todas as pessoas e de todos os que negam todos os regimes terroristas. Não vamos nos permanecer isolados! Vamos nos reunir para falar sobre nossas responsabilidades com a situação, especialmente em termos de ações unitárias de todas as forças de transformação social.

Alternative Libertaire, 14 de novembro de 2015

alternativelibertaire.org

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agora são de vento
as minhas mãos

Nenpuku Sato

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David Graeber: “Holofotes sobre o setor financeiro evidenciam quão bizarramente distorcida está nossa economia em termos de remuneração”

13 sexta-feira nov 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Abolição do trabalho, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Consumismo, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Comunicação, Comunicação Libertária, David Graeber, Economia, Mobilidade Urbana, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, pós-capitalismo, Publicidade, Teoria

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Agroecologia, anarco-ecologia, anarcoecologia, colapso economico, David Graeber, ecologia, economia, economia política, empregos sem sentido, Entrevista, Graeber

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Fonte: SALON | 01.06.2014

Tradução: Fernando Amorim. Revisão Samuel Victor – Coletivo Anarquia ou Barbárie.

David Graeber explica porque quanto mais seu trabalho ajuda os outros, menor é sua remuneração.

THOMAS FRANK

David Graeber é um antropólogo americano que leciona na London School of Economics. Ele é autor do clássico “Dívida: os primeiros cinco mil anos” e desempenhou um papel importante no lançamento do movimento Occupy Wall Street. Ano passado, ele escreveu um ensaio muito discutido perguntando o que aconteceu com a velha promessa da sociedade de mais tempo de lazer para os trabalhadores. Para as tarefas que vieram a ocupar o tempo que já foi prometido ser nosso, Graeber inventou o rótulo delicado e ligeiramente obscuro, “empregos sem sentido”.

Eu quis saber exatamente o que ele quis dizer com isso, e assim discutimos o assunto por e-mail. A conversa a seguir foi levemente editada.

Iniciemos pelo começo: a previsão de Keynes, na década de 1930, de que muito em breve os trabalhadores teriam todos os tipos de tempo de lazer em virtude do aumento da produtividade. Existe uma história dessa ideia? Quero dizer, outros também afirmaram isso, certo?

Bem, elementos radicais do movimento dos trabalhadores começaram a adotar tais visões desde muito cedo. Após as bem-sucedidas campanhas pela jornada de oito horas, nos anos 1880, as pessoas imediatamente começaram a pensar que poderíamos reduzi-las para sete, seis horas, ou menos. Paul Lafargue, genro de Marx e autor de “O Direito à Preguiça”, já estivera demandando algo nesse sentido em 1883. Tenho uma camiseta com uma estampa no estilo virada do século que diz: “filie-se ao IWW para um novo amanhecer”, com um desenho de um nascer do sol sobre os telhados, e em que está escrito no sol: “semana de quatro dias, dia de quatro horas”. Não sei exatamente de quando essa imagem realmente é, mas suponho que seja da década de 1910 ou de 1920. Nos anos 1930, muitos dos sindicatos centraram esforços em prol de uma semana de 35 horas. Minha mãe trabalhava na indústria de vestuário na época e foi assim que ela acabou se envolvendo na revista musical do Sindicato Internacional das Trabalhadoras em Vestuário (ILGWU, na sigla em inglês), “Agulha e alfinetes”, porque todo mundo tinha conquistado uma semana mais curta e o sindicato começou a promover atividades de lazer.

E quando essa expectativa começou a definhar?

Nos anos 1960, a maioria das pessoas pensava que as fábricas automatizadas e, em última instância, a eliminação de todo o trabalho manual, provavelmente estaria a apenas uma ou duas gerações de distância. Todos, desde os situacionistas até os Yippies, diziam “deixem as máquinas fazerem todo o trabalho!” e contestavam o próprio princípio do trabalho de 9 as 5. Nos anos 1970, houve de fato uma série de hoje esquecidas greves selvagens de trabalhadores da indústria automobilística e outras, em Detroit, Turim, eu acho, e em outros lugares, onde se clamava basicamente: “estamos fartos de trabalhar tanto”.

Esse tipo de coisa deixou diversos ocupantes do poder em uma espécie de pânico moral. Foram criados grupos de pesquisa para analisar o que fazer – basicamente, como manter o controle social – em uma sociedade onde cada vez mais formas tradicionais de trabalho estavam em vias de se tornarem obsoletas num curto espaço de tempo. Muitas das queixas que você vê na obra de Alvin Toffler e figuras similares no início dos anos 70 – de que o rápido avanço tecnológico estava empurrando a ordem social para o caos – tem a ver com essas ansiedades: da feita que o lazer em excesso havia criado os movimentos de contracultura e juventude, o que aconteceria quando as coisas fossem ainda mais relaxadas? Provavelmente, não por acaso que foi nessa época que começaram as reviravoltas, tanto no que se refere à orientação da pesquisa tecnológica, que foi afastada da automação e reorientada para tecnologias informacionais, médicas e militares (basicamente, tecnologias de controle social), quanto no que se refere às reformas de mercado, que nos remeteriam a um emprego menos seguro, com jornada mais longa e maior disciplina de trabalho.

Hoje a produtividade continua aumentando, mas os americanos trabalham mais horas por semana do que antigamente, e não menos. Além disso, mais do que trabalhadores de outros países. Correto?

Os EUA, mesmo sob o New Deal, sempre foram muito mais mesquinhos que a maioria dos países ricos quando se trata de ausências, sejam elas licença maternidade ou paternidade, férias, etc. Mas desde os anos 1970, as coisas vêm definitivamente piorando.

Os economistas têm uma explicação para essa combinação de maior produtividade e aumento de horas de trabalho? O que é e o que você acha disso?

Curiosamente, os economistas tendem a não considerar interessantes tais questões – coisas realmente fundamentais sobre valores, por exemplo, ou questões políticas ou sociais mais amplas sobre como a vida das pessoas realmente é. Eles raramente têm algo a dizer sobre elas munidos apenas de seus próprios recursos. Só quando algum não-economista propõe explicações sociais ou políticas para o surgimento de cargos administrativos e gerenciais aparentemente sem sentido é que eles respondem no susto: “Não, não. Poderíamos ter explicado isso perfeitamente bem em termos econômicos”, e elaboram alguma coisa.

Por exemplo, assim que meu texto foi publicado, a revista The Economist se apressou em providenciar-lhe uma réplica, em apenas um ou dois dias. Era uma resposta incrivelmente fraca em argumentos, cheia de falácias lógicas óbvias, mas sua ideia central era: bem, pode haver muito menos pessoas envolvidas na produção, no transporte e manutenção de produtos do que costumava haver, mas faz sentido que tenhamos três vezes mais administradores porque a globalização tornou o processo de produção hoje muito mais complicado. Temos computadores em que o circuito é projetado na Califórnia, produzido na China, montado em Saipan, encaixotado em alguma prisão em Nevada, enviado pela Amazon de um dia para outro para Deus-sabe-onde… Isso parece suficientemente convincente até que você realmente pare pra pensar a respeito. Então você percebe: se as coisas são assim, por que a mesma coisa acontece nas universidades? Porque lá também ocorre o mesmo acúmulo interminável de empregos administrativos, camada sobre camada. Será que o processo de ensino tornou-se três vezes mais complicado do que era na década de 1930? E se não, por que a mesma coisa acontece? Assim, a maioria das explicações econômicas não faz sentido.

Tudo isso é verdade e muito correto sobre o que acontece nas universidades, mas deve haver uma explicação oficial – senão econômica – para que não tenhamos conseguido a Grande Conquista que todos esperavam há não muito tempo. Quero dizer: Keynes estava completamente bêbado, ou um sistema desse tipo simplesmente não iria dar certo, ou trabalhadores não são educados o suficiente para merecer tantas férias, ou as coisas que produzimos hoje são simplesmente muito melhores do que as coisas que as pessoas produziam no tempo de Keynes, fazendo com que elas valham mais e tomem-nos mais horas de trabalho para serem obtidas. Deve haver alguma coisa.

Bem, a explicação casual é sempre o consumismo. A ideia é que, dada a escolha entre dias de quatro horas, e dias de nove ou dez horas com carros esporte, iPhones e oito variedades de sushi, todos nós decidimos coletivamente que o tempo livre realmente não vale a pena. Isso também se conecta ao argumento da “economia de serviços”, em que ninguém quer mais cozinhar, limpar, fazer reparos ou mesmo preparar seu próprio café. Portanto, todo o novo emprego reside na manutenção de uma infraestrutura para que as pessoas apenas deem um pulo na praça de alimentação, ou no Starbucks, em seu caminho para o trabalho. Então, se você levantar a questão para alguém que não costuma pensar sobre o assunto, certamente grande parte dessa situação será simplesmente tomada como senso comum. Mas isso, obviamente, também não constitui muito de uma explicação.

Em primeiro lugar, apenas uma pequena proporção dos novos postos de trabalho tem a ver de fato com a produção de brinquedos de consumo, e a maior parte dos que tem a ver estão no exterior. Ainda assim, mesmo lá, o número total de pessoas envolvidas na produção industrial diminuiu. Em segundo lugar, mesmo nos países mais ricos, não está claro se o número de empregos de serviço realmente aumentou tão dramaticamente como gostamos de imaginar. Se olharmos para os números entre 1930 e 2000, constatamos que costumava haver um grande número de empregados domésticos. Esses números despencaram. Em terceiro lugar, você percebe também que o que tem crescido não são os empregos de serviços em si, mas empregos de “serviços, administrativos e de escritório”, que passaram de cerca de um quarto de todos os empregos nos anos 1930 para talvez algo em torno de três quartos hoje. Mas como você explica uma explosão de gerentes médios e burocratas através de um desejo por sushi e iPhones?

E então, finalmente, chegamos à questão óbvia de causa e efeito. As pessoas trabalham muito porque acabamos concebendo de alguma forma independente este desejo por cafés e pães sofisticados, acompanhantes de cães e similares, ou será que as pessoas estão comprando lanches pra viagem e contratando pessoas para saírem com seus cães porque estamos todos trabalhando demais?

Talvez parte da resposta resida no fato de as pessoas terem se esquecido da expectativa de mais tempo de lazer, e de não haver nenhuma agência política para se exigir mais isso. Então, não haveria necessidade de se explicar o que aconteceu. Quero dizer, não há mais greves selvagens.

Bem, podemos falar do declínio do movimento sindical, mas há algo mais profundo. No final do século XIX e início do século XX, uma das grandes divisões entre os sindicatos anarquistas e os sindicatos socialistas refere-se as suas reinvindicações: enquanto os últimos sempre pleiteavam salários mais altos, os anarquistas demandavam menos horas. É por isso que os anarquistas estiveram tão envolvidos nas lutas pela jornada de oito horas. É como se os socialistas estivessem essencialmente comprando a ideia de que o trabalho é uma virtude, de que o consumismo é bom, mas que tudo isso deveria ser gerido democraticamente, enquanto os anarquistas estavam dizendo não, que o esquema todo – aquele em que todos nós devemos trabalhar mais e mais por mais e mais coisas – é podre desde sua raiz.

Já disse isso antes, mas acho que uma das maiores ironias da história é como esse posicionamento sempre é descartado quando os movimentos dos trabalhadores conseguem chegar ao poder. Em geral, foram os grupos de anarquistas clássicos – camponeses e artesãos recentemente proletarizados – que se insurgiram e fizeram as grandes revoluções, seja na Rússia, na China e, no que nos diz respeito, na Argélia e na Espanha – mas elas sempre resultaram em regimes geridos por socialistas que aceitaram o trabalho como uma virtude em si mesma, cujo propósito era criar uma utopia do consumidor. É claro que eles eram completamente incapazes de prover tal utopia do consumidor. Mas que benefícios sociais elas de fato asseguraram? Bem, o maior deles, aquele que ninguém fala, foi a garantia do emprego e segurança no trabalho – a “tigela de arroz de ferro”, como chamam na China, mas que também tem muitos outros nomes. De fato, você não poderia ser mandado embora de seu emprego. Como resultado, você não teria que trabalhar muito duro de verdade. Assim, formalmente tinha-se um dia de oito ou nove horas, em que todos estavam trabalhando, de fato, talvez quatro ou cinco horas.

Tenho vários amigos que cresceram na União Soviética, ou na Iugoslávia, que me descreveram como as coisas funcionavam. Você acordava de manhã, comprava o jornal, ia trabalhar, lia o jornal. Então, talvez, trabalhasse um pouco. Depois disso, tiraria uma demorada hora de almoço, com direito a uma visita ao banho público… Se pensarmos sobre isso sob essa ótica, concluiremos que as conquistas do bloco socialista parecem bastante impressionantes: um país como a Rússia conseguiu passar de um remanso para uma grande potência mundial com todos trabalhando em média talvez quatro ou cinco horas por dia. O problema é que eles não podiam considerar isso uma coisa boa. Eles tinham que fingir que era um problema, “o problema do absentismo,” ou o que fosse, porque, é claro, o trabalho era tomado como a virtude moral final. Eles não podiam valorizar o grande benefício social que efetivamente prestaram, que é, aliás, a razão pela qual os trabalhadores dos países socialistas não tinham ideia em que estavam se metendo quando aceitaram a ideia de se introduzir a disciplina de trabalho de estilo capitalista. “O quê? Temos que pedir permissão para ir ao banheiro?” Isso lhes parecia tão totalitário quanto aceitar um estado policial do estilo soviético teria sido para nós.

Essa ambivalência ainda persiste no coração do movimento dos trabalhadores. Como cresci numa família de trabalhadores, de esquerda, eu sentia isso o tempo todo. Por um lado, há esse imperativo ideológico para validar o trabalho como uma virtude em si mesma, que é constantemente reforçado pela sociedade em geral. Por outro lado, há o fato de que a maioria dos trabalhos é obviamente estúpida, degradante, desnecessária e produz a sensação de que é melhor evitá-lo, sempre que possível. Mas essa mesma ambivalência torna muito difícil de nos organizarmos, como trabalhadores, contra o trabalho.

Vamos falar sobre “empregos sem sentido.” O que você quer dizer com esse conceito?

Quando falo de empregos sem sentido, refiro-me ao tipo de posto de trabalho em que mesmo aquele que o ocupa sente que ele não precisaria de fato existir. Muitos deles são constituídos de gerências médias, por exemplo: “o coordenador de visão estratégica da Costa Leste” em alguma grande empresa. Isso significa basicamente que você gasta todo seu tempo em reuniões ou formando equipes que, em seguida, enviarão relatórios umas para as outras. Ou alguém que trabalha em uma indústria que sente que ela não precisaria existir, como a maioria dos advogados de empresas que conheço, ou operadores de telemarketing, ou lobistas… Basta pensar o seguinte: quando você entra em um hospital, metade dos funcionários nunca parecem fazer qualquer coisa para as pessoas doentes, apenas preenchem formulários de seguro e enviam informações uns para os outros. Obviamente, parte deste trabalho precisa ser feito, mas em sua maioria, todo mundo que trabalha lá sabe o que realmente precisa ser feito e que os noventa por cento de tempo restantes não passam de perda de tempo. Pense também nos trabalhadores auxiliares que dão suporte às pessoas que trabalham em empregos sem sentido. Por exemplo, existe um escritório onde as pessoas basicamente transformam papelada formatada em alemão em papelada formatada em inglês ou algo assim, e tem que haver toda uma infraestrutura de recepcionistas, porteiros, seguranças, técnicos de informática, que constituem o tipo de emprego sem sentido de segunda ordem. Eles estão realmente fazendo alguma coisa, mas eles estão fazendo isso para dar suporte a pessoas que estão fazendo nada.

Quando publiquei o texto, houve uma torrente de confissões de pessoas em cargos sem sentido, tanto em empresas privadas como no serviço público, de diversos setores. Foi interessante constatar que seus relatos não revelavam qualquer grande diferença entre o setor público e o setor privado nesse sentido. Por exemplo, existe um cara cujo único dever é manter uma planilha que mostra quando certas publicações técnicas estão fora da data e enviar e-mails para os autores para lembrá-los da necessidade de efetuar atualizações. De alguma forma, ele teve que transformar isso em um trabalho de oito horas por dia. Outro relatou ter que examinar políticas e procedimentos dentro da corporação e elaborar planos, descrevendo formas alternativas de alcançá-los, relatórios que circulam com o objetivo de dar a outras pessoas em trabalhos semelhantes a chance de ir a reuniões e coordenar dados para escrever novos relatórios, nenhum dos quais foi implementado. Outra pessoa confessou criar anúncios e conduzir entrevistas para cargos em uma empresa que eram invariavelmente preenchidos por promoção interna de qualquer maneira. Em suma, muitas pessoas disseram que sua função básica era criar tarefas para outras pessoas.

O conceito de emprego sem sentido parece muito convincente e até bastante óbvio para mim – eu costumava trabalhar como temporário e testemunhei essas coisas em primeira mão – mas outros podem apelar para o populismo de mercado e dizer: quem é você para dizer que o trabalho de alguém é sem sentido, Sr. Graeber? Você deve pensar que você é melhor do que o resto de nós ou algo assim.

Bem, continuo enfatizando: não estou aqui para dizer a quem pensa que seu trabalho é valioso que eles estão iludidos. Só estou dizendo que se as pessoas acreditam secretamente que seu trabalho não precisaria existir, elas provavelmente estão certas. Os arrogantes são aqueles que pensam que sabem mais, que acreditam que há trabalhadores que são tão estúpidos que eles não entendem o verdadeiro significado do que fazem todos os dias, que não percebem que isso realmente não é necessário, ou pensam que os trabalhadores que acreditam que eles estão em empregos sem sentido têm um sentido tão exagerado de auto-importância que eles acham que deveriam estar fazendo outra coisa e, portanto, descartar a importância de seu próprio trabalho, como se não fosse bom o suficiente. Ouço muito isso por aí. Essas pessoas são as arrogantes.

O problema dos empregos sem sentido se tornou mais evidente para nós agora por causa da crise financeira, dos resgates feitos a Wall Street e ao agora bem sabido fato de que as pessoas que fazem quase nada de produtivo se apropriam tanto das recompensas de nossa sociedade? Quero dizer, sempre soubemos que havia empregos sem sentido por aí, mas o absurdo de tudo isso nunca pareceu tão gritante antes, digamos, de 2008.

