• Anarquia ou Barbárie, Manifesto
  • Biblioteca
  • Linha Editorial
  • Sobre
  • Vídeos

Anarquia ou Barbarie

~ A anarquia é a percepção ecológica da sociedade, é o entender a participação livre de cada membro da coletividade como fundamental para a existência, para o exercício da verdadeira cidadania que é viver na coletividade respeitando a diversidade. Anarquia é coletivamente sermos o poder, é todos nós decidirmos em conjunto, de forma horizontal o que fazermos em nossas vidas e em nossos bairros, cidades….

Anarquia ou Barbarie

Arquivos Mensais: março 2016

[Rusga Libertária] Quem é Lucy Parsons? A Mitologização e a re-apropriação de uma heroína radical (Casey Williams)

08 terça-feira mar 2016

Posted by litatah in Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Coletivo Anarquista Luta de Classe

12814228_469256959930174_8703511051238419184_n

Neste 8 de março, Dia Internacional de Luta da Mulher, compartilhamos o excelente trabalho feito pelo pessoal do Rusga Libertária, organização anarquista integrante da Coordenação Anarquista Brasileira do Mato Grosso, de tradução de uma cartilha sobre Lucy Parsons, militante anarquista negra estado-unidense.

Leia em: https://rusgalibertaria.wordpress.com/2015/02/23/quem-e-lucy-parsons-a-mitologizacao-e-a-re-apropriacao-de-uma-heroina-radical-casey-williams/


Ver o post original

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

[CAB] Nota pública da Coordenação Anarquista Brasileira: 8 de Março, Dia Internacional da Mulher

08 terça-feira mar 2016

Posted by litatah in Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Coletivo Anarquista Luta de Classe

“Somos escravas dos escravos. Exploram-nos mais impiedosamente que aos homens.” Lucy Parsons.

Resgate histórico sobre 8 de Março, Dia Internacional da Mulher:

Possuímos uma cultura do esquecimento, de apagamento de nossa memória, somos fruto de uma história que gerações antepassadas construíram. Por isso é de suma importância que nós, enquanto anarquistas feministas organizadas, façamos o resgate e a preservação cultural da história da luta da classe oprimida, das lutas empregadas por grandes mulheres que não se submeteram ao regime patriarcal dominador de sua época.

Datas importantes e que foram históricas na luta de classes, como o 8 de Março e o 1° de Maio, são “comemoradas” sem que haja o conhecimento suas origens. Sabemos que a classe dominante tem sua própria versão da história, versão essa que apaga deliberadamente as lutas sociais contra a dominação e exploração. Ainda mais por isso é que devemos nos apropriar da história de nossa…

Ver o post original 782 mais palavras

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

“Se ficarmos parados seremos engolidos”, afirma cacique Kaingang

06 domingo mar 2016

Posted by litatah in Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Debate no interior do Paraná criticou atual cenário de ameaças aos direitos dos povos tradicionais e apresentou a comunicação popular como ferramenta de apoio à luta indígena na região.

Por Julio Carignano,

De Nova Laranjeiras

12755030_1568928213432137_454673235_o

Original: http://www.brasildefato.com.br/node/34167

A questão indígena e atual conjuntura de ataques a direitos das comunidades, o Levante Zapatista no México, a autodeterminação destes povos e a utilização de ferramentas de comunicação popular em apoio à luta dos povos originários pautaram um debate no último sábado (13/2) na Terra Indígena Rio das Cobras, uma das maiores reservas do sul do país, localizada nos municípios de Nova Laranjeiras e Espigão Alto do Iguaçu, Centro Sul do Paraná.

A roda de conversa reuniu lideranças e juventude da Terra Indígena, militantes de movimentos sociais, comunicadores populares e professores e estudantes da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e foi organizada pelo Coletivo Anarquista Luta de Classe (CALC), coletivos da Rádio…

Ver o post original 808 mais palavras

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Nosso feminismo será classista e de base, ou não será!

06 domingo mar 2016

Posted by litatah in Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Opinião das mulheres anarquistas da FAG lido na ocasião do Ato Político Anarquista celebrativo ao 8 de março, dia Internacional da mulher trabalhadora.

12745681_1155973071080916_3155340972329807896_nPor ocasião do 8 de Março, data importante para as mulheres de todos os povos do mundo, nós, mulheres da Federação Anarquista Gaúcha, convidamos a todas e todos, no dia de hoje, a se somar nesta modesta, porém convicta opinião de luta contra as mais diversas opressões, especialmente contra as violências que decorrem das ideias machistas e patriarcais. Nossa presente contribuição não pretende ser totalizante nem abarcar toda a diversidade de opressões que sofrem os diferentes grupos dentro do que definimos por “mulher”, porém, uma coisa queremos demarcar: nossa luta e nossa vida se dedica às mulheres do povo, às mulheres oprimidas, pois delas nascemos, delas somos parte e por elas estamos dispostas a viver e morrer. Assim, conscientes de nossa insuficiência, queremos apresentar alguns debates e construções que temos feito…

Ver o post original 2.462 mais palavras

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Encontrei um Amarildo

04 sexta-feira mar 2016

Posted by litatah in Amarildo, Cadê o Amarildo?, Cinema, Militarização das periferias, Periferias e Favelas, Perseguição política, Polícia, UPP, Repressão, Sem categoria, Violência, Violência Racial

≈ Deixe um comentário

Tags

amarildo, Arte é Diversão, arte de luta, arte e luta, Assembleia popular cinelândia, cadẽ o amarildo?, cinema, cinema é luta, O Estopim, policia, UPP, violência

maxresdefault (1).jpg

 

Entre interpretação e realidade, filme apresenta caso do desaparecimento de homem simples da Rocinha para colocar outras questões em pauta

Por Angélica Fontella

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

O Estopim

Dir. Rodrigo Mac Niven, Brasil, 2014

“A polícia informou…”, “o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro divulgou…”, “o secretário de segurança pública da capital fluminense declarou…” Frases como essas são usadas diariamente pela imprensa e, para o bem ou para o mal, muitas vezes representando uma ideia de verdade. Nas manifestações de 2013, múltiplas vozes tentaram se fazer ouvir e uma das 368 pessoas desaparecidas no estado do Rio de Janeiro em julho do mesmo ano (dados do ISP) se tornou símbolo: Amarildo de Souza. O morador da Rocinha – comunidade da zona sul carioca – desapareceu no dia 14 de julho de 2013, após ser abordado por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e conduzido “para averiguação” à sede da UPP. Nunca mais apareceu. Com intuito de abrir o debate sobre violência e projetos de militarização, foi produzido o documentário O Estopim, que estreou no Festival do Rio 2014, mas que ainda está sem previsão de lançamento.