Acredito que os holofotes voltados ao setor financeiro evidenciaram o quão bizarramente distorcida está nossa economia em termos de quem é recompensado e pelo o quê. Havia um manto de mistificação lançado sobre tudo o que dissesse respeito a esse setor – era-nos dito que é tudo muito complicado, que você não ia entender, que se trata de ciência muito avançada, você sabe, eles utilizam programas tão complicados que só astrofísicos poderiam entendê-los, esse tipo de coisa. Apenas tivemos que aceitar a palavra deles de que, de alguma forma, eles criavam valor de maneiras que nossas mentes simples não poderiam compreender. Então, depois da eclosão da crise, percebemos que um monte dessas coisas eram nada além de golpes, golpes bastante simplórios até, como fazer apostas que você não poderia pagar caso perdesse e esperar que o governo iria salvá-lo se isso acontecesse. Esses caras não estavam criando qualquer tipo de valor. Eles estavam arruinando o mundo e sendo absurdamente bem pagos para isso.

De repente, tornou-se possível percebermos que, se há uma regra, ela diz que quanto mais obviamente seu trabalho beneficiar os outros, menor será sua remuneração por ele. Altos executivos e consultores financeiros que arruínam a vida dos outros recebem milhões, burocratas inúteis são bem pagos, etc. Já as pessoas que exercem funções obviamente úteis como cuidar dos enfermos, ensinar as crianças, reparar sistemas de aquecimento quebrados, fazer colheitas são os piores remunerados.

Outra coisa curiosa que ocorreu após a eclosão da crise é que as pessoas passaram a se deparar com justificativas para esses arranjos. Você começa a ouvir por aí: “É claro que mereço ser bem pago, afinal, faço um trabalho miserável e alienante” – pelo qual elas não se referiam a serem forçadas a entrar no esgoto ou embalar peixe, mas exatamente o oposto – que eles não conseguiam realizar trabalhos que tivessem algum benefício social evidente. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas está se tornando uma espécie de tendência. Recentemente li um blog muito interessante em que o autor, Geoff Shullenberger, aponta que hoje em muitas empresas assume-se que, se houver um trabalho que alguém possa querer fazer por qualquer motivo que não seja o dinheiro, qualquer trabalho que é visto como tendo mérito intrínseco, então este trabalho não deveria ser remunerado. Ele deu o exemplo do trabalho de tradução, mas isso se aplica também à lógica dos estágios e afins, amplamente expostos por autores como Sarah Kendzior e Astra Taylor. Ao mesmo tempo, essas empresas estão dispostas a desembolsar grandes quantias de dinheiro para pagar burocratas cheios dos planejamentos estratégicos, os quais eles sabem muito bem que não farão absolutamente nada.

Você sabe que está descrevendo o que aconteceu ao jornalismo. Pelo fato de as pessoas quererem fazê-lo, agora paga-se muito pouco por ele. O mesmo ocorre com o ensino universitário.

O que aconteceu? Bem, acho que isso se deve em parte a uma hipertrofia desse impulso para validar o trabalho como uma coisa em si. Em outros tempos, os estadunidenses aceitavam uma versão rudimentar da teoria do valor trabalho. Tudo o que consideramos bonito, útil ou importante à nossa volta foi produzido através do trabalho, por pessoas que empenharam esforços físicos e mentais para sua criação e manutenção. O trabalho é valioso na medida em que cria essas coisas que as pessoas gostam e precisam. Desde o início do século XX, tem havido um enorme esforço por parte das pessoas que governam este país para mudar isso: para convencer a todos de que o valor realmente vem das mentes e visões de empresários, e que os trabalhadores comuns são apenas robôs descerebrados que transformam essas visões em realidade.

Mas, ao mesmo tempo, eles tinham que validar o trabalho de alguma forma, de modo a nos dizer, simultaneamente: o trabalho é um valor em si mesmo. Ele gera disciplina, maturidade ou algo assim, e qualquer um que não ocupe a maior parte de seu tempo trabalhando com o que não goste é uma pessoa má, preguiçosa, perigosa, parasitária. Assim, o trabalho é valioso, não importando se represente ou não algo de valor. Temos, então, essa mudança peculiar. Como qualquer um que já teve um emprego do tipo 9 as 5 sabe que a coisa que todo mundo mais odeia é ter que parecer ocupado, mesmo depois de ter terminado uma tarefa, apenas para deixar o chefe feliz, porque é o “tempo dele” e você não tem nenhuma área de lazer por perto, mesmo que não haja nada que você realmente necessite estar fazendo. Agora é quase como se esse tipo de negócio fosse a forma mais valorizada de trabalho, porque é trabalho puro, livre de qualquer tipo possível de gratificação, mesmo aquela gratificação que advém de sabermos que estamos de fato fazendo alguma coisa. E cada vez que há algum tipo de crise, isso se intensifica. Dizem-nos: “Ó, não! Teremos todos que trabalhar mais”. E da feita que a quantidade de coisas que realmente precisam ser feitas permanece mais ou menos a mesma, há uma hipertrofia adicional da falta de sentido.

Fico pensando a respeito das implicações políticas disso. Você fala de uma situação que obviamente requer os sindicatos, mas que também pode tomar outro rumo. Lembro-me de uma passagem em seu livro, “The Democracy Project”, em que você atribui à conhecida inimizade da classe trabalhadora contra a “elite liberal” o fato de que a elite liberal tem empregos bons, gratificantes etc., que por definição a maioria das pessoas comuns nunca será capaz de conseguir. Gostaria que você falasse mais a respeito.

Bem, aqui retornamos à questão dos estágios não remunerados. Há alguns anos escrevi um texto para a Revista Harpers intitulado “Exército de Altruístas”, onde tentei dar conta do poder do populismo de direita, especialmente com a maneira com que o “odiamos a elite liberal” e o “apoiamos as tropas” parecem ter uma ressonância muito profunda e semelhante, até mesmo para constituírem uma forma de se dizer a mesma coisa. Concluí que as pessoas que integram a classe trabalhadora odeiam mais a elite cultural do que a elite econômica – e não se esqueça, eles não gostam muito da elite econômica –, mas eles odeiam a elite cultural porque eles os veem como um grupo de pessoas que se apropriou de todos os postos de trabalho bem remunerados do mundo. Se você deseja uma carreira tendo em vista qualquer forma de valor diferente do monetário – se você quer trabalhar com jornalismo tendo em vista buscar a verdade, ou nas artes tendo em vista a busca pela beleza, ou em alguma instituição de caridade, ou em uma ONG internacional, ou na ONU tendo em vista promover justiça social – bem, mesmo supondo que você possa preencher os requisitos necessários, você não será pago pelos primeiros anos de trabalho. Então, em tese, após a graduação, você teria que morar por alguns anos em Nova York ou alguma outra cidade cara sem dinheiro algum. Quem mais pode fazer isso a não ser os filhos da elite? Suponhamos, então, que você trabalhe como operador de empilhadeira ou mesmo como florista. Da mesma forma que você sabe que é pouco provável que seu filho ou filha se torne um alto executivo ou alta executiva, você também sabe que não há praticamente chance alguma dele ou dela se tornarem um crítico ou crítica de teatro do jornal New Yorker, ou um advogado ou advogada internacional de direitos humanos. A única maneira que eles poderiam ser pagos decentemente para fazer algo nobre, algo que não seja só pelo dinheiro, é através do alistamento militar. Assim, dizer “apoiamos as tropas” é uma forma de dizer “foda-se” para a elite cultural que acha que somos um bando de trogloditas, mas que também se certificam que nossos filhos nunca serão capazes de se juntar ao clube dos ricos benfeitores, mesmo que ele ou ela seja duas vezes mais inteligente do que qualquer um deles.

Assim, a direita manipula o ressentimento do grosso da classe trabalhadora, que não tem condições de dedicar suas vidas a qualquer coisa puramente nobre ou altruísta. Mas, ao mesmo tempo – e aqui está o verdadeiro gênio do mal do populismo de direita –, ela também manipula o ressentimento daquela porção da classe média atada a empregos sem sentido contra o grosso da classe trabalhadora, que, pelo menos, realiza um trabalho produtivo, de benefício social óbvio. Pense em todo o alvoroço popular que cerca os professores de ensino básico. Há essa campanha interminável de difamação, em que eles são acusados de terem salários muito altos, serem indulgentes, e responsáveis por todos os problemas em nosso sistema de ensino. Na verdade, os professores do ensino fundamental passam por condições realmente aviltantes por muito menos dinheiro do que eles seriam pagos caso estivessem em qualquer outra profissão que exigisse o mesmo nível de educação. E quase todos os problemas que os direitistas se referem não são de forma alguma criados pelos professores ou pelos sindicatos de professores, mas por administradores escolares – aqueles que recebem uma remuneração muito maior e, principalmente, têm empregos sem sentido clássicos que parecem se multiplicar indefinidamente, mesmo que os próprios professores sofram arrochos e sejam aviltados. Então, por que ninguém reclama desses caras? Na verdade, vi uma coisa escrita por um ativista de extrema-direita em um blog – disse ele: bem, o engraçado é que, quando começamos nossas campanhas de reforma escolar, procuramos focar nos administradores, mas não demorou, elas se deslocaram para os professores e de repente a coisa toda explodiu. É difícil explicar isso de qualquer outra forma que não seja: um monte de gente se ressente dos professores pelo fato de eles ocuparem postos de trabalho genuínos, significativos. Você ajuda a moldar vidas jovens e ajuda a fazer uma diferença real para as outras pessoas. E a lógica parece ser: isso já não deveria ser o suficiente para eles? Eles querem fazer isso, e querem os salários da classe média, e segurança no trabalho, e férias, e benefícios também? Você encontra essa lógica até entre os trabalhadores da indústria automobilística: “Mas você produz carros! Isso é um trabalho de verdade! E você também quer US$ 30 por hora?”

É uma estratégia imperfeita. O anti-intelectualismo, por exemplo, funciona em muitos setores da classe trabalhadora branca, mas não tanto para os imigrantes ou os afro-americanos. O ressentimento contra aqueles que realizam um trabalho gratificante coexiste com um ressentimento por ter que realizar um trabalho sem sentido antes de mais nada. É uma mistura instável, mas temos que reconhecer que, em países como os EUA, tem sido muito eficaz.

O que pode ser feito a respeito?

Logo após a publicação de meu texto original sobre empregos sem sentido, eu costumava pensar que, se eu quisesse, poderia começar toda uma carreira em aconselhamentos de emprego – porque muitas pessoas escreveram para mim dizendo: “Percebo que meu trabalho é inútil, mas como posso sustentar uma família fazendo algo que realmente vale a pena?” Um monte de gente que trabalhava no balcão de informações no Zuccotti Park, e em outras ocupações, me disse a mesma coisa: jovens típicos de Wall Street vinham até eles dizer: “Sei, vocês estão certos. Não estamos fazendo nenhum bem ao mundo fazendo o que fazemos, mas eu não sei como viver com menos de um salário de seis dígitos. Teria que aprender tudo de novo. Você poderia me ensinar?”

Mas eu não acho que podemos resolver o problema via deserção individual em massa ou algum tipo de despertar espiritual. Isso é o que muita gente tentou nos anos 1960 e o resultado foi uma selvagem contraofensiva que tornou a situação ainda pior. Penso que precisamos atacar o cerne do problema: o de termos um sistema econômico que, por sua própria natureza, sempre vai recompensar quem prejudica outras pessoas e punir quem as beneficiam. Penso em um movimento de trabalhadores, mas de um tipo muito diferente do que conhecemos. Um movimento de trabalhadores que consiga finalmente abandonar todos os vestígios da ideologia que diz que o trabalho é um valor em si, que consiga redefinir o trabalho como um cuidar de outras pessoas. Acredito que vimos os primeiros sinais desse tipo de movimento durante o movimento Ocuppy. Lembro-me de ter ficado particularmente impressionado com a página na internet do movimento “Nós somos os 99%” – era uma página onde as pessoas que apoiavam o movimento, mas eram em sua maioria ocupados demais para realmente tomar parte nas ocupações ou conjuntos, poderia contribuir postando fotos de si mesmas segurando cartazes que descreviam sua situação de vida. Demograficamente, foi um muito revelador. Talvez 80% delas fossem mulheres. E mesmo os homens trabalhavam, em grade maioria, em profissões assistenciais: saúde, serviços sociais, educação. E as queixas eram surpreendentemente uniformes: basicamente, todas diziam “Quero fazer algo da minha vida que de fato beneficie outras pessoas; mas se eu me arriscar num tipo de trabalho em que eu cuide de outras pessoas, eu ganharia tão pouco e me endividaria tanto, que não conseguiria cuidar nem de minha própria família! Isso é ridículo!”

Chame-a revolta das classes do cuidado. Porque, afinal de contas, as classes trabalhadoras sempre foram, de fato, as classes do cuidado. Digo isso como uma pessoa oriunda da classe trabalhadora. Não apenas são quase todos fornecedores de cuidado (como também tomadores de cuidado!) de fato da classe trabalhadora, mas pessoas de tais origens sempre tendem a se ver como o tipo de pessoa que se preocupa ativamente com seus vizinhos e comunidades, e a valorizar esses compromissos sociais muito além de qualquer vantagem material. Acontece que nossa obsessão com certos tipos bem específicos de trabalhadores machões – operários fabris, caminhoneiros, esse tipo de coisa –, se tornou o paradigma de todo o trabalho em nossa imaginação e não nos permite atentar para o fato de que a maior parte da classe trabalhadora sempre esteve envolvida em um tipo ou outro de trabalho de cuidado. Então, acho que precisamos começar pela própria redefinição do trabalho. Começar, talvez, com o clássico “trabalho de mulher” – cuidar das crianças, zelar pelas coisas – como o paradigma para o próprio trabalho. Assim será muito mais difícil de sermos confundidos sobre o que é realmente valioso e o que não é. Como disse, nós já estamos vendo os primeiros sinais desse tipo de coisa. É uma transformação tanto política quanto moral e acho que é a única maneira que podemos superar o sistema que coloca muitos de nós em empregos sem sentido.

Thomas Frank é um colunista de política e cultura da Salon. Seus diversos livros incluem “O que está acontecendo com Kansas,” “Pena dos bilionários” e “Um mercado sob Deus”. É editor fundador da revista The Baffler.

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[França] Declaração da Zona Autônoma da ZAD de NDDL em solidariedade com o Curdistão

03 terça-feira nov 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Comunicação Libertária, Copyleft, Curdistão/Kobane, curdos, Decrescimento, Democratização da comunicação, Feminismo e Transfeminismo, Internacional anarquista, Mídia Contra Hegemônica, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Publicidade, Revolução Curda, Rojava, Squats e Okupas, ZAD- Zonas a Defender

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Curda, Curdistãi, Curdistão, Curdistão livre, curdos, okupas, ZADs].

franca-declaracao-da-zona-autonoma-da-zad-de-ndd-1

Fonte: A.N.A.

[A ocupação ZAD (Zona A Defender), perto da cidade de Nantes, proclamou a sua autonomia em solidariedade aos curdos e declarou-se recentemente como zona autônoma em resposta à guerra que foi declarada pelo governo turco aos municípios no norte do Curdistão.]

Declaração da Zona Autônoma da ZAD de NDDL em resposta ao apelo da KCK (Confederação das Comunidades do Curdistão)

Para aqueles que resistem no Curdistão.

Estamos seguindo o que está acontecendo na Turquia. Expressamos nosso apoio contra a ofensiva do Estado turco.

Esta reação de declaração de guerra é por causa dos resultados eleitorais que o Presidente não gostou e contra a vontade de um povo de se organizar horizontalmente.

Ouvimos a chamada para declarar-nos também um município autônomo e, detrás de fronteiras e montanhas, gostaríamos também de responder.

Estamos seguindo de perto o processo do Confederalismo Democrático em curso no Curdistão.

Sentimos-nos próximos de vocês na busca da auto-organização do lado de fora do projeto de Estado-Nação, e o estabelecimento de estruturas horizontais.

Nós admiramos o processo que envolve todos os povos, sem critérios de religião, etnia, etc, quando sabemos que o Estado leva a cabo políticas de assimilação ou aniquilação.

Partilhamos convosco o papel crítico do movimento das mulheres e o posicionamento do movimento LGBT na luta.

Finalmente, nós respeitamos os seus princípios de autodefesa e sua independência estratégica.

Falamos desde a ZAD (“Zona A Defender”) de Notre Dame des Landes, França, que está ocupada ilegalmente em oposição ao desenvolvimento proposto no território desde 2009, em uma luta que existe há 45 anos contra o projeto do aeroporto. Temos impedido os esforços de trabalho e resistido os despejos em 2012, graças a várias práticas de autodefesa.

Hoje, centenas de pessoas de diferentes contextos e origens continuam vivendo e organizando-se na autossuficiência de maneiras formais e informais. Tentamos nos reapropriar das maneiras de curar, nutrir, defender a justiça, a habitação, o comunismo do conhecimento, recursos, estruturas e comparti-lo com outras lutas.

O que está sendo construído no Curdistão, atacado pelo Estado Islâmico, agora está sendo esmagado por bombas turcas. O Estado francês, em busca de heróis contra o EI, encheu a boca de louvor para os curdos, mas hoje suporta a vergonhosa guerra contra o terrorismo de Erdogan que continua matando e reprimindo os ativistas curdos e as ativistas curdas. Nós nos declaramos prontos para ajudá-los!

Solidariedade com o povo de Bakur (norte do Curdistão), especialmente com as cidades assediadas!

Solidariedade com os curdos e curdas atacados por nacionalistas turcos!

Solidariedade com Rojava (Oeste do Curdistão)!

Fonte: https://zad.nadir.org/spip.php?article3180

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2014/02/25/franca-comunicado-dos-organizadores-da-manifestacao-anti-aeroporto-de-22-de-fevereiro-em-nantes/

agência de notícias anarquistas-ana

Colho-te uma flor
de manhã e extasio-me
com o teu sorriso

José Félix

 

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(Angola) Presos políticos iniciam greve de fome em Angola

02 segunda-feira nov 2015

Posted by litatah in Anarquia, Angola, Comunicação, Comunicação Libertária, Internacional anarquista, Mártires da Luta, Notícias, Organizações Anarquistas, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Presos Políticos, Presos políticos, Presos Políticos em Angola, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Repressão, Todo Apoio aos 23

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Angola, manifestantes presos, presos políticos internacionais, repressão, repressão em Angola, repressão internacional, todo preso é preso político

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas

Em Junho, foram presos em Luanda 15 ativistas cívicos. Os jovens estavam reunidos numa residência particular com o objectivo de lerem e discutirem um livro sobre técnicas de ação não violenta visando a substituição de regimes ditatoriais.

Alguns destes ativistas tornaram-se conhecidos nos últimos anos ao darem o rosto, em diversas manifestações, a favor da democratização e pacificação de Angola, e de um desenvolvimento social mais justo. Tais manifestações foram sempre duramente reprimidas pela polícia.

O governo angolano acusou os jovens de atentar contra a ordem pública e segurança de estado. Num discurso público, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos veio caucionar a acusação, associando-a ao que se passara com os trágicos acontecimentos de 27 de Maio de 1977.

Pessoas detidas por tentativa de golpe de Estado são, naturalmente, presos políticos.

Pouco depois de o Tribunal Supremo ter negado o pedido de Habeas Corpus requerido pela defesa, cumpriram-se 90 dias desde a prisão dos jovens. 90 dias em solitária, em condições precárias para a sua saúde física e mental. Foi, assim, esgotado o primeiro prazo normal e o segundo excepcional de prisão preventiva, sem que a Procuradoria Geral da República comprovasse os crimes de que são indiciados.

À meia noite do dia 21 de setembro, Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão e Sedrick de Carvalho tomaram a decisão extrema de iniciar uma greve de fome. De acordo com a sua vontade, este protesto só terminará quando forem soltos, sendo que o estado de saúde dos ativistas é bastante preocupante. A situação é de enorme angústia para os familiares e amigos dos jovens democratas e para todas as pessoas comprometidas com a democracia e a liberdade. Dado o delicado estado de saúde de alguns deles, devido a um tratamento médico deficiente e a várias carências alimentares, uma greve de fome pode vir a representar uma ameaça às suas vidas.

Caso as autoridades não reajam atempadamente, as consequências desta greve de fome poderão ser trágicas. Silenciar é compactuar com a injustiça.

Exigimos que se façam todos os esforços para preservar a vida e a saúde de todos os presos políticos. Exigimos que se quebre o silêncio. Exigimos Liberdade e respeito pelos Direitos Humanos em Angola.

Exigimos Justiça.

A situação é urgente. Nenhuma pessoa pode sentir-se livre sabendo que há, algures, outras pessoas presas por sonharem com um mundo mais justo. Nós partilhamos desse mesmo sonho que levou os jovens à cadeia, o mesmo sonho que agora pode custar-lhes a vida.

Liberdade já!

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O ataque dos agiotas e a tesoura dos neoliberais

21 quarta-feira out 2015

Posted by litatah in Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Aparelhos de reprodução ideológica, Comunicação, Comunicação Libertária, Democratização da comunicação, Economia, Esquerda partidária, Mídia Contra Hegemônica, Mídia Hegemônica

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colapso economico, Cunha, Dilma, economia, economia política, Folha de São Paulo, Levy, mídia, Mídia contra hegemônica, Mídia Hegemônica

A pedestrian passes in front of Standard & Poor's headquarters in New York, U.S., on Tuesday, Feb. 5, 2013. The U.S. is seeking as much as $5 billion in penalties from McGraw-Hill Cos. and its Standard & Poor's unit to punish it for inflated credit ratings that Attorney General Eric Holder said were central to the worst financial crisis since the Great Depression. Photographer: Scott Eells/Bloomberg via Getty Images

Um pedestre passa em frente da sede da Standard & Poor, em Nova York, EUA, na terça-feira, 5 de fevereiro de 2013. Os EUA estão buscando até US $ 5 bilhões em sanções de McGraw-Hill Cos. E da sua unidade da Standard & Poor para punir -lo para as notações de crédito inflacionados que o procurador-geral Eric Holder disse que foram fundamentais para a pior crise financeira desde a Grande Depressão. Fotógrafo: Scott Eells / Bloomberg via Getty Imagem

Fonte: Anarkismo

Por Bruno Lima Rocha.

Enquanto o pensamento à esquerda estiver sob a hegemonia do pacto lulista seremos reféns da traição sistemática, com ou sem ‘apoio crítico’ e as bravatas de sempre”, alerta Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais.

Introdução: as medidas recessivas da equipe econômica do Planalto

As medidas anunciadas pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) anunciam a tesoura geral no Planalto para assegurar a maldita meta de superávit (desejáveis 0.7% para 2016) e o vergonhoso e imoral volume de R$ 35 bilhões de reais de juros para o espólio da rolagem da dívida interna. Não contentes em cortar R$ 26 bilhões de um orçamento apertado, cujo montante alocado para os gastos com o espólio rentista equivalem a cerca de 40% a 45% do orçamento da União, na tarde de 14 de setembro de 2014, a pauta bomba circulando no Congresso configurava óbvia ameaça de impeachment. A disputa por facções de poder por vezes se mostram irrelevantes do ponto de vista ideológico. Para que impeachment se a direita já governa? Bem, talvez para assegurar a rendição total, o que inclui o retorno ao modelo de concessões do Pré-Sal e a posterior venda da Petrobrás.

Este parece um mundo apartado das tabelas de finanças da equipe econômica que está realizando as políticas da chapa que fora derrotada em 2014. Quando começa a falar o Chicago Boy do Bradesco, temos uma pequena viagem no tempo, um pesadelo neoliberal que recorda o mesmo tom de voz e as piadas sem graça de Pedro Malan. Definitivamente, essa gente sai de uma fábrica de lobotomia monetarista e nos governa de fato através dos mecanismos de controle mais vis.

O ataque dos agiotas e chantagistas internacionais

Nosso pesadelo societário no tempo presente começa na manhã de 09 de setembro, quando a mídia eletrônica brasileira anunciava a catástrofe advinda com a nota atribuída por uma agência de rating. Obviamente que nenhum lide de um mísero jornal brasileiro estampou em sua capa ou tela, e menos ainda em escalada de telejornal ou chamada de síntese radiofônica a vida pregressa desta mesma empresa. Bastava retornar no tempo, para o ano de 2008 e a reputação dos emissores da nota cairia por terra.

Em debates no espaço público virtual, tive a felicidade de receber o seguinte comentário de Miguel Gouveia, um consultor financeiro profissional radicado no Rio de Janeiro e conhecedor do mundo concreto dos mercados. Me disse Miguel:

“Um downgrading (rebaixamento da nota) dessas agencias, hoje muito questionadas devido a manipulação de ratings em 2008 pela qual foram TODAS condenadas a multas milionárias, implica no aumento do custo de dinheiro externo. Isto significa que o país não é bom devedor e portanto os bancos vão aumentar juros e riscos para emprestar dinheiro por aqui, e é a esses bancos que essas agencias servem. Isso (a nota) é muito importante para países como Grécia e Indonésia, etc. que precisam pedir dinheiro emprestado e devem ao FMI, por exemplo. Já o Brasil está com um nível muito alto de reservas, é credor do FMI (empresta dinheiro ao Fundo) e as grandes empresas tem lastro para seus empréstimos internacionais e nenhum banco está cobrando nenhuma delas. O Brasil é o 3° credor em títulos dos EUA, 7ª economia do mundo e temos mais de US$450 bilhões de dólares de reservas. Para o brasil, significa economicamente nada de coisa alguma ter uma agencia como a S&P rebaixar ou elevar qualquer rating”

Eu agrego que os impactos são de ordem política e de confiança, como numa espécie de profecia auto-realizada. Especificamente a agência de “análise” de risco Standard & Poor’s (S&P), tão festejada pela mídia aberta brasileira, foi condenada pelas autoridades dos EUA a pagar uma multa de Usd 1,37 bilhão de dólares pelas fraudes cometidas na chamada crise da bolha imobiliária e falência de bancos de investimentos. A saber, no maior escândalo destes analistas, a agência classificou como triplo a (AAA) ao falimentar banco Lehman Brothers meses antes da quebra. E, até a manhã da falência do Lehman (em setembro de 2008), recebia a nota A. Outro escândalo se deu com a “avaliação” da empresa de energia Enron, que recebeu grau de investimento até cinco dias antes de sua quebra, em dezembro de 2001. O caso da Enron formaliza o primeiro grande escândalo do século XXI e é magistralmente registrado no documentário “The smartest guys in the room” (Enron: os caras mais espertos da sala, 2005, dirigido por Alex Gibney).

A fraude da Enron envolve todas as pontas do negócio de venda de ações e apreciação de valor de algo que perdera seu lastro. Na jogada estavam os altos executivos desta empresa de energia, pois maquiavam balanços através da criação de empresas fantasmas em paraísos fiscais (como Bahamas e Cayman), onde supostamente estas empresas inexistentes comparavam ações da Enron. Com o lucro no azul, estes mesmos executivos aumentavam seus bônus por “produtividade”. As empresas de auditoria Arthur Andersen, Price Waterhouse e KPMG abalizavam as operações, afirmando que tudo ia bem. Já a mega corretora Merril Lynch, fez uma operação e compra e venda de investimentos da Enron na Nigéria e com isso movimentou as ações da empresa quase falida, inflando o valor de suas ações. E, para fechar o esquema, a S&P deu grau de investimento para a picaretagem empresarial promovida pelos “espertalhões” que comandavam a Enron. Resultado: uma falência fraudulenta, mais de cinco mil demitidos e outros vinte mil empregados quebraram juntos, pois foram incentivados a comprar ações da própria empresa.

Ao observarmos ambos os casos, e ao constatarmos o absurdo da rebaixa da nota brasileira em 09 de setembro de 2015, nos damos conta de que o país está sob um forte ataque especulativo. O Brasil perdeu, literalmente, o grau de investimento atribuído pela S&P – que em conjunto com a agência Moody’s e a Fitch, detêm 70% deste “mercado” de avalistas – sendo rebaixado de BBB- para BB+. Além do governo central e o seu orçamento, também foram rebaixados mais de quarenta empresas brasileiras, a começar pela Petrobrás, um dos alvos permanentes de cobiça internacional.

O país é alvo dos ataques internacionais – de ordem especulativa – e das direitas político-ideológica-financeiras, dentro e fora tanto do governo de turno (o do 3º turno, o real e concreto), como com e sem legenda, a exemplo da manada de entreguistas a sair às ruas em nome de um moralismo lacerdista. É óbvio que a meta de curto prazo é a reversão da melhora material das condições de vida – promovidas pelo pacto conservador e policlassista do lulismo – e uma inflexão na política econômica para assegurar os ganhos das hienas sedentas do mundo financeiro e, se possível, não avançar na quebradeira das indústrias aqui instaladas.

A rendição total é a meta permanente

A conta do orçamento não fecha, o governo quer bater meta de superávit primário e o Chicago Boy do Bradesco anuncia tentar atingir os 0,7%. Na manhã de 2ª, 14 de setembro, até o telejornal matutino Bom Dia Brasil (da Globo) reconheceu a necessidade de corte em função de R$ 35 bilhões necessários para pagar os juros da dívida pública! Como sempre, o óbvio entra como factual secundário, invertendo a causalidade. Manipulação de quinta categoria, pois é uma obviedade que evidencia a roubalheira rentista. A taxa de juros está estável, dizem eles. Sim, na última reunião do Copom não aumentaram os juros, e estes batem 14,25% ao mês como base da Selic! Depois obviamente algum gênio das finanças reclama que não temos poupança interna e os volumes de retirada da poupança batem tristes recordes, um depois do outro. Basta verificar o quanto rende o CDB e quanto rende a poupança!

E agora já se anuncia a profecia da família Frias quando em editorial, de 13 de setembro, o Grupo Folha da Manhã recorda seus tempos de colaboradora da ditadura militar e edita a versão pós-moderna do Fora! e Basta!. A Folha anuncia: “A última chance”, dando um ultimato para a presidente eleita, só altando ameaçar alguma Operação Brother Sam para reforçar seu ponto de vista. No dia seguinte, o Planalto de joelhos, cede a pressão dos agiotas externos e dos senhores de engenho e café daqui. Anunciam o congelamento ou cortes no Pronatec, FIES, ProUni, Minha Casa Minha Vida. O “enxugamento” será progressivo até atingirem o Bolsa Família, em período não muito distante daqui. Enquanto isso, a recessão maluca e a inflação de preços administrados retroalimentada pela alta do dólar (influenciada por compras sem fim por parte do Banco Central) eleva os custos da indústria brasileira e a previsão de demissões na construção civil é de 500 mil para este ano. Parabéns aos monetaristas e neoliberais de sempre. Perderam nas urnas mas levaram o Planalto de brinde!

E a esquerda onde está?

A Folha colocou a faca na garganta da ex-desenvolvimentista e o resultado foi uma vergonhosa inflexão monetarista cuja conta política será cobrada pelos chantagistas capitaneados por Eduardo Cunha (PMDB-RJ, Assembleia de Deus e intermediário de grandes capitais conforme verificado nos seus apoiadores diretos de campanha) e a conta social vai fazer com que tenhamos a sensação de estar no início do segundo governo FHC. Se isto não é estelionato eleitoral então a tal da democracia indireta perde direto para a tal da governabilidade.

Definitivamente não foi por falta de aviso, mas isso de nada adianta. Enquanto o pensamento à esquerda estiver sob a hegemonia do pacto lulista seremos reféns da traição sistemática, com ou sem “apoio crítico” e as bravatas de sempre. Ou viramos a mesa como em abril, maio e junho de 2013 ou vamos passar quatro anos assistindo o pior da politicagem associada ao pior do monetarismo.

A fragilidade do Brasil – mesmo dentro da selvageria do Sistema Internacional sob o modo de produção capitalista não é de ordem estrutural, mas ideológica. As elites dirigentes tem cabeça de bastardos, odeiam a si e a todos nós, materializando o conceito do complexo de vira-latas. Como dizia o Barão de Itararé, “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo!”.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: http://www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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SAUDAÇÃO DA COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA À FARPA

20 terça-feira out 2015

Posted by litatah in Anarquia, Anarquismo Especifista, anarquismo no Brasil, Comunicação Libertária, Coordenação Anarquista Brasileira, FARPA - Federação Anarquista dos Palmares., Plataforma

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Fonte: CAB

Retirado de: http://anarquismo.noblogs.org/?p=321

Companheiras e companheiros da Federação Anarquista dos Palmares.

Esta saudação quer chegar até vocês não somente como palavras, mas como intenções, destas em que podemos sentir mesmo de longe a alegria e o entusiasmo de todas e todos companheiros da Coordenação Anarquista Brasileira pelos mais de 10 anos de luta e organização em que o CAZP sempre esteve comprometido na construção diária de um Anarquismo vinculados desde a base.

Sabemos que a tarefa de reorganizar o Anarquismo no país não tem sido fácil, mas não há outra saída. Coube a nós atuar sem descanso, cotidianamente, para criar raízes nos diferentes espaços sociais , onde possamos fermentar lutas e organização das/dos de Baixo. Nesta tarefa difícil, pelos tempos em que vivemos, encontramos em vocês, nas suas ações e esforços, mais do que companheiros na construção da CAB, encontramos irmãos e irmãs para uma vida toda de luta!

Portanto, hoje é um dia muito importante para nós da CAB e certamente para todas as organizações Especifistas e Federalistas da América Latina. Um passo a mais na luta pelo Socialismo Libertário, que com audácia cada uma e cada um de vocês ajudam a construir. É um dia para a reafirmação de nossos valores e princípios.

Certamente, companheiras e companheiros, a nossa ação política de intenção revolucionaria ganha um grande animo na conformação da FARPA, em tempos em que precisamos reafirmar cada vez mais, que as mudanças não virão de cima e que é de Baixo que se cria rebeldia e Poder Popular , este passo que damos juntos de vocês é de relevância histórica para o anarquismo Brasileiro.

Então, compas da FARPA, para finalizar estas breves linhas de saudação, queremos alcançar até vocês hoje um forte abraço e a garantia de que estamos juntos, lado a lado, na luta contra nossos opressores e que sem trégua entregamos nossas vidas para o futuro diferente, vida esta que está a serviço da construção de um mundo novo, aquele que levamos não só em nossos corações, mas também nas nossas ações de todos os dias.

Que vocês possam sentir neste momento nossa vibração, de norte a sul do país, por esta data mais do que especial!

VIDA LONGA A FARPA!

VIVA O ANARQUISMO ESPECIFISTA!

VIVA A CAB!!!

Coordenação Anarquista Brasileira

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A NECESSIDADE DA ORGANIZAÇÃO E A CRÍTICA AO “ANARCOFOFISMO”

19 segunda-feira out 2015

Posted by litatah in #resisteIzidora, AIT, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia Verde, anarquismo no Brasil, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Bandeiras de Luta, Black Block, CAB, CNT-FAI, Coletivo Libertário Évora, Comunicação, Comunicação Libertária, direitos, Direitos LGBT, Educação Libertária, Experiências anarquistas, Funk, GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, Imaginário e Plano Simbólico, Makhnovistas, Manifestações, Militarização das periferias, Mobilização Indígena, Mobilização Quilombola, Moradia, Municipalismo Libertário, Organização de base, Organizações Anarquistas, Plataforma, Prática, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Sem categoria, Teoria

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Fonte: Coletivo Libertário Évora

 

“E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar
Da lama ao caos, Nação Zumbi.

Todos conhecem a máxima “anarquia é ordem”, mas nem todos os anarquistas se propõem a vivenciá-la. Uma necessidade básica de sobrevivência e resistência é a organização; foi a partir da tentativa de auxiliarem-se mutuamente que surgiram os primeiros agrupamentos humanos; é pela organização que os animais evoluíram, e foi visando a organização que se desenvolveram as trade-unions e sindicatos.

A organização no anarquismo é essencial. A luta contra o capitalismo, o Estado e todas as formas de opressão exige uma organização. Não falo da formação de um “exército anarquista”, uma estrutura hierarquizada, autoritária; estas características mantém as ferrugens das engrenagens sociais atuais, e é justamente nestes pontos que a organização anarquista se difere.