Cena do cotidiano de Amarildo (Brunno Rodrigues) /DivulgaçãoCena do cotidiano de Amarildo (Brunno Rodrigues) /Divulgação

Escutas que reproduzem diálogos da rádio da Polícia Militar do Rio, no dia do desaparecimento de Amarildo (14 de julho), abrem o longa-metragem do cineasta Rodrigo Mac Niven, que já dirigiu Cortina de Fumaça (2010) e Armados(2012). O filme mescla ficção e documentário, contendo depoimentos de conhecidos de Amarildo e pessoas envolvidas no caso; além de cenas que reconstroem situações que teriam sido vividas por Amarildo, interpretado pelo ator Brunno Rodrigues, no filme, como cenas de trabalho e pesca. Segundo a esposa do pedreiro, pescar era seu único vício.

Quem guia o espectador durante os 82 minutos de exibição é o líder comunitário da Rocinha, Carlos Eduardo Barbosa, o Duda, quem motivou o diretor Rodrigo Mac Niven a realizar a produção. “Fui contagiado pela coragem de pessoas como Duda, amigo da família e um dos primeiros a fazer denúncias sobre o caso, além de instigar que outros também denunciassem abusos cometidos [pela polícia]”, declarou o diretor na sessão de lançamento, no último dia 29.

Duda, com toda simplicidade, um pouco atordoado com a atenção dedicada a ele no festival, assume nas telas a postura de narrador-personagem. Ele conta como Amarildo prestava pequenos serviços à sua lanchonete na Rocinha e como era prestativo com os demais moradores da comunidade. Duda conta que a ideia do filme é “abrir esse debate e conscientizar o poder público. E se for preciso, visitaremos todas as comunidades, para reunir lideranças e fazer com que as pessoas se sintam à vontade para buscarem os seus direitos, cortando o medo. Nosso maior inimigo dentro das comunidades é o medo da polícia”.

O lançamento do longa contou com a presença de políticos, atores e ativistas. André Ramiro, que interpretou o policial militar André Matias em Tropa de Elite (2007), comentou sobre a oportunidade de unir denúncia à profissão de ator: “acredito que teatro, cinema, dramaturgia também servem para informar, desenvolver intelecto, reivindicar e contestar, caso contrário, não seria arte”.

Brunno Rodrigues se sentiu honrado em participar da produção, “não somente por se tratar de um estopim para que a sociedade desperte para a politica pública equivocada que está sendo aplicada nas comunidades cariocas, mas também por ter sido trabalho profissional entre amigos”.

O filme aborda temas como segurança pública, desmilitarização da polícia e instalação de UPP’s de forma indireta, a partir de um mosaico de depoimentos. Entre as falas, são reconstruídas cenas que teriam feito parte do cotidiano de Amarildo, além de uma sequência marcante de tortura. “Foi angustiante, mas tudo foi feito com total segurança, e enquanto artista foi um prazer dar vida a uma situação como aquela que fomentará ainda mais a pergunta ‘o que aconteceu com Amarildo?’”, conta Brunno.

Embora dê margem para a elevação do personagem ao status de homem perfeito, a produção revela lado pouco falado nos grandes meios de comunicação, ao ouvir vozes dissonantes do discurso institucional sobre o caso. O Estopim foi realizado de forma independente e colaborativa, Mac Niven conversou individualmente com profissionais que conhecia e conseguiu recrutar equipe para produzir o trabalho. Mariana Genescá, produtora executiva do filme pela TVa2 Produções, lembra que o “caso Amarildo” foi, na verdade, pano de fundo para ilustrar uma realidade muito mais ampla, que vivemos todos os dias, o que explica a urgência do projeto. “Nem sequer buscamos patrocínio, até por acharmos que não conseguiríamos e queríamos ter liberdade pra falar e mostrar o outro lado. Cadê os moradores contando o que está acontecendo com eles mesmos?” explica. O longa ainda não tem contrato de distribuição.

Assista ao trailler:

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

A trégua natalina

04 sexta-feira mar 2016

Posted by litatah in Cinema, História, primeira guerra mundial, Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Tags

cinema, História, primeira guerra mundial

poster1

No primeiro natal da Grande Guerra, soldados de exércitos rivais deixaram as trincheiras para confraternizar. Inspirado em fatos reais, filme europeu retrata a vida de alguns combatentes neste momento da batalha

Por Marcello Scarrone

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

Publicado em: 19/12/2013  

No próximo ano comemoraremos o centenário do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), como passou a ser definida pela historiografia, ou a Grande Guerra, como foi apelidada na linguagem popular, devido ao cenário de devastação e morte que trouxe consigo e ao abismo de desespero e desatino provocado por um conflito que penetrava como uma faca no coração da civilização europeia, a da Belle Epoque, que se acreditava finalmente isenta de violência e ódios nacionais. Um conflito, com efeito, que mobilizou milhões de pessoas, tanto moradores de cidades quanto simples camponeses, de França, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Rússia, mas também Itália e estados balcânicos, entre outros. E que se caracterizou, desde seu começo, como uma longa, extenuante e alucinante guerra de posição, tendo as trincheiras como cenário principal.