Utilizando-se da ferramenta de análise histórica, a dialética, podemos chegar a conclusão de que o extremo oposto à democracia burguesa, o Estado, e ao capitalismo é a anarquia. O caos, em nossa concepção, é a atual condição da sociedade, pautada em um gerenciamento autoritário, hierarquizado (sempre privilegiando o “topo da pirâmide”), individualismo, consumismo extremado e alienação das faculdades humanas pelos pilares Estado/capital.

Concebendo a ordem social fundamentada em uma abstração antihumana (o Estado), e um sistema econômico que sobrevive das desigualdades sociais, uma organização anarquista vem a ser gerida de forma oposta à esta.

A arbitrariedade das obrigações advindas de cima para baixo, a autoridade, o poder do homem sobre o homem, uma vez negadas pela prática, desenvolve uma arranjo antiautoritário; esta por sua vez sobrevive de acordo com a consciência de cada indivíduo partícipe do processo de composição deste sistema, assumindo para si a responsabilidade do autogoverno. Este autogoverno de indivíduos-coletivos, negará também a disciplina imposta, coercitiva. Existirá sim, pela autodisciplina, a percepção da função do indivíduo dentro da sociedade e sua importância para o pleno desenvolvimento desta. Não é preciso Reis, Presidente ou deuses ordenando as necessidades da organização. Os indivíduos pertencentes, por eles mesmos, gerenciarão suas próprias forças e decidirão de forma horizontal a melhor forma de utilizá-la.

Também o individualismo é substituído pelo coletivismo/coletividade. Novamente, não falamos em homens e mulheres alinhados em fila, repetindo as mesmas palavras, industrialmente organizados. O que é tratado é uma substituição das formas de relacionamento humano, antes baseados no eu, na competição desumana, alternada para uma configuração de respeito e cooperação mútua. Não negamos obviamente a individualidade do ser humano, suas capacidades e desejos particulares, porém pautados nos pressupostos acima mencionados.

O combate incessante ao Estado e a economia atual. Lutar contra o Estado, sem pautar o anticapitalismo, ou lutar contra o capitalismo e preservar a estrutura do Estado, é ultraliberalismo ou socialismo autoritário. Ambos não são anarquistas.

A batalha contra o Estado é a luta contra a estrutura burguesa, que privilegia a classe dominante (em quaisquer sistemas sociais onde este exista), que usurpa as características humanas amarrando todos os indivíduos sob sua tutela e autoridade, esmagando tudo o que se opõe à máquina estatal com a violência de seu corpo repressivo, as falácias de seus sistemas de comunicação e as ilusões do voto.

Lutar contra o capitalismo é lutar contra as desigualdades sociais; contra a má distribuição das riquezas, contra a propriedade privada, contra as meritocracias, e todas as formas de opressão fortalecidas por este sistema econômico: O machismo, o racismo, a homofobia, e as estruturas de governo que são lançadas como última alternativa de manutenção do capital, como o nazismo e o fascismo.

Derrubar o Estado é derrubar o capital. Derrubar o capital é derrubar o Estado. Ambos são faces da mesma moeda, e preservar um ou outro, preservará também as injustiças sociais.

Uma organização que carregue em si estas lutas, possui o anarquismo como norte teórico e prático.

Desta forma, uma organização anarquista tende a ser antiautoritária, anti hierárquica, anticapitalista, anti estatal, autogovernada, cooperativa, respeitando as possibilidades e capacidades individuais, colaborando com as demais lutas libertárias no mundo.

Obviamente o texto não se encerra em si, e longe de ser uma fórmula definitiva para a autonomia dos movimentos anarquistas, múltiplos por si só em táticas e teorias, é antes um apelo aos que já se reivindicam anarquistas, a virem compor grupos ácratas já organizados, e caso na localidade não haja um grupo, que seja fundado. A urgência deste posicionamento é uma necessidade desde muitos séculos, e que no Brasil foi gritante no forjar das barricadas de junho de 2013.

Resistir e combater as  opressões é hoje questão de sobrevivência da humanidade, e este combate não se dará da noite para o dia, e muito menos de forma espontânea entre os povos. Creio particularmente que uma das finalidades da militância anarquista seja a de auxiliar indivíduos da sociedade atual a perceberem as amarras que cerceiam sua liberdade, e impedem o seu desenvolvimento, e além disso, resistir à elas.

O convite perdura, para os que já reconheceram as injustiças sociais e concebem os males que o Estado e o Capitalismo são por si só, para que participem ativamente da construção de órgãos anarquistas.

UMA CRÍTICA AO “ANARCOFOFISMO”

Muitos se declaram anarquistas, e negam a necessidade da organização. É este o anarquismo hiper abstracionista, que considera um pecado mortal até estudar a teoria libertária, pois esta cerceia a liberdade de pensamento, ou que dogmatiza o anarquismo, e que este significa liberdade total e absoluta (desconsiderando outras questões arraigadas à temática, como autodisciplina e respeito mútuo). Sectaristas, veem a luta anarquista como uma forma de autoritarismo contra a burguesia, umanarcofascismo. A inércia política é uma característica forte deste “anarquismo”; isto é, quando os seus idealizadores se declaram anarquistas, pois alguns creem que estas definições limitam o anarquismo. Autodissolvem-se em uma micro fração cujo vegetismo social é apropriado de bom grado pelos opressores. Que governo não deseja um anarquismo assim? Não combativo, não organizado, repartido em si mesmo, abstrato? Se comparado às lutas laborais de meados do século XIX e início do século XX, ou mesmo as recentes insurreições populares em todo o globo, este “anarcofofismo” não passa de uma piada de mau gosto. Assim alertamos aos companheiros sobre este discurso cancerígeno, aquoso, deturpador da realidade e inebriante, assim como as artimanhas sociais para manter o status quo coletivo, e declaramos que é algo a ser revisto, caso desejemos construir com nossas próprias forças uma sociedade livre, em igualdade, cooperação e horizontalidade.

Anarquismo é ordem.

Anarquismo é luta.

Edgar Rodrigues (pseudónimo) – GEAPI

aqui: http://anarquistas-pi.blogspot.pt/2014/03/a-necessidade-da-organizacao.html

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[Grécia] Abstenção consciente do processo eleitoral

14 quarta-feira out 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Código Aberto/Open Acess, Comunicação, Comunicação Libertária, Contra barragens, Decrescimento, Ecofeminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Grécia, Libertação animal, Mobilidade Urbana, pós-capitalismo, Publicidade, Refugiados, Software Livre, Syntagma

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anarquismo na grécia, eleições na grécia, grécia

grecia-abstencao-consciente-do-processo-eleitora-14

Fonte: A.N.A. em 15 de setembro de 2015

Texto editorial do Atenas Indymedia, publicado por causa das eleições gerais de 20 de setembro.

 

Busca-se urgentemente um novo gestor para a perpetuação da miséria cotidiana, a desigualdade social, a exploração econômica, a alienação individual, o saque dos bens comuns e dos recursos naturais, e a destruição do meio ambiente. Alguém “digno” que imponha as soluções que sirvam aos poderosos deste mundo.

No processo eleitoral mais indiferente e especificado com antecedência na história parlamentar, é chamado o povo supostamente soberano a dar primeiro a respiração artificial necessária ao moribundo corpo parlamentar da suposta representação popular. É chamado a determinar quem será o que cumprirá as ordens dadas desde cima, entre os que parecem muito iguais, inclusive se tratam de convencer-nos de sua diversidade. São iguais com respeito a suas obras e ao tratar de convencer-nos de que a organização da cotidianidade passa forçosamente pelas salas do Parlamento e, portanto, por eles. No entanto, são incapazes de convencer-nos. O manto da farsa parlamentar já é transparente e não pode ocultar a porcaria que tem coberta.

Há um vazio. É o vazio deixado pelo colapso da representação parlamentar na consciência coletiva do povo. É o vazio do fim da ilusão de que a esquerda pode mudar as coisas desde dentro, tomando o Poder. Há um vazio, no entanto, que pode ser preenchido pela barbárie das imposições e prescrições fascistas ou da grandeza da participação livre e igual nos assuntos públicos, que com um controle contínuo assegurará que os representantes sociais constantemente rotatórios, diretamente revogáveis e responsáveis ante a sociedade materializarão e coordenarão as decisões da base sem ter a capacidade de interpretá-las ou mal interpretá-las, obtendo benefício pessoal de seu cargo.

Tendo conhecimento de que as mudanças radicais se fazem só desde abaixo e só com revoltas e revoluções sociais, optamos conscientemente por não dar nenhuma legitimidade ao que nos mata, nos negamos aos processos eleitorais parlamentares, e tendo como ponto de partida nossos bairros, os locais de nosso trabalho, nossos interesses e necessidades comuns, resistimos e lutamos sem cessar, para que não exista nenhuma forma de exploração, edificando por sua vez o exemplo do novo modelo de organização social que garanta o respeito, a liberdade, a igualdade e a prosperidade de todos.

O texto em grego:

https://athens.indymedia.org/

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/abstencion-consciente-del-proceso-electoral/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

O tempo do vento
Corre sem parar
Carrega sementes

Mara Mari

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[Grécia] Um breve comentário sobre o aformalismo e suas táticas

09 sexta-feira out 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Comunicação, Comunicação Libertária, Grécia, Internacional anarquista, Organizações Anarquistas

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Agência deNotícias Anarquistas - A.N.A, anarquismo na grécia, eleições na grécia, grécia, Syntagma

grecia-um-breve-comentario-sobre-o-aformalismo-e-1

Fonte: A.N.A.

O seguinte comentário foi escrito por uma pessoa que quis participar em um debate aberto no Atenas Indymedia sobre as próximas eleições. Desde os primeiros comentários publicados o debate se canalizou para o tema da posição que tem que tomar os anarquistas. O comentário que publicamos nesta introdução é uma resposta a outro comentário, no qual se assemelha a organização com um “praticismo burocrático partidário”. O comentário que traduzimos e publicamos aqui não foi publicado no link de dito debate. Foi “censurado” e transladado à seção dos comentários ocultos…

O partido é, por antonomásia, uma forma hierárquica de organização política. Sua hierarquia é formalíssima e é formada mediante um certo procedimento. Se consideras que a CNT era um partido, atreve-te a dizê-lo aos anarquistas, não (escreva-o) aqui, porque aqui terás que escrever argumentos. A forma de organização aformalista está baseada nas hierarquias informais e no compromisso e a consequência política inexistentes. Resulta muito eficaz na prática: Um punhado de pessoas em uma praça vai pensando no quê pode fazer. Um diz: “Por quê não queimamos uma delegacia?”. “Não há como e por quê, não nos converteremos em partido, o que queira me acompanha, o que esteja chateado fica fora da organização”. Quer dizer, que brevemente, por maioria e com um centralismo democrático, prevaleceu a ideia de um. Após o êxito da ação não houve continuação, não houve nenhum motivo para criar uma formação além desta ação. A organização se dissolveu. Para a próxima ação: outra vez à praça. E se durante a ação se queimou alguma velhinha que havia ido à delegacia para assinar alguma autorização, ninguém assume nenhuma responsabilidade. De tudo isto se põe a culpa na Anarquia, aos companheiros e as companheiras, aos solidários e as solidárias, aos anarquistas. E dá-se o mesmo.

Isto é exatamente o que se tem que fazer para que nunca surja a libertação social, para que siga existindo o capitalismo e o Estado da repressão, e para que se intensifiquem as relações competitivas canibais. Todos menos o líder aformalista sabem muito bem que (em caso de desacordo, discrepância) não tens mais remédio que retirá-los, pelo que optais por seguir o líder. (É uma tática) mais autoritária que a do partido, porque pelo menos no partido à entrada te dizem quem e como tem o poder e (se queres ser membro do partido, sabes tudo isto) e tens a opção de aceitá-lo ou não.

O texto em grego:

https://athens.indymedia.org/hidden/comments/1571286/

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/un-breve-comentario-sobre-el-aformalismo-y-sus-tacticas/

agência de notícias anarquistas-ana

tarde cinzenta
o nevoeiro
pulveriza o pinhal

Rogério Martins

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[Colômbia] Xenofobia, deslocamento forçado e patriotismo

08 quinta-feira out 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia, Colômbia, Comunicação Libertária, Internacional anarquista, Refugiados

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Agência deNotícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia na América, anarquia na América do Sul, anarquia na américa Latina, Colômbia

colombia-xenofobia-deslocamento-forcado-e-patrio-1

Fonte: A.N.A.

Um olhar libertário à guerra moderna do grande capital contra os povos oprimidos do mundo

A morte, o medo e o terror fazem parte da natureza intrínseca do capitalismo. Desde a invasão a Abya Yala no século XV e as guerras coloniais do século XIX até o novo imperialismo do século XXI baseado, completamente, na acumulação por despojo, este modo de produção e consumo que gera fome e desigualdade tem utilizado a violência física e simbólica como formas para manter a ordem existente e reprimir a justa luta das classes sociais subalternas.

Hoje em dia, temos observado como os países europeus que se orgulham de ser estados-nação modernos e defensores dos direitos humanos, reprimem sem compaixão os imigrantes que tiveram que sair de seu território como consequência da guerra suja que, paradoxalmente, foi provocada pelo ocidente em todo oriente médio para extrair recursos naturais, desenvolver monocultivos e evitar a germinação de brotos de rebeldia que consigam imaginar, pensar ou criar outros mundos possíveis.

Esta ação criminosa das metrópoles imperialistas é fiel reflexo da decadência de uma civilização que segue fazendo uso ilegítimo da força para salvaguardar os bolsos dos donos das multinacionais e dos políticos corruptos que vivem em grandes mansões a custa dos sem teto, os sem voz, os sem terra.

Nessa ordem de ideias, vem se desenvolvendo uma espécie de apartheid social onde o medo ao outro, ao imigrante, ao pobre, ao árabe, configura um ambiente de ódio racial e classista que introduz, na mentalidade dos europeus, uma falsa consciência focada especificamente na xenofobia e no patriotismo em defesa de uma bandeira, umas fronteiras e uns valores artificiais construídos sobre os cimentos da infâmia e do rancor.

O anterior, não só se reflete nas leis promulgadas pelos governos fascistoides de direita senão também nas manifestações impulsionadas por grupos neonazis e nos campos de concentração construídos para albergar aos refugiados.

No entanto, este clima de racismo e de fluxo de pessoas não só se vive no ocidente senão também na América Latina. O governo “boliburguês” de Nicolás Maduro vem levando a cabo uma guerra sem quarteis contra os colombianos que vivem na Venezuela gerando centenas de deslocamentos forçados e utilizando a violência estatal para defender seus interesses sócio-econômicos.

Com a desculpa de livrar as terras do “libertador” dos grupos paramilitares, Maduro vem levando uma política racista e autoritária baseada na repressão, no ódio e na intolerância. Já vamos entendendo o verdadeiro caráter reacionário dos governos “socialistas” e “progressistas” que dizem promulgar uma ideologia com tintas populares ao mesmo tempo que fazem negócios com empresas europeias, destroem o ecossistema andino, assassinam os povos indígenas, fortalecem o extrativismo e mantem as brechas sociais entre ricos e pobres. Pelo anterior, há que abolir as fronteiras, não acreditar nem nos governos neoliberais nem nos progressistas, destruir todo germe de violência estatal e paraestatal, reconstruir o tecido social desde baixo mediante a ação direta, a autogestão e a fraternidade entre os povos.

O poder fetichizado e corrompido desde cima só gera morte, ódio e fanatismo. Já é tempo de derrubar os muros que nos separam não só como povos oprimidos senão como classes sociais. É hora de criar um poder verdadeiro onde a comunidade decida sobre seu próprio destino sem intermediários e mediante processos assembleários e horizontais onde não haja hierarquias de nenhum tipo. A liberdade, a felicidade, o amor, a autonomia e a diversidade devem ser nossas melhores armas libertárias de combate e rebeldia.

Há que seguir organizando a digna raiva mundial para terminar de derrubar este sistema em crise que segue divulgando e reproduzindo os valores mais recalcitrantes da sociedade burguesa. O racismo, os estados, o capitalismo, o patriarcado, a xenofobia devem ser aniquilados da face da terra para dar passagem a um novo mundo sem dominação, humilhação nem exploração. Só mediante a organização e a luta se poderá conseguir fazer grandes mudanças e chegar ao tão ansiado sonho de ver outros modos de viver mais humanos, antiautoritários e libertários.

Núcleo Comunista Libertário

Fonte:

https://nclibertario.wordpress.com/2015/09/10/xenofobia-desplazamiento-forzado-y-patriotismo/

Tradução > Sol de Abril

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Uma flor que cai –
Ao vê-la tornar ao galho,
Uma borboleta!

Arakida Moritake

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[Grécia] “É preciso muito trabalho”

07 quarta-feira out 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Fascismo, Comunicação, Comunicação Libertária, Ditadura, Grécia, Internacional anarquista, pós-capitalismo

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anarquismo na grécia, eleições na grécia, grécia

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Fonte: A.N.A.

O comentário a seguir foi escrito por uma pessoa que participou de um debate aberto no Atenas Indymedia sobre as próximas eleições. O comentário foi publicado na página da web. No mesmo debate outro comentário que publicamos no nosso post foi “censurado” e transferido para a seção de comentários ocultos. O editor do comentário começa o texto em resposta a outro comentário que indicou que é necessário muito trabalho pelos anarquistas.

E não faz falta não só muito trabalho, mas também muito tempo de trabalho.  De trabalho individual e coletivo, de trabalho sistemático, persistente e difícil. Com consequência, continuidade e compromisso. Em geral, devido à idade média baixa no “espaço” (anarquista), no ambiente de processos coletivos prevalece uma noção distorcida do tempo. Se sente que, por causa da juventude, a maioria desses e dessas jovens tem uma noção completamente pessoal de como flui o tempo político em todas as conjunturas. Às vezes o concebem altamente condensado (por exemplo, em dezembro de 2008) e às vezes (principalmente) distendido…

Não acho que muitos estão dispostos a sair de campo, apesar das vaias que estão recebendo e receberão das quadrilhazinhas de aformalistas. Nas festas, concertos e outros eventos “auto-organizados” aparecem milhares de pessoas. Infelizmente, o nível médio de formação em nível de uma visão de mundo e consciência política e de classe no “espaço” chega pouco depois da dupla acab-antifa… E este é o maior problema: se queremos formar de maneira antihierárquica um movimento libertário consciente e eficiente, composto de coletividades políticas organizadas, com raízes sociais e ações destinadas a sujeitos políticos, temos que dedicar muito trabalho e muito tempo individual e coletivo para ver alguns mínimos resultados encorajadores 2-3 anos depois.

Em geral, nos processos do “espaço” (anarquista) prevalecem essas besteiras antidialéticas bem conhecidas, como a linguagem poético-sentimental e os intermináveis processos aformalistas. Portanto, uma grande parte dos participantes nos processos do “espaço” (assembleias e ações) não constroem consciências fortes (de classe e políticas), mas prevalece uma sopa fria de integração emocional. E quando termina a juventude e os sentimentos de raiva estão esgotados, 80-90% deles vão para casa para ouvir sua musiquinha e depois de 1-2 “ensaios” são alinhados frente às urnas para votar em qualquer detrito político da socialdemocracia neoliberal ou do bolchevismo quebrado faz várias décadas.

Lembro-me que desde 1984-1985 passaram milhares de turistas e turistas pelo “espaço”, a grande maioria deles estão agora em casa e fazem comentários engraçados no Facebook e outros meios de comunicação “sociais”. Poucos e poucas que permaneceram envolvidos e lutam após seus 30-35 anos pela anarquia. Deixando de lado o fato de que uma grande parte deles pertence à pequena burguesia e que eles não pertencem (e nunca pertenceram) as classes sociais inferiores e oprimidas. Assim, tão somente seus interesses de classe, combinados com os baixos níveis de suas consciências políticas, levou-os racionalmente onde estão hoje, e estes são os fatores que lhes fizeram reproduzir a dominação burguesa. A mesma “gangrena” continua até hoje.

E para voltar ao assunto do debate, vem o “ansioso” que tem pressa e quer tudo “aqui e agora” (usando os lemas do populista Papandreou, primeiro-ministro nos anos 80 e 90) e pergunta (forma supostamente bem intencionada…) o que vamos fazer agora que Lafazanis fundou o partido do dracma socialdemocrata. O que você gostaria de fazer? Votar no cadáver político batizado de “Unidade Popular”? Nem mortos… Tirar os “insurrectos” de nossos chapéus mágicos e encher as ruas? A morte e o derrotismo prevalecem desde que o Syriza conseguiu capitalizar politicamente nas urnas a ação social radical de 2010-2012 nas ruas.

Devemos construir um movimento pela via rápida (fast track)? Com quem aliar-nos para obtê-lo em tempo determinado? Com os que apoiaram nas eleições passadas o Syriza, sustentando que o movimento está ganhando melhores posições de reivindicação com o “primeiro governo de esquerda”, ou na companhia daqueles que dominaram o chamado processo de democracia direta no referendo governamental, só para votar e apoiar o “não”? Ou talvez devêssemos ir lado a lado com o neo-bolcheviques “libertários” gritando slogans gritados pelos comunistas na guerra civil? Você já viu qualquer análise séria e uma autocrítica sobre as avaliações e ações de política erradas de todos os mencionados acima? Há qualquer esforço, ainda que mínimo, na construção de uma política coletiva de avaliação das opções políticas e seus resultados? O que vejo, ouço e leio até hoje são apenas arrogâncias e textos sem sentido…

Aqui qualquer aventureiro amargurado coloca uma “A” circulado na frente de cada invenção ideológica sua, e as coletividades políticas do movimento libertário no território do Estado grego, sem esclarecer de maneira coletiva e federal o entorno de sua existência, ou seja, em que conjuntura econômica, política e social estão vivendo e lutando, e sem lidar com os eixos fundamentais da visão do mundo e da formação do movimento (o termo alternativo que está na moda são “propostas”) inconsciente e pacientemente aguardam o “erro” nas táticas da Soberania, após a qual as classes inferiores oprimidas sairão às ruas para expressar raiva. E então sairemos também para as ruas como ratos para enxertá-los com a combatividade insurrecionaria e aformalista, para que os persuadamos e se realize o imaginário ataque ao Parlamento, para que com isso se destrua o “existente”.

O Cristianismo, nas primeiras décadas da sua história como uma religião, estava muito mais próximo da realidade (da época)…

E como eu escrevi muitas coisas, eu vou fazer um resumo:

1. Os que participam no mercado agropecuário das eleições, lançando seu voto às urnas, estão por excelência fora do movimento anarquista. Ponto. Eles podem chamar-se de “autônomos”, “auto-organizados”, “individualidades rebeldes” e tudo o que lhes passa na cabeça, menos anarquistas. Sabemos dos discursos de Durruti sobre as eleições em 1936. Que não se repitam, tratando de identificar, de uma maneira antidialética e antihistórica, o passado histórico da Espanha antes da revolução com o presente na Grécia.

2. A propagar a massiva abstenção, a nível nacional, no âmbito do movimento e sobre tudo no âmbito político. Se possível, um pôster comum, decidido por todos e “construído” sobre as decisões de um evento de dois dias entre as coletividades anarquistas. Um cartaz vermelho e preto colado em dezenas de milhares de paredes em toda a Grécia, antes e depois das eleições, mesmo que o rasguem e mesmo que o colem sobre os resíduos eleitorais.

3. Ações coletivas de caráter social, distribuindo textos em cada cidade, em cada vila e em geral onde existam coletivos libertários para fazê-los. Ações de intervenção social que venha a desenraizar a “lógica” da delegação. Já, depois da experiência coletiva e social da gestão política do terceiro memorando pela torpe socialdemocracia neoliberal, há muitos argumentos para fazer nosso discurso convincente. Para destacar a tríplice resistência-autogestão-solidariedade como o único rival realista da escolha da opção de delegação “facilmente digerível” das urnas.

Organização e luta pelo comunismo e a anarquia

O texto em grego:

https://athens.indymedia.org/post/1548088/

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/hace-falta-muchisimo-trabajo/

Tradução > Liberto

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http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/09/15/grecia-um-breve-comentario-sobre-o-aformalismo-e-suas-taticas/

agência de notícias anarquistas-ana

Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho

Matsuo Bashô

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[Espanha] CNT exige o cumprimento da sentença do TSJA pela Prefeitura de Adra

06 terça-feira out 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, CNT-FAI, Internacional anarquista, Organizações Anarquistas, Prática

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Agência deNotícias Anarquistas - A.N.A, anarquia na Espanha, CNT-FAI, espanha, repressão na espanha

espanha-cnt-exige-o-cumprimento-da-sentenca-do-t-1

Fonte: A.N.A.

A Prefeitura de Adra está atrasando de forma deliberada a entrega de documentação para a Seção Sindical da CNT

Um grupo de companheiros e companheiras da seção sindical da CNT na Prefeitura da cidade de Adra denunciou (na semana passada) a atitude pública e pouco colaborativa da Câmara Municipal abderitana para o devido cumprimento de decisões judiciais, nomeadamente o disposto no acórdão do Superior Tribunal de Justiça de Andaluzia (TSJA), que há alguns meses atrás condenaram a Câmara Municipal por tolher a liberdade sindical da CNT por não fornecer cópia básica dos contratos de trabalho. Após mais de dois meses que o TSJA proferiu a sentença e a seção do próprio Sindicato solicitou por escrito a Prefeitura que cumpra o mandato do Tribunal Superior, esta segue se fazendo de surda. Um julgamento que Prefeitura deveria obedecer voluntariamente e evitar o pagamento de custas judiciais que são de cerca de mil euros, evitando gastar desnecessariamente o pouco dinheiro dos cofres municipais. Para CNT, é necessário que os abderitanos saibam que a Câmara Municipal está empregando sem hesitação nosso dinheiro de impostos atrasando processos nos tribunais para prolongá-los o máximo tempo possível para tentar salvaguardar interesses que nada têm a ver com o público. Recursos que deveriam ser destinados a melhorar a qualidade dos serviços municipais onde, por outro lado, são dissipados de forma mesquinha, causando deficiências que são visíveis para o público: falta de meios, pessoas, etc. Uma atitude que também põe em questão o discurso sobre a transparência na gestão municipal da equipe do governo do PP. Então é isso que queríamos transmitir aos nossos irmãos com o ato de hoje.

Na esfera jurídica, a CNT pedirá nas próximas semanas nos Tribunais Sociais de Almeria, a execução da sentença, um dos procedimentos judiciais que o prefeito deveria pagar do próprio bolso por descumprir voluntariamente com o estabelecido pelo TSJA.

cnt.es

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Nem uma brisa:
o gosto de sol quente
nas framboesas

Betty Drevniok

 

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[França] Nem velhos, nem traidores. Documentário sobre “Action Directe”

05 segunda-feira out 2015

Posted by litatah in Action Directe, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Atos, Bandeiras de Luta, Correntes da Anarquia, Ditadura, Fascismo, França, História, Imaginário e Plano Simbólico, Internacional anarquista, Mártires da Luta, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Repressão, Revolução, ZAD- Zonas a Defender

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Action Directe, estado repressor, Freança, História, história da anarquia

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Fonte: A.N.A.

Nos anos 70, anarquistas franceses lutaram com seus amigos revolucionários catalães contra a ditadura franquista e o capitalismo. Apoiaram as greves mais radicais e criaram a editora Mayo 37 para difundir textos marxistas, situacionistas, conselhistas, assembleários e anarquistas. Para financiar suas ações subversivas, multiplicaram os assaltos a bancos. Criaram o MIL (Movimento Ibérico de Liberação). Depois das detenções e já auto dissolvidos, uns continuaram sob a sigla GARI para a liberação dos presos de Barcelona e contra a ditadura.

Action Directe é fundada em 1977 por militantes de diversos grupos libertários e comunistas GARI (Grupos de Acción Revolucionarios Intenacionalistas), NAPAP (Noyaux Armés pour l’Autonomie Populaire). Sua luta comum consistia em atacar o Capitalismo selvagem, o neoliberalismo incipiente e o império estadunidense sob sua nova forma globalizada, um sistema de morte, que como as estatísticas nos demonstram hoje, aumentava ano após ano a pobreza no mundo, as desigualdades e as injustiças. Um sistema que provoca milhões de mortes inocentes ao ano e aumenta as desigualdades e o poder das multinacionais, em especial as de armamento.

Action Directe realizou mais de 50 ataques, tais como um assalto com metralhadoras ao edifício da federação de empresários em 1º de maio de 1979, assim como ataques a edifícios governamentais, do exército, companhias em complexos industrial-militares e a símbolos do estado criminoso de Israel. Também realizaram assaltos ou “expropriações” e execuções dos representantes de multinacionais, como a do general René Audran (responsável pelo tráfico de armas e negócios com os Estados Unidos) em 1985 e a Georges Besse, presidente da Renault em 1986.

Em 21 de fevereiro de 1987, os principais membros de Action Directe, Jean-Marc Rouillan, Nathalie Ménigon, Joëlle Aubron e Georges Cipriani foram presos e mais tarde condenados a prisão perpétua. Régis Schleicher havia sido previamente preso em 1984. Joëlle Aubron foi liberada em 2004 por enfermidade terminal e morreu em primeiro de março de 2006 por causa de sua enfermidade.

Título original: Ni Vieux Ni Traitres

Direção: Pierre Carles e Georges Minangoys

Ano: 2005

Duração: 100 minutos

Para ver o documentário (com legendas em castelhano), clique aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=lmWZYXMkjaE

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

na rua deserta
brincadeira de roda
vento se sujando de terra

Alonso Alvarez

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As ruas gritam: Solidariedade à Resistência popular curda!

29 terça-feira set 2015

Posted by litatah in Abdula Ocalan, abdulah ocalan, Anti Capitalismo, Comunicação Libertária, curdistão, Curdistão/Kobane, curdos, Experiências anarquistas, Federação Anarquista do Rio de Janeiro, Internacional anarquista, Mártires da Luta, Municipalismo Libertário, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, pkk, Prática, Repressão, Revolução Curda, Rojava, turquia, Turquia

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Abdullan Ocalan, comunas e conselhos de rojava, Curda, Curdistãi, Curdistão, Curdistão livre, curdistõ, curdos, FARJ, Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), feminismo curdo, Kobane, Kobani, milícia curda, mulheres curdas, Partido dos Trabalhadores do Curdistão, PKK, Revolução Curda, Revolução de Rojava, rojaba, Rojava, ypg, YPJ

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Fonte: FARJ – Federação Anarquista do Rio de Janeiro – Organização Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira

Rojava hoje é o centro de uma revolução popular protagonizada pelas comunidades curdas em luta. O valente exército feminino do YPJ e do exército popular do YPG. Em Rojava, a luta revolucionária autogestiona espaços de produção, forma assembleias populares (que tomam as decisões) e combatem em armas na mão tanto o subimperialismo do estado Turco (aliado à OTAN) quanto a extrema-direita fascista do ISIS (vulgo, Estado Islâmico).

O garotinho sírio, Alan Kurdi, que morreu afogado numa praia da Turquia era curdo e de Kobane, cidade que ficou conhecida pela resistência heróica das mulheres curdas contra a violência patriarcal e de direita do ISIS. Os curdos e curdas são o maior povo sem estado do planeta (50 milhões de pessoas) que hoje se organizam não para construir mais uma fronteira e Estado-nacional, mas implodir esse instrumento dos capitalistas, dando o poder das decisões, de fato, aos trabalhadores e trabalhadoras com armas nas mãos. As curdas e curdos não querem construir um Estado, tampouco gerir o modelo de dominação capitalista.

O internacionalismo é uma prática fundamental do anarquismo e da luta popular. A violência estatal que mata negros e pobres no Brasil faz parte da mesma lógica da violência do capital e do Estado, que fecha as fronteiras e mata ou oprime imigrantes sírios, gregos, haitianos.

Divulgamos a página para apoiar financeiramente a reconstrução de Rojava (parcialmente destruída pelo Estado Islâmico).

https://www.facebook.com/pages/Kobane-Reconstructing-Board/1392691501039799

Toda nossa solidariedade a Kobane e a Rojava! Toda nossa solidariedade aos imigrantes!

Nossa pátria é o mundo inteiro! Viva Rojava! Viva a revolução popular curda!

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(Uruguai) Sobre os ataques ao movimento anarquista em Montevidéu

24 quinta-feira set 2015

Posted by samuelvfm in Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Manifestações, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A

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criminalização da anarquia, Mujica, repressão, uruguai

Montevideu

Fonte: Rede de Informações Anarquistas

Em meio ao entusiasmo por grande parte da esquerda institucional brasileira pela vinda do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica ao Brasil, a Rede de Informações Anarquistas republica uma carta escrita por anarquistas uruguaios e uruguaias  em 2013 denunciando a perseguição e criminalização do movimento anarquista no Uruguai. Para passarmos a compreender que enquanto existir Estado, independente do governo no poder, haverá autoritarismo e repressão aos de baixo, uma vez Estado e Capital são elementos indissociáveis e não há programa reformista capaz de mudar esse fato.

 

Em uma semana e meia 14 companheiros foram presos, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos poderosos e seus delatores, estamos fazendo bem as coisas.

Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Os poderosos sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…

Entre tudo isso a raiva abre passagem.

O governo dos tupamaros tortura. Onde está a novidade?

O Estado que ocupa o território uruguaio não é alheio ao medo e intenção de recrudescer o controle sobre sua população, como estão levando adiante os diferentes governos progressistas da região (lembrem os encontros de segurança e “antiterrorismo” do Mercosul). O fantasma da primavera árabe, é um medo longínquo mas que palpita e o Brasil se converte em pesadelo para a camarilha empresarial. Qual é o pesadelo para os democratas, extremistas, radicais do poder e demais fascistas? A revolta, a insurreição que quando desperta não parece poder ser controlada. Uma raiva que não pode ser reconduzida pelo futebol ou a compra de roupas de marca ou congêneres. É aí onde aparecem os que lhes fazem o “trabalho sujo” a Bonomi, Tabaré e Mujica, as forças da ordem a serviço de sua autoridade. É aí que os mercenários criados pela direita e especializados pela esquerda do poder saem ao ataque.

Os violentos, encapuzados, anarquistas.

Palavras vazias de todo tipo tem enchido o papo dos jornalistas estes dias. Que os anarquistas isto e aquilo, que as táticas de violência urbana, que minorias, etc., etc. Os violentos de 14 de agosto, os radicais, os infiltrados em tudo, até na torcida do Penharol (como se nesta não houvesse sentimento antipolícia, que precise infiltrar-se os ácratas). Por todos os lados a união entre a repressão policial, a coordenação política e a preparação do conluio feito pela imprensa. O ataque tem várias pontas. O Estado defendendo-se definitivamente. Mas de que? De que se defende o Estado? Hoje todo o exército que mantêm a ordem existente (imprensa, polícia, militares, políticos e demais acomodados) se conjuga sob o abrigo de um nível inédito de consenso entre a direita e a esquerda no que têm a ver com a potencialização do desenvolvimento capitalista. Mas além do jogo eleitoral, as bases importantes do desenvolvimento do capital na região não se põem em discussão por nenhum dos partidos. A mega mineração, o desmatamento, a coordenação, em fim, pela instauração do plano IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana] e demais planos, sua grande coordenação política, econômica e militar seguem em marcha. É necessário deter e evitar toda resistência, todo germe de resistência. É necessário deter aos que não negociam, aos “violentos”.

Um passo mais…

E que dizer da violência? Não é para nós uma “opção política” como creem os sabidos da faculdade de ciências sociais. Para nada. Não é uma opção e não é para nada política. A escolha que sim fazemos é a de tentar viver do único modo que nos parece digno, o livre. O de não calar, o de fazer algo quando vemos que a coisa vai mal e vai ainda para pior. Escolhemos resistir, escolhemos defender-nos. Aqui (mais além do jogo preferido da imprensa, dirigentes sindicais e demais políticos) não há violentos e não violentos, bons e maus, e demais categorias do poder. Quem não se haja enojado, quem não haja sentido vontade de resistir à miséria, de opor-se e saltar ante tanta porcaria, simplesmente não deve ter sangue. Quem não se enoja conhecendo os negócios policiais com a pasta base, a miséria do trabalho ou o sabor da água de OSE? A violência neste mundo capitalista é natural, a resistência a ele, uma necessidade vital.