O inimigo presente a poucas centenas ou dezenas de metros, vigilante como você, prendendo a respiração como você, lutando contra fome, frio e ratos, como você, entre uma rachada de metralhadora, um cigarro e uma carta para casa. A vida de trincheira, de um lado e do outro, apresenta os mesmos dramas e os mesmos ritos de sobrevivência.

Homens, afinal, iguais em seus desejos últimos e em suas esperanças, mesmo que trajando uniformes diferentes ou falando idiomas diversos.

É disso, deste fundamental e universal sentimento de humanidade e de seu componente religioso, o reconhecimento de valores que ultrapassam qualquer divisão e inimizade, que trata o filme Feliz Natal (2005), produzido por vários países europeus e dirigido pelo francês Christian Carion. A inspiração do longa lhe vem de fatos realmente ocorridos no front ocidental, em ocasião do Natal de 1914, o primeiro Natal de guerra. Na véspera e ao longo do dia 25 de dezembro daquele ano, com efeito, soldados de ambas as partes em luta saíram das opostas trincheiras do front ocidental, entre França e Alemanha, em vários pontos de seu traçado,  para confraternizar. Trocas de pequenos objetos, cigarros e chocolate, conversas e celebrações religiosas, cantos natalinos e até partidas de futebol disputadas na terra de ninguém, como é chamado o espaço entre as trincheiras inimigas, caracterizaram aquela que recebeu o nome de trégua de Natal.  Simples soldados e oficiais participaram dos eventos, que não foram programados mas que se produziram espontaneamente em vários pontos da linha de fogo, apesar de não ter recebido aprovação sucessiva pelos altos comandos militares.

O filme traz inspiração da história para acompanhar os percursos de alguns militares (alemães, franceses, escoceses) e de um casal de cantores líricos enviados ao front para enaltecer o ânimo das tropas. As notas de “Noite Feliz”, cantadas por estes em alemão, às quais responde uma cornamusa escocesa, desencadeia a confraternização coletiva entre inimigos. É Natal para todos.

Realmente foi uma noite mais feliz. E a mensagem do longa, apesar de certa retórica presente, mostra como, ao menos no começo da guerra, naqueles primeiros meses, o sentimento e a consciência presentes em boa parte dos combatentes das linhas de frente fossem de repúdio por um conflito percebido como absurdo e tragicamente inútil.

As tréguas não se repetiram nos anos seguintes. A guerra de trincheira deu espaço a batalhas que foram autênticas carnificinas. Outros Natais passaram, a razão de Estado vencera. Mas provavelmente no próximo ano, no dia de Natal, junto à cruz dedicada à trégua de Natal de 1914, em Ypres, Bélgica, alguém se encontrará  para lembrar de um fato inusitado e singular.

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Quem acredita na humanidade?

03 quinta-feira mar 2016

Posted by litatah in Arte e Entretenimento, Cinema, Comédia, Entretenimento, Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Tags

arte, Arte é Diversão, arte de luta, arte e luta, cinem, cinema e arte, Comédia

maxresdefault

Comédia mostra personagem que vive em descompasso com os valores capitalistas, tem problemas com a família e é passado para trás pelas pessoas que o enxergam como um “idiota”

Por Carolina Ferro

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

Our idiot brother

Dir. Jesse Peretz, 2011, EUA 

Ned , vivido por Paul Rudd, é um cara bacana. Ele vivia numa fazenda com a namorada, produzindo alimentos orgânicos que vendia na feira. O dinheiro era necessário para a sobrevivência, não uma obrigação ou um fim. Talvez por isso, Ned não via ganância nem maldade nas pessoas. Certo dia, um policial pediu-lhe um pouco de maconha, dizendo ter tido um dia difícil. Na inocência de ajudar uma pessoa, Ned deu um pacote da erva e foi preso no mesmo instante. Isso mudaria as vidas dele e da sua família.

DivulgaçãoDivulgação

Devido ao seu bom comportamento, Ned teve direito à liberdade condicional. Mas ao sair da prisão, a namorada já estava com outro. O que mais doía em Ned era a ausência de seu cachorro, um golden retriever chamado Willie Nelson (homenagem a um cantor de música country), que ficou de posse de sua ex-companheira.

Ned teve que ir morar com sua família, mas todos o achavam um perdedor. Afinal, ele não tinha emprego, havia sido preso, não tinha perspectivas, nem dinheiro. Sua mãe aproveitava para pedir favores e suas três irmãs – Miranda (Elizabeth Banks), Natalie (Zooey Deschanel) e Liz (Emily Mortimer) – disputavam quem não ficaria com o único homem da família.

Primeiro, Ned viveu com Liz, a irmã cujo sonho era ser uma mãe exemplar, numa família perfeita. O marido trabalhava com documentários e dizia fazer ações humanitárias. O casal tinha dois filhos, um bebê recém-nascido e um menino de cerca de oito anos.  Apesar de Ned ser um tio incrível, presente e atento aos sobrinhos, o marido de Liz se incomodava com ele. Tudo piorou quando Ned o viu fazendo sexo com uma das bailarinas do documentário, o que fez com que o esposo de Liz a pressionasse para despejá-lo. Ned jamais contou o que havia visto. Na realidade, para ele tudo não passava de uma cena do filme.

DivulgaçãoDivulgação

Ned só descobriu a traição quando se mudou para a casa de Miranda, a irmã jornalista que deu a notícia à Liz. Miranda notou que Ned sabia de muitas histórias, pois as pessoas confiavam nele e lhe contavam seus problemas e angústias. Certo dia, ele contou uma história mirabolante de uma pessoa conhecida, que Miranda logo transformou em artigo. Sua carreira daria uma guinada com o texto, mas seu irmão teria que assinar um termo frente aos advogados do jornal, confirmando a história. Ned optou por não assinar e preservar a intimidade da famosa. Miranda ficou furiosa com o irmão e o expulsou de casa.