E outro depois…

Não negamos, jamais o temos feito, nossos crimes. Queremos e potencializamos a liberdade, esse é um grande crime contra o poder. Queremos e potencializamos não a etiqueta de liberdade, abstrata, utilizável e manejada por qualquer um. Por isso praticamos a solidariedade, o apoio mútuo, a reciprocidade, a resistência e é essa prática a que inevitavelmente produz choque em um mundo voltado cada vez mais a negar chão a quem está caindo. A cultura do medo não pode, não tem podido e não poderá amedrontar-nos ainda que o tente. Por isso os insultos, as ameaças com a tortura e a violência, por isso a pistola na cabeça de um companheiro na delegacia, a nudez forçada e os golpes. Por isso o enfurecimento.

E por que sorriem? Se perguntam…

Nós não temos aparência de vítimas. Se dizemos, se mostramos outro golpe ao movimento anárquico é para mostrar, para continuar mostrando esses golpes que sofremos geralmente em nossos bairros e que a polícia costuma silenciar. Sabemos falar, o fazemos bem e somos suficientemente livres e fortes para não nos calarmos. O porque de tantos e seguidos golpes ao movimento corresponde a um crescimento que o poder não tem podido frear, ainda que o tenha tentado. Corresponde a perda do medo e o abandono da confiança que parte da sociedade havia oferecido aos governos progressistas. Somos tratados com dureza porque o governo tem dado carta branca ante a presença que têm desbancado o parlamentarismo das ruas. Ante a ação direta que não busca negociar, que não pede nada. Somos tratados com dureza porque é contagioso um fazer auto-organizado que fomenta um verdadeiro diálogo, um entre iguais e não políticos ou empresários. Sorrimos por que são bons os ventos e sabemos nos defender.

O espelho do poder.

Onde olham sempre buscando a si mesmos. Em seus interrogatórios quando não se baseiam no simples insulto ou a ameaça, o que buscam é a eles mesmos e sua necessidade de chefes, de alguém que lhes diga o que têm que fazer. O poder necessita inimigos e não serve a seus interesses que estes não se vistam de terroristas, não busquem governar ou que não tenham autoridades. A falta de respeito em todos os âmbitos não pode vir para os serviços de inteligência mais que de um só grupo de pessoas, não pode não ter chefes ou não ter uma grande estrutura organizada para infundir o terror. Mas nós que estamos nas ruas sabemos que o seu crédito social acabou e que os companheiros são muitos e em nada respondem a lógica do partido. Pior para eles mas é assim.

Nós os anarquistas, não somos os que mantemos um sistema de saúde que gera morte e insanidade, não fazemos mega operativos nos bairros pobres, não empreendemos o saque e a destruição do meio ambiente e definitivamente não somos os que mantêm o negócio da pasta base nos bairros. Não dizemos aos jovens que não são nada se não têm certa marca de roupa e não fazemos cárceres para prendê-los depois.

Mas não somos tampouco cidadãos obedientes, não somos, jamais o temos sido dos que esquecem, somos parte dos que têm lutado sempre, como somos irmãos dos que lutam agora em qualquer parte do mundo contra um sistema que nega a vida. Impulsionamos e seguiremos impulsionando sempre a rebelião para conseguir mais e mais liberdade. Quiseram tirar da vista dos turistas os indigentes, criando uma ilusão de comércio, mas aqui não somos todos clientes ou submissos. Nem a todos se pode tapar. Nem todos se rendem.

Anarquistas.

Montevidéu, Agosto-Setembro 2013

Originalmente traduzido e publicado por Agência de Notícias Anarquistas (ANA)

 

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[Turquia] Campanha de solidariedade com uma presa trans

15 terça-feira set 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarco Feminismo, Anarquia, Anti Capitalismo, Anti Homofobia, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Comunicação Libertária, direitos, Direitos LGBT, Feminismo e Transfeminismo, Internacional anarquista, Mártires da Luta, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Presos Políticos, Presos políticos, Repressão, Todo Apoio aos 23, Turquia, Violência

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anarcofeminismo, anarquia e feminismo, ecofeminismo, feminismo, feminismo curdo, feminismo interseccional, manifestantes presos, perseguição, perseguição do estado, perseguição internacional, perseguição política, perseguição política a anarquistas, presos, presos político, presos políticos, presos políticos internacionais, Transfeminismo, Transfobia, transgênero, Transsexuais, turquia, ZINES ANARCO-FEMINISTAS

turquia-campanha-de-solidariedad-1

Fonte: A.N.A.

Mulheres Anarquistas na Turquia fazem um chamado a uma campanha de cartas para uma mulher trans encarcerada em uma prisão de homens. A mulher, Esra Arıkan, está presa com guardas que a atacaram sexualmente repetidas vezes e poderia suicidar-se.

Esra está presa desde 2004 em uma prisão de homens na Turquia. Ela escreveu que o juiz condenou-a a prisão perpétua por um crime que não cometeu. Esra esteve em isolamento durante os últimos nove anos. Foi atacada sexualmente durante seu tempo na prisão. Agora, os funcionários de prisões trasladaram Esra à prisão onde os guardas a atacaram sexualmente em repetidas ocasiões.

Em uma carta em 2014 ao periódico anarquista Meydan, Esra explicava que recolheu de seu corpo o esperma de um guarda após um ataque. Depois fez uma denúncia contra o guarda. O tribunal deteve o guarda durante um ano – até que um juiz proferiu que o ataque foi “consentido”. Depois do ataque, Esra foi transladada a outra prisão. Agora, os funcionários voltaram a trasladá-la à prisão onde os guardas a atacaram.

“Esra está exigindo ser trasladada a uma prisão de mulheres”, disse Nergis Şen, membro do grupo Mulheres Anarquistas. Nergis esteve escrevendo com Esra. “Ela não pode fazer nada na prisão em que está. Devido a que é trans, não pode ir a seu encontro semanal no local de conversas. Não pode ir à biblioteca ou ao ginásio. Esra tem problemas de estômago devido ao stress e não está recebendo tratamento normal.”

“Ela está em uma situação difícil e não pode seguir adiante. Ela está pensando em se maltratar. Esra tentou suicidar-se anteriormente; só sobreviveu devido a uma cirurgia.”

Mulheres Anarquistas, grupos de direitos humanos e LGTBI começaram uma campanha de escritura de cartas a Esra. Seu endereço é:

Samsun E Tipi Kapalı Cezaevi
B-4 Koğuşu
Canik
Samsun
Turquia

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[Grécia] Nova repressão policial contra marcha anti-mineradora em Calcídica

15 terça-feira set 2015

Posted by litatah in Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarco Ecologia, Anarquia, Comunicação Libertária, Grécia

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grecia-nova-repressao-policial-c-1

Fonte: A.N.A.

Centenas de pessoas participaram na manifestação e marcha de 23 de agosto de 2015 ao bosque de Skuriés, no noroeste de Calcídica, onde a empresa mineradora Elinikós Jrisós (Ouro Grego), filial da multinacional Eldorado Gold, está tratando de instalar uma megamineradora de ouro.

Os manifestantes chegaram ao ponto da concentração com 6 ônibus e mais de 250 carros. A marcha até a mineradora começou um pouco mais tarde com a participação massiva de lutadores de Calcídica e de províncias vizinhas. Quando os manifestantes chegaram a pouca distância de onde são feitas as obras de instalação da mineradora, trataram de romper o cordão policial que tinha rodeado a zona das obras. Então a Polícia os repeliu disparando gás lacrimogênio até eles. Em seguida os policiais se puseram a perseguir com raiva aos manifestantes que estavam fugindo para o bosque. Alguns dos manifestantes responderam ao ataque atirando pedras ou coquetéis molotov aos policiais.

Depois do ataque os manifestantes não se dispersaram. Se reuniram a uns 400 metros do local onde haviam recebido o ataque e uma parte deles se dirigiu a uma das portas de acesso às obras, atacando a Polícia. As forças repressivas responderam com gás lacrimogênio. Ante o perigo de ficarem presos, estes manifestantes retrocederam e se juntaram com os demais que estavam descendo da montanha.

A Polícia procedeu a 75 retenções. A maioria das retenções realizou-se quando uma vez acabada a manifestação, a Polícia deteve um ônibus com manifestantes que estavam indo até seus povoados de origem. Depois destas retenções, umas 300 pessoas se manifestaram fora da delegacia da capital da província, Políguiros.

No mapa da zona de Skuriés que podes ver aqui (twitter.com/jodigraphics15), com a linha vermelha se indica a rota da marcha, com a linha verde a continuação de rota da marcha de não haver recebido a repressão, as setas azuis indicam os pontos nos quais a Polícia disparou contra os manifestantes, e dentro dos círculos se vê a área destroçada por causa das obras da extração de ouro.

Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=h3GByqwO7Lo

O texto em castelhano:

http://verba-volant.info/es/nueva-represion-policial-contra-marcha-anti-minera-en-calcidica/#more-10102

Tradução > Sol de Abril

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/08/24/grecia-calcidica-23-de-agosto-de-2015-marcha-contra-a-mineracao-de-ouro/

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(Artigo) A democracia representativa é um ônibus de transporte público

04 sexta-feira set 2015

Posted by litatah in #contratarifa, Anarco Ecologia, Anarco Feminismo, Anarco Primitivismo, Anarco Punk, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia, Anarquia Verde, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aparelhos de reprodução ideológica, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Código Aberto/Open Acess, Comunicação, Comunicação Libertária, Contra barragens, Correntes da Anarquia, Decrescimento, Democratização da comunicação, direitos, Direitos LGBT, Ditadura, Ecofeminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Gentrificação, Greve, Guerra às Drogas, homosexual, homossexual, Libertação animal, Mobilidade Urbana, Municipalismo Libertário, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Permacultura, Plataforma, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Reforma agrária, Software Livre, Squats e Okupas, Veganismo, ZAD- Zonas a Defender

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas – R.I.A

Passageiros e passageiras sabem o itinerário do ônibus mas não sabem dirigir, motorista sabe o caminho mas não sabe onde cada passageiro vai descer. O motorista para atentamente no ponto após um pedestre fazer sinal para subir e também quando um passageiro aperta o sinal luminoso para descer… Em tese…

Na prática os passageiros do banco direito à frente xingam a cada curva pra esquerda, reclamam a cada ponto parado, criminalizam os passageiros do “fundão” que estão tocando funk e pagode, reclamam de crianças viajando sentadas, dizem que já tem idade suficiente para viajar em pé e afirmam que crianças tem pagar passagem. Preferem os bancos altos e argumentam que adoram olhar a vista de cima. Passam a viagem inteira fazendo piadas de português, negros, homossexuais e pobres.

Os passageiros do banco direito ao fundo não se incomodam tanto quanto os da frente com o pagode do fundão já que em suas regiões pagode é algo comum, reclamam de tudo mesmo que não saibam do que estejam reclamando, seguram suas bolsas e mochilas com força com medo do rapaz em pé com celular na mão tocando funk.

Os passageiros dos bancos esquerdos à frente brigam para sentar no banco alto mas afirmam que todos os bancos deveriam ser iguais, reclamam que o motorista não sabe dirigir e afirmam que seriam melhores condutores, defendem o pessoal do pagode do fundão mas não sabem cantar pagode.

Os passageiros dos bancos esquerdos ao fundo reclamam que por diversas vezes fizeram sinal para o buzão parar, xingam porque querem descer a qualquer custo e tomar outro rumo, brigam com as pessoas dos bancos altos e reclamam que todos no ônibus são omissos ao não reclamarem que o motorista não para nos pontos sinalizados, alguns puxam a saída de emergência na possibilidade de pular com o buzão andando, mas desistem da ideia já que os passageiros dos bancos esquerdos à frente caguetaria para o motorista.

O motorista atropela todo mundo que cruza seu caminho, passa voado pelos quebra-molas, bate em todos os demais carros da rua e atravessa todos os sinais vermelhos.

O motorista não para em nenhum ponto para ninguém descer e dirige insanamente sorridente por dois motivos: o motorista é surdo e é o único no buzão que ganha direito para estar ali.

Em meio a tudo isso existem pessoas que só andam de bicicleta.

Por colaborador da Rede de Informações Anarquistas – R.I.A

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(Artigo) Eleição é farsa, movimentos sociais e organizações anarquistas também! Ou carta aberta de um anarquista cansado do falatório brasileiro

03 quinta-feira set 2015

Posted by litatah in #contratarifa, #resisteIzidora, Agência de Notícias Anarquistas, Agência de Notícias Anarquistas - A.N.A, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aparelhos de reprodução ideológica, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Bandeiras de Luta, Black Block, Código Aberto/Open Acess, Comunicação, Comunicação Libertária, Contra barragens, Copyleft, Decrescimento, Democratização da comunicação, Direitos LGBT, Ditadura, Ecofeminismo, Educação Libertária, Entrevistas, Esquerda partidária, feminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Gentrificação, Greve, Guerra às Drogas, Izidora, Libertação animal, Manifestações, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Moradia, Movimento Estudantil, Movimento Sindical, Organização de base, Organizações Anarquistas, pós-capitalismo, Periferias e Favelas, Permacultura, PODEMOS, Prática, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Rede de Informações Anarquistas - R.I.A, Reforma agrária, Remoções, Software Livre, Squats e Okupas, Veganismo, ZAD- Zonas a Defender, ZADs]., Zonas a Defender [Zones à Défendre

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Fonte: Rede de Informações Anarquistas

Poderia começar esse texto de inúmeras formas com base nas coisas que vivi antes, durante e após 2013. E faço questão de colocar 2013 como um marco, não pelo modismo da militância (a quem, carinhosamente, chamarei de “militôncia”) mas sim por reconhecer que aquele ano foi marcante do ponto de vista da mobilização nas ruas. Nasci, cresci e vivi boa parte da minha vida rodeada por tiroteios, pneus em chamas, assassinatos e pequenas manifestações por falta d’água. Sou negro, o bairro em que cresci foi conhecido por ser uma área “neutra”, divisa entre duas facções rivais. Até 2013, por N motivos que eu poderia aqui colocar, eu realmente acreditava que a população ao meu redor estava anestesiada demais, demais mesmo, para mobilizar-se e fazer algo que valesse a pena. E olha que motivações da área em que nasci não faltaram, mas eu sei que chega uma hora que é preciso escolher entre se arriscar para mudar o sistema ou entregar-se a um individualismo vazio e inerte. E veja bem, faço questão de escrever “a um”, pois acredito sim que existem inúmeros individualistas muito mais dispostos e interessados em mudar o cenário caótico que a humanidade como um todo que já convivi do que meia dúzia de gato pingado fechado num clubinho organizativo. Mas, voltando ao assunto…

Sim, 2013 aconteceu, foi intenso e passou. Dele, ficou inúmeras provas de que é possível fazer algo real e concreto a partir da mobilização de pessoas interessadas em mudar a realidade em que vive. Porém, para a minha infelicidade, e acredito para infelicidade de muitos, apesar dessas provas e de tantas chances que temos tido para simplesmente SENTAR e CONVERSAR sobre o mundo que nos cerca, sem abrir mão das individualidades e optando pela difusão de um pensamento realmente LIBERTÁRIO, o que mais tenho visto são disputas acirradas, dentro e fora de coletivos, por poder. E é exatamente sobre esse poder, que julgo ser inexistente, e o que tem sido feito para alcançá-lo, que gostaria de passar o que venho sentindo através desse texto.

Em primeiro lugar, já passou da hora de alguns brasileiros acordarem para o fato de que O SÉCULO XIX/XX ACABOU! CHEGA! Sabe aquele livrinho lindo e adorável que você guarda na sua cabeceira revolucionária dessa sua casa de dois quartos e carro na garagem? Pois é, o meu “foda-se” pra ele, para seu autor/autora e para seus lindos e cegos militontos doutrinadores. Acordem, não estamos na revolução russa, não estamos na revolução espanhola, não estamos na Grécia, não estamos na Alemanha, essa porra não é a Islândia, essa porra é Brasil! Qual a dificuldade de colocar na cabecinha de vocês que somos um país historicamente COLONIZADO? Que aqui viviam povos cuja cultura simplesmente foi DESTRUÍDA, e que em nenhum momento os povos que aqui viviam (e os poucos que ainda vivem) pediram para teorias eurocêntricas do século passado se tornarem a salvadora de suas vidas? Qual a impossibilidade de compreender que para esse mesmo país, nós, negros e negras, que também tiveram suas culturas e sistemas políticos destruídos por impérios, fomos trazidos para cá e forçados a viver desprovidos de suas práticas culturais, políticas e sociais? E se nem os povos originários ou o povo negro estiverem mais a fim de brincar com a doce revolução que vocês tanto superestimam?

“Ahhhhh, quanto sectarismo nesse seu discurso!” Se fazer com que vocês entendam que muitos de nós não precisam de salvadores europeus é sectarismo, então está certo, está na hora de ser sectário! Porque quando a democracia representativa decide revelar sua verdadeira face e entrega na mão de empresários a pauta da demarcação de terras indígenas e a tal da inexistente reforma agrária, além de ainda autorizar o genocídio institucional da população negra e moradora da favela, o que, na prática, é a criminalização da pobreza, a Igreja Revolucionária do Último Dia e sua militôncia rapidamente aparece e diz que o caminho da salvação é esse ou aquele burguês barbudo com nome impronunciável para a maioria de nós! E o pior: se as reais vítimas desse sistema podre que só representa os interesses de quem pode pagar mais simplesmente decidem ignorar profecias marxistas ou bakuninistas… O tal revolucionário salvador das crianças simplesmente deixa cair sua máscara e se torna mais um tirano com sede de poder.

Outro ponto que não posso deixar passar batido: ANARQUISMO NÃO É SINÔNIMO DE PERFEIÇÃO ÉTICA E MORAL! Parem de achar que os anarquistas são seres incorruptíveis e que toda palavra que começa com o radical “anarco” é algo incrível e absoluto em si mesmo! O curioso é que seus principais idealizadores enquanto um sistema de ideias e práticas políticas e sociais ficariam espantados como os anarquistas brasileiros conseguem ser mais fascistas e estúpidos que muitos seguidores de Mussolini, Franco e diria até mesmo Hitler. Uma das coisas mais imbecis e idiotas que venho vendo desde 2013 está, curiosamente, no tal “movimento” anarquista brasileiro: a disputa pelo poder do discurso. Sim,  pessoas queridas, os anarquistas brasileiros optaram por gastar uma boa dose de tempo numa batalha verborrágica e entediante onde o tabuleiro é, nada mais nada menos que o Brasil e suas possibilidades diante do mundo, as peças são os seres sem luz anarquista (99% do país) e os jogadores somos nós, humanos dotados de uma magnífica capacidade de articular palavras e orações com tanta perfeição que até o Aurélio deve ter sido anarquista! Se bobear, Pasquale idem.

Nesse “War: Anarquismo”, verdadeiros guias espirituais jogam dados e posicionam seus pupilos anarcotontos em nome de bandeiras especifistas, sintetistas, plataformistas e toda sorte de –ismos e –istas que você puder contar. O objetivo final é conquistar regiões, formar federações e preparar-se para o inverno que está por vir. O único problema é que no final do jogo o vencedor descobre que as armas utilizadas não passam de interjeições e verbetes que até funcionaram em países europeus, mas que para cá os mesmos só conseguirão mobilizar pseudohackers, pós-graduandos anarcoturistas e uma meia dúzia de fodidos (que funcionam como ótimos idiotas úteis caso se incluam na categoria “negros, índios, e/ou quilombolas”). E qual seria esse discurso tão poderoso quanto a palavra execrável das Crônicas de Nárnia? Matou a charada se você pensou em Bakunin e sua turma.

Mas ora essa, não foi o próprio Bakunin que combateu esse personalismo bobo e burrocêntrico que esses anarcomimizentos brasileiros tanto parecem adorar e gozar quando destilam altas doses de teorias e mais teorias após uma boa madrugada regada de cerveja com milho transgênico produzida e fornecida pela AMBEV? Pois é… Ou tem algo de muito errado nessa tal de anarquia ou simplesmente não existem anarquistas no Brasil. Eu prefiro acreditar que não existe movimento anarquista brasileiro, e que boa parte dos que assumem para si a face de “anarquista” não passam de humanos putos com a vida (e com bons motivos) incapazes de desconstruir a si mesmos e que, na verdade, apenas reproduzem discursos de/e por poder. Libertários? Não… Isso é piada dentro do pretenso anarquismo verde, amarelo e preto. Os poucos e insignificantes libertários que existem pelas bandas de cá ou optaram por aquele individualismo que defendi no início ou simplesmente decidiram se isolar. Enquanto isso, o que resta são falsos anarquistas fechados em seus clubes de bolinhas, luluzinhas e azeitonas tramando o momento em que soltarão uma gargalhada do mal e dirão “hasta la vista, baby!” para todo esse sistema capitalista malvado e cruel que nos cerca e nos explora e blablabla…

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É preciso ter CORAGEM para admitir que estamos na contra-mão de tudo e de todos/todas e que ERRAMOS e continuamos ERRANDO. Escrevendo como anarquista que tento ser, não acredito mais em revoluções fantásticas, juntar força no submundo da clandestinidade e aguardar o sinal da esperada transformação social. O Estado não é mais o grande vilão da história humana (se é que, penso eu, um dia foi, de fato). Numa realidade capitalista como a nossa, o Estado é o disfarce perfeito, é o colete a prova de balas que protege e blinda os verdadeiros inimigos da liberdade. E nessa NOSSA realidade, que os mais velhos PRECISAM entender se quiserem continuar falando numa linguagem comum, a tecnologia tornou-se o calcanhar de Aquiles para todos e todas, tanto para quem controla quanto para quem é controlado.

Porém, quem controla um território, em qualquer parte do mundo de hoje, de forma lícita ou ilícita, sabe que precisa ter um exército a sua disposição. O controle só é possível porque há uma ordem imposta através da força. E não importa o que nós façamos, enquanto todo o aparato produtor estiver à disposição dos controladores da humanidade, sempre haverá uma força maior preparada para impedir a tal “revolução”. Sério mesmo que vamos brincar de atirar com fuzis de madeira produzidos na clandestinidade contra armamentos pesados e pessoal bem treinado? É ainda mais sério que tem pessoas cegas de ambição sonhando em treinar grupos de elite para usar força contra força? Idiotices a parte, acredito que NADA irá mudar enquanto não travarmos e vencermos uma guerra muito mais urgente e que não demanda armas ou exércitos e que, por sua vez, pode subverter a ordem: a luta pela consciência e individualidade de cada humano que ainda consegue sentir-se humano neste mundo.

Estado e capitalismo só se tornaram possíveis porque seus idealizadores foram fortes pensadores do materialismo, cuja mesma filosofia influenciou práticas que até hoje atacam e destroem culturas milenares e libertárias. E essas culturas ainda sobrevivem em todo o planeta, numa clara resistência ao modelo de humanidade que está perversamente sendo construído há anos e que às vezes penso que nem os iluminados doutores da anarquia conseguem perceber. Não haverá humanidade se mantivermos a exploração do homem pelo homem, e essa exploração só se torna possível a partir de práticas que cada vez mais reduzem a possibilidade de diversificar o pensamento. É essa a realidade que a maioria de nós vive nesse mundo. É para ela que os que desejam sinceramente mudá-la devem se atentar para subverter. E isso tudo não deve ser, acredito eu, encarado como mais um discurso que apela para o surgimento de salvadores. Pelo contrário, pode e deve ser debatido, questionado, discordado, acrescentado, etc. Porém, antes de mais nada, é preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que nenhuma transformação social, e é nesse ponto que queria chegar, será possível se não houver reais transformações individuais. Um indivíduo que apenas repete discursos sem colocá-los em prática não passa de uma máquina a serviço de um projeto por poder.

O pior de tudo é que enquanto houver brigas verborrágicas e perda de tempo pela escolha daquele que será o melhor discurso a ser dito, haverá uma parcela cada vez maior de culturas destruídas, humanos maquinizados e aniquilação do pensamento. Por isso mesmo digo e repito: paremos de brigar por poder. Poder popular, poder para o povo, poder por poder, tudo não passa de verbos e slogans, mantras de posturas cada vez menos libertárias e mais libertícidas. Ou os indivíduos admitem que seus universos pessoais precisam ser, primeiramente, libertados para então estimular-se o pensamento libertário entre todos e todas, ou em breve seremos apenas um borrão na história daqueles que se colocarão como vencedores nessa disputa tola por poder e levarão o que sobrar da humanidade para o limbo do esquecimento (ou vocês realmente acham que nós, seres irrelevantes e estúpidos, vamos colonizar essa planetinha azul para sempre?).

Por R29 | Colaborador da Rede de Informações Anarquistas

“De baixo para cima, RIA você também!”

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O golpe em curso se chama “Ajuste Fiscal”

20 quinta-feira ago 2015

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Fonte: Coletivo Anarquista Luta de Classe

Retirado de: https://www.facebook.com/FederacaoAnarquistaGaucha/posts/1057692934242264:0

Passe o que passe no andar de cima, a faca do ajuste nunca deixa de cortar na carne dos trabalhadores e setores populares. A recessão do país castiga, como sempre, as classes oprimidas. Corta direitos, salários e empregos e levam os serviços públicos à falência. Autoriza o saque do capitalismo de mercado sobre os bens púbicos e comuns, sobre a riqueza criada pelas sucessivas gerações de trabalhadores. “Administra” a pobreza pelos mecanismos criminais da justiça-polícia-prisão. Cria o sujeito indesejável, que perturba a segurança da ordem, o discurso punitivo que encarna o sentido comum do dia-a-dia e acomoda a banalização de uma guerra repressiva e genocida sobre negros e pobres, especialmente a juventude. Qualifica o bom e o mau protesto.

A briga desatada no palco do poder político passa longe do ajuste econômico e o Estado Penal. Em todos os cenários que podemos imaginar o sistema dominante trata de defender as medidas e as práticas de governo que empurram mais austeridade. Os trabalhadores brasileiros já estão pagando com o sacrifício dos sonhos e esperanças de dias melhores a farra financeira e criminal do capitalismo global. O fantasma das políticas miseráveis que castigam o povo grego, com desemprego em massa, arrocho salarial, perda de aposentadorias e demais direitos é um exemplo bem fresco.

Recessão e ajuste. O pacto social foi pro ralo.

O modelo que fez os ricos mais ricos e deu uma beirada de consumo, crédito e programas sociais para integrar os setores populares ao mercado já não tem mais vez. Só a indústria automotiva já demitiu 39 mil operários no primeiro semestre. A construção civil prevê 480 mil cortes de postos de trabalho durante o ano. O endividamento popular cresce e aperta o orçamento das famílias. A inflação criada pela subida dos preços administrados pelo Estado amplia a carestia de vida e corrói os salários. Não para por ai. O governo de Dilma e do PT condenou a juventude trabalhadora ao mexer nas regras do seguro-desemprego, esticando o tempo de trabalho para 18 meses. As burocracias sindicais arriaram uma bandeira histórica do movimento operário concertando com a indústria e o governo o programa de redução de jornada com redução salarial, o Pograma de Proteção ao Emprego (PPE), um plano de socorro dos patrões. Por sua vez, o lucro dos banqueiros tem recordes históricos às custas de uma dívida pública infame que arrocha investimentos na saúde, educação, moradia, etc.

No nível dos Estados e municípios a situação também é calamitosa. O achaque feroz da dívida pública, a sonegação e as insenções fiscais da patronal amordaçam o orçamento e os governos como no RS e em GO atacam o funcionalismo com congelamento e parcelamento de salários, corte de verbas sociais e planos de privatizações, concessões e extinção de órgãos e serviços públicos.

O pacto social que prometeu pela mão do desenvolvimento capitalista uma margem de melhorias sociais que chegassem na vida dos mais pobres fracassou. Com ele toda a narrativa triunfalista do crescimento que fez imaginário de uma pretensa prosperidade social fundada no sonho do consumo, no indivíduo flexível e “competitivo” ao gosto do mercado, na moral compensativa do trabalho precário e estafante, na privação dos espaços públicos e dos bens comuns em benefício de interesses especulativos. Quando as estruturas do poder e a riqueza ajustam o jogo todos sabemos onde é que a corda arrebenta.

A política como gestão dos controles do sistema.

De todos os lados a pressão ajoelha o governo do PT e o andar de cima cobra caro pela sobrevida. A rejeição cresce de pesquisa em pesquisa. A direita opositora se reagrupa pelo alinhamento de Eduardo Cunha com o PSDB, o DEM e os partidos que pulam do barco furado do governismo. Aparecem manobras judiciais pelo TCU e o TSE para criar uma situação política favorável ao impeachment ou empurrar a renúncia da presidente Dilma. Buscando jogar água nesse moinho, no último dia 16 de agosto mais uma vez o “antipetismo” foi às ruas por convocação de grupos liberais, conservadores e ultra-reacionários, ao que o governismo pretende contestar com a convocatória do dia 20 de agosto.

A operação Lava Jato, entre outros sentidos, tem reforçado a noção de uma solução judicial-repressiva para a crise. Juízes, promotores e agentes federais caídos nas graças da imprensa burguesa e das ruas. Políticos e altos burocratas do Estado e dos partidos na parede. Em menor medida, empresários graúdos figurando nos processos. Sem dúvidas ganha certa evidência um modus operanti que faz conexões entre as instituições políticas e o mundo corporativo empresarial. Mas há em tudo isso uma idéia sedutora, que faz vetor pro conservadorismo, de que a faxina deve ser feita pelos mesmos aparelhos de poder que punem implacavelmente a pobreza com as grades e o extermínio.

Em todos os casos, o sistema sempre reserva para si, bem longe dos mecanismos de participação popular, o direito de cortar cabeças seletivamente para não entregar o ouro. As redes de corrupção, sonegação e impunidade dos poderes políticos, econômicos e midiáticos são parte da estrutura, moeda corrente da representação burguesa. O que interessa ao andar de cima é deixar a política sempre no domínio privilegiado do parlamento, da justiça burguesa e/ou órgãos auxiliares. Normatizar os de baixo, quando muito, como eleitores.

Agenda de Renan e Levy. A ordem é arrumar uma saída pelo andar de cima.

A mão avarenta e fisiologista do PMDB, por conchavo das velhas raposas, segura, sabe-se lá por quanto tempo, o governismo na beira do precipício. Tudo tem seu preço. A arte de governar o país antes de tudo é a gestão estável dos interesses dos poderosos. As organizações patronais FIESP e FIRJAN além do Bradesco passaram o recado que querem, dentre todas as tramas para sair da crise política, um cenário que não toque no ajuste fiscal e na sua ofensiva sobre os direitos dos trabalhadores. Os editoriais de O Globo e Zero Hora assinam embaixo. Sangrar o governo Dilma e ajoelhar o PT até beijar os pés de quem pode mais agrada os senhores que não pretendem deixar o problema para a imprevisibilidade das ruas.

Nessa perspectiva, a Agenda Brasil anunciada na última semana é um pacote ao gosto das classes dominantes. Obra de um arranjo conservador do governo, tribunais e o senado, onde brilham Renan Calheiros, o PMDB e a política da tesoura do ministro Joaquim Levy. Consumação de uma virada governista ainda mais à direita, que reza missa pra aquelas imagens e lembranças da infame década de 1990 evocadas na campanha eleitoral de 2014. Chantagem barata que recrutava “voto crítico” no “menos pior”.

A saída que vem de cima faz agenda pelo ajuste e corta mais fundo. Com terceirizações e precarização do trabalho, ataque ao sistema gratuito e universal da saúde pública, desvio de receitas para o sistema da dívida. O atropelo de territórios indígenas, quilombolas, bens naturais e normas ambientais para a exploração brutal das mineradoras, construtoras e o agronegócio.

Para consagrar, tramita no congresso por ação do governo o projeto da Lei Antiterrorista. Endurecimento jurídico-represssivo sobre as rebeldias que não são canalizadas pela ordem. Punição dos militantes e das lutas que criam resistência e escapam dos controles burocráticos do Estado.

Luta sem governo, patrões e pelegos. Organizar a resistência dos de baixo

CABDos últimos 05 anos emerge uma nova onda de lutas que marcam o caminho por onde é preciso avançar para que os oprimidos construam, por sua própria força, uma saída do cenário de ataques que se agravam. Ocupações por direito a moradia, greves radicalizadas pela base que se voltam contra as direções burocráticas, governistas e patronais dos sindicatos, lutas da juventude por educação e transporte coletivo de qualidade, resistência combativa de indígenas e quilombolas.

A violenta ofensiva da patronal e dos governos contra os de baixo exige a construção de uma alternativa que se gesta nos locais de trabalho, estudo e moradia, que crie resistência e acumule forças para derrubar o andar de cima. Urge a necessidade de superar definitivamente a derrota trágica e inapelável de uma formação política nascida diretamente das organizações operárias e populares que dirigiu uma estratégia obstinada a chegar à presidência, custe o que custar; que afirmou premissas teórico-ideológicas que formaram o credo de toda uma geração da esquerda brasileira e que ainda hoje forma paisagem, inclusive, para setores da burocracia radicalizada que se opõe aos governos do PT por esquerda. Chegar ao “poder” pela via eleitoral, simplificar esse problema pela direção dos aparelhos estatais e atribuir ao Estado o caráter de uma máquina que funciona ao gosto de seus pilotos de turno, que não está penetrado por relações sociais de poder e dominação, mecanismos internos de reprodução de dinâmicas burocráticas e oligárquicas. Uma concepção viciada que se manifesta nos mais diversos conflitos em curso, em métodos que fazem das lutas uma mera força de pressão que visa “persuadir” um possível eleitorado por via de discursos, palavras de ordem e da promoção de lideranças carismáticas ao passo que marginaliza o protagonismo e a organização de base.

A saída para a situação que vem se colocando aos trabalhadores não é uma saída pela eleição de novas direções mas, fundamentalmente, pela organização de base e ação direta popular. Processo que não é uniforme, requer paciência, firmeza, ação metódica, trabalho de base, por vezes silencioso. Distante do barulho que grita uma “alternativa” política que se relaciona com a promoção de lideranças “caudilhistas” que pretendem se alçar como intermediários, fiadores do protesto popular. O lastro ideológico bastardo do petismo é vasto e faz com que ainda se tenha preferência, por exemplo, em atos com carros de som ou os reiterados “encontros” formais onde futuros presidenciáveis possam se manifestar, onde correntes se “cheiram”, procuram “enquadrar” aquelas que julgam “centristas”, fazem chamados e exigências umas as outras, tiram fotos e retornam às suas casas a um piquete ou bloqueio que tranque os serviços, a produção ou a circulação em áreas estratégicas, que ocupe espaços públicos ou privados. O protagonismo do partido na promoção da figura de seu dirigente ainda se sobrepõem ao protagonismo coletivo da classe, na avaliação, nos riscos assumidos, nas vitórias e derrotas.

A superação do legado reformista, social-democrata, que deixou o PT na esquerda ainda requer muito empenho, inserção social e luta política e ideológica a ser travada, fundamentalmente desde as mobilizações em curso. Um período de ofensiva dos de cima e resistência dos baixo requer, antes de mais nada, fortalecer a organização e o protagonismo de base em cada local de trabalho, estudo e moradia que estamos vinculados, acionando a mais ampla solidariedade de classe às lutas em curso, para que os de baixo se afirmem enquanto os verdadeiros protagonistas da construção de uma saída que barre o ajuste e acumule forças para a construção de uma nova sociedade, socialista e libertária.

Porto Alegre, 19 de Agosto de 2015
Federação Anarquista Gaúcha (FAG), Organização integrada à Coordenação Anarquista Brasileira (CAB).

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Mc indiana dispara contra a Univeler

20 quinta-feira ago 2015

Posted by litatah in Anti Consumismo, Comunicação Libertária

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India, rap, rapper indiana, Sofia Ashraf, Unilever

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Fonte: Bocada Forte
SOFIA ASHRAF, rapper indiana, lançou “Kodaikanal Won’t“, canção em que ela acusa a empresa Unilever de não indenizar os antigos trabalhadores que foram contaminados por mercúrio. As rimas de Sofia são feitas em cima de um beat de Nicki Minaj.

Ex-funcionários atribuem 45 mortes ao envenenamento por mercúrio e cerca de vinte mil pessoas assinaram uma petição lançada pela ONG Jhatkaa, que também postou rap de Ashraf em seu canal do YouTube, pedindo que a Unilever assuma a responsabilidade. A multinacional questiona o relatório da Community Environmental Monitoring, ONG que alegou ter encontrado “níveis elevados de mercúrio tóxico na vegetação e sedimentos recolhidos na vizinhança” da fábrica Kodaikanal.