Mais uma vez, Ned precisou se mudar, agora para o apartamento de Natalie, uma comediante lésbica que morava com a namorada. Sua companheira adorava Ned e até chegou a ajuda-lo a tentar sequestrar seu cachorro. Tudo seria perfeito se sua irmã não tivesse traído a namorada com um rapaz e não tivesse engravidado. Ned aconselhou a irmã a falar a verdade, pois, segundo ele, “o amor sempre vence”. Natalie mentiu ao irmão que havia conversado com sua companheira e Ned foi dar parabéns à namorada da irmã por ter compreendido e aceito a criança que estava por vir. Ao descobrir a traição, as duas brigaram, Natalie ficou sozinha e culpou Ned por ter se metido em sua vida.

Num mundo cada vez mais individualista, onde os seres humanos pensam apenas em si mesmos, Ned é apenas um “bode expiatório”. É comum que as pessoas, ao invés de realizarem uma autocrítica, culpem outras, o governo, a política, “a sociedade”. Não que essas críticas não sejam necessárias, mas, afinal, nós estamos separados do mundo? Somos apáticos e não temos responsabilidade por nada que acontece?

Essa comédia – meio drama – leve e descontraída favorece reflexões importantes. Será que vale a pena manter uma família desestruturada apenas pela aparência? Pela necessidade de mostrar à sociedade que não falhou? Falhar não faz parte da natureza humana? – Para conseguirmos uma promoção, um emprego melhor, mais dinheiro, prestígio, pode-se fazer qualquer coisa? Passar por cima de pessoas, acabar com a reputação ou a carreira de alguém faz você ser melhor? – Devemos ser sinceros com as pessoas que amamos ou é possível começar uma vida com alguém escondendo fatos primordiais para nós?

Como é uma comédia, tudo acaba bem para Ned. Suas irmãs percebem a injustiça que fizeram com ele e a família acaba mais unida do que nunca, com cada uma refazendo suas vidas, dessa vez, com os conselhos do irmão antes considerado “idiota”.

A obra faz – de forma sutil e leve – uma crítica à sociedade capitalista vigente. Em especial nos Estados Unidos, onde o ideal americano é prosperar financeiramente, quem se opõe a isso é visto de forma pejorativa, como “idiota”. Ned é o oposto do “american way of life”. Isto assustou suas irmãs durante a maior parte do tempo até que elas perceberam a “utopia da felicidade estadunidense”. O dinheiro não traz felicidade. A felicidade plena não existe, mas nada melhor que viver com tranquilidade, algo que Ned tinha de sobra e suas irmãs desconheciam.

Ser “idiota” na sociedade em que se passa o filme é ser honesto, verdadeiro, gentil, carinhoso, acreditar no ser-humano acima de tudo, não ser guiado por sentimentos como ganância ou ódio. Talvez não haja mais, naquele sentido, “idiotas completos”. Mas cada um de nós podemos ser pouco “idiota” – e é bom que sejamos, para que não percamos totalmente a nossa humanidade.

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Mulheres, anarquismo e luta de classe: Rememorando à história.

03 quinta-feira mar 2016

Posted by litatah in Aborto, Anarco Feminismo, Anarquia, Anti Homofobia, Anti Machismo, Anti Misoginia, Ecofeminismo, Feminismo e Transfeminismo, Feminismo intersecional, História, Marques da Costa, Núcleo de Pesquisa Marques da Costa, Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Tags

anarcofeminismo, ecofeminismo, emancipação feminina, feminismo, feminismo curdo, feminismo interseccional, feminismo intersecional, Marques da Costa, mulheres, Transfeminismo

Por Phmagón & Julio Fontes

Fonte: Núcleo de Pesquisa Marques da Costa

Mujeres Libres Pintura

“A condição da mulher, neste século, varia segundo sua categoria social; porém, apesar da dulcificação dos costumes, apesar dos progressos da filosofia, a mulher continua subordinada ao homem pela tradição e pela Lei” (Ricardo Flores Magón).

A luta de trabalhadores e trabalhadoras por igualdade de gêneros, tanto no campo social, quanto no econômico e político, são reivindicações históricas realizadas pelos anarquistas. Recordarmos personagens que promoveram esse fato em prol da igualdade, liberdade e solidariedade entre homens e mulheres das classes operárias é uma maneira de renovarmos esforços para mantermos firmes na luta. Num momento importante para o anarquismo e, especificamente, para as mulheres trabalhadoras, a data 8 de março nos presenteia com uma viagem ao passado para relembrarmos o alvoroço anarquista em favor da emancipação da mulher e figuras importantes que protagonizaram essa história.

“A luta de classes já é uma dura realidade de hoje, para o princípio de um grande fim…

Se, até aqui, a burguesia das castas e do poder governou o mundo, tiranizou os oprimidos e explorou os trabalhadores, de agora em diante, mulheres brasileiras, atentai bem, não haverá nenhuma consideração ao sexo, à idade, à fragilidade feminina, à riqueza ou à posição social”(Maria Lacerda de Moura[i]).

Esse trecho da Maria Lacerda de Moura, uma libertária que se comprometeu com a luta das classes populares e da mulher, é bem explicativo quanto as intenções do anarquismo ao posicionamento da mulher na sociedade: Igualdade entre os sexos significa a superação de toda a forma de dominação e exploração dos trabalhadores e das trabalhadoras; de toda a sociedade de classe e burocrática; de toda a desigualdade econômica, política e social. Se atualmente as mulheres podem usufruir de algumas conquistas sociais, inclusive no campo trabalhista, isso fora construído historicamente, por lutas incessantes realizadas por inúmeras mulheres.

Exemplo disso temos a participação das mulheres em eventos populares históricos: Louise Michel, educadora, anarquista que teve protagonismo na construção da Comuna de Paris,  “criadora do grupo ‘O direito da mulher’, formado por socialistas e feministas, e das milícias, onde comandou batalhões de mulheres à frente das barricadas na Comuna”. Em uma de suas memórias, ao abordar o tema sobre o direito da mulher, Louise Michel afirma: “Eu admito que o homem também sofra nesta sociedade maldita, mas nenhuma tristeza pode ser comparada com a da mulher. Na rua ela é mercadoria. Na rua ela é mercadoria. Nos conventos, onde se oculta como em uma tumba, a ignorância a ata, e as regras ascendem em sua máquina como engrenagens e pulverizam seu coração e seu cérebro. No mundo se dobre sobre a mortificação. Em sua casa, suas tarefas a esmagam[ii]”.

Michel destaca a presença da mulher na sociedade como objeto, um adorno que sofria com a sociedade de classes já consolidada na França nesse período. Outro exemplo que podemos elucidar é a anarquista Lucy Parson. Essa sindicalista americana, filha de uma mexicana com um índio, auxilia na fundação da International Working People’s Association (IWPA) que teve participação efetiva na greve geral no 1º de Maio que ocorreu na Praça de Haymarket e ocasionou o famoso processo dos “Mártires de Chicago[iii]”.

Ainda temos a experiência das Mujeres Libres na Guerra Civil Espanhola em 1936, que pegaram em armas para lutar pelos direitos dos operariados, demonstrando que a participação revolucionária da mulher não se resume a educação das crianças ou dos cuidados a família, como alguns ditos socialistas pensavam. Aqui no Brasil também teremos o protagonismo de mulheres no movimento sindical e anarquista. Como temos diversas personagens para recordarmos, manteremos a transcrição da história de apenas uma militante que se destacou, na então Capital do país, o Rio de Janeiro: Elvira Boni de Lacerda.

Elvira Boni

 Elvira Boni

Nascida em 1899, na cidade de Pinhal no Espírito Santo, Elvira Boni convive com o anarquismo e o sindicalismo desde crianças. Filha de operários italianos, Ângelo Boni e Tercila Aciratti Boni, seu pai inicia contato com socialismo por influência de amigos socialistas de tendências libertárias, vindo a frequentar o “Círculo Socialista Dante Alighieri”. Em 1911, já na Capital Federal, com 12 anos de idade, Elvira começa a trabalhar como costureira, acompanhando seus irmãos mais velhos na frequência às reuniões da Liga Anticlerical do Rio de Janeiro, fundada a 21 de fevereiro daquele ano. No ano seguinte estreia como atriz no teatro social em uma representação da peça de Neno Vasco “O Pecado de Simonia”. De 1919 a 1922 atuou em diversas peças de cunho social, tendo integrado o Grupo Dramático 1º de Maio que iniciou suas atividades em 1917/1918. Além de atuante no grupo dramático libertário, que teve grande participação nos eventos sindicais, em 1919 na esteira das comemorações do 1º de maio que levaram grande multidão as ruas do Rio de Janeiro, Elvira e mais 50 colegas fundam o sindicato de sua categoria, a União das Costureiras e Classes Anexas, de que foi tesoureira até 1922. Ainda em 1919 teve destacada participação na greve das costureiras pelas 8 horas de trabalho, deflagrada a 18 daquele mês e que teve saldos positivos. No mês seguinte Elvira participa da grande festa proletária ocorrida na Quinta da Boa Vista com vista à fundação do jornal Voz do Povo, diário da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro e que circularia a partir dos primeiros meses de 1920.

Em abril do mesmo ano, Elvira Boni, com sua colega Noêmia Lopes representou a União das Costureiras no 3º Congresso Operário Brasileiro, tendo chegado a presidir uma de suas sessões. Em 1921, por indicação de José Oiticica integrou o Comitê Pró-Flagelados Russos, que visava a auxiliar populações vítimas da seca naquele país, ocorrida após a Guerra Civil[iv]. No período 1921 – 1922, Elvira constou como encarregada de correspondência da revista anarquistaRenovação que circulou naquele período, tendo ali publicado artigo sobre A Festa da Penha[v]na edição número 2, de outubro de 1921, em que mostra a alienação das mulheres do povo ao comparecerem àquele evento religioso. A revista era dirigida pelo anarquista português Marques da Costa.

A história de mulheres como Elvira Boni nos reafirma que a luta de classes faz parte, integral, da luta das mulheres trabalhadoras, pois essas, sim, são as que mais afligem com a desigualdade causada pelo capitalismo e a sociedade hierárquica. Sejamos todos nós essas mulheres que durante todo o percurso da história do anarquismo, se comprometeram com a emancipação social das classes proletárias, com o apoio mútuo e igualdade de gêneros, com a luta ao acesso à cultura e à educação dos trabalhadores e trabalhadoras, etc. Que esse 8 de Março tentemos ser um pouco dessas mulheres aguerridas e que protagonizaram tantas conquistas no cenário operário e do anarquismo.

Phmagón e Julio Fontes, 8 de Março de 2014.


[i] RODRIGUES, Edgar. Mulheres e Anarquia. Achiamé. Rio de Janeiro, 2007.

[ii] CALC. 142 anos da Comuna de Paris: Louise Michel e o protagonismo feminino na luta pela liberdade. http://coletivoanarquistalutadeclasse.wordpress.com/2013/03/19/142-anos-da-comuna-de-paris-louise-michel-e-o-protagonismo-feminino-na-luta-pela-liberdade/ – acessado em: 06/03/2014.

[iii] Arquivo de História Social Edgar Rodrigues. Pensadores Anarquistas e Militantes Libertários. http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pensadoresanarquistas.html – acessado em: 06/03/2014.

[iv] GOMES, Angela de Castro; FLAKSMAN, Dora Rocha; STOTZ, Eduardo. Velhos Militantes: Depoimentos de Elvira Boni, João Lopes, Eduardo Xavier, Hilcar Leita. Jorge Zahar Editora. Rio de Janeiro, 1988.