Via: Wander Filho Pavão e  The Independent

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[Campinas-SP] Convite aberto para o XIV Expressões Anarquistas

26 domingo jul 2015

Posted by litatah in Anarquia, Comunicação, Comunicação Libertária, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos

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anarquia, expressõeds, Expressões Anarquistas

14ea2015
Postado em Notícias Anarquistas, 17.07.2015C o m u n i c a d o:
Saudações anárquicas,
A união anarquista Fenikso Nigra vem convidar as pessoas, grupos, coletivos, uniões e associações anarquistas que tenham alguma afinidade e interesse no evento XIV EXPRESSÕES ANARQUISTAS que realizaremos nos dias 10 e 11 outubro de 2015 em Campinas, interior de São Paulo.
De forma breve, a proposta do Expressões Anarquistas é motivar, promover e organizar práticas anarquistas no interior paulista onde a prática e organização anarquista estão em menor intensidade.
O evento contará com uma exposição de materiais anarquistas e está aberto a todas formas de expressão cultural que possam idealizar e apresentar.
Nesse sentido, solicitamos a comunicação prévia para divulgar na programação do evento.
Existe a possibilidade que conforme o interesse dos grupos e pessoas, de realizarmos conjuntamente uma Feira Anarquista, a qual seria a primeira realizada na cidade de Campinas. Mas para sua efetivação, repetimos, que tenha interesse de grupos, coletivos, associações que tenham essa vocação.
A programação proposta previamente é construir as conversas libertárias de forma modular em temas gerais, nos quais as pessoas, grupos, coletivos, associações possam contribuir com suas experiências e vivências de luta. Visamos, acima de tudo que se tenha uma interação entre as pessoas, não só como pessoas espectadoras passivas, mas que possam também contribuir ativamente na troca de informações que motivem a ações e organizações diretas, de base anarquista ou ao menos que sejam consideradas como referência prática de luta por emancipação das pessoas de forma geral.
Antecipadamente agradecemos a atenção, contamos com a presença e teremos espaços para hospedagem das pessoas que precisarem.
Saúde e anarquia!
anarkio.net
agência de notícias anarquistas-ana
Frescura
os pés no mur
ao dormir a cesta
Matsuo Bashô

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ZADs: nova forma de resistir ao capital?

20 segunda-feira jul 2015

Posted by litatah in #contratarifa, #resisteIzidora, A’uwe-xavantes, Agroecologia, Anarco Ecologia, Anarco Feminismo, Anarco Primitivismo, Anarco Punk, Anarco-Comunismo, Anarquia, Anarquia Verde, Análise de Conjuntura, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aparelhos de reprodução ideológica, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Aty Guasu, Bandeiras de Luta, Black Block, Código Aberto/Open Acess, Comunicação, Comunicação Libertária, Contra barragens, Copyleft, Correntes da Anarquia, Curdistão/Kobane, Decrescimento, Democratização da comunicação, Ecofeminismo, Ecologia, Economia, Educação Libertária, Entrevistas, EZLN, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Filosofia, Formação, Gentrificação, Greve, Guarani Kaiowa, Hakim Bey, História, Internacional anarquista, Izidora, Libertação animal, Mapuche, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Mobilização Indígena, Mobilização Quilombola, Moradia, Municipalismo Libertário, Municipalismo Libertário, Murray Bookchin, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Oaxaca, Organização de base, PATRICK VIVERET, pós-capitalismo, Permacultura, Pierre Clastres, Prática, Questão indígena, Questão racial, Quilombolas, Racismo, Racismo ambiental, Reforma agrária, Remoções, Repressão, Satere-Mawe, Serge Latouche, Software Livre, Squats e Okupas, Subcomandante Marcos, Teoria, Veganismo, ZAD- Zonas a Defender, ZADs]., Zapatistas, Zonas a Defender [ZADs]., Zonas a Defender [Zones à Défendre

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POR PATRICK VIVERET

Fonte: Outras Palavras

Patrick Viveret, filósofo do pós-capitalismo, analisa as Zonas A Defender, em que ativistas enfrentam projetos devastadores promovendo ocupações e experimentando formas de convívio contra-hegemônicas

Entrevista a Christian Losson e Sylvain Mouillard | Tradução: Inês Castilho

Um novo elemento passou a marcar, há meses, a paisagem política (e geográfica…) da França: as Zonas a Defender [Zones à Défendre, ZADs]. Não são uma novidade absoluta – mas uma reelaboração. Em diversas partes do país, eclodiram mobilizações contra grandes projetos ou obras, considerados devastadores ambiental ou socialmente. Mas há ao menos duas novidades, em relação a protestos semelhantes, presentes nas lutas sociais em todo o mundo há décadas.

As novas ações têm caráter territorial. Além de promover campanhas contra os projetos contestados, ocupa-se os locais em que está planejada sua construção, para impedi-la. Na região de Nantes, noroeste francês, centenas de pessoas vivem, há mais de dois anos, numa área de 1,6 mil hectares, onde está prevista a construção de umnovo aeroporto internacional (Nantes já possui um e está a apenas duas horas e meia, por trem, de Paris). No sudoeste do país, outra ocupação contesta a construção de uma barragem sobre o Rio Tescou. Afirma-se que ela servirá apenas um pequeno grupo de agricultores capitalizados, e alagará o habitat de espécies animais e vegetais importantes. Já no vale do Rio Isère, sudeste francês, confronta-se a destruição de parte da Floresta de Chambaran, para que seja erguido em seu lugar um complexo turístico… Embora tenham surgido em 2012, as ZADs multiplicaram-se recentemente. Há dezenas delas, a ponto de terem se tornado dor de cabeça para governantes interessados em lançar novos empreendimentos.

A segunda novidade são os experimentos pós-capitalistas. Cada ZAD converte-se num laboratório de novas práticas. Cultiva-se sem agrotóxicos. Criam-se animais sem confiná-los ou submetê-los a crueldades (um setor do movimento é ativamente vegano). Vive-se em construções erguidas segundo métodos de permacultura. Considera-se que terra um bem-comum. Usam-se moedas solidárias. Busca-se substituir as lógicas de competição pela colaboração e a reciprocidade. Acolhe-se imigrantes, num continente onde cresce a sombra da xenofobia. Busca-se ativamente tornar as comunidades inter-generacionais.

Em outro traço marcante, as ZADs nutrem profunda desconfiança pelo sistema político institucional, explica Nicholas Haringer, um estudioso do altermundialismo. Seus participantes, em geral, perderam a esperança num sistema democrático em crise e corrompido pelo poder econômico. Não aceitam submeter sua luta a parlamentos em que não enxergam chances reais de debate aberto ou de influência cidadã. Também por isso, resistem frequentemente a ações da polícia. A ZAD de Nantes foi semi-destruída em outubro, por uma carga brutal da polícia. Na que resiste à barragem sobre o Rio Toscou, um jovem de 21 anos foi morto em dezembro, quando um bomba atirada em ato de repressão explodiu sobre suas costas. Os incidentes não levaram os “zadistas” a recuar.

Que revela a aparição deste novo fenômeno de luta social? Em entrevista ao jornal “Libération”, traduzida por “Outras Palavras” e publicada a seguir, o filósofo Patrick Viveret aponta o surgimento, no cenário político contemporâneo, de uma “polarização criativa” — ainda que muito perigosa. Por um lado, diz ele, o capitalismo tornou-se, desde a crise de 2008, muito mais desumano e radicalizado: um “hipercapitalismo brutal”, em que 67 pessoas têm tanta riqueza quando 3 bilhões de outras; e em que a financeirização tornou-se tão intensa que o tempo médio de posse de uma ação de empresa reduziu-se a… 12 segundos!

Em resposta, prossegue Viveret, também os movimentos que lutam por novas lógicas sociais teriam derivado sua posição. Já não bastaria anunciar, nos Fóruns Sociais Mundiais, que “um outro mundo é possível”. É preciso dizer que “outro mundo possível existe” — ou seja colocar em prática desde já, ainda que de forma localizada, ações que combinem resistência, visão transformadora e o que o filósofo chama de “expermientação antecipatória”. Este tipo de atitude, imagina Viveret, irá se mostrar ainda mais importante e inspirador caso a crise do sistema continue a se aprofundar e a amputar direitos. Nesse caso, diz ele, “devemos nos preparar para organizar a resilência nos territórios”. A entrevista vem a seguir (Antonio Martins) 

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O que significa a multiplicação das ZADs nas narrativas sobre a nossa sociedade, hoje?

As ZADs agem qual um espelho invertido. Elas contestam os modelos de crescimento, de produção, de consumo. E de descarte: nossa época produz lixos e desperdício, enormemente. Elas participam de um movimento muito mais amplo, que coloca a questão do discernimento entre a utilidade e a inutilidade. Hoje, a economia dominante é, de fato, mais que nunca caracterizada por sua dissociação da política e da ética. Dissociação que o teórico do marginalismo, Léon Walras, resumiu da seguinte maneira em seu tratado de economia política pura: “que uma substância seja pesquisada por um médico para tratar ou por um assassino para envenenar é uma questão muito importante de outros pontos de vista, mas completamente indiferente do nosso. Para nós, a substância é útil nos dois casos.”

O que significa isso?

Este partidário da economia social denunciava uma teoria que julgava natural eximir-se de qualquer consideração sobre a natureza benéfica ou prejudicial das atividades econômicas, ao não interessar-se senão pelo fluxo monetário que elas geram. A resistência das ZaD contribui para questionar o tripé da crença dominante: crescimento, competitividade, emprego. Um mantra que não se interroga nem sobre a natureza do crescimento (que comporta vários elementos destrutivos) nem sobre os vencidos na corrida pela competitividade (por exemplo o Mali, a África Central, a Ucrânia), nem sobre a natureza do emprego (a Organização Internacional do Trabalho fala de “trabalho decente” para melhor sublinhar a expansão dos empregos indecentes).

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As ZAD opõem cooperação a competição, mas questionam também o capitalismo, o papel do Estado, as falhas da democracia representativa?

Não foi preciso esperar a chegada das ZADs para emergirem a resistência, ações, experiências. Os Fóruns Sociais Mundiais (FSM), desde a primeira edição em Porto Alegre em 2001, passando pelo FSM de Belém, igualmente no Brasil, em 2009, que colocaram a questão dobien-vivir, ou do convivere, da “convivialidade”, ou o próximo em Tunis, em março de 2015, apontam, de modo global, as mesmas críticas. Existe, para usar a fórmula de Bénédicte Manier, “um milhão de revoluções tranquilas”; milhares de alternativas, como as cristalizam o movimento Alternatiba; coletivos como esse, por uma transição cidadã, onde um mundo em mudança é experimentado, de modo criativo.

Estamos no “glocal”, a interpenetração e rede de lutas globais e locais?

Sim. Com uma sobre-representação das ZaD, na França, com relação a outras formas de luta e de alternativas. Incluindo os protestos, às vezes violentos, sobre-explorados pela televisão. Podemos certamente opor o fato de que a própria sociedade é violenta, como o Estado ou as forças da lei. Mas é importante distinguir conflito de violência. As formas de conflito não violento foram sempre, historicamente, as mais eficazes e permitiram evitar que a violência se voltasse contra seus próprios autores, como pudemos ver nas primaveras árabes. A violência coloca em questão a erradicação do inimigo. Já o conflito questiona os papeis sociais do adversário, sem atacar as pessoas. A democracia é a arte de transformar inimigos em adversários. A resposta à violência econômica, social, societal, não pode ser outra forma de violência. As posturas do líder do Medef [sindicato patronal francês], Pierre Gattaz, empenhado numa luta de classes de ricos, são brutais e violentas e podem conduzir a respostas igualmente duras.

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Assistimos, também, a articulações inéditas em torno das ZaD, como nos movimentos por justiça climática, que agregam associações legalistas constituídas, pequenos produtores ecológicos ou militantes radicais em torno de diferentes ações que defendem interesses comuns…

É verdade. Mas a ocupação dos lugares contra os grandes projetos inúteis é conflito positivo, não é violência. Não se deve dar prioridade ao desenvolvimento disso que Wilhelm Reich, na Psicologia de Massa do Fascismo, evocava ao falar de “praga emocional”. Quando as lógicas do medo e a tendência ao recuo identitário importam mais que toda racionalidade. O economista e Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz fala de duplo fundamentalismo. O primeiro, comercial, retoma o que Karl Polanyi, em A Grande Transformação, chamava de sociedade de mercado, mina os laços sociais, tensiona as solidariedades, e vem nutrir o segundo: o fundamentalismo de identidade. Que não é senão religioso, como mostra a Frente Nacional.

As ZaD, como outras experimentações, ilustram também a carência de respostas políticas à altura dos desafios?

É necessária uma outra abordagem da riqueza, mas também da democracia e do poder, diante do risco de um sistema oligárquico. Uma democracia não pode definir-se somente por sua parte quantitativa (a lei do número), que esquece a parte qualitativa: a cidadania. Aqueles que lançam o alerta, por exemplo, podem ser muito minoritários e, não obstante, oxigenar a mutação da democracia. Não há uma representação legítima sem a forte participação dos cidadãos. Cada grupo de atores, aí incluindo as ZaD, deve também aceitar que pode haver procedimentos democráticos mais amplos, consultas reais aos cidadãos, que podem terminar com referendos em territórios. A tentação da imposição pela força é muito presente na classe dominante, mas pode estar também entre os dominados.

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Em 2001, o altermundialismo falava de um “outro mundo possível”. Mas, apesar da crise, desde 2007 as lógicas do capitalismo nunca foram tão ferozes. O que mudou em quinze anos?

Como em todos os grandes períodos de mutação histórica, assistimos a uma dupla polarização. A polarização regressiva: o hipercapitalismo, que jamais foi tão inumano, tão brutal, traduz o fim de um ciclo; ele se radicalizou porque se sabe ameaçado. Esta é uma característica do fim de ciclos históricos. Os últimos anos da colonização francesa na Argélia foram, da mesma forma, os mais violentos.

Desde de 2008, o sistema torna-se uma caricatura de si mesmo. Todos os indicadores de antes da crise se agravam: jamais existiram tantos derivativos financeiros no mundo, da ordem de 800 trilhões de dólares, segundo o Banco Internacional de Compensações. Jamais o tempo médio de posse de uma ação foi tão curto: 12 segundos! O hipercapitalismo é incapaz de pensar os grandes desafios do século 21: ele ignora a “mundialização”, como dizia Edouard Glissant, por não concentrar-se senão em “sua” mundialização, a globalização financeira. O que diz esse mundo onde 67 pessoas, segundo a Oxfam, possuem tanto quanto 3 bilhões de outras? Essa é a fratura que está se abrindo, num mundo que morre. A humanidade se confronta com a obra de sua própria humanização.

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E o que você chama de polarização criativa?

Ela está precisamente ali, como o mundo novo, o novo modo de viver junto. Passamos de um “outro mundo é possível” a um “outro mundo possível existe”. Estamos no tripé do sonho. O “R” da resistência, o “V” da visão transformadora que desenvolve o imaginário, o “E” da experimentação antecipatória, tudo iluminado pelo “E” da [évaluation] avaliação como discernimento. Devemos nos preparar para uma nova grande crise e, portanto, para organizar a resistência nos territórios. A mudança de perspectiva é essencial: uma abordagem diferente para a economia, a democracia, a civilização, como defendido por Edgar Morin.

[1] Nas edições de Conexões que liberam, 195 pp, maio 2012

 

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A PARTIR DE AGORA – As jornadas de junho no Brasil

15 quarta-feira jul 2015

Posted by litatah in #contratarifa, #resisteIzidora, A PARTIR DE AGORA - As jornadas de junho no Brasil, Aborto, Anarquia, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Anti Capitalismo, Anti Civilização, Anti Consumismo, Anti Fascismo, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Anti Transfobia, Antirracismo, Aparelhos de reprodução ideológica, Aquecimento global - Mudanças climáticas, Arte e Entretenimento, Bandeiras de Luta, Black Block, Código Aberto/Open Acess, Cinema, Comunicação, Comunicação Libertária, Coordenação Anarquista Brasileira, Copyleft, Decrescimento, Democratização da comunicação, Ditadura, Ecofeminismo, Ecologia, Economia, Educação Libertária, Entrevistas, Esquerda partidária, Eventos e Atos, Federação Anarquista do Rio de Janeiro, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, Gentrificação, Greve, Guerra às Drogas, História, Izidora, Jornadas de Junho, Libertação animal, Manifestações, Manifestos, Mártires da Luta, Militarização das periferias, Mobilidade Urbana, Moradia, Notícias, Entrevistas, Atos, Manifestos, Organização de base, Organização Resistência Libertária, Organizações Anarquistas, Periferias e Favelas, Perseguição política, Perseguição política a anarquistas, Prática, Presos Políticos, Presos políticos, Propostas, Publicidade, Questão racial, Racismo, Racismo ambiental, Rafael Braga, Remoções, Repressão, Revolução, Software Livre, Todo Apoio aos 23, Veganismo, Violência

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A partir de agora - as jornadas de junho

Fonte: Adital

O Documentário “A partir de agora – as jornadas de junho no Brasil”, dirigido pelo diretor argentino Carlos Pronzato, desenvolve-se a partir de entrevistas de cinco ativistas de cinco capitais brasileiras, além de alguns manifestantes que abordam as manifestações ocorridas no Brasil a partir de junho de 2013.

O documentário mostra que os protestos populares deram resultado no país. As manifestações que iniciaram em março e abril de 2013, em Porto Alegre, Estado Rio Grande do Sul, conseguiram suspender o aumento da tarifa de ônibus na cidade. As manifestações que ocorreram em junho de mesmo ano nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro tiveram maior proporção, com pautas diferentes, e serviram de estopim para novos protestos pelo resto do Brasil.

O documentário foi lançado em fevereiro de 2014 e, além de relatar com maestria as manifestações ocorridas no Brasil, pode ser utilizado como material de debate a respeito do papel da participação popular nas decisões políticas e sociais do país.

Carlos Pronzato é um renomado cineasta, diretor de vários documentários, entre eles “Carlos Marighella- Quem samba fica, quem não samba vai embora” e ”Mães da praça de maio- memória, verdade e justiça”.

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