[v] RODRIGUES, Edgar. Mulheres e Anarquia. Achiamé. Rio de Janeiro, 2007.

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Há muitas Anarquias! Leia sobre elas, pergunte menos nas redes sociais.

03 quinta-feira mar 2016

Posted by litatah in Anarco Ecologia, Anarco Feminismo, Anarco Primitivismo, Anarco Punk, Anarco-Comunismo, Anarcosindicalismo, Anarquia, Anarquia Verde, Anarquismo Especifista, anarquismo no Brasil, Anarquismo no Paraná, Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade,, Correntes da Anarquia, Imaginário e Plano Simbólico, Municipalismo Libertário, Plataforma, Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Tags

anarquia, anarquia e ordem, anarquia ou barbarie

Digitalizar00011

 

Por Gilson Moura Henrique Junior

Perguntas genéricas como “anarquista pode comer carne de porco?” ou “anarquista trabalhar pra comer é incoerência?” não vão muito longe, não ajudam exatamente a dirimir dúvidas sobre anarquia ou a melhor forma de militância anarquista. Pior, no fundo é preguiça, porque não procura ler sobre anarquia, quer só a solução fácil.

 
Claro, há trocentas pessoas entre bem intencionadas ou carentes de serem messias dos novatos para responder as perguntas, e ambos ai se satisfazem com o papel de transformar o debate meio bobo em algo parecido com conscientização, só que no fim todos ganham apenas a satisfação momentânea do ego.
 
Anarquia é muita coisa, anarquistas são muitas coisas. Tem anarco sindicalismo, anaco primitivismo, anarco ecologia, anarco feminismo, anarcos queer, plataformistas, makhnovistas, municipalistas libertários, anarco new age e por ai vai.
 
Anarquia não é um sistema de crenças, nem um sistema politico centralizado em dogmas fáceis, em regras rígidas, a ordem na anarquia é a diversidade de saídas, percepções e construções.
 
Há anarco veganos, há quem não vincule anarquia à forma de alimentação.
 
Há federalistas, há isolacionistas, há milhares de formas de se organizar de forma anarquista.
 
Há ao anarco individualismo, há as zonas a Defender, dá pra ser anarquista sozinho ou em coletivos, e até em federações.
 
Há anarquistas autoritários, como há anarquistas libertários.
 
Dá até pra ser anarquista machista ou liberal se chamando anarquista ou anarquista de estilo de vida, que tem pouco ou nada de anarquista,mas fala que é pra ficar bem na fita da rebeldia.
 
Não deveriam haver anarquistas não anarquistas,mas os há também.
 
Confuso? Não, porque anarquia não contempla uma definição unitária e autoritária de si mesma e nem fica fiscalizando quem a pratica pra ver se seguiu Bakunin direito.
 
Dá até pra ser anarquista sem ler sobre anarquia, é o anarco preguiçoso, muito comum nas redes sociais. Ele também é anarquista, poderia ser um anarquista melhor se lesse as diversas tendências anarcas e se organizasse, sozinho ou coletivamente, pra produzir ações anarquistas.
 
Ah, não se esqueçam, esperar uma sociedade anarquista no futuro é que nem esperar papai Noel, anarquismo é aqui e agora. Essa busca de uma sociedade futura que um dia virá após um evento escatológico semi religioso chamado Revolução tem mais chance de dar certo em partidos socialistas.

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...

Nina Simone, liberdade e violência

01 terça-feira mar 2016

Posted by litatah in Antirracismo, Arte e Entretenimento, Cinema, Nina Simone, Racismo, Sem categoria

≈ Deixe um comentário

Tags

anti-racismo, antirracismo, arte e luta, cinema é luta, Jazz, luta, luta antirracista, luta e arte, Nina Simone, racismo, Soul

Nina Simone Divulgação3

 

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

Como a trajetória de uma das maiores musicistas do século XX incorporou as tragédias e conquistas de seu tempo

Por Nashla Dahás

“É um sentimento. Liberdade é apenas um sentimento. É como tentar explicar para alguém como é estar apaixonado. Como você vai explicar isso para alguém que nunca sentiu? Você não consegue. Mas você sabe quando acontece. Houve algumas vezes no palco em que eu realmente me senti livre. E isso é uma coisa incrível. É realmente incrível. Eu te digo o que liberdade significa para mim: nenhum medo! Realmente nenhum medo. Se eu pudesse ter isso por metade da minha vida… É algo que realmente se sente. Como um novo jeito de enxergar”.

Nina Simone, 1972.

 

What happened, Miss Simone?, dirigido por Liz Garbus, oferece vários modos de enxergar a trajetória da musicista negra que sonhou em ser a primeira pianista clássica dos Estados Unidos e cujo auge da fama se deu entre os anos de 1960 e 70.

Liberdade parecia mesmo ser questão imposta por aqueles tempos. Cerca de 15 anos depois da Segunda Guerra Mundial, experimentava-se como subjetividade o estado de tensão causado pela Guerra Fria com diferentes graus de impacto nos cenários nacionais. Bandas e cantores europeus e americanos como The Beatles e Bob Dylan tratavam de confundir dicotomias do tipo entretenimento/contra-cultura enquanto os movimentos norte-americanos e depois franceses reivindicavam pacífica ou violentamente mais liberdades. Na política, no Direito, no sexo e na arte. Nas palavras do filósofo Peter Sloterdjik ali, “as mil flores da radicalidade tiveram a sua última florescência plena”.

Foi em 1961, nos Estados Unidos, que Hannah Arendt publicou seu Entre o passado e o futuro, no qual dedica um capítulo à pergunta que é liberdade? Após reconstituir a história da aparição do termo na tradição filosófica ocidental, a autora afirma que o campo em que a liberdade sempre foi conhecida, não como um problema, mas como um fato da vida cotidiana, é o campo da política. A liberdade que admitimos como instaurada em toda teoria política, segundo Arendt, é o próprio oposto da “liberdade interior”, o espaço íntimo no qual os homens podem fugir à coerção externa e sentirem-se livres. Nem o coração nem a mente, mas a interioridade, como região de absoluta liberdade dentro do próprio eu, foi descoberta na Antiguidade tardia por aqueles que não possuíam lugar próprio no mundo e que careciam de uma condição mundana. Hannah Arendt explica como a ‘liberdade interior’ justificou a existência do escravo no mundo, livre e soberano no recolhimento de seu eu.

Atormentada pelas promessas não cumpridas de uma infância de segregação e de luta por liberdade, Nina Simone não a alcançará em esfera nenhuma, seja em sua interioridade ou em seu engajamento político. O documentário de Liz Garbus seleciona e tenta reconstruir as memórias de uma artista em conflito permanente com seu tempo, em dívida insanável com o passado e com o futuro.

Com exceção das 3 horas que sucederam o nascimento de sua única filha, não há uma só lembrança de Nina Simone que lhe permita uma memória feliz, apaziguada ao menos. “Nas três primeiras horas após o nascimento de Lisa, eu amei o mundo”. E é só. Gradualmente, todos os instrumentos que lhe acenaram em algum momento na direção da liberdade vão surgindo em sua narrativa como seus próprios algozes. O talento vira obrigação, o amor se converte rapidamente em guerra e a família se torna um fardo pesado. Nina os abandonará, a todos, em fins da década de 1970.

Ao impacto dos testemunhos se somam as próprias canções e interpretações. I Wish I Knew How It Would Feel To Be Free, Little Liza Jean, Little Girl Blue, My Baby Just Cares For Me, Ain’t Got No/I Got Life, Don’t Let Me Be Misunderstood, Mississippi Goddamn… Cada apresentação inspira uma verdadeira confusão mental. A erudição ao piano nas gravações em preto e branco fazem pensar em tempos mais remotos do que realmente são. A voz de Nina Simone não tem gênero definido, seus olhos grandes se erguem em glória, mas também com raiva, e suas emoções não são mapeáveis, não possuem roteiro ou destino. Ela sorri de vez em quando, sutil, para logo explodir em fúria, não há um afeto central pelo qual ela possa ser mais ou menos definida. Sua pele brilha de suor, irresistível. Ela provoca o público em seus sentidos, desperta empatia e reverência, quer atingi-lo, tirá-lo de sua frequência comum. Mas também é capaz de desprezar seus ouvintes rejeitando-os como se não merecessem estar ali. Um olhar mal interpretado ou um assobio inoportuno eram suficientes para que a pianista pudesse manifestar a violência de um silêncio tantas vezes auto-imposto.

Grosso modo, na versão de seu ex-marido o imenso talento e energia de Nina Simone foram desperdiçados quando ela se tornou parte do movimento pelos direitos civis dos negros americanos.

Na narrativa dos amigos que a encontraram abandonada nos anos 80, na França, destaca-se a doença que causava mudanças bruscas e violentas de humor e comportamento. Nina tornou-se maníaco-depressiva e se submeteu ao tratamento que foi gradativamente comprometendo seus reflexos e sua voz.

Quando a filha Lisa Simone Kelly fala, porém, todos os outros precisam se calar. “Ela era brilhante, mesmo na velhice ela era brilhante”, afirma Lisa após contar como era surrada pela mãe quando as duas viveram juntas na Libéria. “Ela me espancava, olhava nos meus olhos e dizia que era melhor eu chorar, que eu devia chorar. Eu não podia fazer isso. Eu não chorava”.

De grande impacto é a narrativa de Nina, cantando, em entrevistas ou quando se expressa em recortes e páginas de cadernos. “Não tive escolha”, ela afirma quando lembra sua infância isolada da comunidade negra na Carolina do Norte. Lá, nascera Eunice Waymon em 1933, a sexta dos oito filhos de um marceneiro com uma religiosa e empregada doméstica. Todos os dias ela atravessava as divisórias entre as partes branca e negra da cidade para estudar piano.

“Não tive escolha”, ela repete em entrevistas ao falar da música como um trabalho necessário para ajudar a sustentar a família.

“Não tive escolha”, eu me apaixonei e ele foi tomando conta de tudo, afirma ao narrar sua história com o ex-policial Andrew Stroud, que se tornou seu empresário e, depois, marido. “Eu gosto de apanhar. Ao menos é o que ele diz”, Nina Simone escreveu em seu diário após uma das surras cruéis que levou de Andrew, seguida de estupro.

“Não tive escolha”, ela repete quando inquirida sobre seu engajamento na questão racial norte-americana: “Não há como viver essa época, nesse país e simplesmente não se envolver”.

O título do longa se deve a Maya Angelou, escritora e poeta negra norte americana que entrevistou Miss Simone em novembro de 1970, ocasião na qual perguntou: “Mas o que aconteceu, senhorita Simone? Especificamente, o que aconteceu com seus olhos grandes que rapidamente se esconderam em grande solidão? Com a sua voz que ainda flui como um compromisso com a batalha da vida? O que aconteceu com você?”. Liz Garbos juntou os fragmentos de memórias, cartas, diários e entrevistas, gravações e fotografias para que a Nina que ela – a diretora – enxergou, pudesse então responder.

Talvez o momento mais livre de Nina Simone tenha sido mesmo o da revolução. Talvez a subjetividade revolucionária tenha lhe permitido instantes mágicos de uma liberdade perdida desde a infância. Ela circula entre Martin Luther King, James Baldwin e Stokely Carmichael, o futuro primeiro-ministro honorário do Black Panthers Party. Ainda na década de 1960, Miss Simone faz shows abertos para o público negro, inicia uma temporada em que só executa músicas políticas e convoca a multidão para a guerra, para a violência, caso seja necessário. Na luta antirracista, a violência tornou-se cívica: “Eu nunca fui a favor da não violência. Nunca fui não violenta. Achava que deveríamos conquistar nossos direitos por todos os meios necessários. […] Era arrebatador participar daquele movimento naquela época porque eu era necessária. Eu podia cantar para ajudar meu povo e isso se tornou o principal esteio de minha vida. Nem o piano clássico, nem a música clássica, nem mesmo a música popular, mas a música dos direitos civis”, Nina Simone afirma em trechos do documentário.

Em 1963, um incêndio criminoso promovido pela Ku Klux Klan em uma igreja na cidade de Birmingham, no Alabama, resultou na morte de quatro crianças. Em 1965 Malcolm X foi assassinado e em 1968 foi a vez de Martin Luther King ser baleado por um extremista branco e morrer. Enquanto tragédia social, Nina Simone acompanhou a ascensão e a queda do movimento dos direitos civis, a derrota do black power, a persistência do racismo e da opressão sobre as mulheres negras nos Estados Unidos das décadas de 1970 e 80. Muitos de seus amigos, como Langston Hughes e Lorraine Hansberry, expoentes da cultura negra norte-americana, haviam morrido. Pessoalmente, a radicalização política havia trazido represálias por parte das gravadoras, abandono de certos públicos, a ruína financeira e o isolamento.

Nina havia se apresentado nas maiores casas de shows dos Estados Unidos, mas recusou o papel de ‘estrela’ que a indústria cultural tentou impor, incluindo sua participação em festas como as da Playboy. Ela fazia música clássica negra. Ao lado dos principais líderes da luta contra a segregação racial, ela recusou o papel liberal moderado. Apesar de todo o respeito, não deixou de tecer críticas ao caminho pacifista dos discursos promovidos pelo “King do amor”. Também não foi a esposa nem a mãe que talvez tivesse imaginado ser. Segundo Maya Angelou, Nina tinha em si as eternas contradições de uma artista genial.

O filósofo e escritor Kwame Anthony Appiah afirma que a representação imaginária de formas diferentes de fazer as coisas nos filmes, nas pinturas, na poesia ou na música é uma das formas pelas quais aprendemos o que é possível em determinado tempo. Nesse campo, alguém resolve a coisa antes que ela ocorra, de fato. “A arte é crucial, porque a imaginação é crucial”, explica. Segundo Kwame, antes que possamos transformar o mundo, é preciso imaginá-lo diferente do que é, e essa capacidade de entender, por exemplo, a condição psíquica de alguém num determinado tempo, de alguém oprimido num determinado tempo, que pode ser ou não o meu próprio, jamais pode ser vista simplesmente olhando para os lados, ou porque ela nos é externa, ou porque estamos imersos nesta mesma condição. Mas é preciso pensar sobre ela.

What happened, Miss Simone? é pergunta e resposta sobre o estado de alma que nos atinge e mobiliza.

Nashla Dahás é pesquisadora da Revista de História da Biblioteca Nacional

Compartilhe isso:

  • Twitter
  • Facebook
  • Tumblr
  • LinkedIn
  • E-mail

Curtir isso:

Curtir Carregando...
Follow Anarquia ou Barbarie on WordPress.com

Categorias

Anarco Ecologia Anarco Feminismo Anarco Primitivismo Anarcosindicalismo Anarquia Anarquia Verde Anti Capitalismo Anti Consumismo Anti Fascismo Anti Homofobia Anti Machismo Anti Misoginia Antirracismo Anti Transfobia Análise de Conjuntura, Partidos, Institucionalidade, Aquecimento global - Mudanças climáticas Comunicação Libertária Curdistão/Kobane Experiências anarquistas Feminismo e Transfeminismo Feminismo intersecional História Internacional anarquista Manifestações Organização de base Presos Políticos Prática Revolução Sem categoria Teoria

Anarcolinks

  • A.N.A – Agência de Notícias Anarquista
  • Anarkismo.net
  • Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)
  • Federação Anarquista do Rio de Janeiro – FARJ
  • Federação Anarquista Gaúcha – FAG
  • Federación Anarquista de Rosário
  • Federación Anarquista Uruguaya – FAU
  • GAIA – Justiça Ecológica
  • Liga Anarquista – RJ
  • Literatura Anarquista
  • Portal Anarquista – Coletivo Libertário Évora
  • Protopia
  • Solidaridad Kurdistán
  • Solidariedade à Resistência Popular Curda
  • Unio Mystica

Curta Nossa Fan Page

Curta Nossa Fan Page

Siga-me no Twitter

Meus tweets

Calendário

março 2016
D S T Q Q S S
« fev    
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031  

Tags

23 presos a anarquia é a mais alta expressão de ordem anarco anarco-ecologia anarco-sindicalismo anarcoecologia anarcofemin anarcofeminismo anarcoprimitivismo anarquia anarquia e arte anarquia e feminismo Anarquia em Portugal anarquia e ordem Anarquia na América anarquia na América do Sul anarquia na américa Latina anarquia na Espanha anarquia na Europa anarquia no reino unido anarquia nos EUA anarquia no século XXI anarquia ou barbarie anarquia verde anarquismo anarquismo na grécia anarquismo verde anarquistas Anti Fascismo Análise de conjuntura arte arte de luta arte e luta Bakunin bookchin cinema confederalismo democrático Curdistão Curdistão livre curdos ecofeminismo ecologia educação libertária emancipação feminina estado repressor feminismo feminismo curdo grécia História história da anarquia História do Anarquismo História Social indígenas Kobane kurdistan Malatesta manifestantes presos milícia curda mulheres curdas Municipalismo Libertário Murray Bookchin perseguição internacional PKK presos presos político presos políticos PT repressão repressão internacional revolução Rojava Teoria teorias anarquistas ypg YPJ

Anarquivos

loading Cancelar
Post não foi enviado - verifique os seus endereços de e-mail!
Verificação de e-mail falhou, tente novamente
Desculpe, seu blog não pode compartilhar posts por e-mail.
Cancelar
Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies
%d blogueiros gostam disto: